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quinta-feira, setembro 17, 2009

Para Lula, Serra e Aécio são de esquerda

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Em uma longa entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal Valor Econômico, há vários pontos interessantes sobre como Lula vê o país, a função do Estado, a economia. Longe de concordar com tudo, o ponto que mais me chamou a atenção até agora é este trecho:

Feliz do país que vai ter uma disputa que pode ter Dilma, Serra, Marina, Heloísa Helena, Aécio. Houve no país um avanço qualitativo nas disputas eleitorais. O Fernando Henrique e eu já fomos um avanço extraordinário. Fico olhando e vejo que não tem um único candidato de direita.
Tudo bem, meu título foi exagerado. Mas será que o Serra e o Aécio não são mesmo de direita?

Bom, Lula se diz "prático" em relação a privatização, que só é contra a desestatização de setores estratégicos. Diz que os empresários que avançaram perceberam que "fazer com que o pobre seja menos pobre é bom para a economia", porque "ele vira consumidor". E ao mesmo tempo que uma aliança nacional entre PT e PSDB é impossível.

Ele também fala de uma consolidação das leis sociais, para institucionalizar programas como o Bolsa Família e outros (imagino que seja Luz para Todos, ProUni, Pronaf), criados ou não nos últimos seis anos. E discute bastante sobre o modelo de Congresso que o país tem. Além de eleições, é claro. Também é interessante.

Mas eu ainda estou me coçando com essa ideia de que a direita não tem candidato.

30 comentários:

Zezé Sette disse...

Também não entendi essa do Lula...a essa altura do campeonato até a Marina é de direita...espere e verá...

Anônimo disse...

O próprio Lula é de direita

Andre Bastos disse...

Não me surpreendeu (fora o fato de ser uma frase COM sentido do Lula). Realmente não existe direita no Brasil. Nosso espectro político é bem deslocado pra esquerda.

Maurício Ayer disse...

Não foi o próprio Lula que disse numa entrevista que ele nunca foi de esquerda?

Mas, no fundo, acho que ele quis dizer que não tem nenhum candidato privatista ou entreguista , que trate movimentos sociais como caso de polícia ( não, não mesmo ), que deixe a educação em décimo plano , ou mesmo que seja populista , nada disso existiria numa disputa eleitoral entre esses candidatos.

Seiji disse...

Eu ando me coçando há um bom tempo com os discursos amenos e conciliadores do Lula. Além dos casos bem lembrados pelo Maurício sua omissão em relação às atitudes golpistas da grande mídia são "broxantes". Mas no fundo eu acho que o Lula tá é dando corda pra oposição e a mídia se enforcarem e irá soltar o verbo quando a corrida presidencial estiver bem definida, vide sua participação decisiva na eleição do Jaques Wagner. Estarei errado?...

Anselmo disse...

o conceito de direita e esquerda que o lula usa nao ficou claro mesmo.

Seiji disse...

Dá até pra achar uma explicação o fato dele ter dito que nunca foi de esquerda. Mas depois dizer que a direita não tem candidato confundiu mesmo.

Vinicius Grissi disse...

Principalmente Serra é um candidato com perfil de direita. O Aécio ainda é uma incógnita neste aspecto. Tem várias "caras".

Andre Bastos disse...

Não sei onde vcs vêem esse perfil de direita no Serra. Ele certamente não é um economista liberal (está muito próximo da linha intervencionista do Prof. Beluzzo), nem um político conservador.

Andre Bastos disse...

Sem contar o fato de ter sido preso pela Polícia de Pinochet, do Discurso por Jango em 1964, por ter sido expulso do país logo em seguida. Com todo respeito, José Serra não tem nada de direita.

Carlinhos Medeiros disse...

Vou mandar um link!

Nicolau disse...

André, o Serra pode ter um passado desenvolvimentista, de esquerda, ou o que seja (lembrando que Carlos Lacerda, que talvez seja o ícone máximo da direita na história do país, foi do Partido Comunista quando jovem). Mas hoje, seu governo adota posturas de direita - ou do que eu entendo como direita.

