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segunda-feira, março 22, 2010

A vingança nunca é plena

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Minutos antes do início de Santos x Ituano, no estádio do Pacaembu, o locutor anuncia os times. "Ituano; camisa 1, Saulo". Logo começam os comentários entre os torcedores: esse Saulo do Ituano.. é ele? É aquele!? Alguém confirma que, sim, é ele, é aquele. É aquele Saulo.

O "aquele" tem sua razão de ser. Saulo é um goleiro que foi revelado pelas categorias de base do Santos. Assumiu a titularidade em um período complicado para o time, o segundo semestre de 2005. Fez alguns jogos razoáveis e chegou a ser querido pelos torcedores. Mas de repente começou a decair. A jogar mal. A entregar partidas. Até que foi o protagonista - pelo lado peixeiro, é claro - do maior vexame da história recente do Santos.

Sua atuação catastrófica naquela partida não foi a única coisa que fez com que ele fosse digno de atenções maiores na tarde-noite de hoje. Mais que isso, o que se destacou foi a postura que Saulo adotou quando esteve na Vila. Sabe o que se fala de jogadores como Léo Lima, aquele papo do "se ele jogasse metade do que pensa que joga, estaria na seleção"? Pois é, vale o mesmo para o tal Saulo. Enquanto atuou no Santos, tinha uma atitude que sugeria a quem o visse em campo que estava ali o sucessor de Gilmar dos Santos Neves e Rodolfo Rodriguez - ou até mesmo uma soma, e melhorada, dos dois. O ápice disso tudo se deu no início de 2006, quando, em uma ação ao mesmo tempo revoltante e risível, Saulo processou o Santos por ter sido... colocado na reserva. É, isso mesmo: um jogador movimentando o judiciário nacional por ter sido preterido por outro atleta.

Tudo isso fez com que o desenrolar da partida adquirisse um contorno especial. Todos os santistas presentes no Pacaembu esperavam uma vitória, alguns até já visualizavam uma goleada; mas ninguém, ao menos inicialmente, pensava em fazer Saulo buscar oito vezes a bola dentro do gol.

Mas à medida que o jogo foi correndo, esse passou a ser o objetivo - dos torcedores, é claro. Ao final do primeiro tempo, quando o placar mostrava o Santos enfiando 4x1 em um Ituano desorientado e com um jogador a menos, só o que se ouvia no Paulo Machado de Carvalho eram gritos como "aí, Saulo! só faltam três!", e variantes.

Quando veio o sétimo gol, o santista se sentiu relativamente vingado. O oitavo, um peru histórico, foi um banho de alegria na alma. E o nono, originado em um lance que resultou na expulsão do próprio Saulo, foi um regozijo único. A ponto da coisa já ter virado brincadeira e santistas reclamarem da expulsão de Saulo. Eu, também no estádio, dizia que não me incomodaria muito em ver a cobrança de André sendo defendida pelo jogador improvisado que estava no gol - tudo para que ficasse ainda mais evidente o papelão de Saulo.

No fim das contas, registro que o ocorreu no Pacaembu hoje foi a maior humilhação de um jogador profissional que vi na vida. Porque não foi um time, uma torcida, uma nação a ser pisoteada; foi, sim, um só atleta.

O título desse post é uma referência a um marco da cultura latino-americana, que como poucos falou sobre a questão da vingança. E, ao mesmo tempo, é pra deixar claro que a vingança dos santistas não foi plena - ela só acontecerá caso derrotamos o mesmo adversário, com placar igual ou superior ao ocorrido em 2005. Mas já garantiu uma certa dose de diversão.

PS: aos leitores do Futepoca, cabe um esclarecimento. Os dois posts seguidos sobre Santos 9x1 Ituano se devem a diferentes razões de ser de cada texto. O Glauco fez uma análise precisa do jogo; eu tô apenas desancando coisas de torcedor. Usem os comentários para falarem sobre vinganças no futebol, tenho certeza que vocês têm boas histórias pra contar.

13 comentários:

Glauco disse...

Olavo, entendo a ravia e lembrei que o Saulo era "aquele" quando escutei a escalação do rádio. Mais que a atuação dele naquele dia, de fato a postura de não "jogar metade do que acha que joga"! é o que irritava. E a esse rol incluiria o Marcelinho Paraíba.

MAs, sinceramente, que se lixe ele e aquele jogo. Passo tranquilo a vida inteira sem "vingança", só vendo esse Santos jogar. Faz muito bem pra alma.

Sartorato disse...

Bah, a minha o Palmeiras frustrou, conseguindo o feito espantoso de ficar de fora da Libertadores este ano.

Marcão disse...

Curiosidade: em junho de 1944, o São Paulo venceu o Santos exatamente por 9 a 1, na maior goleada do clássico. O jogo também aconteceu no Pacaembu, também pelo Campeonato Paulista e o Santos também abriu o placar.

Glauco disse...

E eu que cresci escutando que santista vivia do passado...

Anselmo disse...

vingança no futebol é complicado. mas é parte do universo da bola.

mas a cultura latino-americana já teve marcos mais representativos.

Fabricio disse...

