Destaques

sábado, abril 04, 2009

Para Walt Disney, samba vinha da cachaça

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Para Walt Disney – ou pelo menos para seu roteirista – o samba flui a partir da cachaça. Isso fica evidente em dois dos episódios de Zé Carioca, o personagem brasileiro criado nos anos 40 por um dos maiores representantes da indústria cultural estadunidense. Em ambos, o pássado é ladeado por Pato Donald. E ambos são do período da política de boa vizinhança com a América Latina.

Muita gente já escreveu sobre a influência de Disney na evolução do americanismo a partir da década de 30 na América Latina. A mais antiestados unidos delas é Para ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart. Tudo bem que uma parte da análise diz respeito aos padrões de família não convencional, em que não existem pais, mas apenas tios e sobrinhos... Mas faltou atribuir à cachaça a centralidade que Disney atribuiu. Ou que pelo menos eu vi.

Da cachaça pinta o samba
No primeiro, parte de "Alô, amigos", de 1942, lá pelos cinco minutos e, Zé Carioca leva o amigo pato para o Cachaça, um bar para tomar uminha. A danada está mais para rum, porque é vermelha, mas deixa o botafoguense Pato Donald acabado, bêbado de soluçar ("assim não é samba", avisa o Carioca ao sacar uma caixa de fósforo para completar o ritmo brasileiro).

Então, surge um pincel que acompanhou o episódio desde o início. Ele é mergulhado na garrafa de mé, e sai a desenhar os instrumentos musicais que produzem o samba. O chocalho, o pandeiro, a cuica... Olhe só:



Ficou alguma dúvida? Alguém já pensou o Donald dançando nessa intimidade toda com a Margarida?

Mas melhora.

Caipirinha também dá samba
O segundo desenho, de 1948, consegue parecer ainda mais sob efeitos de entorpecentes pesados. Em "A culpa é do o samba", a mesma dupla está acabada (de ressaca?) e recebe de um garçom-galo o "estímulo" do samba para acordar do estado de zumbi.

Depois de literalmente balançar o quadril em partituras musicais, o galo prepara uma caipirinha gigante que, mais do que servida aos protagonistas, tem neles parte de seus ingredientes. Devidamente preparado o copo da bebida verde, todos três terminam mergulhados numa viagem alucinógena com a participação da organista estadunidense Ethel Smith, que tocava com Carmem Miranda. Existe algum instrumento mais afeito ao samba-no-pé do que o órgão? Só vendo.



A história em detalhes é mais bem contada por aqui.

sexta-feira, abril 03, 2009

A piña colada e a manguaça intrínseca

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Essa é para mostras que generalizações e preconceitos (ou pré-conceitos) não são necessariamente do mal e podem render ótimas histórias. E também para reafirmar que a manguaça está no sangue, não importa a concentração alcoólica no corpo.

Aqui em Londres eu trabalho como garçonete em um restaurante que também tem um bar. Ou seja, se o cliente quiser só tomar uma, e não comer, não tem problema. Estava eu trabalhando numa tarde, horário em que não há barman, quando entram um homem e duas mulheres perguntando se podiam só beber. Claro, como não?

As pessoas estavam felizes e já chegaram conversando. O cara, que depois descobri ser italiano, me disse que as duas mulheres estavam loucas por uma piña colada, mas estavam tomando antibióticos, e ele estava tentando convencê-las a não beber.

Eu disse que tudo bem, imagina, o máximo que ia acontecer era cortar o efeito do remédio, mas elas não iam passar mal. Conversa pra vender, verdade, mas argumento de manguaça. Bom, eu estava preparando o drinque o e cara me perguntou o que eu tinha de não-alcoólico, já que ele não bebia. Eu apontei para os copos e disse que tínhamos piña colada sem álcool. Só que ele entendeu que eu achava aquele drink tão fraco que era praticamente sem álcool.

Aí ele olhou bem pra mim - eu, branquela de cabelos vermelhos, a pessoa que no ranking das adivinhações aqui em Londres é polonesa disparado - e disse:

- Não é possível, falando desse jeito de álcool você deve ser brasileira.

Quase caí pra trás. NUNCA alguém tinha adivinhado a minha nacionalidade. Mesmo brasileiros que vão ao restaurante e me ouvem falando inglês não conseguem perceber o sotaque e saber que eu sou brasileira. Até ele riu quando eu disse que eu era brasileira mesmo.

Vendo a minha surpresa - foram alguns minutos com os olhos arregalados - ele explicou que tem um grande amigo, brasileiro, que fala de álcool exatamente do mesmo jeito que eu falei. As duas mulheres também não acreditaram, porque jamais diriam que eu sou brasileira.

Claro que isso me levou a divagações 'antropológicas'. Será que os brasileiros são mesmo liberais desse tanto com álcool? A ponto de eu ser reconhecida como manguaça mesmo estando na Inglaterra, reconhecidamente uma terra de bêbados? Ou o fato do cara conhecer dois brasileiros manguaças não passou de coincidência? Preciso de ajuda dos meu companheiros manguaças para reponder a esses questionamentos tão profundos.

quinta-feira, abril 02, 2009

Um filme para a Fiel Torcida

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Captar e descrever em imagens o amor da Fiel Torcida pelo Corinthians. O formato é só de entrevistas com torcedores, dos mais variados tipos, classes sociais, raças, gêneros e idades. O cara que voltou de Paris para ver a partida contra o Grêmio que definiu o rebaixamento. A menina que rezou para Nossa Senhora pedindo pelo Corinthians antes do jogo contra o Ceará que decretou o retorno. O membro da Gaviões que passou a noite do sábado ántes do jogo fatídico em 2007 bebendo para não ter que dormir. Muitas caras dessa torcida que, dizem, é a única a inverter a relação e ter um time de futebol.

Esse é Fiel, documentário dirigido pela corintiana Andréa Pasquini, com roteiro dos também alvinegros Sérgio Groisman e Marcelo Rubens Paiva, a que o Futepoca teve a honra de assistir na sessão exclusiva para a imprensa realizada nesta quarta-feira, em São Paulo.



O filme é todo feito de depoimentos de torcedores, sem narração. Os entrevistados foram escolhidos entre mais de 3 mil histórias enviadas ao site oficial do filme. Segundo os realizadores, não houve nenhum acesso aos perfis sócio-econômicos dos torcedores e a diversidade alcançada não foi um objetivo.

O pano de fundo é a saga corintiana do rebaixamento em 2007 até a volta por cima e o retorno para a Série A. Fica a pergunta: por que diabos fazer um filme tendo como pano de fundo o momento mais triste da história do clube? A diretora explica com uma constante encontrada em todos os depoimentos colhidos. “Os entrevistados chegavam antes do momento de seu depoimento e acabavam ficando o dia todo, conversando. E sempre aparecia a questão das tragédias que presenciou. Eu pensei ‘a gente é meio maluquinho mesmo’ (risos). Parece que o sofrimento faz parte da paixão do corintiano”, diz Andréa.

Luiz Paulo Rosemberg, diretor de marketing do Timão, conta que a decisão de fazer o filme foi tomada por ele e pelo presidente Andrés Sanches logo após consumado o rebaixamento. “Fizemos duas promessas: fazer um filme homenageando a torcida e estar na Libertadores em 2010. Fico muito feliz de ter cumprido uma delas”, afirma.

Ele conta também a única diretriz que foi dada para os realizadores: “não ouçam a diretoria”. De fato, nenhum mandatário ou conselheiro aparece, apenas torcedores, alguns jogadores – Dentinho, Lulinha, Felipe (os sobrevivente de 2007), Chicão, William e André Santos (os novos), e o treinador Mano Menezes.

Mas a estrela é mesmo ela, a torcida, com sua devoção ao time. Há momentos que arrepiam, entristecem, emocionam. Entre as história, destaque para a torcedora que, durante as filmagens, descobre estar com câncer.

O filme tem ainda uma música inédita dos corintianos Rita Lee e Carlos Rennó, chamada "Sou Fiel", na voz da cantora Negra Li (que também torce pelo Timão). Bela homenagem do Corinthians a seu torcedor, que deve fazer de tudo para ir aos cinemas a partir do dia 10, quando o filme estréia - eu pretendo ver de novo e comprar o DVD (pré-venda no site www.filmefiel.com.br), que trará depoimentos que ficaram de fora do corte final do filme (a primeira versão de trabalho tinha mais de oito horas, segundo a diretora).

