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sexta-feira, maio 22, 2009

Uma casa, muita política e cachaça e a Tragédia do Sarriá

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Mouzar Benedito já teve livros resenhados no Futepoca por mais de uma vez. Ele mantém, em 90% das histórias que conta, algum elemento relacionado a dois dos temas centrais daqui, a política e a cachaça. O militante de esquerda e cachaceiro profissional – além de saciólogo e jornalista – lançou mais um livro, João do Rio, 45 pela Lumiar.

Contemplado pelo Programa de Ação Cultural (Proac) do governo do estado de São Paulo, o livro é, segundo o autor, "quase uma continuação do Pobres porém perversos", outro livro assinado por ele. O lançamento atual narra as desventuras político-etílicas-sexuais dos moradores e agregados de uma casa da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, no fim da década de 70 até meados dos 80.

Em um levantamento preliminar, feito ainda na mesa do bar onde Mouzar autografava o livro, constatei que, em média, cada página contém aproximadamente cinco referências a nomes de bebidas alcoólicas. Como as aventuras de Valadares, Fernando, Perobão, amigos e amigas giram em torno da casa e as reuniões são sempre abastecidas com destilados e fermentados, tudo se explica.


As discussões do final da ditadura militar, o início do PT – e dos problemas do partido – são descritos de uma visão não tão comum, a mesa do bar. Curioso a obra ser bancada por uma política pública de um governo do PSDB.

Futebol
A única menção ao esporte bretão que encontrei diz respeito à Copa do Mundo de 1982.
O primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo realizada na Espanha foi contra a União Soviética. Apenas umas dez pessoas estavam aqui e se maravilhavam com o futebol bonito de jogadores com Sócrates e Falcão, dirigido pelo técnico Telê Santana. (...)
Serginho Chulapa era praticamente uma unanimidade. Ninguém gostava dele. Outra unanimidade era o goleiro Valdir Perez: ninguém confiava nele. Cada bola atrasada provocava medo e suspiros, gritos de gozação, todo mundo achando que ele poderia engolir um frango. Ninguém entendia como Telê Santana, um técnico tão bom, podia ter levado para a seleção esses dois jogadores.
Norberto era fanático pelo Toninho Cerezzo, que o Virgilio odiava. Valadares gostava do Falcão, que não era vítima de grandes ódios de ninguém, e do zagueiro Luizinho, um negro craque, que não dava chutão, não fazia uma falta, não chutava ninguém. O atacante Éder dividia opiniões. A maioria achava que ele tinha apenas um chute forte e certeiro, não servia para mais nada. Mas jogou bem, marcou um gol no segundo tempo e se redimiu. Sócrates foi o autor do outro gol, na vitória brasileira por 2 x 1. Zico não tinha inimigos, mas também não tinha nenhum fã exacerbado aqui.
Depois do jogo, cachaça e cerveja até a noite.
Finalmente chegou o jogo pelas oitavas-de-final com a Itália. Eram 40 pessoas e um panelão de feijoada foi preparado, um monte de goró à disposição, só esperando a festa.
Marcelo, italiano, brincou:
– Não quero estragar a festa, mas aposto que a Itália vai ganhar esse jogo.
Todos riram, mas o Mariozinho resolveu levar a proposta a sério. Acabaram apostando uma caixa de cerveja. Mariozinho já considerava a aposta ganha, pois a Itália vinha jogando muito mal.
Ao final da Tragédia do Sarriá, o pagamento:
O Mariozinho foi até a padaria, xingando, levando uma caixa de garrafas vazias e voltou com outras cheias, para pagar a aposta feita com o Marcelo. Colocou todas na geladeira, pôs uma cadeira ao lado e ficou bebendo, sentando.
Ninguém tocou a feijoada. Ficou aquele clima de velório, todo mundo foi embora e o Mariozinho continuou ao lado da geladeira. De manhã, no dia seguinte, ele dormiu um pouco, enfim. Havia pagado a caixa de cerveja que perdeu na aposta com o Marcelo, mas o Marcelo mesmo não ganhou nada: o próprio Mariorinho havia bebido a caixa de cerveja inteira.
É justo.

5 comentários:

Nicolau disse...

Grande Mouzart, figuraça da esquerda alcolizada brasileira. Mas o que o pessoal tinha contra o Chulapa, oras? No mínimo, o cara tem estilo.

Glauco disse...

Grande Mouzart, figuraça da esquerda alcolizada brasileira (2). Pelo menos o Mariozinho pode beber depois da derrota.

brunna disse...

Grande Mouzart, figuraça da esquerda alcolizada brasileira (3).

Anselmo disse...

pelamadrugada... bando de pessoal sem criatividade pra comentar.

o índice de 5 menções a bebidas por página seria candidato ao livro dos recordes etílicos?

Marcão disse...

No dia do Brasil x Itália, o Dario "Dadá" Maravilha deu uma entrevista para o rádio (ou TV) dizendo que íamos perder. Depois do jogo, sua casa, em Salvador (BA), foi apedrejada - ele teve que chamar a polícia.