Destaques

sexta-feira, março 09, 2007

Paranóia, mistificação e delirium tremens

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No calor da discussão sobre biocombustíveis, meu amigo economista Rogério Nohara, vulgo Taroba, me enviou um curioso texto de Ruth Gidley, da Reuters, que afirma: “alguns especialistas prevêem uma mudança permanente na economia alimentar se a produção de combustíveis ficar mais lucrativa que a de alimentos”. O texto prossegue: “ ‘Estamos em uma nova estrutura de mercado’, disse o especialista britânico em ajuda alimentar Edward Clay. ‘Poderia ter profundas implicações sobre os pobres’."
Na interpretação do economista Taroba, “se o Bush baixar as taxas para o etanol brasileiro, e se o Japão também se firmar como grande importador do combustível, há grandes chances da tese deste artigo se comprovar. Já há grandes grupos internacionais comprando usinas de álcool aqui no Brasil. Se for mais lucrativo plantar cana, então a área cultivada para os alimentos diminuirá. Menos oferta de alimentos, puxa o preço para cima.”
Será então que a cruzada pró-biocombustível seria, na contramão, um anti-Fome Zero? Seria o Fome Máxima? Não sei até que ponto isso é alarmismo, má-fé, paranóia ou mistificação. No caso do Taroba, nem delirium tremens está descartado. Olha a parte final de suas conjecturas: “no pior dos mundos e dos cenários, se o capital vencer mais uma vez e tudo virar um mar de cana, acho que deveriam plantar limão perto da cana. Para cada X hectares de cana, 1/2 X de hectares de limão. Assim, conseguiríamos um equilíbrio geral.” Acreditem, esse manguaça defensor de uma overdose mundial de caipirinha é economista formado, e com extensão na Fundação Getúlio Vargas!
Ps.: Passando o olho pela definição de delirium tremens na Wikipedia (“psicose causada pelo alcoolismo”), encontrei essa interessante observação: “O Delirium Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos dias quentes e nos pacientes debilitados. A fatalidade quando ocorre é devida ao desequilíbrio hidro-eletrolítico do corpo.” (o grifo é nosso). Pelo calor que tá fazendo nos últimos dias, temos que compreender os surtos analíticos do Taroba. Mas é bom tomar um Engov – e consultar um médico...

Bush no Brasil 3

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Flagrante das manifestações contra a visita de um presidente estadunidense ao Brasil, em pleno Dia Internacional da Mulher. A manifestante é Janaína Bueno.

Protestos contra Bush nos jornais dos EUA

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Interessante dar uma olhada nos dois principais jornais dos Estados Unidos via internet, hoje. O New York Times e o Washington Post falam da repressão aos protestos na avenida Paulista.

No NYT, sob a foto de um soldado do exército com um fuzil (foto), lia-se o título em azul: "Protesto contra a visita de Bush ao Brasil", e embaixo a informação de que mais de 6 mil pessoas fizeram uma grande marcha pacífica (sim, isso é o que dizia o NYT) pelo centro financeiro de São Paulo (veja aqui a reportagem interna, pois não é mais a chamada principal na web: internet tem dessas coisas).

Já o Washinton Post traz na capa de sua versão on line um link para as fotos, na chamada "Protestos saúdam Bush no Brasil" (clique aqui para ver). As fotos dos protestos publicadas no Post são muito boas. E pensar que a imprensa brasileira andou dizendo antes da chegada de Bush que o cara não ia nem ver os protestos, tamanhos eram os preparativos para protegê-lo.

Libertinagens uspianas

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A Universidade de São Paulo, que abrigou alguns dos escribas deste blog, é um local de reconhecida verve libertária. Essa tendência fica ainda mais forte na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, a FFLCH (lê-se "fefeléchi), reduto de anarquistas, comunistas das mais variadas estirpes e, claro, cachaceiros e maconheiros a granel.