Os planos do clube para a bilheteria são ambiciosos: esperam ser o filme de futebol mais visto do país. Sobre isso, Rosemberg – em tom de brincadeira, santistas – provocou: “Teve um filme sobre um ex-jogador, que usava a mesma camisa que o Douglas, que levou 200 mil pessoas aos cinemas. Deixo para a Fiel responder se levaremos 300 mil, 500 mil...”.

A Revista do Manguaça Moderno

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Num site indicado por um amigo, descobri a sensacional e inacreditável Modern Drunkard Magazine, algo como Revista do Manguaça Moderno (veja, nas laterais, algumas das melhores capas, como a cara de espanto do bêbado acima, à esquerda, com a manchete "Martini Madness"). Criada em Denver, nos Estados Unidos, a revista tem como lema "Standing up for your right to get falling down drunk since 1996" (ou "Do seu lado pelo direito de cair bêbado desde 1996"). Fuçando referências brasileiras, encontrei um post bem humorado de nossa camarada Soninha, em que descreve, muito preocupada, o dia em que a mãe dela e uma comadre fofoqueira apareceram de surpresa e, em cima da mesa, estava jogada uma edição da Modern Drunkard Magazine. "A tal comadre viu, deu uma folheada e logo a jogou na bolsa. 'Depois devolvo', disse-me. Estou com azia desde então. Sei que vou ouvir de minha mãe, avó e tias, sem contar essa querida comadre, certamente, sobre as minhas simpatias para com o álcool", afligia-se Soninha, atual subprefeita da Lapa, em São Paulo. Para fazer os leitores entenderem um pouco do que a comadre fofoqueira encontraria na tal revista, Soninha conta que a edição trazia serviços úteis como "A Etiqueta do Vômito", que orientava didaticamente: "Nunca saia correndo do salão, vomitando. Em vez disso, informe a seus amigos: 'desculpem-me, mas preciso vomitar', e saia casualmente em direção ao banheiro para aliviar-se". Outra dica fundamental: "Um dos maiores erros do vomitador é curvar-se. Você pressionará seu diafragma tornando o ato de expulsão muito mais difícil. Vai garantir que suas narinas fiquem entupidas de algo indesejável. Fique de pé, ereto e orgulhoso. Lembre-se de que o alvo de seu vômito é de vital importância". Na série "Quem é o maior bêbado de todos os tempos?", em quadrinhos, um locutor de rádio dos anos 1940 narrava lutas de boxe entre Ernest Hemingway e Jackie Gleason e outra com Charles Bukowski contra William Faulkner. Na seção "86 regras para embebedar-se", há dicas como "nunca, jamais, revele ao barman que ele fez seu drinque forte demais, e, se ele fez fraco demais, peça um duplo em seguida. Ele vai entender o recado". Ou ainda: "Qualquer pessoa num palco ou atrás de um balcão de bar parece 50% mais bonita". E mais essa: "Para cada drinque há 5% de chance de você entrar numa briga. Tem também 3% de chance de você apanhar nessa briga". Pra completar, um glossário com gírias de pinguço ianque, do tipo "Britney Spears", que significa cerveja leve. É usada em frases como "um cara que fica mamando uma Britney Spears a noite toda não pode ser levado a sério" - aliás, pensando nisso, creio que as Skol, Brahma, Bohemia e Original da vida já estão merecendo, há muito tempo, uma gíria neste sentido ("Sandy"?). Buenas, por essas e outras, penso que falta uma publicação desse tipo em língua portuguesa. Algo que a gente pudesse ler no bar, com o mesmo prazer do primeiro gole de cerveja gelado. Deixo a dica de leitura. E pra rimar, acho que vou fazer uma assinatura. Slângiva!

Dunga 3 a 0, Maradona 1 a 6

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No dia da mentira, o time do massacrado técnico Dunga venceu a seleção do Peru por 3 a 0 em Porto Alegre. Enquanto isso, em La Paz, a Argentina apanhou de 6 a 1 da vice-lanterna representação da Bolívia. Nem foi a redenção do primeiro nem a execração do segundo. Ainda.

Brasil e Peru
Com dois gols de Luís Fabiano, incluindo um de pênalti e outro em posição de impedimento, e outro de Felipe Melo, o Brasil manteve o padrão nas eliminatórias. Para facilitar a convocação de atletas e conciliar a prévia da Copa, são realizadas duas partidas na mesma semana e, sempre, o escrete canarinho vai bem em uma e mal na outra – ou vice-versa. Desde os tempos de Carlos Alberto Parreira era assim.


Daniel Alves foi bem.

Quando a primeira das duas partidas é ruim e a segunda melhora, cabe dizer: "O Dunga deve ter falado umas boas verdades pra turma". Ou: "Ouviram as críticas e resolveram largar de fazer corpo mole". Quando é o inverso é mais complicado.

Os próximos jogos são contra Uruguai e Paraguai. Se mantiver o padrão, uma vitória e um empate para manter a segunda colocação seriam o melhor cenário.

Em campo
Kaká voltou, procurou jogo, correu os 90 minutos. Embora não tenha sido sua melhor forma, mandou avisar que Ronaldinho Gaúcho não precisa mais ser convocado. Daniel Alves foi apontado como melhor em campo por alguns comentaristas, claramente agrada Dunga, mas não tem vaga garantida. Maicon, o parceiro de Adriano nas baladas, tem mais vigor físico, embora tenha apresentações piores com a amarelinha.

Robinho até procurou a bola, mas não esteve bem. Alexandre Pato entrou a pedidos da torcida, mas aprontou quase nada. Elano, pela regularidade, parece ter conquistado a posição na meia.

Cabe destacar o gol do camisa 5, foi um lance de raça, com divididas e mais divididas até chegar à cara do goleiro. E então, quando eu esperava um chutão, uma bomba para coroar uma arrancada que teve um pouco de técnica e muito de trombada, veio o inusitado. Um toque sutil para tirar o arqueiro da jogada.

A seleção do Peru jogou muito mal, é fato. Conseguiu uma bola na trave em um lance que Julio Cesar, o quase imbatível contra o Equador estava adiantado.

Piaba
Enquanto parte da torcida brasileira fazia cara feia a cada passe certo da equipe de Dunga, os argentinos tinham um pouco mais de motivos para se preocupar. A goleada histórica de 6 a 1 traz a lembrança do placar de 5 a 0 alcançado nas eliminatórias da Copa de 1994 contra a Colômbia, que condenou os hermanos a disputar a repescagem contra a Austrália e abriu caminho para a volta de Diego Maradona no mundial dos Estados Unidos.

Mas não é essa digreção que importa. Importa que o time verde massacrou o time do agora técnico Dieguito. A cada gol, era como uma punhalada no coração, descreveu o treinador. Equivocou-se e pagou, o que lhe rendeu, nas contas do Olé, 40% da responsabilidade pela derrota – 20% para altura, 30% para os jogadores e 10% para a Bolívia. Isso porque os jogadores fizeram as "partidas de suas vidas", segundo a reportagem.

O que é divertido é que, na partida contra a Venezuela, a mídia argentina elogiou tanto o time que considerou a melhor atuação de Messi com a camisa da seleção. No jogo seguinte...

É inevitável preferir Dunga ao Maradona.

Precursor do fair play batizou gandulas

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Muitos termos que ainda usamos no meio futebolístico têm origem inglesa, como o próprio esporte. Beque, por exemplo, vem de back, aquele que "volta". Chute, ainda mais óbvio e direto, é shoot (atirar). Mas existem outros termos sem explicação aparente. Um deles, por exemplo, é gandula. Pesquisando, descobri que a palavra deriva do jogador argentino Bernardo Gandulla (foto à direita), contratado pelo Vasco da Gama em 1939. Existem duas versões sobre o assunto: a de que, quando ainda jogava pelo Boca Juniors, corria voluntariamente atrás da bola quando ela saía de campo, para recomeçar a disputa o mais rápido possível. E a de que, impedido de jogar pelo Vasco, mostrava-se prestativo como apanhador de bolas durante os jogos, não só quando a reposição era para o seu time, mas também quando favorecia o adversário - o que configura um curioso caso "ancestral" de fair play no futebol mundial.

Também há duas versões para o fato de não ter jogado pelo Vasco. A primeira, pura e simples, leva a crer que o argentino não agradou nos treinos e não se adaptou ao futebol brasileiro, sendo apartado do elenco. A segunda é mais verossímil, pois Gandulla era considerado um grande meia-esquerda em seu país. Revelado pelo Ferro Carril Oeste em 1934, integrou a famosa linha de ataque chamada de "La Pandilla", ao lado de Además, Maril, Bornia, Sarlanga e Emeal. Porém, ao ser trazido pelo Vasco em 1939, junto com o ponta-esquerda Emeal, teve problema com a legislação da época sobre transferências internacionais. Como não era dono de seu próprio passe e a negociação foi confusa, ficou impedido de jogar. Nesse afastamento, para sentir-se útil, passou a repor voluntariamente as bolas que saíam de campo.

