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segunda-feira, maio 03, 2010

Santos campeão ou O dia em que a camisa era a alma de Ganso

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Aprendi a torcer para o Santos, em parte, ouvindo e cultuando histórias de times e partidas contadas pelo meu pai. Afinal, o torcedor de um clube que tem a trajetória do Peixe, das mais ricas do futebol mundial, tem quase como obrigação saber de pelo menos uma parte delas, vivenciar outras tantas e passar adiante esse legado.

E ontem, quando o Alvinegro já jogava com oito em campo, meu pai olhou para aquele camisa 17 santista e exclamou: "O Almir Pernambuquinho encarnou nele!". O controverso e tresloucado jogador que substituiu Pelé na segunda e terceira partidas da decisão do Mundial contra o Milan em 1963. Que não teve medo dos duros italianos e, mais que igualar na "pegada", os igualou no olhar. O atleta que, sem Zito e o Rei em campo, chamou a responsabilidade para si.

Era esse mesmo espírito que guiava o jovem Ganso ontem. Que guiou muitas vezes o esquadrão santista dos anos 60, que se apossou de Giovanni na memorável vitória contra o Fluminense em 95 e que em tantas ocasiões esteve presente na história do time que, como diz seu hino, defende a “bandeira que ensina, lutar com fé e com ardor”. Quando Dorival quis substituí-lo, não foi uma afronta ao técnico quando o garoto disse um rotundo "não". Ali, clamou por justiça e prometeu fazer valer sua presença no gramado.

E assim o fez. Mais do que a habilidade, confrontada sempre contra um mínimo de dois marcadores, o menino de 20 anos, o mais caro do Peixe, mostrou um "algo mais" que ainda não tinha aflorado totalmente. O mesmo "algo mais" que faz com que muitos brasileiros admirem o jeito de jogar dos argentinos ou que explica o fascínio de são-paulinos por uruguaios como os pouco habilidosos Forlán e Lugano. Às vezes, mesmo quando não primam pela técnica, os hermanos sabem que o jogo não se joga só com os pés, mas com a cabeça e com o coração.



E ontem Paulo Henrique reproduziu esses e tantos outros exemplos que fazem do futebol um esporte às vezes de dimensão épica. Aquela camisa alva do Santos era parte da sua alma. Soube dosar como um craque veterano a habilidade para dar um dos passes mais magistrais que já vi em um gol, o segundo do time, com a inteligência de cobrar um escanteio para ninguém (lance mais comum no futsal), ganhando um precioso tempo que sua equipe, em frangalhos, precisava para garantir o título. Segurou a bola, cavou lateral, escanteio e tomou até um safanão quando deu um chapéu que poderia ter provocado uma expulsão no rival. Nada o intimidou, nada o parou. Para Ganso, não foi apenas o jogo da consagração, foi o da convocação. O menino não é mais menino.

*****
Mesmo sem show, os dois gols do Santos foram obras de arte, evidenciando o talento de Neymar e dos ainda oscilantes Robinho e Marquinhos. Mas é preciso ressaltar dois grandes destaques defensivos que souberam segurar, nas finais e durante boa parte do Paulista, o rojão lá atrás: o incansável Arouca e o surpreendente Pará, que parece ter adquirido uma confiança nunca antes demonstrada em sua estada na Vila Belmiro. 

E Dorival Junior? Soube desde o início do seu trabalho reconhecer as características do grupo que tinha em mãos e jogou para frente. Ajudou jogadores a desenvolverem seu potencial, os mesmo que, nas mãos do antecessor, não tiveram como aprimorar o talento que já tinham. Mas lembrou um personagem vivido por Brandão Filho, no extinto humorístico Escolinha do Professor Raimundo, aquele mesmo que respondia bem todas as perguntas para errar barbaramente no final. Ao entrar na partida de ontem com Rodrigo Mancha no lugar do suspenso Wesley chamou o Santo André para o próprio campo e dificultou a saída de bola peixeira. Quando estava com menos jogadores, não tinha mais o que fazer a não ser se defender, mas erraria de novo ao tirar Paulo Henrique. Mesmo assim, o saldo é positivo, só que, a partir de agora, o treinador também deve atuar "mais concentrado"

*****

Claro que os "imparciais" secadores vão falar do gol anulado do Santo André. Mas esquecerão o pênalti não marcado em Arouca no mesmo jogo e em Neymar na partida anterior, que tomou pisão, foi agredido e não houve punição alguma a qualquer atleta do Ramalhão. Aliás, seria a única vez na História que um time que termina uma decisão com oito jogadores teria sido "beneficiado" por uma arbitragem venal... Haja chororô.

