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quarta-feira, agosto 26, 2009

Liédson é seleção

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Agora é oficial: o atacante Liédson, do Sporting, é o mais novo jogador da seleção portuguesa.

Liédson é baiano, e mora em Portugal desde 2003, quando iniciou sua trajetória no Sporting. É ídolo no clube, pelo qual foi artilheiro do Portuguesão em duas ocasiões, nas temporadas 2004/5 e 2006/7.

Sua naturalização já era dada como certa há algum tempo - e gerou protestos por parte do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

Mas agora está confirmada. Esperemos para ver Liédson em ação com a camisa encarnada. Vale lembrar que a situação de Portugal nas Eliminatórias europeias tá longe de ser tranquila. O time hoje é o terceiro colocado no Grupo1, atrás de Dinamarca e Hungria. Apenas o campeão de cada chave garante vaga direta na Copa; os oito melhores segundos colocados definem as vagas restantes em mata-matas.

7 comentários:

Marcão disse...

Inacreditavel que esse cara nunca tenha sido chamado para a selecao brasileira. Me lembro que ele fez uma otima temporada pelo Flamengo, em 2002, e no ano seguinte destruiu o meu Sao Paulo na final do Paulistao, pelo Corinthians. Sorte dos portugueses. Eu queria ele no meu time.

Anselmo disse...

acho justo que ele consiga ir pra seleção portuguesa. e acho importante nenhum técnico brasileiro te-lo convocado. seria sacanagem, pq seria só pra melar a intenção de ele ter chances de se consagrar mundialmente pela esquadra lusitana.

Leandro disse...

A ideia da Copa é (ou era) ter as seleções nacionais, representadas por seus jogadores.
Não acho legal que o cara jogue alguns anos no país e possa sair jogando na seleção de seus patrões. Acho que isso desfigura e torna menos legítimas as seleções.
O pior é que dentro de três ou quatro Copas seleções como Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Sérvia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Turquia ou Japão podem ser times formados com seis, sete, oito jogadores da América Latina e/ou da África.
Vai levar o torneio não o país que efetivamente tiver os melhores jogadores, aquele que formar a melhor equipe, mas quem puder pagar por isso.
É uma outra (e também cruel) faceta do tal "busines" que destrói o verdadeiro futebol.
As veias da América Latina e do 3º Mundo, de modo geral, seguem bem abertas.

Maurício Ayer disse...

Pois é, a rápida passagem do Liédson pelo Corinthians foi marcante.

Eu concordo em grande parte com o Leandro. A naturalização de jogadores não deixa de ser uma faceta da expropriação que o capital faz aos países mais pobres, que se tornam agora fornecedores de ídolos do esporte. Me lembra a situação descrita por Chico Buarque e Rui Guerra na sua "Gota D'Água", uma adaptação à brasileira da "Medeia" de Eurípides. A classe burguesa busca atrair para si (ou cooptar) os melhores talentos entre a ralé, e propagandeia o mito da ascensão social.

Vale lembrar dois casos. O famoso caso de Ben Johnson, grande recordista nos cem metros rasos, que era então um canadense. Quando o exame antidopping acusou o uso de anabolisantes, ele perdeu a cidadania e se tornou apenas mais um imigrante jamaicano. É bastante curioso isso, pois dificilmente um atleta se dopa sem a conivência de parte de sua equipe, pelo menos não neste nível. E essa equipe era canadense.

Outro caso é o da seleção francesa de futebol, justamente campeã em 98 sobre o Brasil, que tem vários jogadores naturalizados, inclusive o maior craque Zidane. Na última final que fizeram com a Itália, propalou-se que eram duas Europas que se enfrentavam. Uma, representada pela França, era a nova Europa, dos imigrantes, multicultural e multiétnica. Outra, representada pela Itália, uma Europa tradicionalista, que não mostra a verdadeira cara de sua atual população.

Muito bem, visto assim pela tevê pode parecer que o mundo está bem ajustadinho nesta fala. Mas um país como a França, que enfrenta constantemente os problemas por não regularizar a permanência de seus imigrantes, representar agora a confraternização multi-étnica é de um cinismo brutal. O atual presidente francês ganhou toda a notoriedade que o levaria a vencer a eleição por liderar a polícia na repressão às manifestações dos chamados "sans papiers". Mas nacionalizar uns jogadores (alguns dos melhores do mundo, dia-se) e vender a fachada da tolerância e integração é realmente risível.

A parte isso, fico feliz pelo Liédson conseguir jogar por uma seleção. Veio tarde, pois ele já não é tão menino, mas ele vai poder ter esse gostinho.

Nicolau disse...

Maurício, discordo em relação à França. Quem falou em França multicultural, se bem me lembro, foi o Zidane. Ele, filho de argelinos, quis usar a seleção como um símbolo para essa discussão, exatamente para se contrapor à xenofobia do país. Pelo menos foi assim que eu entendi. E ao imaginar que a francesada parou um pouco pra pensar no assunto de seus maior ídolo em décadas no futebol ser imigrante ou filho de imigrantes, acho que ele mandou bem.

Maurício Ayer disse...

Nicolau, bem antes de acontecer a fatídica final da copa, em que Zidane se tornou um herói nacional no seu gesto de revolta contra a xenofobia, já se falava dessa França multicultural e multi-étnica representada por sua seleção. O Zidane, que eu saiba, falou nisso depois. Essa comparação com a Itália circulou em muitos meios de comunicação da época, antes de acontecer essa final.

O que eu aponto com relação à França é o cinismo em se declararem os paladinos do respeito multi-étnico ("vejam a seleção") e tratarem com grande violência a sua população imigrante. Em vez de representante dessa população, a seleção se torna relações públicas do discurso oficial.

Leandro disse...

Quanto à falta de calibragem muito bem apontada pelo Maurício no que se refere ao discurso hipócrita dos sempre imperialistas franceses e aquilo que eles fazem "na prática" com os imigrantes, o filme "Bem-Vindo" traz um belo retrato disso.
Tanto que recolocou na ordem do dia lá na França o debate acerca das leis de imigração locais.