Mesmo com essa frustrada passagem pelo futebol brasileiro, Bernardo José Gandulla foi destaque na Argentina, pois era exímio armador e goleador. Em 1940, transferiu-se para o Boca Juniors, onde marcou 18 gols em sua primeira temporada e sagrou-se campeão argentino em 1940 (conquistaria o título novamente em 1943). Chegou a disputar uma partida pela seleção de seu país e, em toda a carreira, fez 123 gols em 249 jogos. Além do Ferro Carril Oeste, Vasco e Boca Juniors, Gandulla defendeu o rival River Plate, o Auxerre, da Suiça, e o Manchester City, da Inglaterra. Mas também batia um bolão fora de campo: a foto acima reproduz a capa da revista "Cine Argentino" de março de 1941, onde ele "divide" uma bola com a jovem atriz Eva Duarte - ninguém menos que a futura primeira-dama da Argentina, rebatizada como Evita Perón.

Depois de pendurar as chuteiras, treinou as categorias de base do Boca e revelou jogadores como Rattin, Ponce e Monzo, ganhando o apelido de "Maestro". Mais tarde, treinou a equipe profissional em 1957, 1958, 1967, 1971 e 1972. Nascido em 1º de março de 1916, Gandulla faleceu em 7 de julho de 1999, aos 83 anos, em Buenos Aires. Seus restos mortais estão sepultados no Panteon do Boca Juniors, no cemitério de Chacarita. Mas foi imortalizado com a criação do "Trofeo Gandulla", que é dado todos os anos ao melhor jogador argentino. Maradona, por exemplo, o recebeu em 1981.

Lei quer proibir venda de bebida a embriagados

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Eu vô chamá meu adevogado!

Como alertou Mouzar Benedito, em artigo para a revista Fórum, o fundamentalismo está realmente tomando conta da manguacice no Brasil. Depois da Lei Seca para motoristas, querem aprovar agora um projeto que torna crime vender, fornecer, entregar ou servir bebida "a quem se acha em estado de embriaguez", entre outros casos específicos, como quem "sofre das faculdades mentais" e quem estiver "judicialmente proibido de frequentar lugares onde se consome bebida". A pena pode variar de seis meses a dois anos de prisão, além de multa. Alerta geral: a lei "Anti-saideira" já está na Câmara dos Deputados e pode ser votada ainda este mês. É mais um atentado contra o Estado de Direito Etílico defendido pelo nosso Manguaça Cidadão!

Acho que seria o caso de perguntar: quem serão os "fiscalizadores de embriaguês" autorizados a proibir o prosseguimento da bebedeira e mandar os bêbados para casa? Qual será o limite para proclamar que alguém está encachaçado? A deputada federal Sandra Rosado (PSB), relatora do projeto na Comissão de Constituição e Justiça, afirma que "a embriaguez é algo evidente" e que, por isso, trata-se de "uma lei fácil de cumprir, porque a pessoa embriagada ou com problemas mentais já faz parte da comunidade, da vizinhança". Como assim, cara pálida? A deputada Rita Camata (na foto acima, após um tombo), do PMDB, autora do projeto que tramita desde 1995, acredita que o governo "já tem uma estrutura de fiscalização" que pode ser usada nos casos previstos em sua proposta.

Na cara larga, sem maiores explicações, ela empurra o abacaxi e afirma que "os detalhes da fiscalização ficarão a cargo do Executivo e serão definidos depois da aprovação do projeto no Congresso Nacional". Ah, então tá! Não contente, Rita Camata queria proibir, também, a venda de bebidas alcoólicas para menores de 21 anos. Sua justificativa era que "o amadurecimento, geralmente, só se completa nessa idade" (só se for o dos filhinhos dela!). Graças ao Deus Mussum, o artigo foi suprimido ao passar pelas comissões, pois os relatores decidiram que a questão da maioridade - de 18 anos - já estava contemplada no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Diante de tanta opressão, já tem gente gritando: o superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), Enio Rodrigues, não crê na aplicabilidade do projeto. "A aplicação deste projeto é complicada. Vai ter um bafômetro em cada lugar para medir a embriaguez? Tem que pensar na praticidade também na hora de fazer um projeto", observa Rodrigues, com lucidez. Porém, cabe aqui a observação de que não existem mocinhos nem bandidos nesse rolo. O projeto trmitou 14 anos, a passo de tartaruga, única e exclusivamente pela influência do lobby da indústria de bebidas.

Questionado, Rodrigues abusou do cinismo: "As empresas trabalham no sentido de conscientizar os parlamentares de que existem posições contraditórias sobre o tema". Mais tucanês que isso, impossível!

quarta-feira, abril 01, 2009

Corinthians ganha bem do Ituano e torce contra o São Paulo

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O Corinthians venceu bem o Ituano na noite desta terça-feira por 3 a 0. Mais uma vez, dei uma de Marcão e não vi a partida. Mas os comentários colhidos e minha apurada análise dos melhores momentos dizem que o time foi bem, criou mais jogadas e conseguiu controlar o jogo. “Ah, mas o Ituano é uma baba!”. Deve ser, mas o Guarani também é e deu no que deu.

Os gols do jogo foram de Jorge Henrique (de cabeça), Ronaldo (após uma cobrança rápida de falta) e Christian (uma bomba numa falta de meia distância). Todos aconteceram no primeiro tempo. Na etapa complementar, o Timão cozinhou o galo, mas teve ainda dois gols anulados em impedimentos, no mínimo, difíceis: um de Jorge Henrique (em que o bandeira parece ter acertado) e outro de Ronaldo (e nesse o auxiliar errou mesmo). Se tivesse valido, o gol do gordo centroavante seria o sexto em seis jogos pelo Corinthians, média bastante positiva.

O time entrou modificado, com os três atacantes que muita gente defende: Jorge Henrique, Dentinho e Ronaldo. No meio, Douglas, machucado, deu lugar a Wellington Saci – Boquita, sem contusão, foi para o banco. Há quem diga por aí que a ausência de Douglas fez bem ao time, que praticou um futebol mais solidário no meio. Saci é limitado, mas corre bastante e não prende muito a bola. Além dele, Elias e Jorge Henrique preenchem o setor e ajudam a dar fluência ao jogo. O baixinho atacante parece ter feito sua melhor partida pelo Timão, se mexendo e participando bastante. Se for isso mesmo, pode ser uma boa. Mas nada impede que o camisa 10 cumpra a função de Saci - nada fora ele mesmo, talvez.

Agora, o Corinthians pega o Mirassol, sem Ronaldo (que vai descansar), Alessandro, Morais e Túlio (que forçaram o terceiro amarelo). Douglas ainda é dúvida. A classificação já está garantida, mas o segundo lugar é um obejtivo. Para isso, é preciso vencer o Mirassol e torcer para dois improváveis tropeçoes do São Paulo. Ou seja, é melhor Mano Menezes se preparar para ganhar os jogos da semi-final.

Todas as honras à Fiel Torcida – participei do lançamento para imprensa do filme Fiel, documentário sobre a torcida corintiana durante a saga do time na Série B. Escrevo em breve sobre o filme. Adianto que é emocionante e merece ser visto.

CBF reassume Série B. Vasco e Corinthians são pivôs da crise

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

A Futebol Brasil Associados (FBA) não vai mais organizar a segunda divisão do futebol brasileiro. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou a decisão aos presidentes de clubes da Série B em reunião na terça-feira, 31 de março. A entidade presidida pelo ex-presidente do Santa Cruz José Neves Filho fazia a gestão comercial da competição desde o final de 2002 e tinha contrato até 2010. A decisão não teria sido comunicada oficialmente pela CBF.

Segundo o UOL Esporte, o "mentor" da mudança seria o Corinthians. Pelo menos foi o que os presidentes de clubes da segundona disseram. Uma pendência na cota de patrocínio teria criado inimizade entre o cartola e o alvinegro, amplificado por disputas com outros paulistas.

O bom relacionamento de Neves com Roberto Dinamite teria gerado favorecimento excessivo ao clube do Rio de Janeiro, na visão dos outros times. Como envolvia dinheiro a negociar com a Globo, nova detentora dos direitos de transmissão, e com patrocinadores, as pressões devem ter sido grandes.

