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segunda-feira, novembro 24, 2008

O desconto-rato

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Mais uma vez era domingo e, pra variar, eu e o hermano Luciano descemos para a Padrogas (apelido "carinhoso" de uma padaria/buteco de Pinheiros, em São Paulo) para tomar umas brejas e jogar conversa fora. Lá pelas tantas, o camarada deu um pulo e quase caiu da cadeira. E falou: "-Velho, um rato passou no meu pé! Ele se enfiou embaixo da geladeira!". Confesso que não vi a abominável criatura, mas confio no amigo. Só que, e daí, fazer o quê? Se o rato foi embora, assunto encerrado. O problema é que, dez minutos depois, o bicho voltou.

Era uma ratazana grande, cinzenta, peluda. Ficou patinando sob nossa mesa e depois voltou para a geladeira, passando em seguida por baixo do balcão onde a Padrogas comercializa pães, queijos e presuntos (eca!). Bom, mas a vontade de beber era maior do que o nojo e simplesmente mudamos de mesa. Com isso, o rato ficou desimpedido para atingir seu objetivo: saltar pela janela que dá para a calçada da Rua Cardeal Arcoverde. Acontece que, nesse trajeto, tinha mais uma mesa ocupada - e por duas moças que, entretidas no papo de bar, não tinham notado nossas desventuras com o roedor.

Foi aí que eu vi o rato quase em cima do pé de uma delas e dei o alerta. Não sei se já meio de pileque ou por ser lerda, mesmo, a moça que estava de frente pra mim não conseguia compreender o que eu queria dizer com: "-Olha o rato! Olha o rato aí debaixo da mesa!". Ela se levantou e, confusa, acertou um chute no animal, que voou para a parede e subiu pelo batente da janela (que estava fechada). Aí foi a confusão, gritaria, gente derrubando cadeira, aquele fuzuê. Todo mundo viu o bicho grudado no batente da janela, no alto, tentando desesperadamente uma rota de fuga para a rua. Quando notou que não existia, deu um salto de volta para o chão e, dali, para o balcão de pães e frios.

O pior da história é que a Padrogas é uma daquelas padarias metidas a besta, que passam por uma reforma visual só pra cobrar mais caro por tudo o que vendem. E foi isso que revoltou o colega Luciano (foto à direita). "-Eu quero desconto, não é possível ficar bebendo aqui com um rato passando! Eu quero o desconto-rato!". Na mesa ao lado, dois manguaças escutaram o protesto e aderiram na hora. "-É isso aí! Desconto-rato! Tem que subtrair o rato na conta!".

Eu só ri, mas o Luciano tava falando sério. Na hora de pagar, ele intimou a mulher do caixa: "-Como? 26 reais?!? E o desconto-rato?". A mulher nos olhava meio incrédula e até tentou engatar uma desculpa esfarrapada do tipo "-Rato tem em todo lugar, sai do esgoto". Mas se tocou de que a nossa posição era irredutível. "-Desconto-rato, minha senhora! Ou não vou pagar nada!", decretou o compadre Luciano. Pois a mulher eliminou não-sei-que-lá e fechou em 17 pilas. O desconto-rato colou! E eu arrematei para o Luciano: "-Da próxima vez, pode deixar que eu mesmo trago o bicho numa bolsa...".

8 comentários:

Olavo Soares disse...

Rapaz, o fim da história parece piada de português. Sensacional.

Destaque para o trecho: "a vontade de beber era maior do que o nojo e simplesmente mudamos de mesa".

Marcão, um manguaça incorrigível (ainda bem)!

Nicolau disse...

História bizarra, digna da Padrogas, hehe!

Marcão disse...

Esqueci de dizer que tinha uma outra mesa com duas velhas que quase morreram do coração. E na hora que as moças foram embora, foram lá nessa mesa e trocaram beijinhos com as senhoras. Ou seja: o rato beijou o pé das moças e elas beijaram as velhas, em vez de beijar quem as avisou sobre o rato - no caso, eu e o Luciano! Inconformado, ele resmungou: "-Quando me perguntarem se sou um homem ou um rato, responderei que, infelizmente, sou um homem!".

Glauco disse...

Pô, pelo menos aquele rato que a gente viu no Moskão era pequeno...

Marcão disse...

Putz, agora lembrei que a Padrogas tem self service aos sábados - e a comida é servida bem onde o rato passeava. Credo.

Anônimo disse...

incrível.

você tá sugerindo que o desconto-rato seja uma linha do manguaça cidadão? Se for isso, vai ter também o desconto-mosca, desconto-barata e por aí vai? Seria isso incumbência da Secretaria de Escatologia no Bar do Ministério da Manguaça Cidadão?

Marcão disse...

No Moskão, além do desconto-rato, do desconto-mosca e do desconto-Paratudo, devia ter também o desconto-moscuda-que-aponta-jogo-de-bicho, o desconto-jukebox-que-toca-forró-nas-alturas e o imprescindível desconto-salsicha-acebolada-do-Entreposto-de-Carnes-Pantanal (Henao nos defenda e guarde!).

Anônimo disse...

Em resumo, o rato custou $9,00. E para desconto total, seria preciso que aparecessem 3 ratos nos pés de vocês... Eu não deixava assim não. Que nojo!!