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terça-feira, junho 09, 2009

Alguns minutos nas ruas de Salvador

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– Tome esta fitinha do Senhor do Bonfim.
– Obrigado, não quero.
– Mas é um presente!
– Obrigado mesmo, não quero.
– Não paga nada não, pode levar.
– Não.
– Mas veja essa correntinha, tem de berimbau, tem do elevador Lacerda, tem...
– Não, não, obrigado.
– Veja, é baratinho, quase nada.
– Não.
– Então dê uma ajuda a um pai de família, o quanto puder...
– Desculpe, amigo, não tenho nada.
– Qualquer coisa ajuda...

***

– Tome esta fitinha.
– Obrigado, não quero.
– Mas é um presente!
– Obrigado mesmo, não quero.
– Não paga nada não, pode levar.
– Não, amigo, de coração, não quero.
– Mas veja essa correntinha...
– Já gastei meu dinheiro, não quero.
– Mas e esse colar...

***

– Tome esta fitinha.
– Obrigado, minha amiga, não quero.
– É um presente meu para você!
– Não quero mesmo.
– Não paga nada não, pode levar.
– Não.
– Mas veja essa correntinha...
– Não!
– Mas e esse colar...

***

(Enquanto como um acarajé.)
– Tome esta fitinha.
(Apenas aceno com a mão, recusando.)
– Limpe sua boca, seja mais humilde.
(Salve simpatia!)

***

(Chegando próximo a uma roda de capoeira.)
– Chegue aqui, chegue.
– Acabei de chegar, estou só olhando.
– Chegue, não tenha medo.
– Não tenho medo.
(Aponta para um chapéu jogado no chão.)
– Deixe aí uma ajuda para os irmãos...
(Jogo uma moeda de 1 real.)
– Mas o que é isso, meu patrão!

***

– Tome esta fitinha.
– Não.
– É um presente meu para você!
– Não.
– É de graça!
– Não, não, não!!!!
– Então veja esta correntinha, tem de berimbau, do elevador Lacerda, tem...
– Não!!!! Que inferno! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!

8 comentários:

fredi disse...

MAurício, já passei por isso, o que desanima muito ir para Salvador.

Mas teve um espirituoso. Estava eu visitando a igreja do Bonfim e veio um com a indefectível fitinha. Depois do diálogo, sempre igual, falei que não queria mesmo pela quinta vez e ele virou e disse:

O sinhô vem na igreja e não qué fitinha, isso é pecado...

Desde então purgo mais esse quinhão para levar ao Juízo Final.

Anselmo disse...

se o cara da capoeira tivesse pedido uma ajuda pra cervejinha, o manguaça teria dado pelo menos o dobro.

macari disse...

eu falei pra você cortar o cabelo no pelô como fez há uns 14 ou 15 anos. além de poder ler aquela revista manchete de 1978 com fotos da inauguração do shop ibirapuera, não iria passar por paulista com grana na roma negra.

Maurício Ayer disse...

Bem que eu tentei, mas o barbeiro já estava fechado àquela altura. Não pense que eu não procurei...

eueminhashistorias disse...

Fui a Salvador, vindo da Praia do Forte. Levava comigo 9 holandeses. Antes de deixar a Praia do Forte, comprei dois reais em fitinhas do Bonfim. Cada holandês ganhou umas duas ou três. Os dias que passamos, hospedados numa pousada no Pelourinho, foram de uma tranquilidade.
Nada melhor pra evitar que "dor de cabeça" da fitinha que a própria fitinha!

Fabricio disse...

O que acontece se pegar a fitinha e sair andando?

Marcão disse...

Em Fortaleza, na Praia do Futuro, eu botei um papelao na mesa escrito bem grande: "NAO, OBRIGADO, EU NAO QUERO NADA!!!!". So assim pra conseguir 10 minutos bebendo sem ser incomodado.

Maurício Ayer disse...

Foi uma das coisas que eu fiz, Fabricio. Essa narrativa é um ínfimo resumo do que eu vivi nas poucas horas que transitei pelo Centro Histórico. Eles vêm atrás de você querendo vender as malditas correntinhas, ou colares, ou cachimbinhos, ou bonequinhas de barro, ou minibongôs com motivos jamaicanos...