Um aluno da citada faculdade me contou que ontem, durante uma de suas aulas, o professor (cujo nome será preservado) deu um intervalo de alguns minutos. O jovem manguaça decidiu por bem comprar uma cerveja. Voltou para a sala ainda com a latinha e, como o professor já havia retornado, parou na porta para terminar o mézis. Ocorreu então o seguinte diálogo:

Professor: Entra, entra.
Aluno, referindo-se à cerveja: Não tem problema, professor?
Professor: Com esse aquecimento global! Dá um gole!

Bush no Brasil 2

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Em pleno coletivo, às 11h30, onde cruza a Ipiranga e a avenida São João, uma viatura da Polícia Federal, escoltada por três motos da Polícia Militar cortam a fase de travessia de pedestres na esquina famosa. A meia dúzia de passageiros no ônibus se agita.

— É o Bush, é? — pergunta uma senhora.

— É. É o Bush que veio encontrar com o Lula pra comer uma buchada — disparou um manguaça da terceira idade, num trocadalho digno de um certo colega de Futepoca. — Buchada e sarapatel também, quero ver se ele aguenta...

É claro que não era o Bush. A região central não estava na rota do mandatário mundial, quer dizer, norte-americano. Era, no máximo, uma viatura tentando escapar do trânsito para integrar a escolta ou levar alguma encomenda à comitiva. Minha teoria era que integrantes do Pentágono teriam solicitado amostras do suco-grátis servido na compra de um churrasquinho-grego, nas inúmeras barraquinhas no Centro da cidade. As denuncias dariam conta de suposto uso de armas químicas empregadas na confecção da "bebida".

Ignorando os "fatos", outro passageiro, sentado logo atrás do que tinha elucidado a questão, começou a reclamar do esquema de segurança. Tanto carro, tanta coisa. Afinal, medo de que, tem o Bush? O mesmo figura de antes, em tom professoral, concordou, e logo lançou o desafio permeado por suas próprias garagalhadas:

— Depois da buchada — insistiu — vou trazer um jeguinho do Nordeste. Quero ver se o cabra desce do carro pra mostrar que é bom de jégue.

Bush no Brasil 1

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Para quem acha exagerado o contingente de segurança de Bush, do livro Chatô, O Rei do Brasil, de Fernando Morais, sobre Assis Chateaubriand, descrevendo a visita ao país do presidente Dwigth Eisenhower, em fevereiro de 1960, durante quatro dias:

Foto: Reprodução
Um inusitado contingente de policiais brasileiros e americanos havia sido mobilizado para garantir a segurança de Eisenhower no Brasil. No Rio de Janeiro temiam-se hostilidades por parte da União Nacional dos Estudantes, a UNE, em apoio à revolução cubana. O governo paulista, por sua vez, anunciara que 7 mil policiais civis e militares estariam de prontidão nas ruas da cidade no dia 25 para manter a ordem durante as seis horas em que o presidente Eisenhower permanecesse em São Paulo, onde só o governador e mais ninguém — jornalistas inclusive — poderia chegar a menos de quinze metros do visitante. Nem a futura capital federal — na realidade apenas um gigantesco canteiro de obras — ficou a salvo do rigor imposto pela segurança norte-americana.
(São Paulo: Cia das Letras, 1994, 1ª edição, p. 21.)

A título de comparação, no G1 na quarta-feira:

A Polícia Militar confirmou no início da tarde desta quarta-feira (7) que irá disponibilizar um efetivo de mil policiais e 300 carros para a segurança do presidente norte-americano, George W. Bush. (...)

Na última segunda-feira (5), o delegado da Polícia Federal, Flávio Luiz Trivella, informou que a segurança do presidente é ainda mais delicada por causa do que ele "representa ao mundo". Trivella disse ainda que o esquema está sendo montado de forma que Bush não tome conhecimento nem mesmo dos protestos contra ele que erão realizados.
Ou no Estadão de hoje:

Eric Drapper, Divulgação Casa Branca
Ao todo, 1,2 mil homens armados com fuzis e metralhadoras MAG, calibre 7,62 mm, são os responsáveis por proteger todo o caminho de Bush e os pontos que ele visitará, além do hotel em que o presidente está hospedado - o Hilton do bairro do Morumbi, localizado na zona sul de São Paulo. (...)