O agravante, segundo o blogue de Erich Beting foi a relação entre a FBA e a empresa que negociava os patrocínios diretamente, a Sport Promotion. O contrato entre as partes havia se encerrado em dezembro passado, mas diz-se que a mesma corporação será encarregada pela CBF de negociar as cotas de patrocínio. Vale lembrar que a Spor Promotion já negocia os direitos de marca da confederação desde 2007.

Segundo Neves, no ano em que o Vasco disputará a competição, já havia patrocinadores com contrato assinado. Ele considerou a medida de "ditatorial" e disse que vai brigar para retomar o controle da competição.

Em 2007, Neves entrou numa disputa judicial com o Blogue do Santinha.

A Lei de Murphy no futebol brasileiro

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Como já adiantei nos comentários de alguns posts, estou relendo a trilogia da "Lei de Murphy", publicada pela Editora Record no final do século passado, com tradução e "transubstanciação" de Millôr Fernandes - e ilustrações impagáveis do mestre cachaceiro Jaguar. No meio de tantas pérolas, como "Toda ambiguidade é invariável" (Lei Roberta Cloese), "Confia em todo mundo, mas corta o baralho" (Lei Castor de Andrade), "Toda ordem que pode ser mal interpretada é mal interpretada" (Axioma do Exército) ou "Há dois tipos de pessoas: as que dividem as pessoas em dois tipos e as que não" (Distinção do Sociólogo), encontrei "leis" do futebol brasileiro:

LEI DA CBF
Quando chega a sua vez, mudaram as regras.

LEI TELÊ SANTANA
Nada é mais inevitável quanto um erro que você prevê.

SEGUNDA LEI TELÊ SANTANA
Jogadas perfeitas na teoria não dão certo na prática.
Jogadas perfeitas no treino são as que enterram o time.

LEI ZAGALLO DA RESPONSABILIDADE
Eu ganhei, nós empatamos, eles perderam.

LEI DO VIAJANTE E DO JOGADOR DE SELEÇÃO
Não se consegue fazer nada numa viagem.

SEGUNDA LEI PELÉ
Basta ser popular pra ficar impopular.


Pra mim, a melhor é a explicação filosófica com base no Botafogo-RJ, que hoje é só um amarelão, mas que, na época, era um perdedor predestinado:

LEI BOTAFOGUENSE
Um bom resultado só acontece uma vez.

TEOREMA BOTAFOGUENSE
1 – Você não pode ganhar;
2 – Você não pode empatar;
3 – Você não pode nem largar o jogo.

PRESUNÇÃO BOTAFOGUENSE
Toda filosofia que procura dar alguma significação à vida é baseada na negação de uma parte do Teorema Botafoguense:
1 – O capitalismo é baseado na presunção de que você pode ganhar;
2 – O socialismo é baseado na presunção de que você pode empatar;
3 – O misticismo é baseado na presunção de que você pode largar o jogo.

Com Diego Souza, ainda sem futebol

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Mesmo com a volta do meia Diego Souza, o Palmeiras amargou um empate em Itápolis com o Oeste em 1 a 1. O resultado frustrou as expectativas da torcida e do treinador Vanderlei Luxemburgo que queriam ver garantida a liderança da primeira fase do campeonato paulista, posição que garante a vantagem do empate na fase final.

Novamente o time saiu atrás no marcador, com gol de Ademar, e precisou do zagueiro Maurício ramos para não dar vexame. A retomada do esquema com três zagueiros voltou a não resolver a defesa. Sandro Silva foi bem melhor do que Fabinho Capixaba na lateral-direita.



Quando o gol do Oeste saiu, aos 7 do segundo tempo, a torcida alviverde pediu a entrada de Lenny. Tudo bem que o jogador é o vice-artilheiro, mas metade de seus gols saíram em um só jogo (e a outra metade antes da quarta rodada). Ao colocá-lo no lugar de Marcão, o time voltou ao 4-4-2. O reserva teria chance de virar o jogo, mas assim como Keirrison, não garantiram a vitória.

Diego Souza, cuja ausência foi lamentada na última partida, esteve mais apagado. Entrou jogando no ataque, mas nem quando voltou à meia melhorou muito. Cleiton Xavier foi melhor, fez o passe do gol.

A liderança no campeonato paulista vem servindo para o Palmeiras de vacina anticrise. Antes que alguém pronuncie a palavra, já lembra da tabela e muda o foto. Mas o time caiu muito de produção, há quem o considere devagar quase parando. Em parte, isso pode ser atribuído ao trabalho dos adversários que estudam e marcam melhor algumas peças-chave do esquema palestrinho. Mas de outro lado há uma irregularidade grande nas atuações.

Se a posição for garantida amanhã por um tropeço do São Paulo – o único que ainda pode ultrapassar a pontuação do time –, será uma "conquista" bem significativa da condição atual da equipe. Um cenário que torna mais adversa a já grave condição do Verdão na Libertadores para a partida da próxima terça-feira contra o Sport.

F-Mais Umas - O incrível Jason Barrichello

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

CHICO SILVA*

Antes de iniciar minha participação na temporada 2009, faço questão de pedir desculpas aos meus poucos, porém fiéis, leitores. Por pura vadiagem, passei os últimos meses ausente deste espaço. E não foi por falta de assunto, não. Pelo contrário. Há muitos anos a Fórmula-1 não produzia tanta notícia e interesse. Regulamento novo, o lançamento do sistema de reaproveitamento de energia, o tal do KERS (foto à direita) e carros absolutamente repaginados deixaram a categoria de rodas para o ar. Se bem que, com essas imensas asas dianteiras e minúsculos aerofólios traseiros, os novos modelos lembram alguns bólidos da "corrida maluca". Todo esse esforço é para diminuir o arrasto aerodinâmico e com isso facilitar as ultrapassagens, produto raro nas prateleiras da categoria.

O casting de pilotos foi o que menos mudou. Teve apenas a entrada do suíço Sébastien Buemi na Toro Rosso, assumindo o lugar do "Schumaquinho" Sebastian Vettel, que migrou para a Red Bull para ocupar a vaga do bon vivant aposentado David Coulthard. Mas a grande novidade deste início de 2009 é o incrível ressurgimento de Rubens Barrichello (à esquerda). O piloto brasileiro mais sacaneado de todos os tempos se tornou um combo de Jason, o serial killer que se recusa a morrer na série Sexta-Feira 13 e Highlander, o imortal guerreiro vivido no cinema pelo canastraço Christopher Lambert. Quando todos imaginavam que a interminável carreira de Rubinho havia chegado ao fim, eis que surge Ross Brawn para salvá-lo da aposentadoria na Fórmula Indy ou então na Stock Car e seus incríveis capôs voadores.

E a saga de Barrichello se confunde com a da sua própria escuderia. Assim como o piloto, ninguém apostaria um dólar pós-crise que os desabrigados da Honda seriam capazes de disputar a temporada 2009. Porém, um fenômeno de difícil explicação transformou o espólio fumegante da equipe japonesa no carro a ser batido. Mérito de Brawn (foto à direita), o engenheiro que foi decisivo no processo de transformação de Michael Schumacher em mito. O técnico concebeu um carro equilibrado, limpo, bem acertado e potente. Tanto sucesso incomoda a concorrência, que faz de tudo para transformar a carruagem de Rubinho em abóbora. Cabe a agora ao Tribunal de Apelações da FIA decidir se o difusor da discórdia é legal ou não.

Mas, mesmo se a peça for considerada irregular, ao que tudo indica o carro da Brawn continuará sendo competitivo. Para desespero dos Cassetas, Pânicos e similares, que correm o risco de perder uma de suas maiores fontes de piadas. Ou quem terá coragem de tirar onda com um campeão do mundo? Mesmo que este atenda pelo nome de Rubens Jason Barrichello.

Filme repetido
Assim como o Botafogo, há coisas que só acontecem com Rubens Barrichello. E nada parece salvá-lo desta sina. Apesar da bela corrida de recuperação em Albert Park, Rubinho mais uma vez viu um companheiro ter a primazia de conquistar a primeira vitória da equipe pela qual compete. Foi assim na Stewart, quando o inexpressivo britânico Johnny Herbert foi o responsável pelo único triunfo da história do time, no GP da Europa 1999, disputado no circuito de Nürburgring - assim mesmo, com trema, pois a regra não matou o sinal em nomes estrangeiros. O fato iria se repetir na finada Honda e com o mesmo Jenson Button (à esquerda) que o bateu na Austrália. O inglês venceu o GP da Hungria de 2006, a única conquista da Honda em sua fase moderna, já que a escuderia havia vencido duas provas nos anos 1960. E o curioso caso de Button se repetiu no domingo. Mas esse remake o Rubinho não gostaria de ter visto...

