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terça-feira, outubro 30, 2007

Se o Brasil não faz um bom negócio com a Copa, fecha esse país!

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Sim, o Brasil foi escolhido por unanimidade como sede da Copa de 2014, como já adiantava no post debaixo o Nicolau. A escolha, sem dúvida, beneficia a perpetuação no poder (como se precisasse disso) de um grupo que comanda o futebol brasileiro há anos. E é claro que esse grupo, tendo o poder de organizar o Mundial, vai lucrar politicamente e de outros modos idem. Ninguém gosta de ver os vilões que fizeram do futebol brasileiro essa nau dos insensatos sorrindo, mas, nem por isso, deve se condenar de forma tão veemente o fato do Brasil ter sido indicado.

Tirando o argumento acima, sinceramente, não vejo muito sentido na ladainha repetida pela tal "mídia esportiva séria". O mais banal é o de que "não temos capacidade para organizar o evento". Ora, a CBF não vai ser a responsável por isso sozinha. A FIFA, que tem alguma experiência na área já que organiza todos os Mundiais desde que os animais são animais, vai estar junto exigindo um relatório minucioso a cada três meses. E também deve desembolsar US$ 400 milhões em 2008, podendo contribuir com mais nos anos seguintes. Além disso, dada a magnitude do evento, grandes parceiros da iniciativa privada também estarão junto não só injetando investimentos como também auxiliando na logística. E, obviamente, o Poder Público, representado em seus três níveis, vai colaborar com a Copa.

Outro ponto é que o "governo vai investir em futebol enquanto deveria investir em saúde e educação". Falácia. O montante de fato significativo de recursos do Poder Público vai ser voltado para obras de infra-estrutura - algumas, de responsabilidade do governo federal, que já estão previstas no Programa de Aceleração do Crescimento, PAC -, em transporte, saúde e tudo que for necessário para viabilizar o conforto de quem vier assistir a Copa no país. Investimento no sentido lato, porque o legado fica, não some. Quanto aos estádios, provavelmente a maioria será transformada em arenas multi-uso e compartilhadas com empresas privadas que irão bancar os projetos para depois explorar comercialmente os mesmos.

O papel desempenhado pelos governos é a grande vantagem de um evento como este. Obriga o Estado a cumprir sua função, sendo que o dinheiro retorna em impostos e ganhos de outra ordem. E quem duvida do potencial de marketing do país do futebol sediando uma Copa do Mundo? A Alemanha não só mudou sua imagem para o resto do mundo, afastando o estigma de xenofobia, como a Associação de Comerciantes Alemães estimou que o torneio gerou diretamente 2 bilhões de euros. Foram contabilizados 50 mil novos postos de trabalho e o ministério das Finanças arrecadou com impostos 7,2 milhões de euros só da FIFA, referente às premiações pagas pela entidade, mais 57 milhões de euros provenientes do comitê organizador, além de 40 milhões de euros sobre a venda de ingressos.

Se isso não for bom negócio, não sei o que é. E se o Brasil, uma das doze maiores economias do mundo, não consegue gerir isso, é melhor fechar a lojinha.

8 comentários:

Marcão disse...

Não adianta, Glauco. O problema é que a iniciativa foi do governo Lula. A mídia vai dizer que é um erro, que é um péssimo negócio, que não vai dar certo, que existem outras prioridades, que é um absurdo, que é eleitoreiro, que é roubalheira, bla-bla-bla.

Igualzinho o que ocorreu no Pan do Rio.

Mas fico imaginando que, se o PT não fizer o sucessor em 2010, de repente a Copa no Brasil poderá se tornar de uma hora pra outra, na mídia, a nona maravilha do mundo, a melhor coisa que já poderia ter nos acontecido, o evento dos eventos.

Duvidam?

Thalita disse...

eu sinceramente não acredito que os estádios serão reformados/construídos com dinheiro da iniciativa privada. Mas não mesmo!

E não tinha pensado na questão política, e não acho a mais importante. Só penso no Ricardo Teixeira presidindo a organização... e imaginando o quanto de dinheiro vai escorrer por aquele ralo.

agora, investimentos em infra-estrutura certamente vão acontecer, e isso só pode ser bom pro país. Falar q o Brasil não consegue organizar a copa é muita má vontade.

E começa hoje minha poupança oficial para assistir aos jogos da Copa no Brasil!

