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segunda-feira, maio 26, 2008

NeoFebeapá OU preconceito pouco é bobagem

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Se o cronista, escritor e compositor Sérgio Porto estivesse vivo, teria farto material para seu impagável alter-ego Stanislaw Ponte Preta, autor de três volumes do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País). A série inacreditável de patacoadas - para não dizer agressões, crimes ou preconceitos deslavados - começou em 29 de abril, quando, em entrevista à Folha de S.Paulo, o professor da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Antonio Natalino Manta Dantas (acima), atribuiu ao "baixo QI dos baianos" a nota 2 obtida pelo curso no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) e no IDD (Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado). Confiram as besteiras ipsis literis proferidas por Dantas:

"O baiano é uma pessoa igual a qualquer outra, mas talvez tenha déficit em relação a outras populações. Não temos aquele desenvolvimento que poderíamos ter. Se comparados com os estados do Sul, vemos que a imigração japonesa, italiana e alemã foram excelentes para o país. Aqui ficamos estagnados."

"A prova foi feita com alunos do primeiro semestre e do último semestre. Pode estar havendo uma contaminação das cotas e influência da transformação curricular nesse resultado."

"O berimbau é o tipo de instrumento para o indivíduo que têm poucos neurônios. Ele tem uma corda só e não precisa de muitas combinações musicais."


Incomodado com a polêmica em torno desse caso e com o fato de Dantas ter renunciado ao cargo na UFBA, Gilberto Dimenstein (à esquerda) subiu ao palanque da mesma Folha de S.Paulo, em 5 de maio, para piorar a emenda e o soneto. Eis a síntese de seus "argumentos":

"O déficit de inteligência da Bahia é, na verdade, a avassalodora perda de cérebros que, por falta de alternativa, se mudam para outras cidades do Brasil e do exterior."

"Vejo como muitos deles prosperam rapidamente, beneficiados pela criatividade baiana combinada com a disciplina paulistana."

"O que me deixa perplexo é que, na Bahia, quase ninguém parece perplexo com esse déficit de inteligência, o que acaba estimulando um círculo vicioso do baixo capital humano."


Logo em seguida, em 8 de maio, para completar o côro sincronizado do preconceito explícito e da mentalidade nua e crua da elite brasileira, o secretário de Emprego e Relações de Trabalho do Estado de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (à direita), insinuou em uma solenidade em Mauá (SP), com registro do jornal ABCD Maior, que só os paulistas têm vontade de trabalhar. Vamos às pérolas de seu primoroso discurso:

"O Banco do Povo tem a cara do paulista, porque é feito para o trabalhador e nós gostamos de trabalhar. Isso desde os tempos do Brasil Império, porque aquele pessoal da côrte não gostava muito de trabalhar, não."

"Só chegamos onde chegamos por essa distância da côrte. Até hoje, onde ainda há tentáculos dessa cultura, existe essa falta de cultura do trabalho."

"Por isso há no Brasil essa situação em que alguns trabalham e pagam pelos benefícios dos que não trabalham."


Será que o Cláudio Lembo não vai comentar nada a respeito?!??

4 comentários:

Nicolau disse...

Eu não conhecia todo o pensamento o ilustre professor baiano. O racismo fica ainda mais explícito! O Dimenstein sempre me surpreende em seu elitismo. E o Afif ir na minha terra pra falar uma bobagem dessas, faça-me um favor...

Anônimo disse...

e o são paulo na zona de rebaixamento? a elite não merece tal baixaria. e o chocolate do santos? e esses times pensavam que podiam ser campeões da libertadores. é melhor falar de política e cachaça, né? ra ra ra ra ra ra ra raaaaaaaaaaaaa

Anselmo disse...

Saudades do Lembo. Precisava localizar uma pesquisa que apontava que no Rio de trabalha mais horas do que em São Paulo, em média...

ah, os preconceitos.

Marcão disse...

Localizei a pesquisa, Anselmo:

27/01/2006 - 17h59

Carioca trabalha mais do que paulista, diz pesquisa do IBGE

JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio

A Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), derruba o velho mito de que o paulista trabalha mais do que o carioca. Entre as seis principais regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, o Rio de Janeiro lidera o ranking de jornada média semanal de horas efetivamente trabalhadas em 2005, com 41,6 horas.

Famosos pelo perfil 'workaholic', os paulistas aparecem em segundo lugar, com uma jornada média de 41,3 horas. A média das seis regiões ficou em 41 horas semanais.

O IBGE informou que no Rio a jornada média de trabalho superou a de São Paulo também no ano anterior, apesar de o dado ter sido divulgado apenas agora. Em 2004, a jornada paulista foi de 41,4 horas, contra 41,6 horas dos cariocas.

Se a liderança no trabalho ficou com os cariocas, no quesito renda média mensal o Rio ocupa um modesto quarto lugar, com R$ 919,95. Neste caso, os paulistas disparam na frente com um salário médio de R$ 1.110,27.

Segundo o IBGE, um dos fatores que explicam a liderança carioca na jornada de trabalho é o alto grau de participação dos principais responsáveis pelas famílias no total das pessoas ocupadas nessa região metropolitana, ou seja, há uma maior participação de chefes de família.

O instituto destaca que essa é a única região em que mais da metade da população ocupada é formada por chefes de família.

De acordo com o IBGE, o Rio de Janeiro é a região metropolitana com menor participação de outros membros da família (mulheres e jovens): com 48,3%. Em São Paulo, a participação dos demais membros é de 51,4%. "Como jovens e mulheres têm menor participação na população ocupada, os chefes de família precisam trabalhar mais horas", afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.

Já a renda menor é explicada por Azeredo pela maior participação dos setores de comércio e de serviços no Rio, que apresentam remuneração tradicionalmente menor do que a da indústria.

Em compensação, o Rio tem a maior participação de pessoas ocupadas com 50 anos ou mais, com 21,8%. Segundo o IBGE, o resultado é influenciado pela maior concentração de pessoas nessa faixa etária na região. Em São Paulo, a participação é de 17%.

O carioca fica mais tempo no mesmo emprego, de acordo com a pesquisa. Isto contribuiu para criar vínculos e aumentar a dedicação. No Rio, o percentual de pessoas empregadas no mesmo local há mais de dois anos chega a 72%. Em São Paulo, os trabalhadores que permanecem na mesma empresa por mais de dois anos somam 66,5%.

A região metropolitana com menor jornada de trabalho semanal, de acordo com a pesquisa, é a de Belo Horizonte, com 39,1 horas. O instituto explica que, ao contrário do Rio, essa região metropolitana tem maior participação média de outros membros da família na ocupação.