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

terça-feira, março 31, 2009

Mentira na data e no nome - DITADURA foi mortal

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Na data de hoje, 31 de março, muitos militares, conservadores e simpatizantes vão comemorar os 45 anos da chamada "Revolução de 1964". Mentira - e mentira dupla. O golpe (sim, senhores, esse é o nome verdadeiro!) ocorreu em 1º de abril daquele ano, com tanques na rua, contra a população civil desarmada (foto à direita). Foi no "dia da mentira", algo cruelmente sintomático. Mas, para evitar chacotas "subversivas", a data "festiva" dos milicos acabou sendo substituída pelo dia anterior. Mas a mentira mais deslavada, no caso, foi o carimbo "revolução" que a mais sangrenta, cruel e duradoura quartelada de nosso país recebeu da "história oficial". Ou aliás, quartelada não: DITADURA, com todas as letras - e maiúsculas. Que usurpou o poder, extinguiu direitos, perseguiu, cassou, prendeu, exilou, agrediu, torturou, matou, ocultou cadáveres e aterrorizou a nação por mais de duas décadas. E ainda temos que suportar a "ditabranda" da asquerosa Folha de S.Paulo. Porém, nessa data infeliz, gostaria de reproduzir abaixo, como desabafo, um texto que, apesar de longo para um post, é muito válido nessa ocasião especial:

45 ANOS DO GOLPE DE ABRIL

Caio N. de Toledo*

Há 45 anos – no dia em que o imaginário popular consagra como o “dia da mentira” – era rompida a legalidade democrática vigente no país desde a derrubada da ditadura do Estado Novo (1937-1945). Hoje, no Brasil, poucos serão aqueles que cometerão o despropósito de propor algum tipo de comemoração pública desta infausta data. Felizmente, nestes dias, em instituições acadêmicas e entidades culturais e políticas, em sindicatos de trabalhadores, em alguns jornais e revistas da grande imprensa e em blogs de jornalistas independentes deverão ocorrer debates que examinarão criticamente os significados e os efeitos do movimento de abril de 1964 na história política e cultural recente do país.

Certamente, nenhum veículo da grande mídia nacional ousará afirmar que o pós-1964 no Brasil – comparativamente às ditaduras militares sul-americanas (“mais cruéis”, “mais sanguinárias” etc) – teria sido uma autêntica “ditabranda”. Quem fez isso recentemente, se deu muito mal... Golpe ou revolução? Àqueles que ainda insistem em denominar este movimento com a noção de “Revolução”, deveríamos lembrar as palavras de um eminente protagonista daquele movimento. Em 1981, em celebrado depoimento, Ernesto Geisel declarou: “o que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções se fazem por uma idéia, em favor de uma doutrina”.

Para o vitorioso de 1964, o movimento se fez “contra Goulart”, “contra a corrupção”, “contra a baderna e a anarquia que destruíam o país”. Estritamente falando, o ex-ditador reconheceu que o movimento liderado pelas Forças Armadas não era a favor da construção de algo novo no país; era, sim, um movimento contra um estado generalizado de coisas que “infelicitavam o povo e a nação brasileira”...Pertinentes, pois rejeitam a noção de Revolução para caracterizar o 1º. de abril de 1964, as formulações do militar golpista, no entanto, podem ser objeto de uma outra leitura.

Assim, é possível – a partir de uma outra perspectiva teórica – ressignificar todos os “contras” presentes no depoimento do militar. Mais apropriado seria então afirmar que 1964 representou: (a) um golpe contra a incipiente democracia política brasileira; (b) um movimento contra as reformas sociais e políticas e (c) uma ação repressiva contra a politização das organizações dos trabalhadores e o extenso e rico debate de idéias que se desenrolava de norte a sul do país.

Em síntese, no pré-1964, as classes dominantes e seus aparelhos ideológicos e repressivos – diante das iniciativas e reivindicações dos trabalhadores no campo e na cidade e de setores das camadas médias – apenas vislumbravam “crise de autoridade”, “subversão da lei e da ordem”, “quebra da disciplina e hierarquia” dentro das Forças Armadas e a “comunização” do país que, no limite, implicariam a “dissolução da família” e o “fim propriedade privada”. Embora, por vezes, expressas numa linguagem “radical” – na “lei ou na marra”, “morte aos gorilas” etc. –, as demandas por reformas sociais e políticas pretendiam, fundamentalmente, o alargamento da democracia política e a realização de mudanças no capitalismo brasileiro.

Não se pode, contudo, deixar de reconhecer que, em toda a história republicana brasileira, o golpe contra as frágeis instituições políticas se constituiu em permanente ameaça. O fantasma do golpe rondou, em especial, os governos democráticos no pós-1946 e, com maior intensidade, a partir dos anos 1960. Pode ser dito que o governo Goulart nasceu, conviveu e morreu sob o espectro do golpe de Estado. Em abril de 1964, o golpe – permanentemente reivindicado por setores privilegiados da sociedade civil – foi, então, definitivamente vitorioso.

O golpe paralisou um rico e amplo debate político, ideológico e cultural que ocorria em órgãos governamentais, partidos políticos, associações e sindicatos de classe, entidades culturais, meios editoriais e de comunicação etc. Nos anos 1960, conservadores, liberais, nacionalistas, socialistas e comunistas formulavam publicamente suas propostas e se mobilizavam politicamente para defender seus projetos sociais e econômicos.

Se o governo Goulart e os setores progressistas tiveram alguma parcela de responsabilidade pelo agravamento da crise política no pré-1964, deve-se, contudo, enfatizar que quem planejou e desencadeou o golpe contra a democracia política foram as classes dominantes – apoiadas por setores médios e incentivadas por órgãos governamentais norte-americanos (Embaixada dos EUA, Departamento de Estado, Pentágono e outras agências de segurança) – e pela alta hierarquia das Forças Armadas brasileiras.

Destruindo as organizações políticas e reprimindo os movimentos sociais de esquerda e progressistas, o golpe foi saudado pelo conjunto do empresariado (industrial, rural, financeiro e investidores estrangeiros), pela alta cúpula da Igreja católica, pela grande imprensa etc. como uma autêntica “Revolução” – com a virtude maior de ter sido ela um movimento “pacífico” e “redentor”. Aliviadas por não terem de se envolver militarmente no país, as autoridades norte-americanas congratularam-se com os militares e civis brasileiros pela “solução” que encontraram na superação da “crise política” enfrentada pelo país. A administração Lyndon Johnson (1963-1969) não pode senão festejar pois uma nova (e grandiosa) Cuba teria sido evitada ao sul do Equador...

Embora tivesse simpática acolhida nos meios populares e sindicais, o governo Goulart ruiu como um castelo de areia. Dois de seus principais pilares de apoio – como apregoavam os setores nacionalistas – mostraram ser autênticas peças de ficção. De um lado, o propalado “dispositivo militar”, comandado pelos chamados “generais do povo”; de outro, o chamado 4º. poder que seria representado pelo Comando Geral dos Trabalhadores. Ambos assistiram – sem qualquer reação significativa – a queda inglória de um governo a quem juravam fidelidade e o compromisso de defender, destemidamente, até com o sacrifício da vida...

Ao contrário do que afirmaram os “vencedores”, as classes populares e trabalhadoras estiveram ausentes das chamadas “marchas em defesa da família e da propriedade” – promovidas por associações de mulheres católicas da alta burguesia e de setores médios – que, em algumas capitais do país, pediam ostensivamente a destituição de João Goulart. No entanto, as classes populares e os trabalhadores nada fizeram para evitar a derrubada de um governo que, a partir de fins de 1963, passou a defender de forma mais estridente as bandeiras do nacionalismo e das reformas sociais.

Por sua vez, as entidades políticas e os movimentos sociais – no campo e na cidade – que afirmavam representar os trabalhadores e os setores populares nenhuma gesto tiveram para se opor ou impedir o golpe que há muito tempo se anunciava no horizonte – nas conversas dos políticos, nas páginas dos jornais e revistas e nas passeatas de ruas. Desarmadas, desorganizadas e fragmentadas, as entidades progressistas e de esquerda – muitas delas caudatárias do governo Goulart – nenhuma resistência ofereceram à ação dos militares. Poucas semanas antes de abril, algumas lideranças de esquerda afirmavam que os golpistas – caso atrevessem quebrar a ordem constitucional – teriam as “cabeças cortadas”. Tratava-se, pois, de uma rompante metáfora... Com a ação dos “vitoriosos de abril”, esta expressão, no entanto, se tornou uma dura e cruel realidade para muitos homens e mulheres durante os longos 20 anos de ditadura militar.