Nicolau disse...

Como já tinha ficado claro, concordo com o Glauco. Tomara que Ricardo Teixeira e cia. respondam na Justiça pelo que devem legalmente e no inferno (se houver) pelo que devem moral e eticamente ao futebol brasileiro. mas não acho que seja motivo o bastante para pular fora do barco da Copa. Como o fato de nossas empreiteiras serem possivelmente das maiores responsáveis pelos caixas dois de nossa história motivo para não se fazer estradas. o qeu é preciso é pegar os caras, provar que fizeram merda e faze-los pagar.
Na linha do Marcão, vi matérias dizendo que a Copa seria o trunfo do Lula para se eleger presidente em 2014...

Anônimo disse...

Basta lembrar da patacoada que tirou a medalha de ouro do nosso maratonista em 2004 para percebermos que os europeus e/ou os norte-americanos não são melhores que a gente em nada no quesito organização.
Ricardo Teixeira é uma figura abominável, mas, de fato, o “Primeiro Mundo” também não tem moral para falar em segurança como faz parecer que tem.
Primeiro, eles que tentem explicar o 11/09/2001, o 11/03/2004, os atentados de Londres, a morte de Jean Charles, os quase semestrais massacres em escolas, e todos os outros indicativos de sociedades doentias e belicistas que põem seus indivíduos para se digladiar e que se vêem no direito de invadir o solo alheio quando bem lhes aprouver.
É fato que temos problemas, e todos decorrentes da exploração dos países ricos, iniciada há mais de cinco séculos e que só aumenta.

Anônimo disse...

Concordo com tudo o que disse, Glauco!
E mais, é uma chance única de fazer o mundo olhar pra gente. Isso parece besta, mas uma das coisas que mais me irritam aqui nessa ilha fria é o desprezo com que olham para o Brasil. Descobri até que sou patriota...rs
Eu já fui completamente contra a idéia da Copa no Brasil. No entanto, o país que produz os melhores atletas, o melhor futebol, merece receber a principal festa da modalidade. O povo merece. Chega de ficar só com o bagaço da laranja. Já basta esse campeonato nacional ridículo que tivemos. Os Teixeiras continuarão no poder com ou sem a Copa. A corrupção vai existir de qquer maneira. Com o evento, melhorias na infra-estrutura terão que acontecer.
bjss

Gerson Sicca disse...

Minha atividade profissional permite que eu tenha uma visão privilegiada do que acontece efetivamente nos bastidores da administração pública. E tenho dificuldades para acreditar que o poder público vai trabalhar com seriedade a questão da infra-estrutura. Vão focar o atendimento ao turista e deu.
Qto à melhoria na arrecadação, ela será neutralizada pela sonegação e pelas isenções fiscais. Mas acho que há coisas boas e ruins na realização da copa. Não dá pra defender uma posição radicalmente contrária ou a favor.
De todo modo, o Estado no Brasil serve preferencialmente ao interesse privado. Ele foi capturado pelo poder econômico e por setores com algum grau de influência junto aos administradores. Isso é fato. E para a Copa isso não vai ser diferente.
O BNDES vai distribuir dinheiro pra todo mundo q tenha um bom lobby, como sempre.

Gerson Sicca disse...

Para Porto Alegre, especificamente, eu acho que o forum social mundial tinha um impacto econômico muito maior, se considerado o investimento realizado. MAs a copa, é claro, tem um potencial simbólico muito maior.

pedro disse...

Concordo com o post. Se o Brasil não tem condições de organizar uma copa do mundo, feche-se este país.

Temos os melhores jogadores, e uma grande cultura futebolística que envolve todas as áreas: técnicos de futebol, preparadores físicos, medicina esportiva, até transmissão televisiva (vocês assistiram ao jogo do Brasil vs EUA nos EUA ???). Continuar a preferir exportar craques e pagar pelo produto final (direito de imagem e etc...) é uma escolha que leva a continuar no subdesenvolvimento. Claro, uma Copa (ainda mais patrocinada pelo R. Teixeira...) não significa inverter esse cenário. Mas cabe a nós lutar para que seja uma semente.

Uma não copa, ao contrário, é assumir nossa incompetência e ficar eternamente relegado ao segundo plano. E se fizermos isso em uma área que temos inegável competência que dirá em áreas que lutamos para desenvolver por aqui?

Pedro.