Uma vingança "invertida" aconteceu no Brasileiro de 2002. Quem não se lembra da noite mágica em que o Galeano perdeu um penalty para o Botafogo e saiu ovacionado pela torcida do Palestra? Ele ficou tão nervoso de ver a torcida gritando seu nome que abriu mão de qualquer função tática e passou a ficar plantado na área do Palmeiras para tentar se redimir. O técnico botafoguense percebeu e o substituiu, para ovação maior ainda do público.

Outra que também não sei chega a ser vingança, mesmo porque se não me engano o Robinho só tem uma vitória contra o Palmeiras, foi num Palmeiras x Santos em 2005.

O Santos vinha bem no Paulista e o Robinho disse que o Santos tinha obrigação de bater o Palmeiras no Palestra. A torcida do Palmeiras não engoliu e foi presenteada com um show de Pedrinho na vitória de 3x1. No final do jogo, para delírio da torcida presente (inclui-se a minha pessoa, no caso) o Pedrinho jogou a bola entre as pernas do Robinho, que caiu sentado. O Robinho nunca deu muita sorte contra o Palmeiras. Alguém confirma se a única vitória dele foi um 2x1 no Pacaembu em 2006, se não me engano?

Olavo Soares disse...

2006 o Robinho já não estava mais no Santos.

O Santos fez um 4x3 sobre o Palmeiras no Pacaembu, acho que em 2003 ou 2004. Era a época do Robinho, só não lembro se ele jogou nesse dia.

Glauco disse...

Nesse 3 a 1 de 2005 o Marcos pegou até pensamento.
Olavo, em 2003 não teve Santos e Palmeiras, já que eles não se enfrentaram no Paulistão e o Verdão estava na segundona.

Leandro disse...

E os santistas aproveitam o ensejo para amplificar outra lenda anticorinthiana: a de que os 7x1 de 2005 foram "entregues".
Ainda que o Santos tenha empatado instantes depois de sofrer o primeiro dos sete gols corinthianos, aquele jogo teria sido entregue pelo time do Santos, mesmo sabendo-se das consequências, do risco para a própria vida, para a dos familiares e para a história pessoal de se entregar um jogo justamente para o time que é tido pela própria torcida (não pela adversária, diga-se), como grande rival.
Dentro desta visão, se o jogo de 2005 foi entregue, com um "dissimulado" empate santista, então, também cabe fazer ilações quanto à vitória de ontem, em que o dissimulado time de Itu foi além, tendo saído na frente no marcador, que restou dilatado mesmo com as ausências da grande estrela atual e da grande estrela do título de 2002. Estrelas que foram faturar uns dólares nos EUA enquanto o time de Juninho Paulista entregava o jogo.
A propósito, sigo no aguardo de uma postagem quanto a este jogo de Nova Iorque, que provavelmente também foi objeto de "entrega" aos rapazes da terra do Obama.

Glauco disse...

Leandro, procurei aqui no espaço quem era o santista que "aproveitava o ensejo para amplificar uma lenda anticorinthiana". Só achei o seguinte trecho escrito pelo Olavo sobre o Saulo: "Mas de repente começou a decair. A jogar mal. A entregar partidas". Nesse caso, "entregar" é o mesmo que "falhar" e parece que o contexto deixa isso bastante claro.

Portanto, acho que você "aproveitou o ensejo" pra destilar seu ódio anti-santista e toda sua argumentação não faz sentido aqui. Talvez sirva para outros torcedores, inclusive pra aqueles de outros times que veem conspiração em tudo. Mas tudo bem, o espaço é livre.

Mas devo corrigir um equívoco: Robinho está machucado, esteve no Pacaembu no domingo e não foi para Nova Iorque. Quanto a Neymar, só foi porque estava suspenso. De resto, achei que você fosse cobrar um post da partida de seu time no domingo, não imaginava que fosse dar falta de um texto sobre um amistoso do time B de um rival. Muita preocupação com o clube alheio...

olavo disse...

Nossa senhora. Teoria da conspiração fez a festa por aqui, hein?

Leandro, nem eu nem o Glauco falamos qualquer coisa de "entrega". É tudo por conta sua, ok?

Leandro disse...

Prezados Olavo e Glauco,
A outra estrela de 2002 a que me referi não é Robinho. É Fábio Costa, que pegou até pensamento nas decisões de 2002. Não me referi a Robinho e às famosas pedaladas, até porque, não foram nada decisivas, a propósito. Até eu pedalaria em cima do fraco Rogério.
Quanto ao jogo contra o Barueri(?), já cobrei em postagens anteriores que os corinthianos deste blogue andam bastante preguiçosos.
Creio que também adotaram o discurso boboca de que Libertadores é o que vale e Paulistinha(?) deixemos para lá.
Como sabem, a exemplo de vocês, compactuo da opinião de que houve grande recuperação do estadual em termos de prestígio e não vejo muita graça na tal Libertadores, que em regra traz um futebolzinho bem sem graça. O último time que vi desfilar um futebol vistoso nesta competição foi justamente o desunido e problemático Corinthians de 99/00. Desde então, só chatice.
Mas se os corinthianos deste blogue (não é meu caso, sou um reles leitor/comentador) se dignarem fazer uma postagem sobre a derrota de ontem, comentarei a respeito da penalidade em Jorge Henrique quando ainda estava 0x0 e sobre a falta de ataque do Barueri(?) no lance do primeiro gol.

Fabricio disse...

Obrigado ao Leandro por me lembrar das Libertadores 99 e 2000.