45 anos depois, nada há, pois, a comemorar. Aos setores democráticos e progressistas ainda cabem inadiáveis tarefas na luta pela ampliação e fortalecimento da democracia política no país; passados 45 anos, impõe que se faça justiça às vítimas da ditadura militar e que a verdade sobre os fatos ocorridos no período de 1964 a 1985 seja plenamente conhecida por todo o povo brasileiro.

*Caio N. de Toledo é professor colaborador do IFCH, Unicamp, autor de "O governo Goulart e o golpe de 1964", Editora Brasiliense, e "1964: visões críticas do golpe (org.)", Editora Unicamp.

segunda-feira, março 30, 2009

Re-escrevendo a história de 64

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Fiquei sabendo agora há pouco de um evento que se realizará amanhã, dia 31/03, no CLube Militar. Simplesmente surreal:


Destaque para as “três placas em homenagem às vítimas do terrorismo”, a serem inauguradas como parte das “comemorações”, segundo destacado na parte em laranja do cartaz. O pessoal está determinado a demonstrar sua capacidade de re-escrever a história, como já mostrou a Folha de S. Paulo com sua "ditabranda".



Em tempo – Algumas pessoas estão se mobilizando para uma manifestação em frente ao Clube Militar, amanhã, às 14h30. Quem estiver no Rio e puder dar uma força, é uma boa. A “ditabranda” da Folha levou a essa mobilização interessante, relatada pelo colega blogueiro William Mendes aqui e aqui. Bora atrapalhar a "festa"!



Em tempo 2 - O site do Clube Militar é uma fonte de pérolas reacionárias. Há carta de apoio ao senador Jarbas Vasconcelos e afirmação de que o presidente Lula não tem "compostura moral nem preparo intelectual para presidir sequer um bloco carnavalesco de esquina". Lá, o ato é anunciado por um artigo do 1º vice-presidente da entidade, Gen. Div Clovis Purper Bandeira (íntegra aqui, em PDF). Nele o militar se dirige ao “novo camarada”, que já deve ter ouvido muitas histórias a respeito do 31 de março de 1964 que “infelizmente, não corresponde à verdade histórica e constitui uma releitura distorcida dos fatos, com a finalidade de confirmar, sob um falso manto de pretensa veracidade, as posições e convicções políticas dos derrotados em 1964”.

Bandeira afirma que o ocorrido em tal dia culminou em uma série de eventos que deixavam clara a existência de um movimento comunista para tomar o poder no Brasil. Dado isso, foi lançada a já planejada “contrarrevoução”, como relata o militar: “A sorte estava lançada e o aparentemente sólido castelo da subversão, inflado pela demagogia e pela propaganda, acreditando numa força que era apenas retórica, desmoronou ao primeiro embate. A Nação estava salva.”

Assustador.

Degustação do Futepoca: cervejas Colorado

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Na sexta à noite, antecipando a comemoração pela vitória do meu time no dia seguinte (arrogância sãopaulina), fui até o apartamento do compadre Luciano para degustar as cervejas Colorado, produzidas em Ribeirão Preto (SP). Ele comprou um kit com os quatro tipos (foto acima), numa embalagem prática de papelão, e ganhou um copo com a logomarca. O companheiro Nivaldo estava escalado para o rega-fígado, mas, por problemas telefônicos, não compareceu. Daí, fizemos um molho de tomate bem apimentado, com carne e fatias de pão, e demos início aos trabalhos. Abrimos primeiro a Colorado do tipo Cauim, uma Pilsen. Fermentada com farinha de mandioca, tem um acento estranho no sabor. É como cerveja de trigo, mas diferente.

Ela nos pareceu meio aguada, mesmo com os 4,5% de teor alcoólico. No rótulo, eles informam que o nome Cauim vem do Tupi e se refere a "uma antiga bebida fermentada de cereais e mandioca, fabricada pelos índios brasileiros". E acrescentam que "a Cervejaria Colorado realiza diversas ações de cunho social em parceria com o Cineclube Cauim, uma das mais importantes organizações culturais de Ribeirão Preto". Bom, de zero a 10, numa escala sem o menor padrão ou critério, eu daria 6 para a Cauim. Acho que Don Luciano não concederia mais que 4. Na média, 5. Passa.

A próxima que abrimos foi a Demoiselle, cerveja escura. No primeiro gole, Luciano já adiantou que era a campeã, mesmo antes de experimentar as duas restantes. Trata-se de uma Porter, feita com café e maltes importados. "O nome Demoiselle é uma singela homenagem ao grande brasileiro Alberto Santos Dumont, cuja família era proprietária de fazendas de café na região de Ribeirão Preto", explica o rótulo. O aeroplano Demoiselle foi criado por ele em 1907, depois do pioneiro 14 bis. A Colorado desse tipo ganhou a medalha de ouro, na categoria Porter, do prêmio European Beer Star 2008, um dos mais importantes "testes cegos" de jurados cervejeiros do mundo todo.

Esse episódio encerrou a "briga" entre o dono da Cervejaria Colorado, Marcelo Carneiro da Rocha (foto à esquerda), e o mestre cervejeiro Fergal Murrey (abaixo, à direita), da fábrica irlandesa Guinness, que, numa degustação em São Paulo, desqualificou a Demoiselle como sendo apenas "café, gelo e álcool". "Escrevi uma carta pessoal para ele e uma nota de repúdio em todos os blogs que conheço porque achei uma falta de educação do cara e resolvi reagir", reclama o carioca Rocha, conhecido em Ribeirão Preto como "Marcelo da Colorado", em reportagem publicada, providencialmente, por uma revista chamada Revide. "O prêmio acabou encerrando a polêmica", acrescenta ele, adiantando que, ainda em 2009, deverá lançar no mercado uma cerveja de sabor bem forte, com mais de 11% de álcool.

Bom, voltando à degustação, creio que a Demoiselle mereceu da gente uma média 9, sendo 10 do Luciano e 8 de mim. Logo em seguida, porém, provamos a que seria minha favorita: a Indica, mistura de malte, lúpulo e rapadura. Apesar desse último ingrediente, não tem nada de doce, pelo contrário: é amarga, vermelha e com teor alcoólico de 7%. "Nossa receita é baseada numa antiga receita inglesa de cerveja, que nos tempos do Império Britânico era enviada a Índia", diz o rótulo. "Nossa IPA mereceu do maior crítico inglês de bebidas malteadas Sir Michael Jackson (homônimo do cantor) três estrelas no seu Pocket Beer Guide conhecido como o Guia Michelin das cervejas e atualmente recebemos o prêmio de TOP 50 das cervejas nacionais e importadas mais consumidas no Brasil, pela Revista Prazeres da Mesa, edição 56 – Fevereiro 2008", resume. Eu daria nota 9. Com um 7 do Luciano, que não se entusiasmou tanto, teria média 8.

Por último, experimentamos a Appia, que leva mel na receita. Só que o gosto mais acentuado é o de trigo e, para quem aprecia cerveja feita com esse ingrediente, é realmente muito boa. O rótulo diz que "esta cerveja ligeiramente doce e refrescante revela todas suas qualidades quando degustada bem gelada com uma fatia de limão ou laranja presa à borda do copo. Tem teor alcoólico de 5,5%". Com notas iguais, ela fica com 7 pontos. Pelo meu paladar e o do camarada Luciano, as melhores Colorados seriam, portanto, a Demoiselle (nota 9), Indica (8), Appia (7) e Cauim (5). Cabe ressaltar, novamente, que a absoluta falta de medida ou critério, o grau etílico dos "jurados" (acima, à esquerda) e a preferência de cada um dos manguaças que fazem ou leem este blogue permitem resultados bem diferentes em futuras avaliações. De toda forma, a Colorado está de parabéns pela proposta e pelos produtos finais.

O mal que Parreira nos fez

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O técnico Carlos Alberto Parreira, por mais execrado que hoje seja, marcou o futebol brasileiro dos últimos anos de forma profunda e ainda não conseguimos nos livrar de sua influência. Vejo evidências dessa influência em dois empates, o da Seleção Brasileira de Dunga contra o Equador e o do Corinthians de Mano Menezes contra o Guarani.

