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segunda-feira, dezembro 18, 2006

Paradoxo ou avaliação errada?

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Fato: os times brasileiros, hoje, são inferiores aos do passado. Não se trata de romantismo, rabugice ou qualquer coisa por aí; é que com a tal globalização e a influência do poderio econômico crescendo no futebol, os craques, os semi-craques e as boas promessas estão jogando fora do Brasil. Ficamos aqui com veteranos, garotos sonhando em ir pra fora e medianos que não chamaram a atenção de outros mercados - além, é claro, de algumas exceções a essa regra (Zé Roberto, Rogério Ceni, Fernandão, etc.).

Outro fato: pela segunda vez seguida um time brasileiro vence a Libertadores e o Mundial de Clubes. O fato é ainda mais relevante se considerarmos que são dois clubes diferentes - e, nesses dois anos, as finais de Libertadores foram disputadas entre brasileiros. É a primeira vez que o Brasil ganha dois mundiais interclubes seguidos com dois times distintos.

Raciocínio: aí complica. Um fato contradiz o outro. Como podem os times brasileiros, cada vez mais enfraquecidos, conquistarem o mundo dois anos seguidos? Será que os times estão mesmo piorando, será que é romantismo demais achar que os do passado é que eram bons? Mas se os times daqui estão melhores, porque ninguém que atua no Brasil vai pra Copa? Como explicar que desses dois campeões mundiais só tivemos um atleta jogando no Mundial da Alemanha - e ainda assim um goleiro reserva?

Tentativa de explicação: aí que entra a polêmica. Eu explico (ou melhor, tento explicar) esse fenômeno em duas frentes. A primeira diz o seguinte: esse Mundial de Clubes não necessariamente é parâmetro pra dizer que os times brasileiros "são os melhores do mundo". Sabemos que os europeus não dão tanta trela assim a esse Mundial (não quero entrar em polêmica aqui, mas isso é fato); e mesmo que dessem, não é um jogo que define quem é melhor, quem é mais estruturado, etc.. Acho que ninguém aqui define a seleção francesa como melhor que a brasileira. Mas no mata-mata eles passaram. Acontece a mesma coisa com o Mundial de Clubes. Palmas pro Inter e pro São Paulo que o conquistaram, mas também não é o caso de deitar nos louros da vitória e achar que tudo é uma maravilha.

Já na segunda tentativa, sugiro o seguinte raciocínio: futebol é competição, e o Brasil não é o único país da América do Sul que perde talentos para fora. Acontece a mesma coisa com Argentina, Uruguai, Paraguai e etc.. Então, como o Internacional do Fernandão não compete com o Internacional do Falcão, e sim com o São Paulo do Mineiro, o Libertad do Bobadilla e por aí vai, fica mais fácil ser campeão da Libertadores. Até porque o futebol brasileiro revela mais talentos que os supracitados. Daí pra ser campeão do mundo, não é tão complicado assim.

Falei besteira ou vocês acham que faz sentido?

17 comentários:

Glauco disse...

Citando Millôr Fernandes, o xadrez é um ótimo jogo para medir a capacidade de alguém... em jogar xadrez. Ninguém disse que mata-mata é justo, mas um time vence um torneio assim é o que se msotrou mais apto para fazê-lo. alguns o fazem sem brilho, nos pênaltis, como o Brasil de 1994 e a Itália de 2006. Se fosse ida e votla seria mais interessante, mas não há calendário (ah, o calendário!) para isso.
Já havia comentado anteriormente a questão do êxodo com esse enfoque e concordo. Os times brasileios se enfraquecem, mas os outros se enfraquecem mais ainda perdendo, inclusive, atletas para o futebol tupiniquim.

Marcão disse...

É fato que o futebol, de duas décadas pra cá, se tornou mais força que habilidade. Portanto, "mais feio", por assim dizer. Mas não só no Brasil: em todo canto do mundo (com exceção dos times africanos, talvez, que ainda brincam em campo e quase sempre levam fumo). Com a crescente injeção de dinheiro, o futebol virou um dos melhores negócios de todos os tempos e, por conseqüência, os resultados importam mais do que qualquer coisa. E, perdendo ou ganhando, os craques milionários não estão nem aí. É difícil, nesse quadro, avaliar "o melhor" clube, mas futebol vive de campeonatos e títulos e, por isso, definem-se competições diversas que precisam apontar um único vencedor. Se não for assim, fica muito complicado. Porque o Santos de Pelé e Pepe era, sem dúvida alguma, o melhor time do mundo no início dos anos 60. Mas isso não significa que o time era imbatível: perdeu muitos jogos e muitas competições. E por incrível que pareça, nas vitória mais heróicas do período (as duas contra o Milan, pelo mundial de 63), Pelé não estava em campo e, jogador por jogador, talvez a equipe italiana que entrou em campo fosse até superior - como o Barcelona em relação ao Inter, na opinião do Olavo. Por isso, se formos questionar o mérito de cada time campeão, em cada competição já disputada no mundo, acho que acabaríamos não concordando com 80% dos resultados. Pra encerrar mais esse longo e entediante comentário: o futebol de hoje é sim "mais feio" do que o de 20 ou 30 anos atrás, mas, apesar da grana, a Europa não é tão superior aos times latinos quanto tentam nos fazer acreditar. Vejo um nivelamento claro, e os resultados seguidos no Japão provam isso. E não creio que os europeus não dêem pelota para o mundial de clubes, visto o clima de velório e de cobrança da torcida em Liverpool e em Barcelona, após as derrotas (a maior frustração dos catalães foi a derrota do chamado "Dream Team" de 92 para o São Paulo, em Tóquio). É a velha história: se o Boca Juniors vai lá no Japão e ganha, é um timaço. Se é o São Paulo ou o Inter, deu zebra. Paciência...