A PM disponibilizará mil homens das tropas de choque e do policiamento normal para fazer a segurança, enquanto a Polícia Civil contará com 300. Para completar o esquema, o serviço secreto americano trouxe 300 homens para proteger Bush.

Sobre o Goiás e o bom Rodrigo Tabata

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Se a premiação da CBF no final do ano tivesse uma categoria do tipo “Melhor Olheiro” ou “Melhor Revelador de Atletas”, o Goiás Esporte Clube bem que merecia um prêmio. De dez anos para cá, é impressionante a quantidade de atletas que revelou ou recuperou para o futebol, principalmente laterais, meio-campistas e atacantes. Atualmente, não tenho dúvidas de que, quando o Goiás promove um atleta de sua base ou contrata um jogador obscuro de algum clube idem, todos os técnicos e olheiros dos grandes clubes do país já ficam ouriçados, tentando prever o que vai sair dali.
O São Paulo virou consumidor assumido: depois da inacreditável recuperação do Goiás no Brasileirão de 2003 (saiu de penúltimo, no início do 2º turno, para 9º na classificação final), o tricolor paulista trouxe o treinador Cuca e os jogadores Fabão, Danilo e Grafite. Não contente, ainda traria Josué, André Dias e Jadílson - sem esquecer que Aloísio, Leandro e Alex Dias também tiveram boas passagens pelo clube goiano. E o São Paulo também tinha interesse em dois outros ex-Goiás que escaparam para os rivais: Paulo Baier e Rodrigo Tabata, que foram para o Palmeiras e o Santos, respectivamente.
O primeiro não conseguiu despontar no alviverde e saiu pela porta dos fundos, incomodado com pagamentos em atraso. Mas o segundo, com certeza, tem feito muitos santistas felizes. Tabata pode ser um cara muito contestado, mas eu fui um dos que lamentaram quando não acertou com o São Paulo. Ele não é craque, mas é muito útil – e “brigador”, como se dizia antigamente. Ontem, contra o Rio Branco, o Santos sustentava um magro 1 a 0 no placar, no início do segundo tempo, e o time do interior pressionava. Foi então que, em duas cobranças de falta perfeitas, Rodrigo Tabata aumentou para 3 a 0 e liquidou a fatura. É isso o que eu digo: quando é necessário, o cara comparece. É um jogador útil, perfeito para compor elenco.
Nascido em Araçatuba (SP) em 1980, Rodrigo Barbosa Tabata começou a carreira no Paulista de Jundiaí, em 1999, quando venceu a Copa do Estado de São Paulo. No ano seguinte, jogou pelo São Bento de Sorocaba e depois perambulou por Santo André, Ferroviária, Inter de Limeira, Treze da Paraíba, Grêmio, Ceará, XV de Piracicaba, Campinense (PB) e América de Natal, antes de ser resgatado pelo Goiás, em 2004 (foto). Depois de fazer um excelente Campeonato Brasileiro em 2005, garantiu contrato com o Santos no ano seguinte. Para o alvinegro, em minha modesta opinião, foi uma ótima contratação.

quinta-feira, março 08, 2007

Vantagem do alvinegro praiano

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Com esse post estou atendendo um pedido do companheiro Edu, que queria saber como está o retrospecto do clássico San-São (grande atração do próximo final de semana). Pesquisei o confronto de 2001 para cá e constatei uma boa vantagem do alvinegro praiano: em 19 duelos, são 11 vitórias do Santos, 6 do São Paulo e apenas 2 empates – o que comprova que, quase sempre, são ótimos jogos. Foram marcados 57 gols (32 pelo Santos e 25 pelo São Paulo), o que dá uma bela média de exatamente 3 tentos por partida. Na Vila Belmiro, que será o palco da disputa de domingo, o clube santista é quase imbatível: em 9 jogos nos últimos cinco anos, venceu 7 e perdeu apenas 2 para o time da capital. E mesmo no Morumbi, não dá moleza: em 8 partidas, 4 vitórias – incluindo aí a histórica virada por 2 a 1, em novembro de 2002, que desclassificou o São Paulo do Brasileirão, e os sonoros 4 a 0 de julho do ano passado. Não bastasse tudo isso, os dois clubes são hoje os melhores do futebol paulista, onde lideram o campeonato com sobras, e também destaques no cenário nacional (ambos estão na Libertadores). O clássico de domingo promete. Confira a relação das últimas partidas:

04/02/2001 – S.Paulo 4 x 2 Santos – Morumbi (C.Paulista)
03/10/2001 – S.Paulo 0 x 1 Santos – V.Belmiro (C.Brasileiro)
07/04/2002 – S.Paulo 2 x 3 Santos – V.Belmiro (T.Rio-S.Paulo)
16/10/2002 – S.Paulo 3 x 2 Santos – Morumbi (C.Brasileiro)
24/11/2002 – S.Paulo 1 x 3 Santos – V.Belmiro (C.Brasileiro)
28/11/2002 – S.Paulo 1 x 2 Santos – Morumbi (C.Brasileiro)
15/02/2003 – S.Paulo 2 x 1 Santos – V.Belmiro (C.Paulista)
01/06/2003 – S.Paulo 2 x 3 Santos – V.Belmiro (C.Brasileiro)
04/10/2003 – S.Paulo 1 x 2 Santos – Morumbi (C.Brasileiro)
10/07/2004 – S.Paulo 1 x 2 Santos – V.Belmiro (C.Brasileiro)
10/10/2004 - S.Paulo 0 x 1 Santos - V.Belmiro (Sul-Americana)
20/10/2004 - S.Paulo 1 x 1 Santos - Morumbi (Sul-Americana)
24/10/2004 – S.Paulo 1 x 0 Santos – Morumbi (C.Brasileiro)
03/04/2005 – S.Paulo 0 x 0 Santos – Mogi Mirim (C.Paulista)
17/07/2005 – S.Paulo 1 x 2 Santos – V.Belmiro (C.Brasileiro)
22/10/2005 – S.Paulo 1 x 2 Santos – Morumbi (C.Brasileiro)
02/04/2006 – S.Paulo 3 x 1 Santos – Morumbi (C.Paulista)
30/07/2006 – S.Paulo 0 x 4 Santos – Morumbi (C.Brasileiro)
05/11/2006 – S.Paulo 1 x 0 Santos – V.Belmiro (C.Brasileiro)

Tanure vem aí OU Erramos

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É uma correção, com atraso, a um post anterior. A negociação da Editora Três com Daniel Dantas deu água.

Quem está negociando com força (e acabou com a greve de funcionários) foi a Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), do empresário (sic) Nelson Tanure, dono do JB. Foi feito um aporte, como explica o Comunique-se.

A negociação entre as duas empresas existe desde o fim do ano passado, "com admiração mútua", como frisou a assessoria da CBM, e o adiantamento foi a forma encontrada para quitar a dívida com os funcionários e contornar a crise da empresa. Caso a compra seja efetuada, o aporte será deduzido do valor final da negociação. Em caso negativo, ele será interpretado como uma dívida individual.


Domingos Alzuguaray desistiu do negócio, porque não queria abrir mão da direção familiar da empresa.

Assim, a IstoÉ não é do Daniel Dantas como foi escrito antes. E Tanure vem aí.

Maluf é indiciado pela Justiça americana

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Para alegria do Olavo, tá no Terra.

Wilson Dias/ABr
A promotoria de Nova York, no Estado Unidos, anunciou nesta quinta-feira o
indiciamento do deputado federal e ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf. Ele é
acusado de enviar ilegalmente US$ 11,5 milhões do Brasil para um banco
americano, de acordo com o Jornal Hoje.
Segundo o promotor responsável pela acusação, o dinheiro teria sido desviado de obras públicas de São Paulo, levado para os Estados Unidos e depois distribuído para paraísos fiscais.

Solidariedade manguaça no "dia das mulé"

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Mesmo sob o risco de achincalhe, escrevo.