Na Copa de 94, Parreira criou um estilo de jogo defensivo, trancado no meio campo, abundante em toques de lado e pouca criatividade. O meio campo com Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho é a prova. O time, convém dizer, era bem armado e funcionava, dentro de sua proposta. A vitória na Copa foi a coroação da chamada Era Dunga, onde meias habilidosos (Raí, Giovani) foram substituídos por volantes fortes e marcadores. A aplicação tática se tornava mais importante do que a técnica e a criatividade, num futebol previsível e chato.

Mais tarde, no Corinthians de 2002, o jogo mudou um pouco, mas manteve o objetivo básico: não tomar gols. Agora, em lugar de uma formação eminentemente defensiva, era o estilo de jogo que se encarregava de evitar os gols – dos dois lados. A idéia era manter a posse de bola no campo de ataque o maior tempo possível, evitando os ataques adversários. Com essa intenção, o numero de passes de lado se multiplicava e as jogadas agudas, verticais, em direção ao gol rareavam. Curioso lembrar que no papel era um 4-3-3, com Deivid, Gil e Leandro no ataque. Na prática, este último voltava constantemente para o meio campo, ajudando na marcação – como fazia também em sua passagem pelo São Paulo. Atrás, Ricardinho e Vampeta cadenciavam o time. O resultado era um time bem armado, funcional, previsível – atributos muito valorizados em repartições públicas.

As duas versões do estilo Parreira contaminaram o futebol brasileiro e vemos ainda hoje os sintomas dessa virose. O defensivismo explícito de 1994 foi a regra por muito anos, levando à febre dos três zagueiros, aos dois volantes brucutus, aos laterais mais presos. Quando essa moda passou, o defensivismo se travestiu de técnica e virou toque de lado, prisão móvel, falta de tesão. Essa filosofia foi levada para a Copa de 2006 e foi – de braços dados com o desempenho horrível de nossos craques – responsável pelo resultado que conhecemos. Um dado aqui é que, em 2006, Parreira falhou no que sempre foi sua (única?) virtude: montar times bem organizados. A biblioteca não funcionou bem.

A derrota traumatizou o Brasil com o “parreirismo” e levou à nova Era Dunga, com o anão dessa vez como comandante da Seleção. O diagnóstico, no entanto, foi errado. Tentando acabar com a herança do técnico-bibliotecário, Dunga acaba com um dos fundamentos do futebol bem jogado: o passe. O time brasileiro não se organiza para passar bem a bola, com ciência e arte, como diria Alberto Helena Júnior. O jogo é todo feito de tentativas de arrancadas e lançamentos para o ataque. No jogo de ontem, foram inúmeros os “passes” longos pra Luiz Fabiano, verdadeiros tijolos para que o centroavante se virasse.

O mesmo parece acontecer com o Corinthians, com agravantes. Não existe vida no meio campo. A dupla de volantes funciona bem, marca, mas há um buraco entre ela e o ataque. “Isso é saudosismo dos meias de antigamente”, bradarão os modernos. Mas o fato é que a bola tem que sair da defesa e chegar ao ataque em boas condições, não em chutões. O time precisa de uma (várias) forma de trabalhar com a bola no pé e criar jogadas de ataque. Se não temos mais Gersons, Rivelinos, Sócrates e Zicos, que inventemos um novo jeito de cumprir a tarefa.

O parreirismo fez mal ao futebol verde-amarelo quando presente e agora o prejudica pelo contraste. A aversão – justa – aos infindáveis toques de lado fez muitos acharem o interessante time da Espanha campeã da última Eurocopa burocrático e cheio de “armandinhos”. Faltava, após a contusão de David Villa, um outro atacante ao lado de Fernando Torres, mas o time visava sempre o gol e saiam tabelas lindas, num jogo coletivo bem legal de ver. Se não tinham craques no time, compensavam com um esforço coletivo. Mas, repito, visando o gol, não a posse de bola como um fim em si mesma.

É preciso acalmar os ânimos e perceber que controlar o ritmo do jogo nem sempre quer dizer embromar, assim como o contra-ataque é uma arma importante, só não pode ser a única de um time. Sócrates, contam os corintianos mais velhos, fez isso com a Fiel: ensinou a ter calma e a esperar o melhor momento para atacar. Se falta um Sócrates hoje, cabe aos treinadores criarem formas de organizar o time para cumprir essa função.

Adendo alheio sobre Muricy Ramalho - por Marcão
No Lance! de domingo, o colunista Marcelo Damato denuncia que "está crescendo uma mentalidade em que nada mais importa do que ganhar". E detona: "O símbolo desse futebol que tem o curioso rótulo de 'pragmático' é Muricy Ramalho, que não se importa que seu time jogue de maneira previsível. As vitórias, segundo ele, justificam tudo". Para Damato, o efeito daninho, com os sucessos do São Paulo, é que a maioria dos torcedores já pensa do mesmo jeito. "Como ganhar campeonato passou a ser obsessão, não pela alegria que dá, mas pelo alívio de não ter de suportar gozações, os torcedores aceitam tudo e o jogo está mudando para pior, muito pior", prossegue o colunista. E cita, como exemplo, os dois últimos clássicos do Paulistão (Corinthians 1 x 0 Santos e São Paulo 1 x 0 Palmeiras), que foram decididos com gols antes dos 20 minutos e depois se arrastaram de forma ruim e modorrenta. Será que Marcelo Damato tem alguma razão?

Belluzzo, o caçador de títulos perdidos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O economista e presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo (à direita), já entrevistado por este blogue, continua sua "cruzada" pela legitimidade de títulos conquistados pelo seu time em tempos "de antanho". Como diretor de Planejamento do clube, junto com o ex-presidente Affonso Della Monica, ele conseguiu que a Fifa homologasse a polêmica Taça Rio de 1951, vencida pelo alviverde, como um "mundial". Agora, os alvos são os torneios nacionais existentes antes do primeiro Campeonato Brasileiro, que começou a ser disputado, oficialmente, em 1971. Com o apoio dos presidentes de Cruzeiro, Santos, Bahia, Botafogo-RJ e Fluminense, Belluzzo apresentou publicamente, na semana passada, um novo "dossiê", a ser encaminhado para a CBF, que pede o reconhecimento e a contagem dos títulos da Taça Brasil (disputda entre 1959 e 1968) e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (que existiu entre 1967 e 1970) como legítimos Brasileirões.

Nós, do Futepoca, já antecipamos essa discussão muitas vezes, como aqui, aqui e aqui. A questão tem gerado muita polêmica. Ademir da Guia (à direita), no Lance! de domingo, defende o reconhecimento dos dois torneios: "Jornais e revistas da época classificavam os vencedores da Taça Brasil e Roberto Gomes Pedrosa como verdadeiros campeões brasileiros. Os clubes vencedores daquelas competições têm o direito de brigar pela oficialização de suas conquistas". No mesmo jornal, outro palmeirense, o comentarista Mauro Beting, pondera que o Robertão até poderia ser considerado um Brasileiro, mas a Taça Brasil não. "Taça Brasil é a mãe da Copa do Brasil - torneio eliminatório, com representantes de quase todo o país; Robertão é o pai do Brasileirão - um campeonato de fato, com os melhores do país, na época de ouro do futebol brasileiro", argumenta o jornalista. "O vencedor do Robertão é tão campeão brasileiro quanto qualquer outro a partir de 1971. O vencedor da taça Brasil é tão campeão como qualquer campeão da Copa do Brasil a partir de 1989", acrescenta.

Já o treinador e ex-jogador Paulo César Carpegiani (à esquerda) tem opinião inversa à de Beting: "O Roberto Gomes Pedrosa era um torneio disputado por grandes equipes do nosso futebol, mas se caracterizou principalmente pela briga entre clubes do eixo Rio e São Paulo. (...) A Taça do Brasil, que tinha uma forma de disputa semelhante à da Copa do Brasil, é mais coerente para que seja considerada um torneio nacional por envolver equipes de todo o país desde o início". Por sua vez, Luiz Fernando Gomes, colunista dominical do Lance!, resolveu esculhambar a questão na raiz. Com o título de "Festival de Besteira que Assola o País" (plagiado intencionalmente do finado Stanislaw Ponte Preta), o colunista afirma que "cartolas que não dão conta de cuidar do presente e de planejar o futuro agora querem mudar o passado". E ridiculariza argumentos pró e contra a avalização dos torneios pela CBF, como o do santista Adilson Durante, que defende a questão simplesmente para que Pelé seja "campeão de todos os títulos", ou do sãopaulino Marco Aurélio Cunha, que é contra porque tais campeonatos significam "o fim de uma época e de uma cultura" e, por isso, "não faz sentido associar os títulos".