Criminaliza movimentos sociais e sindicais (como nas greves da polícia civil e, principalmente, dos professores), tenta diminuir o estado mesmo nos tais setores estratégicos que o Lula citou (como a venda da Nossa Caixa), prioriza "grandes obras" (como a ridícula ampliação da Marginal Tietê, um viés até malufista da administraçao do Serra) em detrimento de investimento social (a desvalorização dos professores no estado é flagrante na gestão Serra e em todo o reinao tucano em SP, sem falar na Fundação Casa), privilegia grandes empresas nas decisões de governo (como ao comprar livros didáticos e assinaturas da Folha e do grupo Abril, pagar para a Microsoft dar e-mails para os funcionários do estado, entre outras).

Além disso, ele é do PSDB, partido cujos parlamentares e governantes em geral adotam estas mesmas posturas (vide Yeda Crusius e sua relação com o MST; a defesa feita dos softwares pagos da Microsoft pelo deputado tucano Júlio Semeghini contra os softwares livres; a defesa dos interesses de petroleiras internacionais contra a Petrobras na exploração do pré-sal admitida pelo dputado Eduardo Gomes; sem falar em trocentas coisas do governo FHC). O PSDB é hoje um partido de direita porque representa socialmente a elite do país, especialmente a financeira e especialmente a de São Paulo. Por isso tem como aliado preferencial o PFL, que tem em seus quadros boa parte das elites tradicionais. Nada disso é a toa. E se Serra fosse de esquerda não estaria nesse partido, na minha opinião.

Um fato no Brasil é que ninguém tem coragem de se assumir de direita, no sentido de liberal, mercadista, conservador. Acho que isso se deve em parte a uma identificação que rola aqui entre direitistas e os defensores da ditadura militar. O fato é que teve gente de direita que defendeu os militares e gente de direita que brigou pela democracia. Mas isso não os deixa menos de direita.

Isso tudo posto, não concordo com a declaraçaõ do Lula. Dias antes da entrevista, na cerimonia de 45 anos do Ipea, ele falou em eleição sem os "trogloditas da direita":

"- Pela primeira vez, não vamos ter candidato (de direita). Não é fantástico, isso? Antes as campanhas tinham o de esquerda, o de centro-esquerda contra os trogloditas de direita - afirmou Lula."

O termo trogloditas pode dar uma pista sobre a interpretação do presidente, que pode passar por essa identificaçaõ de direita com a ditadura.

Moriti disse...

Creio que o Nicolau definiu bem o que representa não só o Serra, mas o PSDB todo. Com as práticas dos caras, não dá pra questionar que eles adotam políticas conservadoras e neoliberalóides que são direitistas, sim.
Sobre o Lula, das duas uma: ou ele está confuso porque subiu em palanques com alguns desses caras que ele classificou como não sendo de direita, caso da campanha das diretas ou está amenizando agora pra acirrar no período eleitoral.

Andre Bastos disse...

Eu assumo minha posição de direita numa boa. Desde que isso pelo lado liberal, e não-conservador. Sou liberal na economia e também nas posições políticas (pró-aborto, legalização de drogas, etc). Mas não sou estatista. Não consigo ver greve de polícia como movimento social legítimo, nem mesmo greve de professor em dia de aula como natural... Eu mesmo não me reconheço no PSDB, nem no PFL, não existe partido pra minha postura política hoje. Votaria no Serra por "menos pior". Não vejo também o Serra empunhando bandeiras liberais nem conservadoras com tanta clareza. Não existe político de direita no Brasil, nem conservador nem liberal.

Andre Bastos disse...

Movimento social, OK, mas isso não pode se contrastar com o estado de direito. Nenhuma categoria tem direito de paralisar serviços públicos e até o Lula já deu alguns exemplos de ter uma postura nesse sentido. É uma questão de Estado, não de governo.

