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sábado, abril 04, 2009

Para Walt Disney, samba vinha da cachaça

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Para Walt Disney – ou pelo menos para seu roteirista – o samba flui a partir da cachaça. Isso fica evidente em dois dos episódios de Zé Carioca, o personagem brasileiro criado nos anos 40 por um dos maiores representantes da indústria cultural estadunidense. Em ambos, o pássado é ladeado por Pato Donald. E ambos são do período da política de boa vizinhança com a América Latina.

Muita gente já escreveu sobre a influência de Disney na evolução do americanismo a partir da década de 30 na América Latina. A mais antiestados unidos delas é Para ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart. Tudo bem que uma parte da análise diz respeito aos padrões de família não convencional, em que não existem pais, mas apenas tios e sobrinhos... Mas faltou atribuir à cachaça a centralidade que Disney atribuiu. Ou que pelo menos eu vi.

Da cachaça pinta o samba
No primeiro, parte de "Alô, amigos", de 1942, lá pelos cinco minutos e, Zé Carioca leva o amigo pato para o Cachaça, um bar para tomar uminha. A danada está mais para rum, porque é vermelha, mas deixa o botafoguense Pato Donald acabado, bêbado de soluçar ("assim não é samba", avisa o Carioca ao sacar uma caixa de fósforo para completar o ritmo brasileiro).

Então, surge um pincel que acompanhou o episódio desde o início. Ele é mergulhado na garrafa de mé, e sai a desenhar os instrumentos musicais que produzem o samba. O chocalho, o pandeiro, a cuica... Olhe só:



Ficou alguma dúvida? Alguém já pensou o Donald dançando nessa intimidade toda com a Margarida?

Mas melhora.

Caipirinha também dá samba
O segundo desenho, de 1948, consegue parecer ainda mais sob efeitos de entorpecentes pesados. Em "A culpa é do o samba", a mesma dupla está acabada (de ressaca?) e recebe de um garçom-galo o "estímulo" do samba para acordar do estado de zumbi.

Depois de literalmente balançar o quadril em partituras musicais, o galo prepara uma caipirinha gigante que, mais do que servida aos protagonistas, tem neles parte de seus ingredientes. Devidamente preparado o copo da bebida verde, todos três terminam mergulhados numa viagem alucinógena com a participação da organista estadunidense Ethel Smith, que tocava com Carmem Miranda. Existe algum instrumento mais afeito ao samba-no-pé do que o órgão? Só vendo.



A história em detalhes é mais bem contada por aqui.

6 comentários:

Nicolau disse...

Impressionante. Mas me diz, Anselmo, vc concorda ou discorda da tese do Disney?

Marcão disse...

50% de todas as coisas do mundo devem vir da cachaça. Os outros 50% caminham para ela...

Glauco disse...

Concordo com o Marcão, introduzindo somente uma porcentagem das coisas que acontecem (ou não) pela ausência dela. Bush que o diga.

Sartorato disse...

Só pra registrar, como leitor dos quadrinhos do Zé Carioca nos anos 80/90, que o "galo" é o Rufião, personagem que foi relegado ao esquecimento. Assim como o charuto do Zé Carioca, que, de repente, sumiu. E eu vi esses desenhos quando criança e pirei, achei do caralho, me senti prestigiado pela "família" Disney. Qualquer dia eu penso em processá-los por ter caído na manguaça.

Sartorato disse...

Ah, e recomendo, nos relacionados do último vídeo, os vídeos "have you ever been to bahia" e "quindim de yaya", ambos que eu vi pela primeira vez no pré-primário, na escola, como forma de arte "brasileira", por indicação (obrigação) das professorinhas.

Anônimo disse...

Acho que vc está analisando um fato fora de seu contexto histórico-cultural.