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terça-feira, julho 29, 2008

No butiquim da Política - Nove de julho: movimento ou revolução?

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CLÓVIS MESSIAS*

A nostalgia toma conta dos grupos que se formam nos corredores do legislativo paulista. Isto quase sempre acontece em épocas de recesso. Afinal, os efetivos, funcionários concursados, não trabalham em campanhas eleitorais. Falasse do feriado prolongado e alguém lembrava: é 9 de julho. Outro retrucava: é mesmo, ia me esquecendo. Curiosamente, aqui, onde funciona o legislativo, o prédio tem a denominação de Palácio 9 de julho. A história paulista anda no piloto automático, esqueceu-se que foi uma luta em favor da democracia. Não sei com que interesse vulgarizaram nossa memória, revolução de 1932.

No meu tempo de primário, ginásio e científico (sou desse tempo), a revolução constitucionalista de 32 era ato presente. Eram feitos trabalhos escolares, exposições à entrada dos colégios. A bandeira paulista era hasteada com hinos e fanfarra. Os professores falavam que apoiaram o movimento e citavam nomes de pessoas que haviam participado dos combates. No pátio da escola ou no quarteirão do prédio eram realizadas competições esportivas. Acho que há uma certa perseguição, corintiana, palmeirense ou santista a estas solenidades. Afinal de contas, a bandeira hasteada é a paulista, e não por coincidência tricolor: branca, preta e vermelha. Tenho quase certeza, todos colaboraram um pouco para o esquecimento do ato, mas tricolor é um mastro forte.

Este desmemoriamento foi se intensificando depois da ditadura de 1964, já que não havia nenhuma afinidade com a nossa defesa das liberdades democráticas. A revolução de 1932 foi empurrada para trás do biombo da história. O 9 de julho ficou refém de um vácuo ideológico. É bem verdade que na defesa do movimento surgiram teses retrógradas, o que facilitou a marginalização. Mas pergunto: há movimento que defenda a constituição, que possa se dizer, de maior ou menor vigor democrático?

O Brasil estava sob um regime de exceção. O judiciário sem autonomia. O legislativo em férias permanente, fechado. A lei constitucional, ora a lei, estava suspensa aguardando um novo teórico, procurando novos entendimentos. O movimento revolucionário constitucionalista de 32 foi tomando consistência e teve amplo apoio, em todas as camadas sociais. Como o leque de propostas na época era grande, setores conservadores começaram a não aceitar algumas mudanças políticas. Mas luta democrática é debate.

Por que será que as pessoas esquecem de movimentos nacionalistas democráticos? As elites nós sabemos, têm medo do novo. Mas nós, o povo, será que conhecemos democracias diferentes? Existem duas ou três democracias? A revolução francesa, berço da democracia popular, nos mostrou os movimentos de liberdade do homem. O voto passou a ser igualitário. É difícil, para quem está no poder, aceitar o unitário voto popular. Aqui nós já tivemos até senador biônico, como ato de inteligência maquiavélica. Foi apenas uma, péssima, cópia do parlamento grego.

A queda da Bastilha estabeleceu o voto popular. Foi firmada a democracia igualitária, mas como em todo movimento livre, sempre querem aparecer alguns donos, tipificando ações melhores ou piores, mais nobres ou menos nobres. Mas a democracia é sabia, faz prevalecer a vontade popular. Só não entendo o esquecimento do movimento democrático constitucionalista de 32. Será que o exótico tem vida própria? Mas será, então, democrático?

Como é bom recordar as solenidades escolares. Não há mais ou menos democrata. Defende-se, singularmente, a democracia. Recordar a revolução de 32 é um gesto de civismo. Seus sinônimos são: liberdade com eleições livres, interdependência dos poderes, conseqüentemente, respeito à constituição. O exercício da democracia não é, somente, história. É hábito.

*Clóvis Messias é dirigente do Comitê de Imprensa da Assembléia Legislativa de São Paulo e escreve semanalmente para o Futepoca.

6 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto, afinal Mário Martins de Almeida é meu tuo avô. Ele era irmão de minha avó Guiomar. Muito legal o texto. Parabéns. Fernando Sampaio, Rádio Jovem Pan.

Anselmo disse...

a lembrança é importante, até pra contextualizar.

eu não deixo de achar estranho um estado comemorar, com feriado e tudo, uma rebelião ou tentativa de "contra-golpe". ainda que entenda a justificativa do Clóvis Messias de que se defendia o "fim da ditadura vargas", mas não tenho muitos motivos para acreditar que o que se defendia era, de fato, uma democracia plena.

Glauco disse...

Curioso é que, depois da conciliação (ah, país das conciliações), o próprio Getúlio Vargas participou da cerimônia de inauguração da avenida Nove de Julho em São Paulo. Mas a cidade nunca deu o nome de uma das suas vias principais para o ex-presidente.

Anônimo disse...

Os grandes cafeicultores paulistas certamente tinham outros interesses pontuais, mas o fato é que o povo paulista (e povo sempre é bucha-de-canhão) foi às trincheiras para, com sinceridade e muita fibra, defender a democracia, e não os interesses daqueles cafeicultores.

Fernando Romano disse...

É bom lembrar, também, que no fim das contas a Revolução passou para a história como "coisa de Paulista", o que não é totalmente verdade. Outros estados, como Minas e RS, também aderiram à causa - mas amarelaram na hora H, e acabaram por apoiar a ditadura de Vargas. São Paulo não, e o estado acabou lutando sozinho.

Anônimo disse...

OS GAUCHOS AMARELA NUNCA VI ISSO, POIS FOI DE MEIA DUZIA DE GAUCHOS QUE SP FOI TOMADO, O RG SEMPRE FOI ESTADO DE GUERRA EM 1893, 1923 1924, AQUI BRIGAVAMOS POR POLITICA LENÇOS VERMELHOS E BRANCOS, ERAM DEGOLADOS CENTENAS E CENTENAS EM AMBOS LADOS, VEJAM COMO EH PRÓXIMO 24 P 32, OS PAULISTAS UNS DESPREPARADOS P GUERRA, POS OS GAUCHOS LAÇAVAM AS METRALHADORAS A CAVALO, FOI O MAIOR FIASCO, ATE HOJE EH MOTIVO DE CHACOTAS A CAGUEZ PAULISTA, A SURRA DE PELEGO QUE LEVARAM, POIS QUERIAM FICAR PRA SEMPRE NO GOVERNO DO BRASIL.