Alois Andrade disse...

li toda a entrevista, e o que percebi é que Lula tá deixando a oposição com a pula atrás da orelha com sua forma estadista de tratá-la, justo eles que juraram de pé justos que o PT ia dar o calote na divida, iam implantar o comunismo "comedores de criançinhas" e por ultimo, roubar a poupança dos trabalhadores. Agora os mesmo são irônicamente "elogiados" pelo presidente mais popular da história...falando da tal DIREITA, penso que ele se referia há uma direita que não existe no Brasil, não trata-se de um PSDB da vida... trata-se de uma direita como a Italia, dos EUA, da Alemanha, da Colômbia e tantos outros... esses ai sim... são DIREITA mesmo... agora um Serra, um Aécio até mesmo a Marina da vida não tem argumentos nem de DIREITA nem de ESQUERDA, na verdade eles não tem são argumentos politicos para quetionar o atual governo... e se, ser esquerda é governar igual Lula está governando... vcs acham que eles vão fazer questão de ser DIREITA? é ruim em...

eles tão lascados em 2010... coitado do Zé Pedagio num debate com Ciro e Dilma na cola dele...

Nicolau disse...

André, sem crise ser de direita ou o que seja, democracia é conflito e debate. Sobre as greves no setor público, pelo menos nisso você, o Serra e o PSDB concordam.

De minha parte, acho que trabalhador tem que ter algum instrumento de lutar por seus direitos - que, no caso da polícia e dos professores, coincidem com os direitos de toda a sociedade. Se a greve não é o instrumento, preciso que você me apresente outro.

Existe uma Convenção da Organização Internacional do Trabalho a respeito, a 151, que garante o direito de organização sindical do funcionalismo. O Brasil não é signatário dessa convenção e ela é uma bandeira da CUT e demais centrais sindicais.

Andre Bastos disse...

Há de se separar o que é "greve" do que é serviço essencial do setor público. Acho que inclusive o último projeto do Paim especifica essas situações.

Seiji disse...

Vejo o psdb e pfl bem como seus representantes como direita sim, pelos motivos expostos pelo Nicolau e pelo governo de FHC, tendo em minha conta que o Serra tenha uma tendência ainda mais neoliberal, autoritária e elitista. Ainda não digeri direito certas atitudes e acordos do Lula em nome da tal governabilidade (palavrinha antipática) e diplomacia, mas vejo coerência e resultados deste governo, desde o planejamento, execução e projetos para o futuro. Esse será o discurso pró Dilma nas eleições, continuidade, consolidação e avanço em políticas já em andamento. Já a direita, a meu ver, não tem um projeto, um discurso que seja. E vejo o Serra se esquivando sobre questões como o pré-sal, educação. E como oposição vem batendo cabeça, criticando muito e produzindo nada.

Andre Bastos disse...

Seiji, não é isso que se discute aqui. É óbvio que numa eleição polarizada, o Serra concentra todos os votos a sua direita e vai brigar pelos que estão entre ele e o Lula. O que se discute é se o Serra tem uma postura de direita ou não, no sentido absoluto, que foi o ponto que o Lula garantiu que não.

Seiji disse...

Tudo bem André, só que não dá pra aplicar as mesmas definições de esquerda e direita no sentido absoluto da política atual com a de algumas décadas atrás. Creio que aí mora a confusão. Sob essa ótica, salvo raríssimos casos de radicais que chegarão a lugar nenhum, estariam todos ao centro, nem mesmo à esquerda. Teríamos que redefinir o conceito de direita e esquerda.

Alois Andrade disse...

sim... Creio chegamos que chegamos a um consenso “...redefinir o conceito de direita e esquerda”. O que é chamado de Direita aqui no Brasil, isso que ta ai.. PSDB, DEM... são defensores de políticas neoliberais e elitista como lembrou o Seiji. Mais que, no entanto estão à beira de entrarem para historia como ineficazes e ultrapassas... Então a realidade da política dos extremos, direita e esquerda, capitalismo e comunismo e etc... Em nossa realidade, a meu ver a política tende a um capitalismo com “traços” do comunismo e socialismo... O que não é ruim... Porém, como disse Ciro não existe outra pessoa no atual momento político que possa fazer esse meio termo... Só o Lula , então ai é que ta o problema...

Seiji disse...

Nunca tinha participado de um debate via blog. Na verdade sou meio tapado pra essas coisas, mas um dia eu pego as manhas. Por isso agradeço a atenção e bom final de semana prócêis.. Volto na segunda pra ler a análise do Moriti sobre o nosso tricolor.

Andre Bastos disse...

Seiji, se eu posso te dar alguma dica é marcar a opção de "acompanhamnto por email" dos comentarios, assim que vc posta... Desse jeito, o próprio blog te avisa de todos os novos cometários.

