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segunda-feira, março 15, 2010

As meias verdades pós-clássico

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“Ah, não falei? Esse time é só firula”. Provavelmente o torcedor do Santos ou aquele que elogia o futebol dos garotos da Vila vai escutar ou já escutou isso a essa altura do campeonato. Claro, boa parte dos que falam isso diriam a mesma coisa se o Alvinegro perdesse daqui a dez rodadas, estavam só na torcida pela óbvia contagem regressiva. Normal, até porque, se o futebol peixeiro encanta, também causa uma certa raiva em muita gente por motivos freudianos. Tanto que tem até corintiano comemorando a vitória do Palmeiras, quem diria... Mas o resultado do clássico, que para muitos apaga a série invicta (ou talvez fosse um desejo que se apagasse) e, mais que isso, obscurece as exibições dos meninos da Vila, vai ensejar uma série de meias-verdades ou teses questionáveis que vão pulular nas mesas de boteco ou mesas redondas da TV (o que é quase a mesma coisa). A algumas:

– A molecada “sentiu” o jogo – isso é um lugar comum curioso. Qualquer time, em determinados momentos de uma partida, pode “sentir” quando toma um gol ou o resultado é adverso. Os veteranos do Corinthians, por exemplo, perderam as estribeiras com os santistas. Já Ricardinho e Rogério Ceni, nas semifinais do Brasileiro de 2002, também acreditavam na instabilidade daqueles meninos. A fórmula era simples: marcar um gol logo de cara para fazê-los perder a linha na segunda partida. Fizeram o tal gol rápido e perderam mesmo assim. Ou seja, não é porque são "meninos" que vão tremer. No clássico do fim de semana, o Santos, depois de sofrer o baque da virada, passou a jogar mais que o Palmeiras, que recuou e sofreu pressão. Tanto que tomou o empate e só fez o gol quando tinha um a mais, contando com uma falha da defesa peixeira. Perder é do jogo, o futebol cansa de mostrar isso.

– Quando está ganhando, o Santos menospreza o rival – essa foi a reclamação do sensato e controlado Diego Souza, depois do jogo. Curioso é que, mesmo perdendo, Ganso deu chapéu e matou bola no peito, e Neymar pedalou e deu uma assistência para Zé Eduardo quase marcar o gol de empate. Se isso for “menosprezo”, talvez o Alvinegro menospreze o rival até quando está perdendo. Segundo, claro, o critério do sensato e controlado Diego Souza, que encontra respaldo em muita gente que acha agressão verbal pior que física.

– O Santos vai “perder o encanto” e o Palmeiras vai “desencantar” - partidas difíceis virão para o time da Vila e nem sempre vai ser possível dar show, como alertou Dorival Junior após a goleada contra o Naviraiense, embora o time, mesmo quando não encante, empolgue, como disse Mauro Beting. Isso porque sempre joga ofensivamente e produz jogadas bonitas mesmo quando a jornada não é perfeita. Já o Palmeiras faz da sua força algo que vem desde a época de Muricy Ramalho: bola alçada na área, como em dois gols que saíram contra o Peixe. Um pouco de raça, apostando no erro do adversário, mas é mais do mesmo. No ano passado, venceu o Santos na Vila e se achou campeão brasileiro. Deu no que deu. Precisa mais para se classificar no G-4.

– Neymar precisa ser mais “equilibrado” - todo craque já foi expulso de campo uma ou tantas vezes (com exceção de José Macia, o Pepe) e pernas de pau então, mais ainda, ainda que alguns sejam protegidos por árbitros sabe-se lá por que. Há ainda os que têm uma lista considerável de expulsões, nada "interpretativas", e outros que têm uma ou duas em momentos cruciais e são salvos por resultados. É só lembrar de Leonardo na Copa de 94 ou Ronaldinho Gaúcho na Copa de 2002. Ou ainda Garrincha, na Copa de 62. Neymar fez uma falta sem bola, como Pierre fez em Marquinhos com menos de um minuto de partida. Como tantas que o menino sofreu e, nem por isso, os seus marcadores tomaram o vermelho. Por isso a indignação do atacante ao ser expulso. Neymar tem a cabeça no lugar tanto quanto qualquer outro jogador brasileiro ou até mais que a média.

