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segunda-feira, dezembro 28, 2009

E Juscelino só conseguiu apaziguar com cerveja...

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No livro "História e causos", publicado pela FTD em 2005, o sertanista Orlando Villas Bôas (1914-2002) relembra a teimosia de seu irmão Leonardo (1918-1961) durante uma visita do então presidente da República Juscelino Kubitschek (foto) ao Parque do Xingu. Vale destacar a diplomacia de JK para resolver o imbróglio:

Leonardo controlava os barcos do posto. A filha do Juscelino resolveu passear com o namorado e pediu que lhe preparassem um barco. Leonardo disse que não, pois os barcos estavam lá para atender aos índios e não para levar as pessoas para passear. A moça queixou-se para dona Sara, que, debalde, tentou convencer Leonardo. A coisa esquentou e chegou aos ouvidos o chefe da guarda de Juscelino, conhecido por sua truculência. Mas o Leonardo também era duro!
Já estávamos vendo que a situação ficaria difícil. Também tentamos convencer o Leonardo, que não deu a menor bola. Quando o chefe da guarda ia descendo a barranca para a margem do rio, Juscelino gritou:
- Espere que eu também vou.
Quando chegou na beira do rio, a confusão já estava feita. Juscelino então perguntou ao Leonardo:
- O que está acontecendo?
Leonardo, com um boné enfiado na cabeça, respondeu rispidamente:
- Essa moça está querendo passear de barco com o namorado, e eu disse que não há barcos disponíveis.
Juscelino ficou pensativo por alguns instantes e então disse:
- Ora, se você está dizendo que não tem barco, então está dito!
Mandou todo mundo embora e então, em tom apaziguador, perguntou ao Leonardo onde é que eles poderiam tomar uma cerveja. O Leonardo fez menção de não responder. Eu, que nessa altura já estava com uma raiva desgraçada, dei um beliscão nele que o fez balbuciar:
- Lá no meu rancho.
Juscelino concordou e, olhando para mim, disse:
- Seu irmão é duro!
Eu respondi:
- Não, presidente, ele é grosso mesmo!
Anos mais tarde, quando soube da morte do Leonardo, Juscelino me disse:
- Se eu tivesse tido meia-dúzia de homens como o Leonardo, teria mudado o Brasil!

2 comentários:

Anselmo disse...

se não fosse retórica, a frase final assustaria. Pô, dizer que não tinha meia dúzia de cabras caxias o suficiente pra não deixarem a filha do presidente usar, pra fins pessoais, a estrutura pública é dureza...

agora, mineiro que era, JK poderia ser considerado um traidor por não ter solicitado uma cachacinha? ou o pedido de cerveja era metonímico e estendido a todas as formas etílicas?

Glauco disse...

Independentemente da bebida escolhida, o fato do presidente aludir à "meia-dúzia" denota seu gosto etílico cultivado em boteco.