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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

O dia em que o futebol quase me matou

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O senhor José Macia, mais conhecido como Pepe, completa hoje 73 anos. Nessa mesma data, há 21 anos, ele comandou o São Paulo contra o Guarani na decisão do Campeonato Brasileiro de 1986, no estádio Brinco de Ouro, em Campinas (SP) - considerada a mais emocionante da história da competição. Não discordo, pois, se o futebol não me matou naquele dia, não mata mais. O Guarani era um timaço, capitaneado por Evair, João Paulo, Marco Antônio Boiadeiro e Ricardo Rocha. O São Paulo também era outra equipe de respeito, com a famosa linha de ataque Muller, Silas, Careca, Pita e Sídney. Por isso, o definitivo confronto entre Guarani e São Paulo pelo título do Brasileiro de 1986, no final de fevereiro do ano seguinte, prometia "pegar fogo". E pegou: logo aos dois minutos, o lateral Nelsinho marcou um gol contra e pôs o Bugre na frente do placar. Sete minutos depois, Bernardo empatou para o time da capital.

Eu ainda morava com meus pais, em Taquaritinga (SP), e assisti a decisão com meu pai, Chico, e meu cunhado Luís Antônio. A luz da sala estava queimada e a escuridão tornava a situação ainda mais dramática. Eu passei o jogo inteiro mudo, sem me mover, de tanta tensão. Quase não me lembro dos lances, só dos berros do meu pai (que contribuíam para me deixar ainda mais nervoso). Só há alguns anos pude rever o fim do segundo tempo, quando dizem que houve um pênalti não marcado para o Guarani, sobre o João Paulo. Revendo as imagens pela TV Cultura, posso dizer que houve, antes, um lance idêntico sobre o Pita, na área bugrina. Nos dois lances, nem os jogadores do São Paulo e nem os do Guarani reclamaram penalidade. E olha que era um jogo facinho pra sair confusão...

Bom, começa a prorrogação e eu quase ponho o coração pela boca. Pita fez 2 a 1 e, logo em seguida, Boiadeiro deixou tudo igual. Se fosse hoje, eu teria enfartado, sem exagero. Cada lance era uma agulhada no peito. Quando João Paulo pegou a bola no meio do campo, enfileirou os defensores são-paulinos e fez 3 a 2 (golaço!), quase morri. Acho que fiquei sem respirar, sem enxergar, sei lá. O pior é que, no desespero e no escuro da sala sem luz, nem meu pai e nem meu cunhado notaram. Passei uns minutos assim, meio morto. Aí aconteceu o milagre. O zagueiro Wagner Basílio, que tinha falhado no terceiro gol bugrino, pensava: "-Pronto, estraguei o trabalho de um ano inteiro!". Eram 14 minutos do segundo tempo da prorrogação! Nesse momento, o goleiro Gilmar gritou: "-Joga pro Careca, que ele resolve!".

O zagueiro deu uma bica, a bola passou o meio-campo, Pita pulou e resvalou de cabeça, a bola pingou dentro da área do Guarani e Careca, de primeira, mandou o petardo de perna esquerda: 3 a 3 (na foto do post, a comemoração). "-O hino do Guarani tocava nos alto-falantes. Era o último lance, o Aragão já olhava o relógio. Notei que meu marcador (Ricardo Rocha) estava olhando para a bola e não me viu. Bati com força, foi o gol mais importante da minha vida", contou Careca, há poucos dias, no programa Loucos por Futebol, da ESPN. Voltando no tempo, lembro que não comemorei. Continuei mudo, paralisado, passando mal. E o sofrimento piorou, pois a partida foi para os pênaltis. Só quando o São Paulo converteu a última cobrança e garantiu o título é que despertei. Mas tinha passado os 150 minutos com os músculos tensos, sem me mexer, e parecia que eu tinha levado uma surra. O herói, Careca, contou no Loucos por Futebol que sua mãe morava a umas dez quadras do Brinco de Ouro. "-Fui a pé até a casa dela mas, no caminho, tinha uns dez bares lotados de são-paulinos. Tive que tomar, pelo menos, uma cerveja em cada boteco", lembrou, rindo, o atacante.

Ficha técnica
Guarani 3 x 3 São Paulo (3 x 4 nos pênaltis)
Data: 25 de fevereiro de 1987
Local: Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas (SP);
Juiz: José de Assis Aragão;
Público: 37.370 pagantes;
Renda: CZ$ 4.222,000;
Guarani: Sergio Néri, Marco Antonio, Valdir Carioca, Ricardo Rocha e Zé Mario; Tosin, Tite, (Vágner) e Marco Antonio Boiadeiro; Catatau (Chiquinho Carioca), Evair e João Paulo. Técnico: Carlos Gainete;
São Paulo: Gilmar, Fonseca, Wagner, Basílio, Dario Pereyra e Nelsinho; Bernardo, Silas (Manu) e Pita; Muller, Careca e Sidney (Rômulo). Técnico: Pepe;
Gols: Tempo regulamentar - Nelsinho (contra, aos 2’) e Bernardo (aos 9’). Prorrogação – Pita (1’), Boiadeiro (7’), João Paulo (5’) e Careca (14’). Pênaltis - Dario Pereyra, Fonseca, Rômulo e Wagner Basílio para o São Paulo. Erraram pelo Gurani Boiadeiro e João Paulo (Tosin, Valdir Carioca e Evair acertaram).

8 comentários:

Glauco disse...

"Tive que tomar, pelo menos, uma cerveja em cada boteco". Tá na cara que o Careca foi a pé de propósito, não?

Anselmo disse...

Escuta, mas essa frase é do Careca ou do Marcão?

eu me lembro dessa partida. Comecei torcendo pelo guarani. Terminei a prorrogação alucinado pelo jogo. Nos pênaltis, eu já achava que tanto fazia (bom, o desespero do meu irmão são-paulino ajudou a neutralizar a solidariedade alviverde).

Lembro do gilmar pegando pênalti e de achar que o Fonseca erraria o dele, mas o lateral acertou.

Anônimo disse...

Lembro muito bem desse jogo... Mas quem não lembraria né??? E o jogo em que quase morri foi a final do Brasileirão de 2002...

p.s. Sou santista...

Fabricio disse...

É, lembrando assim por cima acho que as mais emocionantes foram 86 e 2002 mesmo.

E emoção não pode faltar num jogo desses, com tanto acréscimo. Haja cera pro juiz levar o jogo até os 150min. Tá louco!

Anônimo disse...

Parabéns ao MITO Pepe!

Marcão disse...

Fabrício, calculei 150 minutos pelos 90 do tempo normal, 20 minutos do intervalo e mais 30 de prorrogação, mais uns 10 minutos de pênaltis. Para mim, na verdade, pareceram 15 horas de suplício...

Anônimo disse...

"Quando João Paulo pegou a bola no meio do campo, enfileirou os defensores são-paulinos e fez 3 a 2 (golaço!)" - Marcão, se bem me lembro, foi um pouquinho diferente; a bola veio do campo de defesa do Bugre e o Wagner Basílio errou a "matada"- o João Paulo acompanhava e acreditou no lance, roubou a bola do WB - que era o último zagueiro da linha - e ganhou na corrida, tocando na saída do Gilmar. Confere ?
Ah - foi um golaço, de qualquer forma, mas o do Careconi foi bem melhor :-)))

Marcão disse...

Confere, Renato.