Gomes satiriza: "A partir de agora ele (Marco Aurélio - foto à esquerda) vai ter de dizer que o São Paulo não é mais tri, mas tem apenas um título mundial - o de 2005, no Mundial da Fifa no Japão. Os outros dois, daquela taça intercontinental de um jogo só, são de 'uma outra época, outra cultura'. Não se pode associar os títulos...". Mas o colunista não defende ou rechaça o reconhecimento dos torneios proto-nacionais. Ele prefere dizer que "é coisa de quem não tem o que fazer". Isso tudo ainda vai dar muito pano pra manga, mas, em minha opinião, acho que a CBF vai acabar capitulando aos desejos de Belluzzo e dos outros clubes envolvidos - visto o reconhecimento precedente (e até mais improvável) da Taça Rio como "mundial" pela Fifa. Por mim, já cheguei a pensar como Mauro Beting, na associação do Robertão com o Brasileiro e da Taça Brasil com a Copa do Brasil. Mas hoje, pensando melhor, acho que seria contrasenso reconhecer um e não outro.

Como diz o companheiro Glauco, a Taça Brasil era o único torneio nacional existente entre 1959 e 1966 e indicava os times que disputariam (e que disputaram) a Copa Libertadores. Porém, se a disputa for reconhecida e contabilizada como Campeonato Brasileiro, o que acontecerá com a Copa do Brasil? Afinal, ela também classifica times para o torneio continental. Tenho quase certeza de que todos os que venceram a Copa também vão reivindicar o reconhecimento dessa competição como Brasileirão. Daí, no "vale tudo", ou seja, na soma da Taça Brasil, Robertão e Copa do Brasil como títulos brasileiros, o novo ranking colocaria o Palmeiras como campeão absoluto, para alegria do "garimpeiro de títulos" Luiz Gonzaga Belluzzo:

1º - Palmeiras (9 títulos) - 1960, 1967 (Taça Brasil), 1967 (Robertão), 1969, 1972, 1973, 1993, 1994, 1998

2º - Santos (8 títulos) - 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 1968, 2002, 2004

3º - Flamengo (7 títulos) - 1980, 1982, 1983, 1987, 1990, 1992, 2006

4º - Corinthians (6 títulos) - 1990, 1995, 1998, 1999, 2002, 2005

- Cruzeiro (6 títulos) - 1966, 1993, 1996, 2000, 2003 (Copa do Brasil), 2003 (Brasileiro)

- Grêmio (6 títulos) - 1981, 1989, 1994, 1996, 1997, 2001

- São Paulo (6 títulos) - 1977, 1986, 1991, 2006, 2007, 2008

8º - Internacional-RS (4 títulos) - 1975, 1976, 1979, 1992

- Vasco (4 títulos) - 1974, 1989, 1997, 2000

9º - Fluminense (3 títulos) - 1970, 1984, 2007

10º - Bahia (2 títulos) - 1959, 1988

- Botafogo-RJ (2 títulos) - 1968, 1995

- Sport (2 títulos) - 1987, 2008

13º - Atlético-MG (1 título) - 1971

- Atlético-PR (1 título) - 2001

- Coritiba (1 título) - 1985

- Criciúma (1 título) - 1991

- Guarani (1 título) - 1978

- Juventude (1 título) - 1999

- Paulista de Jundiaí (1 título) - 2005

- Santo André (1 título) - 2004


E então, alguém concorda com ou discorda dessa nova "configuração"?

domingo, março 29, 2009

Seleção à altura de seu técnico

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Podem falar de altitude, podem falar de dia ruim, podem falar de qualquer coisa. Mas nunca em 30 anos acompanhando a seleção brasileira (minúsculas mesmo) vi um time ser tão acuado por um adversário. 


E qua adversário era esse? A Holanda de 1974? A Argentina de Maradona? A França de Zidane? Não, era o Equador de Valencia.

Obra e criador merecem um prêmio por este ponto conquistado por uma das maiores atuações de um goleiro que vi nesse mesmo tempo de futebol.  Júlio César foi um bravo, fez milagres enquanto pôde.

O problema é ter o técnico brasileiro reduzido o futebol brasileiro à sua altura. A selecinha do anão depende de seu goleiro para não tomar de 10 do Equador. De dez, sim. Porque foram mais de vinte finalizações do time de amarelo, com quanse metade defendida pelo goleiro da Internazionale.

Tanto que o Equador, até pela cor, parecia ele sim aqueles times do Brasil que até perdiam, mas jogavam futebol. Este...

Depender de um gol de sorte, em contra-ataque de Julio Baptista, para empatar com o Equador dá a medida de onde chegamos... Fora, Dunga... Fica, Júlio César...

Esse é de placa

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Este post é só pra registrar o golaço do Nilmar pelo Internacional contra o Juventude, pelo Gaúcho. Que jogador! Será que ainda veremos a dupla Nilmar e Neymar na seleção? E pensar que o Corinthians o perdeu tão bestamente...

Derrota para a eficiência do time do Muricy

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O Palmeiras teve 88 minutos para empatar o jogo com o São Paulo. É que o atacante Washington, autor do único gol do clássico do Morumbi, marcou logo aos 2 do primeiro tempo. Claro que a conta não considera os acréscimos.

A falta de padrão de jogo do alviverde e a eficiência do time de Muricy Ramalho foram as marcas do jogo. Tem palmeirense pedindo a volta de Felipão.

A fase atual do time de Vanderlei Luxemburgo lembra a reta final do brasileiro de 2008. Quando o time atingiu a melhor fase naquela competição, despencou de produção.

No sábado, sem Diego Souza, Keirrison não conseguiu fazer a diferença, mesmo tendo uma oportunidade aos 41 do segundo tempo cara a cara com Rogério Ceni. Pra mim, nesse lance, foi mais falha do atacante do que mérito do arqueiro, porque a bola foi chutada fraca e em cima dele.

O São Paulo assumiu a segunda colocação, deixando o Corinthians para trás. A dois jogos do fim da primeira fase, a terceira derrota na temporada mostra uma dificuldade do time para lidar com partidas importantes. Neste caso, mesmo sem ser decisiva, era um clássico. E todo clássico tem peso. Muito triste mesmo ver o time nesse pé.

No gol de Washington, o são-paulino tem méritos na movimentação, mas a zaga ficou só olhando. Um problema crônico que se agrava quando a capacidade de fazer gols fica menor do que a incapacidade de contê-los, como ensinaria Conselheiro Acácio.

A culpa é do Lula

Não demorou para sobrar a culpa para o presidente da República. Ou melhor, para o neto dele.

Barrichello: a volta de quem não foi

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Invado aqui o espaço do Chico Silva, que irá dissertar melhor sobre o assunto, mas é impossível não falar sobre o GP da Austrália de F-1, talvez o grande evento esportivo do final de semana. A estreia da temporada mostrou uma competição diferente da previsibilidade modorrenta dos últimos anos e até, porque não, mais democrática. E um quase aposentado, Rubens Barrichello, mostrou que seu fim de carreira pode ser muito melhor do que se esperava.

A largada do brasileiro foi péssima e o carro quase morreu. A queda para o sétimo lugar e um toque que danificou sua asa dianteira esquerda parecia trazer à memória um filme que o torcedor brasileiro cansou de ver: a mistura de vacilo com falta de sorte que fizeram do piloto uma caricatura para muitos no Brasil. Mas ele se recuperou. Ultrapassou a Ferrari de Kimi Haikkonen, mesmo com o carro avariado. Seu companheiro Jenson Button se distanciava na frente e várias voltas se seguiram até a troca do bico da Brawn GP.

Mesmo com o trabalho do box tendo tirado um quarto lugar que era seu, Barrichello ganhou na pista a posição de direito. Àquela altura era o único brasileiro na pista e foi incrivelmente bafejado pela sorte com o acidente envolvendo os novos e rápidos Sebastian Vettel e Robert Kubika.

Terminou em segundo em uma corrida histórica, sendo a primeira dobradinha de uma equipe estreante em 45 anos de F-1. O término da prova foi promissor e talvez esse seja um ano absolutamente diferente na categoria. Ou, pelo menos até Barcelona, quando novos pacotes das equipes devem estrear e outros devem contar com os difusores que são parte importante do sucesso da Brawn GP. Por enquanto, a festa é de Button e Barrichello. E do estrategista Ross Brawn.