23 comentários:

Olavo Soares disse...

Bela referência a Sandoval Quaresma. Mito!

E, realmente, foi um jogo de matar do coração. Como torcedor, afirmo não ver nenhuma diferença em ser campeão perdendo por 3x2 ou ganhando por 5x0. Desfrutamos de uma vantagem a qual fizemos por merecer. Passamos por cima. Dá-lhe Santos!

Ideal, agora, é assimilar questões de ontem como aprendizado para o futuro. O Santos tem que jogar no 4-3-3. Não por amor à ofensividade ou coisa parecida, mas porque tá comprovado que é assim que o time se dá melhor.

Meio-campo com Wesley, Arouca e Ganso, e ataque com Neymar, André e Robinho. Qualquer coisa diferente disso é invencionice.

Como é bom ser campeão!

Anselmo disse...

"O Almir Pernambuquinho encarnou nele!"

foi a melhor explicação razoável (veja bem, razoável) pra atuação do cabra.

o arouca foi um monstro. também. o pará idem.

o árbitro estragou um pouco o jogo, porque poderia ter controlado a confusão antes de ela aumentar. e mesmo assim, foi um dos melhores jogos do ano em termos de emoção.

e deve ser a primeira vez em que quem faz dois gols na final só merece uma referência no texto que comemora a vitória.

por um lado, o do futebol pra frente, bem jogado, ainda bem que o santos levou o título. por outro, considerando o que jogou o santo andré, até achei que o ramalhão fez por merecer na partida final. no compto geral, entregar a faixa de campeão já carimbada ao Peixe pode ser a fórmula certa.

ah, por um terceiro lado, é ruim por ter que aguentar santista.

Fabricio disse...

Como já conversei com o Olavo, campeão é o time que sai de campo com a taça, independentemente de campanha nas fases anteriores, erros de arbitragem, etc.

O Santos mereceu e ponto. Parabéns. O Ganso pra mim jogou pelo time todo que entrou em campo pensando que seria fácil. Deu gosto vê-lo e considero que ele não só deveria ser convocado como deveria ser titular da seleção na Copa. Jogou mais do que o Giovanni em 95 na minha opinião e digo isso tendo assistido ambos os jogos.

O que eu não posso aguentar é ouvir que seria injusto outro resultado.

Se a bola na trave entra no final o título do Santo André seria tão merecido quanto foi pro peixe.

O Neymar sofre penalty no primeiro jogo, concordo. Ontem o gol anulado prejudicou o Santo André. As expulsões foram justíssimas (e de uma total infantilidade por parte dos santistas) e no fim o Santos colocou a faixa. Fim de papo. Não tem de ficar dizendo que foi roubado, que não foi. O campeonato acabou e o time que saiu campeão mereceu.

Nicolau disse...

Título merecidíssimo do Santos, incontestável. Espero que a visão de Dorival Júnior sobre a melhor formação para o time peixeiro abra os olhos de outros comandantes, que muitas vezes deixam de lado opções mais ofensivas em nome de um pragmatismo equivocado. O Ganso realmente foi impressionante, se faz aquele gol quase do meio campo mereceria uma estátua na Vila. Como errou por pouco, merece só um busto. Arouca parece que está em todo lugar do campo, como corre.

Mas falando um pouco dos vices, o Ramalhão jogou demais ontem. Além do gol anulado, mais duas bolas na trave e um gol perdido por Rodroguinho que teriam mudado a história. Com destaque para o meio campo do time, especialmente Bruno Cesar e Branquinho. Tabelas, enfiadas, cadencia no jogo. Menção também para o bom volante Gil. Pena que o time deve se desmontar. Pena entre aspas, também, já que Bruno Cesar parece estar acertado com o Corinthians, hehe. Na dúvida, eu traria o Branquinho também.