Maurício Ayer disse...

Acho o Serra bastante truculento com os movimentos sociais e o Aécio tem uma postura bem de troglodita em relação à imprensa mineira. Mas, à parte isso, acho que o Lula sem dúvida está pensando no tempo em que Collor, Maluf e Ronaldo Caiado disputavam o pleito. Pensando por aí, avançamos algo...

A democracia brasileira se construiu sem ruptura com a ditadura e a gente continua pagando o preço por isso. Se é certo que aos poucos se foi percebendo que a direita brasileira era e é muito estúpida e que só havia gente que pensasse mais à esquerda, supostos governantes de esquerda têm que continuar estabelecendo alianças com políticos da tradição coronelista. Haja vista a própria aliança de Lula com Sarney.

O PSDB deveria ser um partido supostamente de centro-esquerda, mas já faz tempo que o conceito de esquerda teria que ser tão largo para abarcar esse partido que perde totalmente o sentido. E não dá pra levar a sério um partido que tenha Tasso Jereissati, Arthur Virgílio e Alvaro Dias entre seus líderes...

Maurício Ayer disse...

Aliás, Nicolau, entre os exemplos dos vira-casacas que pulam de um extremo ao outro, na entrevista (ainda não publicada) que a gente fez com o Torero ele conta que, quando estudava na USP, tinha um cara que era um dos mais aguerridos militantes da Libelu: Reinaldo Azevedo! Pra quem não sabe, Libelu é sigla de Liberdade e Luta, uma tendência trotskista do movimento estudantil nos anos 60 e 70.

Andre Bastos disse...

é verdadem o Azevedo (conservador de carteirinha, sujeito não muito liberal) tem um passado vermelho sim... hehe... sobre o tipo de transição, acho que a transição "sem ruptura" foi um mérito, pois quebras de governo (até mesmo de uma ditatura para uma democracia) sempre acabam gerando novas quebras no futuro (leia-se golpes)... acho que o modelo brasileiro foi bom, pois a democracia resiste, mesmo com um impeachment feito e um Congresso que ainda é pouco afeito à sua função numa democracia.

Maurício Ayer disse...

Mas André, é possível falar em "democracia" com um Congresso "pouco afeito à sua função"?

Eu ainda acho que as rupturas são necessárias, mesmo que exijam novos embates depois. Foi assim na França, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha... Senão a gente fica sustentando cadáveres que continuam poderosos e montados na empáfia e na arrogância.

Andre Bastos disse...

os mesmos "cadáveres que continuam poderosos e montados na empáfia" de hoje estavam comandando esse processo de transição em 1985... nunca houve uma radicalização popular no Brasil que justificasse um contra-golpe na ditadura que estava, a saída foi negociada e 'ao ritmo deles'... e a resistência armada que havia não é o que se pode definir como democratas...

Maurício Ayer disse...

André, é isso mesmo, são os mesmo que lideraram o processo de transição e continuam aí. Concordamos nisso. Pelo que entendi, você acha que essa é a melhor das hipóteses. Nisso eu discordo, acho que muito do que penamos hoje se deve ao fato de não termos feito um processo decente de transição, passando a régua pelo menos nos crimes de Estado cometidos.

Uma ruptura não é necessariamente um contragolpe. Pode ser também uma restauração radical da democracia por via eleitoral, como teria sido perfeitamente possível no Brasil. O próprio cumprimento integral da Constituição de 1988, escrita num momento de forte desmoralização da direita (mas não muito mais que isso), já seria um golpe bastante duro nas velhas elites. Mas os caras, claro, não vão entregar o osso assim tão fácil.

Sobre a luta armada no Brasil, acho que muitos jovens que se engajaram nesse caminho eram movidos sim pelo sonho de restaurar a democracia e entendiam que num Estado de exceção é preciso agir rápido. Eram, na verdade, principalmente estudantes universitários, militares insurretos, operários e camponeses. Quer dizer, muitos de nós poderiam estar entre eles, se as circunstâncias fossem outras, vivendo as contradições próprias do momento. Mas aí já nos afastamos demais do assunto central dessa discussão, e acabamos falando de tudo ou de nada... ou o avesso do avesso...