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sexta-feira, junho 27, 2008

Greve dos professores continua

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Os professores da rede estadual de São Paulo decidiram em assembléia realizada hoje, 27, continuar a greve iniciada há duas semanas. A próxima assembléia está agendada para sexta-feira (4). “A manifestação bloqueou duas faixas da rua e causa 2,2 quilômetros de congestionamento, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)”, destaca o Uol Educação, mantendo o padrão da grande mídia para quem o fato de que 70 mil trabalhadores (segundo a Apeoesp) lotaram o vão do Masp na semana passada só é importante pelo mal que causa ao trânsito. O pessoal não parece gostar muito de democracia.

Mas enfim, falemos, pois, da greve. O estopim foi o tal do decreto de lei 53.037/08, que institui uma prova para os professores não concursados (que estão sendo chamados de temporários por aí, a meu ver, equivocadamente). O desempenho no teste determinará a ordem nas atribuições de aula. Hoje o critério é o tempo de trabalho em sala de aula, com os mais antigos (e experientes) escolhendo primeiro. Além disso, quando for realizado um concurso, os novos contratados deverão ficar três anos no mesmo local antes de mudar de escola.

Minha mãe foi professora no estado por uns dez anos e nunca foi concursada. Na verdade, salvo engano de minha parte, a grande maioria dos professores não é de concursados, mas dos tais “temporários”. Todos os anos eles enfrentam um desorganizado e desgastante processo de espera nas Diretorias de Ensino nas atribuições de aulas, correndo o risco de ficar sem emprego. Não vejo como um profissional pode ser “temporário” por dez anos, como foi minha mãe.

O que o decreto do governo Serra faz é jogar fora todo o acúmulo de experiência em sala e ligação com alunos que estes professores desenvolveram ao longo dos anos. Iguala um profissional com anos de experiência com outros recém-saídos das faculdades. Numa empresa, isso seria prontamente considerado como uma aberração.

Se o governo quer uma prova para avaliar os “temporários”, como afirma, que faça concursos públicos, considerando o tempo de serviço. Isso sim qualificaria o trabalho, dando estabilidade para os professores e diminuindo a tal da rotatividade que o projeto diz atacar. Parece justo, não? Pois é essa a proposta defendida pela Apeoesp.

A proposta tem um objetivo, mas ele não é melhorar o ensino. É atribuir culpa. O governador José Serra e a secretária de Educação querem convencer a opinião pública de que os problemas da educação não têm nada a ver com os 13 anos de governo de seu partido, o PSDB, no estado.

A sociedade brasileira adota uma postura muito hipócrita em relação à educação. Todo mundo diz ser a favor de uma educação pública de qualidade, mas ninguém dá a mínima para as condições em que os professores desempenham seu trabalho. Quem educa é o professor, da mesma forma que quem projeta casas é o engenheiro e quem diagnostica doenças é o médico. Pois quantos pais você vê dizendo que querem que, quando crescer, seus filhos sejam professores? É preciso valorizar a profissão e isso não quer dizer tapinha nas costas. É bom salário, boas condições de trabalho. As pessoas precisam querer trabalhar lá, do contrário, não vão desempenhar bem seu papel. É assim em qualquer atividade profissional, porque não com os educadores?

PS.: O texto peca por não trazer dados e coisa e tal. É uma opinião/desabafo sobre o descaso com que estão tratando essa questão tão importante.

5 comentários:

Glauco disse...

Muito bom o texto. De fato, há "temporários" que dão aulas há mais de década, e estão nessa condição pela escassez de concursos nos últimos 20 anos. E o engraçado é que a culpa é do professor, segundo a secretária da Educação...

Maurício Ayer disse...

tá tudo errado. engraçado é ver essas tentativas patéticas (mas nem por isso menos perigosas) dos nossos autoritários de plantão de promover retrocessos na vida pública brasileira, construída a tão duras penas. como essa do governo do estado de sp, está a proposta do MP do RS de "extinguir" (????) o MST com base em algum princípio de "segurança nacional".

Paula Helena disse...

Sim, Nicolau, a única relevância é terem atrapalhado o trânsito... Sabemos que os professores de escolas públicas são um pouco mal vistos. E muito, muito raramente, santificados.
Ah, sim, e são considerados uns chatos que só reclamam em vez de dar aula...

Marcão disse...

Os 8 anos de FHC quase extinguiram o ensino superior federal; não foi aberta uma nova universidade sequer no período e o arrocho salarial dos professores foi medonho. Ao mesmo tempo, Paulo Renato abriu as pernas para a proliferação de centenas de vendedoras de diplomas. Porém, como a quantidade de gente que chega ao ensino superior (e principalmente público) é bem menor do que a multidão de crianças que cursam o ensino fundamental e médio, e considerando que a praga tucana aqui já dura 4 anos mais do que no governo da República, posso afirmar, com certeza, que o dano educacional em São Paulo é muito, muito pior. E a mídia...ora, a mídia!

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, e obrigado pelo apoio à nossa luta.