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quarta-feira, abril 08, 2009

O não-fato que virou factóide

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A campanha para as eleições presidenciais de 2010, na imprensinha brasileira, já começou. Pelo menos na (nefasta) Folha de S.Paulo, que, após o infeliz episódio da "ditabranda", comete novo ridículo ao ressuscitar um fato de 40 anos que simplesmente não aconteceu. No último domingo, 5 de abril, publicou a inacreditável "matéria" intitulada "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Neto". Estapafúrdio. Nem um golpe baixo seria de tão baixo nível. Por isso, sem querer engrossar a marola que a imprensinha tenta fazer sobre o risível factóide, reforço aqui, como trabalho realmente jornalístico, dois trechos da carta do jornalista e professor universitário Antonio Roberto Espinosa que a Folha, pra variar, recusou-se a publicar:

1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma.

Antonio Roberto Espinosa

Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de "Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade" e editor da "Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe".


É isso, fim de papo. E endosso a campanha: NÃO LEIO A FOLHA!

6 comentários:

Nicolau disse...

A edição da Folha também traz uma entrevista com a Dilma com dois fatos a destacar. Primeiro, a edição da entrevista, que deixa um monte de oralidades do tipo "minha filha" e "minha santa" que, falando como jornalista, em geral a gente tira para melhorar o texto e dar mais clareza para as idéias do entrevistado. Se é isso, quando deixa, é para tirar a clareza das idéias e chamar a atenção para outra coisa.
O outro fato são duas respostas da ministra. A entrevista toda é sobre o tempo dela de VAR-Palmares, clandestinidade, tortura etc. Seguem as duas perguntas, em que a Dilma vai certeiramente na canela:

FOLHA - A sra. faz algum mea-culpa pela opção pela guerrilha?
DILMA - Não. Por quê? Isso não é ato de confissão, não é religioso. Eu mudei. Não tenho a mesma cabeça que tinha. Seria estranho que tivesse a mesma cabeça. Seria até caso patológico. As pessoas mudam na vida, todos nós. Não mudei de lado não, isso é um orgulho. Mudei de métodos, de visão. Inclusive, por causa daquilo, eu entendi muito mais coisas.

FOLHA - Como o quê?
DILMA - O valor da democracia, por exemplo. Por causa daquilo, eu entendi os processos absolutamente perversos. A tortura é um ato perverso. Tem um componente da tortura que é o que fizeram com aqueles meninos, os arrependidos, que iam para a televisão. Além da tortura, você tira a honra da pessoa. Acho que fizeram muito isso no Brasil. Por isso, minha filha, esse seu jornal não pode chamar a ditadura de ditabranda, viu? Não pode, não. Você não sabe o que é a quantidade de secreção que sai de um ser humano quando ele apanha e é torturado. Porque essa quantidade de líquidos que nós temos, o sangue, a urina e as fezes aparecem na sua forma mais humana. Não dá para chamar isso de ditabranda, não.

O link para a entrevista completa (só para assinantes é esse:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0504200908.htm

E aproveito para dar o link de uma entrevista mais ampla e interessante, feita pela Marie Claire:
http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML1697826-1739-1,00.html

Nicolau disse...

Aliás, como falei mal da edição da entrevista no começo, digo agora que deixar essa segunda resposta é um fato positivo.

Glauco disse...

As respostas da Dilma foram excelentes, mas ela poderia conceder entrevistas para veículos de comunicação alternativa ao invés da imprensona. Com certeza a edição seria muito mais honesta do que faz esse pessoal da imprensona.

Nicolau disse...

É um erro que todos os caras de esquerda cometem. Detestam a imprensona por um lado, chamam de golpista, diz que vão distorcer tudo que eles falarem. Dizem que adoram e apoiam a imprensa alternativa. Mas na hora H, querem mesmo é ver o nome na Folha e a cara aparecendo na Globo...

Maurício Ayer disse...

Cara, que nojo dessa Folha!

fredi disse...

Já não quero bem falar da Folha...