Depois de chegar em casa, nos dois dias anteriores, com aquele bafo que só o bar permite ao manguaça, era hora de compensar. O Dia Internacional das Mulheres era um pretexto. Embora a data não pudesse passar em branco, era um motivo a mais. Também era hora de checar o ibope com a mulher. Ainda na véspera, além de manter a sobriedade (façanha nem tão simples sob as altas temperaturas da capital paulistana), resolvi que era o caso de levar "fulores" pra casa.

Desci do ônibus direto para a barraca de flores. O botão de rosa já estava inflacionado. O floricultor queria R$ 3 cada. Ou melhor, disse que era esse o preço, mas, de cara, faria por R$ 2. Só pra mim.

— É da colombiana, bonita pra caramba essa daqui... — explicou aproximando-se, meio de lado, quase como quem cochicha.

Claro que não tinha nenhum outro cliente por perto, e ninguém saberia da "barganha" ainda que ele gritasse. As aspas no período anterior se explicam pela subnutrição das flores (que saltava aos olhos até do mais distraído dos bêbados). Mas era parte de seu jogo de cena. É só nesse momento que o manguaça-leitor entende por que esse post entra no glorioso Futepoca.

A aproximaçaõ fez o hálito do ébrio vendedor atingir em cheio meu olfato com um vigor que quase faz recuar. Ele provavelmente passara a tarde e o começo da noite dedicado à tarefa com a qual eu gostaria de ter me ocupado. O hálito exalava álcool. Na sequência, percebi que a substância já lhe saía até pelo suor.

Em minha lábia de brimo tentei explicar que era véspera do Dia das Mulheres, que precisava fazer bonito em casa.

— É dia das mulé, dotô... — contra-argumentou o manguaça-vendedor, com um risinho meio irônico. E prosseguiu, com direito a caretas e tudo: — Fui no Ceasa cedinho, já tá tudo caro...

Na mais profunda sinceridade que a sobriedade permite, apelei:

— Amigo, passei o dia sem ir pro bar pra juntar esses seis pilas pras fulô... Se eu me apareço duas rosas na mão, como eu fico?

Comovido, cada botão saiu por R$1.

quarta-feira, março 07, 2007

Imprensa e complexo de vira-lata

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Marcello Casal/Ag Br
A visita de “El Diablo” ao Brasil está deixando alguns jornalistas embasbacados e incontidos diante de tamanha honra. Entre aqueles que se viram em uma entrevista concedida pelo presidente dos Estados Unidos, publicada no Estadão de hoje, a correspondente do jornal em Washington, Patrícia Campos Mello, demonstrou ser quase uma tiete de Bush filho.
Terá ela pedido autógrafo ao entrevistado? Isso não posso saber, mas o textinho que ela assina em negrito na página A4 do jornal é de uma mediocridade atroz. É ridículo. E meigo. “Uma conversa com Jorge Doblevê”, diz o título da matéria, procurando passar uma intimidade suspeita, num jornal sério.
“Seu nome é George W. Bush e ele é o presidente mais poderoso do mundo”, começa ela, entusiasmada tiete, como se começasse uma daquelas redações que escrevíamos no ginásio depois das férias. “Querida professora, nas minhas férias...”
Informando que o presidente se dirigiu a um jornalista mexicano como Joe, e acrescentando que “Bush adora inventar apelidos”, ela vai dizendo: “Com essa e outras piadinhas, o presidente norte-americano deixou o clima mais leve na imponente sala Roosevelt, na Casa Branca”. Isso é que é complexo de vira-lata, o resto é bobagem. Imagino (desculpem a livre-associação óbvia) como deve estar leve neste momento o clima na capital do Iraque.
E a matéria da Patrícia continua: “Foram 45 minutos (de entrevista), muitos sorrisos, gestos e incontáveis palavras em espanhol”, informa a repórter. “Bush sorriu até mesmo quando veio a ‘universal pergunta’ sobre (Fidel) Castro’, como ele (Bush) chamou a indagação infalível sobre o líder cubano”, escreve Patrícia, e posso ver até o sorrisinho de satisfação, quase entre suspiros, com que a moça olhava a tela do computador enquanto digitava essa pérola do jornalismo brasileiro.
Depois, ela encerra com uma fala de seu herói sobre Fidel Castro: “Vamos ver, disse Bush em espanhol (esclarece Patrícia, orgulhosa do líder poliglota, ou pelo menos “biglota”), quanto tempo ele vai permanecer sobre a Terra. Isso é Deus Todo-Poderoso quem vai decidir”, termina a correspondente. Quiçá com lágrimas nos olhos.

