Destaques

sexta-feira, setembro 26, 2008

Ressentimento de Alckmin será o fiel da balança

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Numa noite dessas, entre espetos e garrafas num fórum adequado, eu e os camaradas comentávamos sobre a cristianização do tucano Geraldo Alckmin na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Todos sabem que o colega de partido José Serra, governador do Estado, boicota sua campanha em favor da reeleição do atual prefeito Gilberto Kassab (DEM). E este será um fator determinante para definir qual dos dois enfrentará Marta Suplicy, do PT, no segundo turno. Na última pesquisa da Datafolha, ela apareceu com 37% das intenções de voto. Kassab e Alckmin (foto acima) estavam empatados com 22%, mas o primeiro só cresce.

A briga é antiga e o possível desfecho era exatamente o tema de nossas conjecturas na mesa do bar: no segundo turno, se passar o democrata, Alckmin apoiará? E se passar o tucano, Kassab subirá no palanque? O palpite consensual, no buteco, foi de que ambas as hipóteses são bem improváveis. Porque o fiel da balança será o nível de ressentimento de Alckmin, nem um pouco desprezível caso fique fora do segundo turno - afinal, ser fritado publicamente pelo próprio partido, que detém a máquina do estado mais rico do país, é coisa muito séria. Significa que, se permanecer no PSDB depois disso, sua carreira política será de coadjuvante para baixo.

E o tal ressentimento de Alckmin já começou a dar as caras. Primeiro, lançou uma provocação em sua campanha: "Em 96, Kassab estava com Pitta; em 98, Kassab estava com Maluf; em 2008, Kassab está com Quércia. Na mesma época, Geraldo estava com Serra, com Covas e, agora, com o PSDB" (notem que ele diz que estava com Serra, e agora está com o PSDB...). O democrata - com evidente bênção de Serra - rebateu com adesivos dizendo "Sou tucano, voto Kassab". Alckmin cogitou produzir outro adesivo, com golpe baixo: "Não existe meio tucano nem meio traidor". Kassab cutucou novamente a ferida, hoje, ao declarar que seu governo "também é tucano, sim".

No frigir dos ovos, se a imolação política de Alckmin for confirmada com sua ausência no segundo turno, podemos ter três situações bem interessantes. Segundo o camarada Glauco Faria, Geraldinho pode optar por apoiar Kassab (mas nenhum de nós acredita nisso), ou enfiar o rabo entre as pernas e declarar que não apóia ninguém, ou chutar o pau da barraca de uma vez e apoiar Marta. Este seria o primeiro passo para abandonar o PSDB e desembarcar em outro partido que lhe trate com um pouco mais de respeito, como o PTB, por exemplo. Concordamos todos que a idéia, para ele, não é ruim. Mas estaria Alckmin tão ressentido assim? Façam suas apostas.

2 comentários:

Glauco disse...

Acho que se Alckmin perder por pouco vai ficar até mais ressentido, já que o racha tucano seria justamente o fator que o tiraria do segundo turno. Daí, acho que a migração para o PTB seria o mais natural. Ou ficaria no PSDB e cerraria fileira com Aécio, perpetuando o racha no ninho paulista e podendo comprometer as ambições presidenciais de Serra.

Nicolau disse...

A nacionalização da disputa é um fato que deve ser considerado nessa análise. Nem Aécio nem Serra (mas especialmente o primeiro, que tem menos tradição de trator) vão querer um partido muito rachado em 2010. Uma matéria do Raymundo Costa, no Valor de hoje, fala exatamente desse racha tucano em SP. Segundo o texto, o Aécio Neves e parte da caicaiada do partido estão se movimentando para evitar o racha completo. A avaliação é que se o PSDB chegar rachado em 2010, não tem chance contra o candidato do Lula. E se não tiver candidato forte em 2010, dará passos decisivos na direção, que já trilha hoje, de se tornar um sub-PMDB, dividido em federações de caciques estaduais. Avaliam os tucanos, segundo o texto, que o processo de consolidação dessa candidatura vai gerar rachas e gente vai sair do partido, mas não vai ser uma coisa drástica como a saída do próprio PSDB do PMDB. Sobre o Alckmin, parece que o nosso velho conhecido Marcio França apóia entusiasmado a ida dele para o PSB, mas tem resistências na cúpula, que já decidiu não estar contra Lula em 2010. O texto avalia tb que Alckmin dificilmente conseguiria levar consigo muita gente se saísse do PSDB, pq o partido é muito enraizado em SP. Como podem ver, o papo todo passa pela disputa entre Aécio e Serra e na tentativa de não permitir que ela esfacele o partido até 2010. “Para este ano”, diz a reportagem, “os tucanos avaliam que quem perder o primeiro turno da eleição em São Paulo enfia a viola no saco e apóia o vencedor, com ou sem muxoxos”. Tem que ver se a frieza chega a tanto e, mais ainda, se o que for dito na televisão vai colar, depois das porradas do primeiro turno e do mal estar na base.