Mesmo com a derrota, continuo me guardando pra quando o carnaval chegar. E é bom saber que ele pode vir em qualquer partida e não só em uma final. Pra quem gosta de bola bem jogada.

11 comentários:

Marcão disse...

De como eu vi:

1 - A molecada não "sentiu", apenas deu uma acomodada no final do primeiro tempo e levou dois gols improváveis em dez minutos (o primeiro, de cabeça, foi falha do goleiro - pelo menos eu acho). No segundo tempo começou tudo do zero, empatado, e cada time fez um gol. No apagar das luzes, Robert soltou um bambu e decidiu. Clássico bem jogado sempre é imprevisível. Parabéns ao Palmeiras, mais eficiente nas finalizações.

2 - Quem inventa agora a "tese do menosprezo" são os mesmos que antes defendiam o Santos por "jogar com alegria", "fazer firulas", "encantar". Eu continuo defendendo, mesmo que o time perca. Futebol é isso - e não a modorra do meu time no Morumbi (mas isso comentarei em post). Não acho que o Santos tenha menosprezado, mas, como disse, deu uma relaxada fatal no fim do primeiro tempo. O Palmeiras aproveitou. No segundo tempo o Santos se ligou de novo e tanto poderia ter empatado como ganhado, mas não conseguiu. Só.

3 - O Santos não vai perder o encanto. E sobre o Palmeiras não sei dizer, é incerto. Esse Lincoln que estreou ontem é bom e o Vítor, que vem do Goiás, melhor ainda. Mas não arrisco palpites. Ontem o alviverde mereceu aplausos. Amanhã, ninguém sabe.

4 - O Neymar foi bem expulso, mas é lance de jogo. Não muda nada, nem pra ele e nem pro Santos. Nisso o Neto, que só fala abobrinha, falou um coisa certa: "-Nós, eu, o Edmundo, enfim, os atacantes, não sabemos marcar direito. E às vezes batemos sem intenção, mas errado. E arrumamos expulsões infantis". Eu acho o mesmo.

Por fim, pra citar mais um dos inúmeros chavões que vão pulular pelos butecos, como disse o Glauco, "o Santos perdeu quando podia". Melhor o Dorival dar uma ensaboada geral nos moleques agora do que no mata-mata. E talvez eles comecem a aliar o show a uma objetividade ainda maior. Aí não terá pra ninguém.

Fabricio disse...

Curtas: o Diego Souza se referiu ao jogo contra o corinthians, não ontem.

O Neymar foi bem expulso. Na hora que ele chuta o Léo (ou o Danilo) e na sequência pega o Pierre já ficou claro que seria expulso. Tanto eu como meu pai comemoramos antes do juiz puxar o cartão. Pra mim ele estava nervosinho por causa das dancinhas dos palmeirenses.

Ah, e ele cola nas costas do juiz e manda o mesmo tomar naquele lugar logo após receber o cartão. Infelizmente o juiz deve deixar barato.

Pra terminar, ouvi 432723 comentários dizendo que o segundo gol foi um golaço. Se fosse o Robert eu tenho certeza que iriam enfatizar o fato da bola ter batido no outro pé e subido.

Conclusão: o moleque é bom, logo logo vai pra seleção com pleno merecimento. Mas que lances como o chapéu no Chicão ou as entrevistas que dá são desnecessários.

Nicolau disse...

Concordo com o Marcão, quando fez 2 a 0, senti uma certa relaxada do Santos. E quando tomou dois gols em dois minutos, sentiu, o que não é nada mais do que normal. O Palmeiras começou perdido e cresceu na raça no segundo tempo por conta dos dois gols improváveis - um deles com um lindo calcanhar do Diego Souza. Mas enfim, foi um jogaço, o Palmeiras fez oq ue o Anselmo pediu e arrumou força na camisa.

Sartorato disse...

Eu, de minha parte, acho bom pro Neymar tomar um chá de realidade, nem que seja uma chicrinha só. Quem sabe assim ele pára de dar entrevistas falando na terceira pessoa... Agora, por mais que eu concorde com o Diego, ele não pode falar nada, batendo nos outros do jeito que bate. Isso é um desrespeito pior ainda.

Olavo Soares disse...

Post mais que perfeito. Não escreveria diferente.