Bastidores de uma foto histórica

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Flagrante de um porre homérico de Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes no Rio de Janeiro, nos anos 70. O depoimento do fotógrafo Evandro Teixeira, que produziu a imagem para o Jornal do Brasil, mostra que nem só os três artistas estavam encachaçados: “Comemorava-se o aniversário do Vinicius na Churrascaria Carreta, freqüentada por boêmios e intelectuais. Para fazer esta foto, subi num tamborete, que logo após o clique se quebrou — eu caí e o disparador da câmera quebrou. A sorte é que a máquina não abriu e eu consegui salvar o filme. Foi publicada em página inteira no Caderno B”.

Som na caixa, manguaça! (Volume 11)

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Bafo de boca

João Nogueira e
Paulo César Pinheiro (foto)
(Composição: João Nogueira/ Paulo César Pinheiro)

Pára de beber, compadre
Meu compadre deixa disso
Larga essa mulher de lado
Lembra do teu compromisso

Mas veja só que malandro que tu és
Entrou num artigo dez
Por causa de dois mil réis, compadre
Minha comadre já tá ficando louca
Com esse teu bafo de boca
Boa coisa não vai dar

E a tal mulher que anda nos cabarés
Mas essa não paga dez
Só vive trocando os pés, compadre
Minha comadre diz que a desgraça é pouca
Você tá marcando touca
E o bicho inda vai pegar

(Do CD “João Nogueira e Paulo César Pinheiro – Ao Vivo”, Velas, 1994)

terça-feira, março 06, 2007

Nilmar, Obina, Alemão, Jonas, Dênis...

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A lesão que parece ter virado moda, o rompimento do tal ligamento cruzado do joelho, merece atenção e estudos, o que aliás já vem ocorrendo. A grave ocorrência que deixa o jogador em tratamento “de seis a oito meses”, pela recorrência, já vinha inspirando investigações de especialistas. Agora virou capa de jornal.

Ontem, o Paulo Vinícius Coelho abordou o tema no Linha de Passe (ESPN-Brasil). A abordagem tem, segundo o PVC, de ser vista de dois ângulos:
1) a tal lesão não é nova. Antigamente também ocorria, mas a medicina esportiva estava muito aquém da evolução a que chegou hoje. No passado, era tratada a base de remédios e infiltrações, até que chegava um dia em que o cara não podia mais;

2) mas a incidência do rompimento do ligamento cruzado com certeza acontece com uma freqüência impressionante, anormal mesmo, e deve ter alguma causa maior do que o acaso, a fatalidade ou a urucubaca. Sem nenhum trabalho, dá pra citar vários jogadores que tiveram essa lesão recentemente: só no Santos (clube que tem conseguido reduzir o tempo de tratamento) foram três: Fabiano, Dênis e Jonas. Nilmar (duas vezes) e Alemão no mesmo jogo! Obina, na semana passada. Além de alguns outros como Leandro Amaral, Amoroso, Edu (Valência, duas vezes), entre muitos outros. Toda semana são vários casos, é algo realmente impressionante.

Já se falava abertamente nos clubes (sem sair nos jornais) que essa causa obscura seria o modelo de chuteira que muitos atletas usam, com as travas longitudinais, formando linhas retas, ao contrário das tradicionais. Essa “moderna” chuteira seria responsável por travar o pé do jogador no gramado em determinados movimentos. O pé travado na grama, o joelho estoura.
De fato, eu lembro de ter visto na TV vários desses jogadores se machucarem: Jonas, Fabiano, Obina, Dênis, Nilmar. Curiosamente, sempre me parece que a gravidade das lesões não condiz com o lance que a motiva.
Mesmo no caso de Nilmar, um lance mais feio de se ver, ele se machuca sozinho, simplesmente ao conduzir a bola e fazer um movimento para sair da marcação. É muito plausível que essa chuteira tenha de fato muito a ver com isso.