Anônimo disse...

Marcão, também acho que há uma baba-ovação na questão de Boca e River, mas esse nem é o tema do post. O que quero debater é se essa sequência de títulos mundiais é argumento para dizermos que o futebol brasileiro não está tão enfraquecido assim. Não se trata de "futebol-força" ou coisa parecida - até porque, e isso também é fato, o futebol atual é significamente mais ofensivo do que de uns 15 anos pra cá (lembremos da Copa de 90).

E só uma pitada histórica: também acho (e nem precisava dizer isso) que o Santos de Pelé era o melhor time da década de 60; mas isso não é algo tão incontestável assim. Historiadores e torcedores europeus dirão que era o Real Madrid, campeão cinco vezes seguidas, com Puskas, Di Stefano e Evaristo (não sei se fiz confusão histórica, mas acho que eram esses) em campo.

Glauco disse...

No que diz respeito ao "Santos de Pelé", se meu pai lesse algo assim ficaria fulo da vida. O Santos era bicampeão paulista quando Pelé chegou e, apesar de ser a maior estrela da companhia, não era a única.
O Santos ganhou do Milan sem Pelé, Zito (no terceiro jogo) etc, mas naquela ocasião tinha Pepe, Gilmar, Dalmo, Coutinho, Dorval e Mengalvio... A prova de que tinha mais time que o Milan é que jogou desfalcado de um jogador que faria parte em qualquer time do mundo (inclusive a seleção brasielira) e faturou o time italiano em uma melhor de três.
A respeito disso, meu TCC quase foi sobre esses três jogos e li nos jornais, após a derrota em Milão, que o esquema 4-2-4 do Santos estava "ultrapassado" e o que valia a partir daquele momento era o 3-5-2, com a inovação do líbero (Maldini à época). Depois das vitórias do Santos, os mesmo jornais que louvavam a inovação italiana cuspiam no chão e diziam que o Brasil era superior à Itália... Qualquer semelhança não é mera coincidência...
Em tempo: em uma competição "virtual", feita por europeus e japoneses em computadores, fizeram uma competição com os melhores times de todos os tempos. Em primeiro ficou o Real Madrid de Puskas, Di stefano e cia. e depois ficou o Santos. Quem organizou mesmo?

Marcão disse...

Olavo, a Copa de 2006 foi tão horrível, para mim, quanto a de 90. Eu creio que, diante do êxodo absurdo de jogadores, o futebol brasileiro não está tão enfraquecido quanto se diz. Bem ou mal, os melhores elencos do Brasil neste ano - Inter, São Paulo, Santos, Grêmio e também o Cruzeiro - não são Davis perto dos Golias europeus.

Pegue o "fantástico" Barcelona mesmo: quem diabos são Valdés, Van Bronckhorst, Thiago Motta e Gudjohnsen, por exemplo? Qual a importâncias desses caras pro futebol mundial além de serem titulares do time catalão? Por que achar que eles são "galáticos" e os jogadores do Inter um bando de esforçados? Não vejo sentido nisso. Ou é complexo de vira-lata ou é má-vontade, sim.

Quanto ao Real Madrid da década de 60, ele era, talvez, o único time a fazer frente ao Santos no cenário internacional (no Brasil, eram Botafogo e Palmeiras). Mas o Didi, que jogou lá, disse que o Santos fez "n" propostas para enfrentar a equipe madrilenha e eles sempre correram - tinham medo de perder e acabar com a aura de "melhores do mundo" que gozavam na Europa.

Mas tudo bem: o time brasileiro e o espanhol eram uma referência clara e indiscutível. E hoje? Dá pra dizer que o Barcelona é o melhor time do mundo? Por que? Não é muito marketing isso? O Real contratou tudo o que havia de melhor, há alguns anos, e o resultado não foi um timaço - e nem rendeu títulos. Mas por aqui não havia um que não dissesse que era "o melhor time do mundo". Por que? Só porque é rico e europeu?

Sem grana, sem estrutura, sem os craques milionários, sem oba-oba da mídia mundial, ou seja, contra tudo e contra todos, nossos times estão fazendo história. Com moral e propriedade, vencendo na bola, na tática, no conjunto. Legítimos campeões - e, sim, os melhores do mundo na atualidade.

Anônimo disse...

Daniel Carvalho, Vágner Love, Jô, Elano, Gomes, Alex (PSV), Alex (Fenerbahçe), Júlio Baptista, Kléberson, Maicon, Jádson.

