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sexta-feira, setembro 26, 2008

O polêmico show de McCartney em Israel

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Ontem o ex-beatle Paul McCartney apresentou o show "Amizade primeiro" em Tel Aviv, Israel, para aproximadamente 40 mil pessoas. O evento foi cercado por muita polêmica e o britânico teria até mesmo recebido ameaças de morte por parte de fundamentalistas islâmicos, que encaravam sua presença no país como um apoio velado à política israelense em relação aos palestinos. O músico negou qualquer intenção nesse sentido e garantiu que estava lá para passar "uma mensagem de paz".

O curioso é que o ex-baixista da maior banda pop da história só agora pôde pisar em solo israelense, 43 anos depois do seu conjunto ser banido do país. O governo tomou essa medida em 1965 por acreditar que os Beatles poderiam "corromper moralmente" a juventude local. Durante muito tempo atribuiu-se a proibição à primeira-ministra Golda Meir, mas uma nova versão dá conta de que a mesma foi feita por uma junta cultural.

A propósito disso, estranhei ontem ler um texto do jornalista Nahum Sirotsky, correspondente do IG e da RBS em Israel, a respeito do show de McCartney. Dizia ele que "os israelenses esperaram 43 anos para ver um 'beatle'. A mais famosa banda do século passado negava-se a vir à região devido ao conflito israelense-palestino". A proibição do governo se tornou, no texto, uma recusa dos próprios Beatles em irem a Israel. Talvez o autor tenha ignorado o pedido oficial de desculpas do embaixador do país em Londres feito para McCartney, Ringo e Starr e também às famílias de John Lennon e George Harrison.

Mas o fato é que a apresentação do ex-beatle trouxe à tona novamente a questão do boicote de artistas a Israel. O produtor Shahaf Schwartz conta que metade dos shows acertados no ano passado foram cancelados, o que deve se repetir em 2008. A incerteza é tanta que as pessoas só acreditam de fato que uma apresentação vai ocorrer quando está próxima da data prevista. Antes, ninguém arrisca.

A Campanha pelo Boicote Cultural e Acadêmico a Israel, movimento fundado pelo analista político palestino Omar Barghouti, envia cartas e comunicados a diversas personalidades pedindo que não compareçam a Israel, tentando repetir a tática utilizada em relação à África do Sul à época do apartheid. O governo israelense nega que haja qualquer similitude entre uma situação e outra. Mesmo assim, em junho deste ano o cineasta Jean Luc Godard desistiu de participar de um festival no país, segundo assessores, influenciado também pela pressão política. A Campanha pelo Boicote enviou uma mensagem ao francês que perguntava: "Você foi a um festival de cinema africâner durante o apartheid na África do Sul? Por que Israel, então?".

A pressão também fez com que o ex-Pink Floyd Roger Waters mudasse o local de um show em 2006, inicialmente marcado para Tel Aviv. Ele realizou sua apresentação em um lugar simbólico que mostra a possibilidade de os dois lados conviverem lado a lado: o povoado árabe-judaico de Neve Shalom. Antes, pichou a frase "derrubem o muro" em um dos painéis de concreto que formam a barreira construída por Israel na Cisjordânia. À época, declarou: "Isto é uma construção horrenda. Já vi fotos dela, já ouvi falar muito dele, mas sem estar aqui não é possível imaginar até que ponto é terrivelmente opressivo e como é triste ver as pessoas passando por estes buraquinhos. Isso é uma loucura."

3 comentários:

Marcão disse...

O que posso dizer é que, se tem dinheiro (e muito) no meio, McCartney e os outros beatles nunca recusaram propostas por questões tão prosaicas quanto conflitos políticos ou religiosos. E tenho a ligeira impressão de que Israel pagou um "precinho" bem razoável...

McCartney já está escolado com esse tipo de polêmica. Em 1966, os Beatles foram tocar em Tóquio e enfrentaram duros protestos contra o fato de se apresentarem no sagrado templo Budokan. Questionado sobre a tal "profanação", numa entrevista da época, McCartney respondeu:

- Se um artista japonês for tocar em qualquer espaço em Liverpool, ninguém de lá vai dizer que ele está profanando alguma tradição ou coisa parecida.

Ao que John Lennon atalhou:

- Além do que, nós também somos muito tradicionais!

Anônimo disse...

Não há o que justifique a existência de Israel. Aquilo é uma invasão absurdamente legitimada pela ONU graças a pressões das grandes potências.
Israel não passa de um enclave do imperialismo no Oriente Próximo.
Boicote mais que merecido.
Aquele lugar é tão palestino quanto o Tibete é chinês, apesar dos esforços imperialistas no intuito de convercer a todos do contrário em ambos os casos.

Anselmo disse...

Mohammad,

Acho que não há o que justifique a ocupação da Cisjordânia e a política de "segurança" do Estado de Israel. As aspas são pra enaltecer os questionamentos a essas políticas, que envolvem violações de direitos humanos.

Respeito sua opinião, mas acho que a existência do Estado de Israel, atualmente, é uma realidade que deve ser aceita, como já faz a Autoridade Nacional Palestina e mais 60 países desde 1988. A campanha citada no post pede a retomada das fronteiras de 1967, incluindo jerusalém oriental, direito de retorno dos refugiados e o fim da política do apartheid.

Nesses termos, concordo totalmente com políticas internacionais de restrição e boicote em decorrência do desrespeito a inúmeras resoluções do conselho de segurança da ONU e ao tribunal internacional de Haia, que exigiu o fim do muro do apartheid (da vergonha, ou da segurança(?)).

Funcionou na África do Sul. Não sei se funciona para a disputa entre Israel e Palestina. Entre outros motivos, porque a solução de um Estado é mal vista por ambos os lados.