Apolinário, com Deus e contra os gays

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Saiu na Carta Capital desta semana uma matéria com o vereador pefelista Carlos Apolinário, que pretende instituir o "Dia do Orgulho Heterossexual" na cidade de São Paulo. A edição separou, em uma breve conversa por telefone, algumas pérolas grotescas do ex-candidato a governador de São Paulo (à época pelo PDT). Só pra lembrar que o mesmo, quando deputado estadual, o parlamentar evangélico destacou-se pelo projeto da Lei Seca, que proíbe venda de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes que ficam às margens das estradas do estado de São Paulo.

“Os gays precisam entender que estão dentro de uma sociedade. Eles não podem impor à sociedade uma cultura gay”.

“Para que criar um Dia do Orgulho Gay? Será que a pessoa precisa ter orgulho de ser gay? O camarada chega na empresa e diz: ‘Estou feliz, meu filho disse que é gay. Tô feliz da vida’. Será que tem alguém que faz isso?”

“Um exemplo: você vai num restaurante com a sua família. Dois homens chegam, começam a se beijar na boca e acham que isso é normal. Eu acho que não é normal (beijar em público), nem para o gay nem para o hetero”.

“O cara quer afinar a voz, rebolar e usar roupa de mulher, mas ele não é. Por mais que queira ser mulher, ele não tem útero. Nasceu com pênis”.

“Daqui a pouco, vai ter um outdoor na cidade dizendo: ‘Gay, você ainda vai ser um’. Ou um cartão na farmácia: ‘Gay, 10% de desconto’”.

“Qual de nós gostaria de ter, na praça em frente à nossa casa, um ponto de gays arrumando clientela? Mas, se você chamar a polícia ou tomar alguma providência, você é homofóbico, nazista...”

segunda-feira, março 05, 2007

Urucubaca verde

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Se eu fosse o atacante corintiano Nilmar (foto), não jogava contra o Palmeiras nunca mais na vida. Depois de ferrar o joelho direito contra o alviverde no Morumbi, em 16 de julho do ano passado, o jogador passou longos sete meses de molho, recuperando-se de cirurgia. E o Corinthias perdeu por 1 a 0 na ocasião. Ontem, no mesmo estádio, eis que Nilmar entra em campo contra o mesmo adversário. E o que acontece? Torção no joelho esquerdo e suspeita de lesão grave nos ligamentos cruzados. Coisa pra passar outro período parecido no estaleiro. Quem assistiu a partida viu o quanto o jogador chorou de dor e desespero após a contusão. E o curioso é que, nas duas vezes, se contundiu sozinho. Pra completar, o alvinegro perdeu de novo, dessa vez por três gols. Tá na hora de se benzer - ou parar de enfrentar o Palmeiras...

Sobre lança-perfume e rinhas de galo

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Estou lendo “Jânio Quadros – O Prometeu de Vila Maria”, do jornalista e semiólogo Ricardo Arnt. O livro, publicado pela Ediouro em 2004, faz parte da coleção “Avenida Paulista”, uma série de perfis de personalidades que marcaram a maior cidade do país. Por isso, não se trata de uma biografia, mas de um ensaio sobre o “fenômeno Jânio Quadros”, sem a pretensão de exaltá-lo ou execrá-lo.
Além da trajetória de glória e ruína do político, o livro traz detalhes sobre uma das faces mais polêmicas de Jânio: o moralismo exacerbado. Um aspecto curioso, já que seu pai, Gabriel Quadros, era médico e fazia abortos de prostitutas no bairro Bom Retiro. Segundo quem o conheceu, era mulherengo, irascível, emocionalmente desequilibrado e dado a exibicionismos e valentias (qualquer semelhança entre pai e filho, portanto, não é mera coincidência).
Na esteira de Jânio, elegeu-se vereador e deputado, sempre fazendo oposição – e massacrando – o filho. Em maio de 57, o governador Jânio Quadros, visivelmente constrangido, teve de comparecer ao velório do pai, que foi morto a tiros por um feirante na Mooca. Ele tinha roubado a mulher do feirante (uma empregada doméstica que era sua amante) e estava tentando levar também os filhos gêmeos da mulher, que alegava serem seus.
Outra revelação sintomática tem a ver com a expressão facial insana de Jânio, motivada pelo olho esquerdo, paralisado após um acidente na adolescência: a explosão de um vidro de lança-perfume. Como vingança, não sossegou até proibir a venda do produto no país. Já a proibição das rinhas de galo teria ocorrido depois que o pai de uma de suas amantes, Adelaide Carraro, foi assassinado em um desses locais.
E o mesmo Jânio que regulamentou as medidas dos maiôs em concursos de miss era freqüentador assíduo de um bordel na rua Martins Fontes e foi acusado inúmeras vezes de assédio sexual. Hebe Camargo revelou, em 1987, que ele a assediava insistentemente por telefone, quando estava na presidência. Isso sem falar na bebedeira constante, assunto que renderia muitos outros posts. Jânio era uma personalidade psicologicamente interessante, em termos de discurso e prática. Só por isso, o livro já vale apena.