Todos esses caras seriam titulares em 90% dos times brasileiros da Série A hoje.

E não mencionei nenhum jogador que foi pra Copa.

Nas décadas passadas, o Mundial de Clubes representava realmente uma disputa entre a escola sul-americana e a européia. Hoje, com essa mundialização, a competição se resumiu a uma "simples" disputa entre clubes. Por isso que, como eu disse no post, não serve como parâmetro para dizer se tal escola é melhor que outra.

Marcão disse...

E Valdés, Van Bronckhorst, Thiago Motta e Gudjohnsen seriam titulares absolutos no Brasil? Eu não ia querer no meu time. Os campeonatos Espanhol, Francês, Italiano, Alemão e Inglês são tão fracos (ou até mais) do que o Brasileiro. Do resto (Holanda, Portugal etc), nem se fala. Mas o povo daqui acha que, se é de lá, se está com nossos craques, se tem grana, se é organizado, então é melhor. Mentira? Pois, como eu disse, contra tudo e contra todos, os sul-americanos ganham na bola e na competência.

Glauco disse...

Valdes? Nem convocado pra poderosa esquadra espanhola conseguiu ser até hoje. Van Bronckhorst? Holandês, né? Muita pompa e pouco resultado... O técnico do Barcelona é de que país? Thiago Motta... passo. Iniesta é de encher os olhoas. Que jogador! Gudjohnsen é o cara que serve pra não fazer sombra pro Eto'o. Talvez não fizesse sombra nem pro Geílson.
Tá certo, tem um pouco de tiração de sarro. Mas o Inter, jogador por jogador, se for pior que o Barcelona, não é um abismo. Os únicos que se destacam no Barcelona e que estavam jogando no domingo eram brasileiros. Esse é o verdadeiro paradoxo!
Sim, o êxodo de craques nos torna mais fracos. Mas nem por isso frágeis e derrotáveis. Até porque, temos institnto de competição e, por que não, podemos jogar atrás e ganhar, como tantos times europeus - e seleções - fazem. Mas, citando Nietzsche, "nenhum vencedor acredita no acaso".

Anônimo disse...

Então vocês não acham que os clubes brasileiros de hoje estão mais fracos que antigamente?

Glauco disse...

Como disse no meu comentário anterior para responder à pergunta: Sim, o êxodo de craques nos torna mais fracos. Mas nem por isso frágeis e derrotáveis. Até porque, temos instinto de competição e, por que não, podemos jogar atrás e ganhar, como tantos times europeus - e seleções, como a Itália - fazem.

Marcão disse...

Olavo, esqueça essa polêmica e faça como o Sílvio Santos:

"Diga A-A-A
Diga M-M-M
Diga O-O-O
Diga AMOR
E guarde bem de cor:
Quem tem amor sempre vive melhor!
A-A-A-A
A-A-AMOR
A-A-A-A
A-A-AMOR"

Anônimo disse...

como assim parar a discussão? 11 comentários é um recorde! agora são 12. e eu dou tbem minha opinião tardia.

lendo o post e os comentários fiquei pensando se não estaríamos assistindo a uma nova escola européia e uma nova escola latino americana. É uma teoria impensada na linha do "o que você anda tomando?".

A primeira escola é a do marketing pra valorizar o clube (inclusive em bolsa de valores, como acontece com alguns), mtas contratações e documentários do estilo americano que louvamos atletas estrangeiros como deuses do impossível. um circo globalizado com títulos negociados no mercado financeiro.

A segunda, latino americana é um híbrido das retranacs de resultado (praticadas com orgulho pelos europeus há muito mais tempo), combinadas com um ou outro jogador um pouco melhor -- que nem sempre ganha o jogo. Disciplina tática combinada a raça de quem quer ir jogar na europa, mas ainda não conseguiu. Com métodos gringos, os "atletas-matéria-prima" são trabalhados pra exportação.

Não que as escolas que acabei de inventar sejam majoritárias na América Latina (nem no Brasil) ou na Europa. Mas são as que mais aparecem por terem mais sucesso.

Sucesso, entendam, é valorizar as ações dos clubes europeus e conseguir exportar jogadores revelados pelos latino americanos. parafraseando o olavo, falei muita besteira? parafraseando qualquer manguaça deste Futepoca, vamos beber?

Marcão disse...

Não entendi. Mas acho que é o caso de beber, mesmo. Estarei no Vavá mais tarde.

Glauco disse...

Não falou não. A intenção dos clubes europeus não é só ganhar títulos, mas sim $ a granel. Por isso, de fato, viraram "circos globalizados" como você disse, Anselmo. Quanto a beber, estou dentro.

Marcão disse...

Caraca, o papo nonsense teve seqüência! Então tá: vocês estão desconsiderando o emergente mercado asiático. Não dá pra falar de matéria-prima só considerando fornecedores. No mais, qualquer um que já tenha jogado em Bangladesh sabe do que eu estou falando. Ou qualquer coisa do gênero.

Glauco disse...

Marcão, o "beber depois" no Vavá é um compromisso ou uma bravata?

Marcão disse...

Compromisso assumido, compromisso cumprido. Puta ressaca de merda...