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segunda-feira, outubro 20, 2008

F-Mais Umas - A dura vida de Marta e Massa

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CHICO SILVA*

Por dever do ofício, tive a infelicidade de perder meu sono para assistir a uma das mais enfadonhas corridas que vi nos meus 28 anos de F-1. Tenho um dispositivo que me tira do ar quando assisto a algo que não me agrada. Isso vale para filmes, peças de teatro, espetáculos cênicos e coisas que o valham. E não deu outra. Lá pela 30ª volta do GP da China, mais ou menos seis da manhã no novo horário de verão, apaguei. E quando voltei à vida tudo estava exatamente como eu havia deixado. Lewis Hamilton (foto acima) a léguas de distância na frente, Kimi Raikkonen longe, apenas escoltando o líder e Felipe Massa perdido e sem ter muito que fazer. A única mudança nessa seqüência foi a previsível ordem da Ferrari para Raikkonen inverter a posição com Massa. Nem vale a pena perder linhas questionando isso. Até porque essa mesma Ferrari já fez coisa pior, como tirar de Rubens Barrichello a vitória no GP da Áustria em 2002 e entregá-la para Michael Schumacher.

Agora a decisão da temporada vai para Interlagos. Pela primeira vez na história um piloto brasileiro terá a chance de decidir um título em casa e ao lado de sua torcida. Infelizmente, o candidato em questão não é nenhum Emerson, Piquet ou Senna. Se para eles já seria difícil descontar a diferença de sete pontos que separa o líder do vice, imagine então para Massa, que apesar de bom piloto está longe desse trio de gênios. Comparo a missão de Massa com a de Marta Suplicy (foto à direita) na disputa com Gilberto Kassab pela Prefeitura de São Paulo. Muito atrás de seus adversários, ambos contam com um fato novo para mudar seus destinos. E Marta e Massa ainda têm outra coisa em comum além do vermelho, cor do PT e da Ferrari. Os dois cometeram deslizes no embate contra seus adversários. Ou a atitude de Massa de jogar seu carro deliberadamente contra a McLaren de Hamilton no GP do Japão não remete ao infeliz questionamento de Marta a respeito da vida íntima de seu rival?

De toda a forma, que Massa e Marta mantenham a serenidade e tentem virar o jogo com ética, contundência cirúrgica e equilíbrio. E se perderem, que tenham a sabedoria para cair de pé. É preciso ser grande até nas derrotas.

Parabéns, Nelsão!
Enquanto aguarda a definição sobre o futuro do filho, o tricampeão mundial Nelson Piquet teve nessa semana um bom motivo para comemorar. No último dia 15 completaram-se 25 anos de seu bicampeonato mundial. Apesar de moleque, eu me lembro muito bem. Ao volante da Brabham azul motor BMW turbo e calçada com pneus Michelin (foto à esquerda), Piquet teve uma árdua disputa contra os franceses Alan Prost, da Renault, e Renê Arnoux, da Ferrari. Passou a maior parte do campeonato atrás de Prost, que tinha um equipamento mais confiável. A Renault foi pioneira na implantação da tecnologia turbo na F-1. Começou a desenvolver esses motores em 1977. A Brabham de Piquet havia estreado esse motor apenas no ano anterior.

A quatro provas do final, Piquet estava a 14 pontos de Prost. Mas duas vitórias, uma em Monza e outra no aposentando circuito inglês de Brands Hatch, o colocaram de novo no jogo. O bi veio na última corrida da temporada, realizada no autódromo de Kyalami, na então África do Sul do apartheid. O quente circuito africano vitimou Prost e Arnoux, que abandonaram a prova com problemas mecânicos. Após as desistências, Piquet, que liderava a corrida, tirou o pé do acelerador e fechou a prova na terceira colocação, levando para Brasília seu segundo caneco. O brasileiro foi o primeiro piloto campeão do mundo com um carro equipado com motor turbo. E também o primeiro a vencer com pneus da francesa Michelin. Felipe Massa seguirá seu caminho? Difícil...


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

3 comentários:

Glauco disse...

Se a Marta tivesse na Justiça Eleitoral o mesmo tipo de "ajuda" que o Massa tem tido em decisões de comissões de GPs, talvez tivesse mais chances de vitória.

Anselmo disse...

Volta Piquet!

Marcão disse...

No início dos anos 1980, com o sucesso de Piquet, meu pai adquiriu o hábito de assistir as provas da F-1 no domingo pela manhã (a única opção televisiva no horário, pelo o que me lembro, era o sofrível Desafio ao Galo, na Record). Naquele dia da semana, aos 8 ou 9 anos, meus compromissos se dividiam: às 9h eu tinha um compromisso "recomendado" pela minha mãe, a chamada "missa das crianças", na Igreja Matriz de Taquaritinga, a uma quadra da minha casa.

No retorno, ali pelas 10h ou 10h30, encontrava meu pai assistindo a F-1 e tomando cerveja. O almoço coletivo da familiada era na minha casa, mas nesse horário nunca aparecia ninguém. Minha mãe estava na cozinha, preparando a comida, e meu pai no sofá, sozinho.

Por isso, eu cumpria a segunda obrigação: servir de "companheiro de copo" para ele, pois minha mãe o proibia de ir para o bar naquele horário (se fosse, não voltava mais). Ele punha um copo de cerveja para mim e foi ali que comecei nessa "profissão" - e desenvolvi a grande amizade que tenho com meu pai até hoje.

Me lembro muito bem desse GP que deu o bicampeonato ao Piquet. E é engraçado: não sei se pela ausência de cerveja, não me lembro quase nada das missas dominicais. Tanto que, pouco depois, nunca mais pus o pé numa igreja. No bar, porém...