É impressionante como esse time do Santos desperta raivas. Ele não pode perder; é vítima de suas dancinhas, de suas firulas, de suas gracinhas.

O time perdeu porque tem uma zaga falha e um goleiro de merda. Ah, e porque o adversário também tem méritos. Nada, mas nada além disso. Botar a culpa nas dancinhas é exalar rancor.

Anselmo disse...

impressionante a citação ao mauro beting de uma coisa que ele realmente falou. milton neves jamais faria nada parecido.

sobre as "pulêmicas".
as dancinhas servem pra torcida se engalfinhar pelos botecos no bate-boca. achei ponderada a análise do Zago de dizer que não reclamou de os jogadores do palmeiras tbem fazerem dancinhas, pq é do jogo, e o jogo tem que ter alegria(entenda-se: ponderada a declaração, não quer dizer que a prática do técnico e dos jogadores tbem o seja). nem sei se ele usou isso pra motivar a turma, mas o marcos deu uma declaração mto mais legal: se a gente nao quer que eles dancem, é só não tomar gol. difícil, ou fácil? comparando com o tbem pentacampeão ronaldo-obeso, que diferença...

ainda: em 4 jogos entre palmeiras e santos o santos levaria os outros três com tranquilidade, pq não bobearia no fim do primeiro tempo.

agora, como escreveu o olavo, a zaga tem problemas e isso todo comentarista de bar já vaticinava. Um time que conseguiu aproveitar vacilos dessa zaga que é muito pior do que o meio de campo e do que o ataque, derrotou o Santos. não é simples fazer mais gols do que tomar desse time.

Sobre o palmeiras deslanchar, há pelo menos duas faces colocadas. A primeira é a analisada pelo glauco: o que o time tem pra apresentar em termos de variação tática. A segunda, é a postura dos jogadores.

Embora seja inegável que o time se saiu melhor fazendo o que muricy gosta (cruzar na área), não se via, com o antigo treinador, boas bolas alçadas na área, exceto por cleiton xavier. armero voltando a jogar e eduardo do outro lado, já seriam mais do que antes. Mas me parece (parece, só parece) que o time tenta jogar de formas diferentes. Ora com toques, ora com cruzamentos, ora com contra-ataques. Antes não tinha nada disso (na minha opinião, porque havia corpo mole dos atletas, mas isso é outra história).

o outro ponto é em termos de postura. um time que acredita que pode virar um jogo perdendo por 2 a 0 pro líder invicto é mto, mas mto diferente da equipe que foi derrotada pelo rio branco e pelo são caetano. se perdesse pro Peixe, estava eliminado do paulista. agora sonha. é pouco pro palmeiras, mas agora, o torcedor ia ficar puto se tivesse menos do que isso.

Se no aspecto tático a melhora pode ser só uma impressão, do ponto de vista da disposição de jogar, a mudança se dá a olhos vistos.

Claro que pode não se repetir na próxima partida, mas é um elenco que mostrou pra torcida que pode ostentar o manto alviverde.

sobre os meninos terem sentido, a os urubus do futebol bem jogado e as críticas a neymar, acho que opinião de bêbado provavelmente não tem dono. E que neymar precisa mto mais do que de uma expulsão pra ser convencido de que deve fazer alguma coisa diferente.

Sou contra o uso da terceira pessoa pra referência a si próprio. A não ser que a referência seja à "minha pessoa", porque é um direito do sujeito esquizofrênico. não me lembro de ter ouvido ele se referindo "ao neymar", mas minha memória tá pior do que a da carminha.

De resto, ele que fale o que quiser. Se eu não gostar, talvez o xingue, no bar. E tbem ao Dunga por não convocá-lo. Mas só.

Leandro disse...

Não consegui compreender porque a goleada contra o inexistente Naviraiense causou tanta espécie, e agora quero tranquilizar a todos, palmeirenses e santistas, depois do grande jogo de ontem.

A verdade é que tudo correu normalmente quando o time praiano espinafrou o pobre Naviraiense, coisa absolutamente normal levando-se em conta a disparidade existente entre as duas equipes em todos os aspectos.
E dentro desta visão, a vitória palmeirense, se tivermos presente o lugar-comum que diz que ”clássico é clássico”, também não deve causar tanta espécie.


