Destaques

quinta-feira, junho 18, 2009

Flores na Paulista

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Por Cristiane Toledo e Daniel Soares

"Serra, a culpa é sua! Hoje a aula é na rua!"
(canto proferido pelos manifestantes)


Na quinta-feira, 18, cerca de 5.000 manifestantes, dentre eles estudantes, professores e funcionários da USP, Unesp e Unicamp foram às ruas protestar contra as medidas políticas do governo Serra e da reitoria da USP, que nos últimos meses têm intensificado a violência e cortado qualquer diálogo com as classes da universidade.

A manifestação começou em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), às 12h. Dezenas de ônibus de várias partes do Estado trouxeram os manifestantes, alguns de outras universidades, para darem apoio aos grevistas. Membros de Centros Acadêmicos da UFRJ, UFMG e Ufscar (universidades federais do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Carlos, respectivamente), além de representantes da Apeoesp e do Sindicato dos Previdenciários também compareceram para demonstrar apoio. No começo do percurso, flores e placas foram distribuídas aos manifestantes, que desceram a avenida Brigadeiro Luis Antonio até chegarem ao largo São Francisco.

O objetivo era mostrar à população externa à universidade os motivos pelos quais a greve começou e se estende. Para resumir, existem pautas relacionadas a reajustes salariais, congelados há muito tempo pela reitoria, perseguições políticas a líderes sindicais (a demissão de Claudionor Brandão, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, Sintusp), o repúdio à Univesp (a universidade que oferecerá cursos á distância com o intuito principal de formar professores para a rede estadual de ensino), e, claro, a saída da Polícia Militar.

Desde o dia 1º de junho, a força policial ocupa o campus da USP para “proteger” o patrimônio público de piquetes, aapesar de piquetes serem uma forma legítima de manifestação de greve em todo o mundo democrático. No dia 9, os policiais atacaram os estudantes durante uma passeata feita dentro do campus, com bombas de gás pimenta e tiros de borracha, causando ainda mais repúdio e aumentando o movimento da greve. O movimento, por conta destes argumentos, exige eleição direta para reitor e mudanças estruturais na hierarquia das universidades públicas, para que situações antidemocráticas como essas não se repitam.

Uma vez concentrados na Faculdade de Direito, que se encontrava fechada desde às 22h30 de quarta-feira 17, por ordem do diretor Grandino Rodas, os manifestantes ouviram os discursos dos diversos representantes dos grupos que lá se encontravam, aplaudidos calorosamente. Entre estes discursos, houve três proferidos por professores e representantes do Centro Acadêmico XI de Agosto, do largo São Francisco. Estes se declararam envergonhados pela ação de Rodas, tanto de fechar a faculdade no dia anterior, como de ter apoiado publicamente as ações da Reitoria nos últimos dias. Vale ressaltar que Rodas é um dos candidatos a futuro reitor da USP.

O que impressionou, além da enorme quantidade de participantes, foi a organização e a calma com que tudo se procedeu. O único relato de violência foi quando um morador de um dos prédios da avenida atirou uma garrafa e feriu uma estudante. Após o último discurso do dia – proferido por Claudionor Brandão, representante do Sintusp – a manifestação se dispersou e os estudantes voltaram para os ônibus que os aguardavam.

Sem nenhum incidente negativo, o movimento sai se sentindo fortalecido, apostando numa possibilidade de mudanças e já com nova manifestação marcada para segunda-feira, em frente à reitoria da USP. No dia da manifestação mesmo já houve uma vitória: durante os discursos foi anunciado que o projeto da Univesp será adiado para 2010. Até mesmo a pessoa que atirou a garrafa foi encontrada e encaminhada a uma delegacia, para pagar pelos seus atos.

Talvez a reitora Suely Vilela precise, após o dia de hoje, repensar o que foi dito na Folha de São Paulo, ao afirmar que “minorias radicais pretendem manter a universidade refém de suas idéias e métodos de ação política, fazendo uso sistemático da violência para alcançar seus fins". Afinal, a única violência veio de uma pessoa – ou seja, uma minoria – e 5.000 pessoas andando juntas e cantando pacificamente num só coro “Fora Suely!” mostram que deve haver algo de muito errado na administração da universidade.

Cristiane Toledo e Daniel Soares são alunos da USP e participaram da passeata desta quinta-feira.

3 comentários:

Anselmo disse...

Grande Daniel!

Vale ver essa foto: "deixa o dunga, mas tira a PM".

é o movimento "Fica, Dunga" ganhando força?

sobre o movimento da usp, é importante a passeata ter sido pacífica. em termos de imagem pra sociedade, é importante a marcha ter liberado o trânsito bem antes das 18h (a chegada ao largo são francisco foi antes das 17h, pelo que vi).

ressalto esse aspecto da imagem por um motivo simples. parte das demandas dos estudantes são mto aml explicadas pela mídia. o termo Univesp, crítica ao modelo de ensino a distância na usp, é apresentado como corporativismo de privilegiados que não querem ampliação da vagas.

Fugir de assim armadilhas é importante. claro que uma parte de quem olha de fora (e da mídia) vai continuar a olhar o movimento como "coisa de baderneiro", vai dar matéria de topo de página pra uma votação de estudantes contra a a paralisação...

o debate é bom. mto melhor do que qdo não tem ação violenta da polícia.

Glauco disse...

De fato, a Univesp é algo mal debatido, parte por culpa dos veículos de comunicação que estão se lixando pra isso porque o negócio é criminalizar, parte culpa dos próprios estudantes que não expõem de forma clara e nem se preocupam em escalrecer sua posição para a sociedade. Que tal um debate público entre representantes dos estudantes contrários e os defensores do sistema na USP. O pessoal da reitoria topa?

Daniel A. disse...

Só uma correção: os salários não estão congelados há muito tempo, os reajustes tem sido periódicos mas são muito baixos. Nos últimos 20 anos os salários se defasaram em mais de 40% pois a inflação aumenta todo ano e o salário aumenta a um ritmo menor.