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quarta-feira, março 11, 2009

A passagem de Marcio Moreira Alves

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O jornalista Márcio Moreira Alves, mais conhecido por um discurso seu como deputado ter servido como desculpa para a decretação do AI5 pela ditadura, sofreu um AVC e estava sendo mantido vivo por aparelhos, que estão sendo desligados.

Mais uma perda de um pessoa correta, neste momento em que a profissão vem sendo aviltada por um Fla X Flu ideológico de falsos jornalistas, que escrevem qualquer porcaria em jornais, revistas  e blogues de esgoto. 

Como homenagem, vai abaixo, na íntegra, o discurso famoso, na Câmara Federal, no dia 2 de setembro de 1968, que Marcio dizia não ter a menor importância:

"Sr. Presidente, Srs. Deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta. É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da ARENA, o boicote ao militarismo. Vem aí o Sete de Setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile. Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas. Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me Sr. Presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia. Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."

6 comentários:

Olavo Soares disse...

Discurso lindo.

Marcão disse...

Rapaz, eu conheço Crateús, no Ceará, mas não sabia que a cidade era citada no famoso discurso. Muito interessante.

Glauco disse...

A política moderna (ou pós-moderna?) limou os grandes oradores do parlamento. Às vezes eles fazem falta.

Anselmo disse...

louvável o fato de a expressão "sr. presidente" ser usada apenas duas vezes no dicurso.

Nas transcrições atuais da câmara, sr. presidente, é uma profusão de "sr. presidente", sr. presidente. Isso quando, sr. presidente, não entram os apartes ao nobre deputado daqui ou dali, sr. presidente!

Anônimo disse...

Glauco, e o Mão Santa?!?!

Marcão disse...

Não consegui descobri o que foi esse episódio dos "14 oficiais de Crateús". Qualquer informação será muito benvida.