domingo, março 04, 2007

Em um bar da zona oeste de São Paulo...

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Fim de tarde em um bar da zona oeste de São Paulo. Calor de 35 º, típico clima que não só convida, mas exige um momento de, digamos, reflexão sobre o cotidiano regado a uma gelada.

Ao chegar, um acidente acabara de acontecer. Um carro tinha batido na traseira de outro, os motoristas aguardando a polícia. Um caso até banal para uma cidade como São Paulo, não fosse o automotivo que causou a colisão um veículo do serviço funerário.

A mulher que dirigia o carro atingido começa a discutir com o fúnebre condutor. Ânimos acirrados, um homem, talvez motivado pelos instintos primários de Roberto Jefferson, de espectador passa a tomar as dores da moça, exigindo "respeito" do outro contendor. Chega a polícia, os gritos ficam mais altos ainda, já que sempre a coragem aumenta quanto mais a briga se torna improvável.

A essa altura, o bar já não era um bar, era uma arquibancada. Gente chegava e sentava para assistir de camarote, todos com a cadeira de costas para a mesa, voltadas para a discussão. "Tira esse carro daqui que tá atrapalhando", exige para ninguém um dos manguaças que tinha a visão obstruída. "A polícia deveria multar esse cara, ainda por cima está em local proibido", brada outro.

Discussão rolando e chega um cidadão com um copo plástico na mão. Estende para um dos clientes - ou espectadores - e pede: "Vê um gole de cerveja que minha garganta está seca". O rapaz tem uma camiseta com logos de times de futebol em latas de cerveja, uma bonita combinação entre cachaça, esporte e democracia. "Pede água aí", retruca um. "Água não, amigo. Cerveja é melhor...", ri e recebe seu gole.

Copo ganho, agora já empolgado começa a repetir para todos da "arquibancada": "Tenho 45 anos e sabe o que eu consegui na vida? Nada". O mantra era dito a cada cliente até que ele chega no dono do estabelecimento, o Vavá. "Tenho 45 anos e sabe o que eu consegui na vida? Nada", disse. "Bom, já que você não conseguiu nada na vida, não é aqui que você vai conseguir. Agora pode ir embora", disse calmamente e com toda sensibilidade nosso querido anfitrião.

Chega o segundo carro de polícia. Nenhum consenso à vista. Um outro transeunte, conhecido na região por não ter uma sanidade mental exemplar, observa de perto a discussão e chega animado para o dono do bar com o que considerava uma grande "notícia". "Vavá, sabe o que tem naquele carro?", questiona, apontando para o carro funerário. "Cinco mortos! Cinco mortos!", falava, exaltado. "É, e pelo jeito deixaram a porta aberta e um escapou", respondeu Vavá, se referindo a uma senhora transitando por ali que também não é reconhecida pelo seu equilíbrio.

O terceiro carro de polícia chega e a discussão e a pequena multidão se dispersa. Os clientes voltam suas cadeiras para as mesas e o dia-a-dia do bar e do local volta ao normal. Seja lá o que signifique "normal".