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segunda-feira, março 30, 2009

Belluzzo, o caçador de títulos perdidos

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O economista e presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo (à direita), já entrevistado por este blogue, continua sua "cruzada" pela legitimidade de títulos conquistados pelo seu time em tempos "de antanho". Como diretor de Planejamento do clube, junto com o ex-presidente Affonso Della Monica, ele conseguiu que a Fifa homologasse a polêmica Taça Rio de 1951, vencida pelo alviverde, como um "mundial". Agora, os alvos são os torneios nacionais existentes antes do primeiro Campeonato Brasileiro, que começou a ser disputado, oficialmente, em 1971. Com o apoio dos presidentes de Cruzeiro, Santos, Bahia, Botafogo-RJ e Fluminense, Belluzzo apresentou publicamente, na semana passada, um novo "dossiê", a ser encaminhado para a CBF, que pede o reconhecimento e a contagem dos títulos da Taça Brasil (disputda entre 1959 e 1968) e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (que existiu entre 1967 e 1970) como legítimos Brasileirões.

Nós, do Futepoca, já antecipamos essa discussão muitas vezes, como aqui, aqui e aqui. A questão tem gerado muita polêmica. Ademir da Guia (à direita), no Lance! de domingo, defende o reconhecimento dos dois torneios: "Jornais e revistas da época classificavam os vencedores da Taça Brasil e Roberto Gomes Pedrosa como verdadeiros campeões brasileiros. Os clubes vencedores daquelas competições têm o direito de brigar pela oficialização de suas conquistas". No mesmo jornal, outro palmeirense, o comentarista Mauro Beting, pondera que o Robertão até poderia ser considerado um Brasileiro, mas a Taça Brasil não. "Taça Brasil é a mãe da Copa do Brasil - torneio eliminatório, com representantes de quase todo o país; Robertão é o pai do Brasileirão - um campeonato de fato, com os melhores do país, na época de ouro do futebol brasileiro", argumenta o jornalista. "O vencedor do Robertão é tão campeão brasileiro quanto qualquer outro a partir de 1971. O vencedor da taça Brasil é tão campeão como qualquer campeão da Copa do Brasil a partir de 1989", acrescenta.

Já o treinador e ex-jogador Paulo César Carpegiani (à esquerda) tem opinião inversa à de Beting: "O Roberto Gomes Pedrosa era um torneio disputado por grandes equipes do nosso futebol, mas se caracterizou principalmente pela briga entre clubes do eixo Rio e São Paulo. (...) A Taça do Brasil, que tinha uma forma de disputa semelhante à da Copa do Brasil, é mais coerente para que seja considerada um torneio nacional por envolver equipes de todo o país desde o início". Por sua vez, Luiz Fernando Gomes, colunista dominical do Lance!, resolveu esculhambar a questão na raiz. Com o título de "Festival de Besteira que Assola o País" (plagiado intencionalmente do finado Stanislaw Ponte Preta), o colunista afirma que "cartolas que não dão conta de cuidar do presente e de planejar o futuro agora querem mudar o passado". E ridiculariza argumentos pró e contra a avalização dos torneios pela CBF, como o do santista Adilson Durante, que defende a questão simplesmente para que Pelé seja "campeão de todos os títulos", ou do sãopaulino Marco Aurélio Cunha, que é contra porque tais campeonatos significam "o fim de uma época e de uma cultura" e, por isso, "não faz sentido associar os títulos".

Gomes satiriza: "A partir de agora ele (Marco Aurélio - foto à esquerda) vai ter de dizer que o São Paulo não é mais tri, mas tem apenas um título mundial - o de 2005, no Mundial da Fifa no Japão. Os outros dois, daquela taça intercontinental de um jogo só, são de 'uma outra época, outra cultura'. Não se pode associar os títulos...". Mas o colunista não defende ou rechaça o reconhecimento dos torneios proto-nacionais. Ele prefere dizer que "é coisa de quem não tem o que fazer". Isso tudo ainda vai dar muito pano pra manga, mas, em minha opinião, acho que a CBF vai acabar capitulando aos desejos de Belluzzo e dos outros clubes envolvidos - visto o reconhecimento precedente (e até mais improvável) da Taça Rio como "mundial" pela Fifa. Por mim, já cheguei a pensar como Mauro Beting, na associação do Robertão com o Brasileiro e da Taça Brasil com a Copa do Brasil. Mas hoje, pensando melhor, acho que seria contrasenso reconhecer um e não outro.

Como diz o companheiro Glauco, a Taça Brasil era o único torneio nacional existente entre 1959 e 1966 e indicava os times que disputariam (e que disputaram) a Copa Libertadores. Porém, se a disputa for reconhecida e contabilizada como Campeonato Brasileiro, o que acontecerá com a Copa do Brasil? Afinal, ela também classifica times para o torneio continental. Tenho quase certeza de que todos os que venceram a Copa também vão reivindicar o reconhecimento dessa competição como Brasileirão. Daí, no "vale tudo", ou seja, na soma da Taça Brasil, Robertão e Copa do Brasil como títulos brasileiros, o novo ranking colocaria o Palmeiras como campeão absoluto, para alegria do "garimpeiro de títulos" Luiz Gonzaga Belluzzo:

1º - Palmeiras (9 títulos) - 1960, 1967 (Taça Brasil), 1967 (Robertão), 1969, 1972, 1973, 1993, 1994, 1998

2º - Santos (8 títulos) - 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 1968, 2002, 2004

3º - Flamengo (7 títulos) - 1980, 1982, 1983, 1987, 1990, 1992, 2006

4º - Corinthians (6 títulos) - 1990, 1995, 1998, 1999, 2002, 2005

- Cruzeiro (6 títulos) - 1966, 1993, 1996, 2000, 2003 (Copa do Brasil), 2003 (Brasileiro)