Já vi favoritismos ainda maiores serem pulverizados em noventa minutos, e para citar exemplos relativamente recentes, lembro aqui que o bisonho time corinthiano de 2007 venceu Santos e São Paulo em sua trajetória rumo à Série B.


Se a empáfia santista existiu, e naturalmente existiria, a verdade é que o Palmeiras entrou bem mais vacinado se compararmos às circunstâncias das partidas do Peixe contra o São Paulo e o Corinthians, razão pela qual o time verde conseguiu equilibrar as coisas a partir da segunda metade do primeiro tempo.


O São Paulo não enfrentou um Santos "tão" favorito quando perdeu um jogo razoavelmente equilibrado com gol de letra de Robinho, onde o fator surpresa, naquela altura representado pelas atuações de jogadores menos badalados e visados que Robinho e Neymar, acabou decidindo tudo.

E o Corinthians enfrentou uma arbitragem bizarra e um nervosismo incomum de seus jogadores, com direito a falta sem bola antes dos sete segundos de jogo e uma penalidade que mais pareceu golpe de judô, e que passou impunemente, fatores estes que não vitimaram o time da Pompéia na partida de ontem e que também contribuíram para a surpresa, se é que dá para chamar alguma vitória em clássico de surpresa.


Mas nada disso deve mudar o preço a cotação na BOVESPA. O Palmeiras pode até se empolgar e iniciar uma arrancada rumo ao G4 depois de ter feito contas para evitar o descenso, embora ainda deva ser visto como coadjuvante, e o Santos deve seguir como grande favorito ao título e também como o querido da imprensa em geral, para o bem ou não.


É justo que exista uma predileção até natural da imprensa quando um time se apresenta bem, joga bonito, tem uma diretoria que parece ser bem intencionada e honesta, e faz esforços para manter por aqui nossos talentos. Tudo bem que fica mais mais fácil esta predileção ultrapassar a linha da crônica esportiva e transbordar para a predileção daqueles que tomam as decisões dentro das quatro linhas e até fora delas, mas estas intercorrências são inerentes a determinadas situações e a determinados clubes.
Prova dessa inconsciente boa-vontade é o fato de uma imitação de porco ontem não ter causado, nem de longe, a comoção que comemorações dos corinthianos Viola e Mirandinha causaram no passado, mas o Palmeiras entrou consciente dos riscos que corria e também aproveitou o fato de não padecer do policiamento sofrido por outros times que sucumbiriam ao bom futebol do Santos e também ao apelo midiático deste atual elenco e do “ethos” santista na eterna luta do bem contra o mal.

Fabricio disse...

"depois de ter feito contas para evitar o descenso"

Cara, eu já fiz contas pra descenso mais de uma vez desde a queda do Palmeiras em 2002. Mas se tem um campeonato que essa possibilidade nem passou pela cabeça dos palmeirenses foi nesse ano. A distância pro G4 nunca foi menor que o dobro da distância pra zona de rebaixamento. Pelo contrário, mesmo depois de derrotas seguidas a diferença sempre se manteve ali nos 4, 5 pontos.

Viagens Costa hein, Leandro?

Fabricio disse...

Corrigindo:

nem eu entendi a minha conta no post anterior. Mas o que eu quis dizer é que sempre a distância pro Z4(zê!) foi pelo menos o dobro da distância pra zona de classificação.

Anselmo disse...

incrível como os corintianos ficaram felizes com a vitória do palmeiras.

Leandro disse...

Caro Fabrício,
O temor pelo descenso deu-se nem tanto por conta dos números da tabela de classificação, mas pelo panorama sombrio que se apresentava depois das últimas partidas, em que, ou o time foi goleado ou penou ante equipes que figuram na rabeira.
Mas a vitória de domingo pode apagar todos estes temores e até colocar o Palmeiras no caminho da Z4 e, consequentemente, do título. Por que não?
Se o Corinthians, que é apenas 4º colocado, diga-se, perde dois ou três jogos, considerando as crises inerentes ao clube e que viriam fatalmente a reboque disso, também teria razões para temer um desabamento na tabela.
E tomando como minhas as palavras de um famoso anticorinthiano da Impresa Marrom, pela falta de combatividade que vem demonstrando até aqui em todo o Paulistão, também poderia muito bem ter que se preocupar com isso,