Destaques

domingo, agosto 17, 2008

F-Mais Umas - Schumacher, Phelps e outros bichos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

CHICO SILVA*

Volta e meia uma dúvida toma meus miolos encharcados. E essa semana, graças ao descomunal Michael Phelps (à esqurda), ela voltou a me fustigar. Quem teria sido, independentemente da modalidade que pratica, o maior esportista de todos os tempos? É claro que essa é uma contenda sublinhada por critérios subjetivos e relativos. Pelo índice CS (Chico Silva), o eleito seria alguém que fez em seu esporte algo que nenhum outro esportista em nenhuma outra modalidade repetiu. Antes do golden boy de Baltimore, que além de água clorada aprecia outros líquidos (em certa ocasião chegou a ser preso por dirigir sob o efeito deles), eu tinha três outros nomes em mente.

O primeiro era Michael Schumacher (à direita). Nenhum piloto em tempo algum se aproximou dos recordes e números deste sisudo alemão que reescreveu a história da F-1 moderna. O segundo é o surfista Kelly Slater. Se Schumacher abocanhou sete títulos na F-1, o surfista americano conquistou oito no WCT, o circuito mundial de surf. Só que, enquanto Schumacher passa o tempo dando pitos na Ferrari e caneladas nas peladas, Slater ainda rema para o outside. Ele é o atual líder do circuito e dá vigorosas braçadas para o seu nono título mundial.

O ultimo nome da minha lista era Roger Federer (à esquerda). O suíço obteve os melhores resultados da história em um esporte que teve gênios como Rod Laver, Björn Borg, John McEnroe, Jimmy Connors, André Agassi e Pete Sampras, entre outros. Tudo bem que, ultimamente, anda tomando coça do touro espanhol Rafael Nadal. Mas ninguém conquista 12 Grand Slams e fica por quatro seguidos na liderança do ranking da ATP por acaso.

Porém, com o merecido respeito ao trio e a outros mitos que não citei aqui, como Pelé, Jesse Owens, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Michael Jordan, Tiger Woods e etc, o que o tal do Phelps fez em Pequim é algo que talvez não vejamos outro ser humano realizar nesse negócio chamado esporte.

Um ricordo do comendador e um abraço ao tricampeão - A semana que passou trouxe duas datas importantes para aqueles que, como eu, gostam de F-1. No último dia 14, completaram-se 20 anos da morte do comendador Enzo Ferrari, o responsável pela criação do maior mito do mundo das corridas. E no domingo, 17, o gênio Nelson Piquet completou 56 anos. No início dos anos 80, Piquet foi sondado pela Casa di Maranello. Mas o tricampeão não pareceu muito interessado. Até mesmo desdenhou da equipe. Piquet chegou a dizer que os carros da escuderia rossa eram máquinas de moer carne. E devia ter alguma razão.

Gilles Villeaneuve morreu ao volante de uma Ferrari em Zolder, na Bélgica, em 1982. Poucos meses depois, o francês Didier Pironi quase teve o mesmo destino. À época líder do campeonato, Pironi sofreu um grave acidente durante os treinos para o GP da Alemanha, em Hocknheim (há um vídeo no youtube que mostra Piquet auxiliando no socorro ao colega). As declarações do tricampeão mundial despertaram a profunda ira do comendador e transformaram o brasileiro em persona non grata em Maranello.

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

4 comentários:

Glauco disse...

A maioria dos esportistas não tem a oportunidade de Phelps de disputar várias medalhas em uma modalidade, então a comparação sempre vai ser complicada...

Federer não acho o maior de todos os tempos nem no tênis, quando mais nos esportes em geral. Não ganhou Roland Garros como Agassi e não viveu um período onde grandes duelos aconteciam como em um passado próximo (Agassi, Sampras, Kuerten etc). Aliás, é freguês de Nadal faz tempo: desde 2006, quando o espanhol tinha 19 anos, disputaram 14 finais e Nadal venceu dez. É muito bom tenista, mas não acho que seja tudo isso.

Os gênios dos quais sou fã são Pelé e Muhammad Ali.

Marcão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcão disse...

Aproveito a oportunidade para falar dos fatores equipamento e tecnologia, que provocam distorções muito grandes em qualquer comparação. Não por outra coisa, o automobilismo nunca me atraiu tanto - primeiro, porque é mais guerra de motores do que de habilidades (por isso dou valor a quem ganha título em carro ruim, como Piquet); segundo, porque uma parcela ínfima de pessoas, no mundo todo, tem oportunidade de praticar esse esporte e bancar os custos que eles implicam.

Phelps é extraordinário, mas reina numa época em que a alimentação e o treinamento hiper-programados, mais as roupas especiais para competição, dão o tom "não-humano" da disputa. E, mesmo com tudo isso, não é habitual ele deixar os adversários a léguas de distância no tempo final da prova, como Mike Spitz fazia. Phelps suou sangue para vencer pelo menos 3 de suas medalhas douradas.

O mesmo se aplica a Pelé, por exemplo. Em sua época, os gramados, a bola e as chuteiras eram tão precárias que duvido que qualquer um dos "gênios" de 20 anos para cá (incluo Maradona, Zico, Zidane e Romário aí) conseguiriam sobreviver. Certa vez, puseram o Thierry Henry, o Rooney e outro que não me lembro para vestir chuteiras e controlar bolas idênticas às da década de 1960. Eles mal conseguiam parar em pé, muito menos dar um passe ou fazer um balãozinho. Henry disse que, após 10 minutos, já estava com bolhas no pé.

E, além de tudo isso, Pelé reinava 10 quilômetros acima de todos os craques de seu tempo (que não eram poucos: Di Stefano, Zizinho, Didi, Garrincha, Puskas, Pedro Rocha, Beckenbauer etc). Para mim, é incomparável com qualquer outro mortal, de qualquer modalidade.

Nicolau disse...

Na lista podem entrar ainda, se não no esporte mundial, o que meu desconhecimento me impede de afirmar, sem dúvida no brasileiro, os iatistas Torben Grael e Robert Scheidt. Posso ter sido enganado pelo ufanismo característico de épocas olímpicas, mas a minha impressão é de que, por um certo período, onde esses caras estavam a competição era pelo segundo lugar.
Sobra as chuteiras e deais condições, acho que a comparação tem dois lados. Se o Henry tivesse nascido naquele tempo, teria jogado bola com chuteira desse tipo desde pequeno e estaria acostumado. Da mesma forma, estaria acostumado com a maior violência e nivelado com os outros em termos de preparação física. Alguns se adaptariam melhor às condições piores, outros talvez brilhassem mais. Talvez algusndos craques do pasasdo tivessem se arrebentado fisicamente mais jvens com a pressão dos treinamentos físicos de hoje. Outros talvez sucumbissem a questões psicológicas geradas pelo assédio muito maior, pela pressão de empresários, alguns talvez se enfiassem jovens nas Arábias em busca de gordos petro-dólares e nunca estourassem na seleção. Enfim, sei lá, seria outra coisa. Acho que sempre convém respeitar a Januário, como ensina Luiz Gonzaga, mas talvez a gente às vezes exagere nesse saudosismo. Mas que Pelé é o cara, não tenho dúvida.