- Grêmio (6 títulos) - 1981, 1989, 1994, 1996, 1997, 2001

- São Paulo (6 títulos) - 1977, 1986, 1991, 2006, 2007, 2008

8º - Internacional-RS (4 títulos) - 1975, 1976, 1979, 1992

- Vasco (4 títulos) - 1974, 1989, 1997, 2000

9º - Fluminense (3 títulos) - 1970, 1984, 2007

10º - Bahia (2 títulos) - 1959, 1988

- Botafogo-RJ (2 títulos) - 1968, 1995

- Sport (2 títulos) - 1987, 2008

13º - Atlético-MG (1 título) - 1971

- Atlético-PR (1 título) - 2001

- Coritiba (1 título) - 1985

- Criciúma (1 título) - 1991

- Guarani (1 título) - 1978

- Juventude (1 título) - 1999

- Paulista de Jundiaí (1 título) - 2005

- Santo André (1 título) - 2004


E então, alguém concorda com ou discorda dessa nova "configuração"?

14 comentários:

Fabricio disse...

Já ouvi torcedores mais antigos dizendo que a diferença entre os campeonatos ante e pós 71 foi apenas o nome. Do mesmo jeito que aconteceu em 2000 com a JH.

Na minha opinião, o reconhecimento é válido e procedente, porém, acho que era pra ter sido feito à época. Agora só vai dar discussão.

E se for pra causar, o Santos já pode aproveitar e pedir a taça das Bolinhas.

Nicolau disse...

Primeiro, uma correção: falta contar o título do Corinthians da Copa do Brasil em 2002.

Sobre o pleito, eu acho que faz sentido. É óbvio que os vencedores da Taça Brasil e do Robertão eram os melhores times do país em cada ocasião - ou o Santos não era o melhor time da década de 60?

Argumenta-se com a coincidência dos campeonatos no mesmo ano, mas isso é tão importante assim?

Marcão disse...

Tem razão sobre o de 2002, Nivaldo. Já corrigido.

Pedrox disse...

Se o critério para ser campeão brasileiro é ter vencido um campeonato nacional que vale vaga na Libertadores, então inclui como campeão brasileiro também o Paysandu, campeão da copa dos campeões de 2002.

Acrescenta aí a de 2001 para o Flamengo e a de 2000 para o Palmeiras.

Marcão disse...

Boa, Pedrox. Campanha pela Copa dos Campeões já! A lógica do Belluzzo é essa: a próxima conquista será o Rio-São Paulo como Brasileirão!

Guilherme disse...

Sou contra esse pleito. Era outra organização, outros critérios. Se fosse como no inglês que mudou a estrutura mas as equipes, as regras, tudo se manteve tudo bem, mas aqui, eram campeonatos bem diferentes. Talvez a Taça Brasil como copa do Brasil... Sei lá, acho bem melhor o time se orgulhar de ter ganho algo que ninguém mais pode ganhar do que se igualar aos outros...

Opa! Falei... disse...

Faltou o Cruzeiro campeão da Taça Brasi de 66.

Glauco disse...

Pedrox, não é esse o critério. À época, a Taça Brasil dava acesso à Libertadores. Não é como hoje, em que, se o time não for campeão da Copa do Brasil, pode se classificar até como quarto colocado do Brasileiro. Aliás, até 1962, apenas o campeão da competição ia para o sulamericano. Acho que deu pra perceber bem a diferença, né?

Quanto à comparação feita pelo Guilherme, é bom lembrar que o campeonato italiano, iniciado em 1898 com grupos regionais, só passou a adotar fórmula semelhante à atual em 1929. Todos os campeões anteriores são considerados, obviamente, campeões.

Maurício Alejándro Kehrwald disse...

Correção: campeão brasileiro de 2005, INTERNACIONAL

Marcão disse...

Bem observado, Opa! Falei. E já acrescentado o título de 1966.

Andre' BH disse...

Você dividiu o campeonato de 87?
Aparece para o flamengo e para o Sport.
Decida.

erick disse...

Cara... Se você arranjar um jornal recente que tenha a seguinte manchete: Palmeiras é campeão Brasileiro de 98 pela conquista da Copa do Brasil, como foi feito com a Taça Brasil, essa "coisa" que fizestes faz sentido...

Fora isso, não tem o que se discutir.

Fabricio disse...

Se é pra avacalhar, manda aí: Palmeiras campeão da Copa dos Campeões 2000 com Murtosa, Taddei, Alberto e Cia.

Em cima de quem????

Casal SaCy disse...

Ironias, argumentos esdrúxulos e torcidas a parte - afinal, os bambis, os flamenguistas e os curintianos não vão admitir que santos e palmeiras tenham mais títulos - , o fato é que o nosso futebol, até o advento dos pontos corridos no brasileirão, nunca teve um campeonato com critérios justos. Se o Robertão e a Taça Brasil excluíram clubes, o mesmo aconteceu durante anos no chamado Brasileirão, que tinha 90 clubes num ano e 30 no outro. Há times que NUNCA foram rebaixados em campo. Mas todo ano havia um critério distinto para a participação na série A do ano seguinte que ora colocava o time em módulos inferiores, ora simplesmente o alijava da temporada seguinte. Ou seja, as distorções são lá e cá. Jornais que fazem ranking de clubes, como a DitaFolha e o Estadão, conferem a mesma pontuação ao Robertão e ao Brasileiro, numa demonstração clara da importância daqueles torneios. Esta é uma história que não deve ser apagada. Ao contrário, deve ser revalorizada, para que as gerações mais jovens percebam que o nosso futebol não começou na década de 1970. Por isso sou a favor do reconhecimento destes títulos.
Abraços e parabéns pelo blog.