
Com exceção de Guiné, os movimentos foram sufocados. Mas esses conflitos forçaram Salazar e o seu sucessor Caetano a gastar a maior parte do orçamento do país com a administração colonial e despesas militares. Assim, a guerra colonial tornou-se motivo de discussão nacional e bandeira das forças anti-regime.

No dia 24 de abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa. Às 22h55 foi transmitida a canção "E depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados da capital portuguesa - um dos sinais previamente combinados pelos golpistas. O segundo sinal foi dado às 0h20, com a transmissão de "Grândola Vila Morena", de José Afonso, pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.
Dizem que o símbolo do golpe surgiu porque uma florista, contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi abordada por um soldado, que pôs uma dessas flores em sua espingarda.

Em homenagem à "Revolução dos Cravos", o brasileiro Chico Buarque compôs "Tanto mar", cuja letra original, posteriormente censurada e modificada, dizia o seguinte:

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
(Letra original, gravação editada apenas em Portugal, em 1975)
O García Marquez foi a Portugal logo após a Revolução dos cravos e descreve o clima do país como uma grande festa. As perspectivas eram excelentes, havia uma liberalização inclusive de costumes, e a esquerda também se fortalecia e Portugal era um farol para os latino-americanos, mergulhados em ditaduras. Mas, pelo jeito, algo se perdeu no meio do caminho...
ResponderExcluirSó como complemento, a letra de "Tanto mar" ficou assim, após a censura:
ResponderExcluirFoi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho de alecrim
A letra modificada continuou muito boa e dá pra identificar bem as referências a Portugal e à Revolução dos Cravos. Sobre músicas, aliás, é poético os caras usarem canções no rádio como sinais para o levante, bem como o gesto de colocar cravos nos fuzis. Bonito pacas...
ResponderExcluiro filme capitães de abril é interessante...
ResponderExcluirSó não entendi a legenda da foto, Salazar à esquerda, como? onde? quando?
ResponderExcluirImpossível
Como eu sou o tiozinho dos comentaristas do Futepoca, vou contar uma passagem curiosa. No dia 25 de abril de 1984 eu fui a um evento no centro da cidade, promovido por um grupo de portugueses que comemoravam os 10 anos da Revolução dos Cravos e, obviamente, o fim da ditadura salazarista. Saí de lá com o espírito elevado e com um cravo vermelho na lapela da minha jaqueta jeans. Dali, fui diretamente à Praça da Sé, onde havia um ato público em prol das eleições diretas no Brasil. As tais Diretas-Já, que uniam Lula, FHC, Brizola, Covas, Montoro, Ulysses Guimarães... (seria bom se eles continuassem unidos, ao invés de terem se aliado a partidos de direita, né não??). Bem, voltando aos fatos. Na Praça da Sé, encontrei vários companheiros e camaradas durante o evento e, sem saberem que havia estado na cerimônia lusa, todos me elogiavam pela grande "sacada" de estar vestido com o cravo da revolução numa noite que fazia, também, parte da história democrática do Brasil. Foi legal, galera, foi bem legal. Ainda me emociono com essas coisas.
ResponderExcluirMarcão, só pra complementar o seu comentário com a segunda versão da música do Chico. Nesta segunda versão, que foi feita três anos depois da primeira, o Chico já mosta a decepção com os rumos da revolução dos cravos ("já murcharam tua festa, pá"). Mas o Chico não perde a esperança nas revoluções de uma forma geral, e também porque, no Brasil daquela época, em plena ditadura, "cá estou carente" e ainda guardo "renitente um velho cravo para mim". Grande Chico!!
ResponderExcluirBela lembrança, Benedito. O triste é não se ensinar nada da Revolução dos Cravos nas escolas brasileiras. Nas bandas de cá, por muito tempo, "revolução" era sinônimo de um certo golpe... Quando, citando Chico de novo, "dormia a nossa pátria-mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações".
ResponderExcluirFoi de propósito, Fredi, só pra provocar. Tá esperto, hein?
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