terça-feira, novembro 11, 2008

O filho eterno e o futebol

Em meio aos preparativos para minha viagem, enfiei na cabeça que não poderia abandonar as leituras em língua portuguesa sem me dedicar a O filho eterno, obra de Cristovão Tezza, altamente elogiado pela crítica e favoritíssimo aos prêmios que disputa. Até agora, levou o Jabuti e o Portugal Telecom.

É um baita livro. Não tenho a pretensão de apontá-lo como o melhor romance brasileiro do século até agora, como tenho lido por aí, mas surpreende pela crueza com que o personagem se expõe e pela ausência de julgamentos moralóides que parecem inerentes à situação descrita. O protagonista é um escritor fracassado - a inspiração é autobiográfica - e sustentado pela esposa que se vê às voltas com um filho com Síndrome de Down, Felipe. Mais que isso não vou escrever, deixo links para outros textos aqui e aqui.

O que me faz comentar o livro aqui é a relação do menino, já na idade adulta, com o futebol. Uma criança com Síndrome de Down não tem noção de temporalidade, e é com o futebol que Felipe aprende que o mundo não é previsível e que o tempo passa. Citando Idelber Avelar:

A imprevisibilidade do futebol vai dando a Felipe uma idéia de “futuro” e através do conceito de campeonato ele entende o de calendário. O encadeamento de jogos funciona como metáfora inteligível do devir, da passagem do tempo, mesmo que continue uma tremenda confusão sobre o que é Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores ou Campeonato Paranaense.

O livro é muito mais que isso e vale muito a leitura. Pra quem é apaixonado por futebol, essa é só uma razão a mais para o livro emocionar.

6 comentários:

  1. Pronto, me convenceu a comprar o livro!

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  2. O conceito de campeonato também me fez entender o de calendário, na infância.

    E não tenho síndrome de Down, ao menos não que eu saiba.

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  3. Parece bom o livro, entra na minha lista. Mas Anselmo, o que é interessante, o post ou a confissão do Marcão?

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  4. Só faltou contar que tanto o autor quanto o protagonista da história são torcedores do Furacão.

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  5. Aliás, deixe eu explicar melhor essa "confissão": o futebol me ensinou a lidar com as derrotas. Bebendo.

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