Marcão disse...

Bom, eu já tinha dito duas coisas aqui: 1) a decisão foi entre os dois melhores times da competição, disparados; 2) justiça feita, raras vezes um time é campeão com tanto merecimento quanto o Santos.

Mas (e sempre tem as adversativas da vida) volto também a defender os pontos corridos, pois, se considerarmos só o jogo de ontem, o Santo André teria sido campeão paulista caso não tivesse o primeiro gol anulado. E isso seria totalmente injusto com o Santos.

No mais, jogaço, 5 gols, um melhor que o outro (mas o 2º do Neymar, pra variar, foi um espetáculo) e festa merecida para a nova geração dos meninos da Vila. Ah, e uma observação tardia sobre o futebol do ABC em alta: Santo André vice paulista, São Caetano vice do interior e São Bernardo na elite em 2011. Parabéns a todos.

Marcio disse...

Realmente um jogaço!

Pena que o Juiz complicou muito o jogo.

E Ganso na Seleção!!!!

Moriti disse...

Jogo ótimo. Resultado justo. Título justo. Enfim, pros times, ficou tudo de bom tamanho.

Sobre a arbitragem do Sálvio, não tem muito o que falar: o cara é péssimo e errou pros dois lados, de tudo que foi jeito.

O Ganso é seleção, joga muito e não vejo um meia com suas características comendo a bola desse jeito. (se é que existem meias com as características do cara!).

Quanto ao Santo André, parece ter alguns valores ofensivos interessantes, como o Branquinho, o Bruno César e o Rodriguinho. O técnico, o Sérgio Soares, também parece ter potencial. Resta saber se esses caras podem vingar em times grandes ou se são jogadores/técnico de um time só.
Mas, o fato é que, na bola, sem essa de falar "ah, mas o elenco de tal time é melhor!", o Santo André é mais time, hoje, do que São Paulo, Palmeiras e Corinthians.

Blog do Carlão - Futebol é nossa área disse...

Surpresa será Ganso fora da lista.

Nicolau disse...

Um comentário que já foi feito aqui, mas merece registro. Com outro treinador, como Mano Menezes ou Muricy, pegando esse elenco do Santos, é bastante razoável imaginar uns bons meses de meio campo coalhado de volantes para tentar dar segurança a essa fraca defesa. Um monte de 1 a 0 , 0 a 0, 0 a 1... Que a visão do Dorival contamine outros professores por aí.

Esquemas Táticos disse...

O Dorival tem que voltar para o 4-3-3. O time tem mais posse de bola, pressiona a saída no campo adversário e dá espetáculo.

Abraços,

Marcelo Costa.

Nicolau disse...

Outro ponto: coloco outro jogador do elenco santista na lista de selecionáveis. Leva o Arouca para jogar de primeiro volante, no lugar de Gilberto Silva, Josué, Felipe Mello ou sei lá mais quem que estiver lá. Marca mais, tem uma consciência tática impressionante e é infinitamente melhor com a bola no pé.

Glauco disse...

Pô, Marcão, em 2007 você já fez suas adversativas (questionáveis para mim). Mas, à época, você não deu uma de vidente como agora, dizendo que se o Santo André fizesse o gol anulado seria campeão. E se o pênalti no Neymar fosse marcado no primeiro jogo? São dois pesos e duas medidas de secador mesmo?

Pra mim, Ganso é seleção, Neymar também.

Bia disse...

A parte do hino que diz "orgulho que nem todos podem ter" faz muito sentido. Eu tb me vi santista ouvindo as histórias surreais do meu pai e hj elas acontecem na minha cara... Que jogo o de ontem! Pará e Arouca se multiplicavam enquanto PH chamava a responsa...
O Santos é lindo! apesar de mancha e dorival...hahahah
bjsss

Unknown disse...

Sem querer tirar o blilho de toda campanha do Santos, mais o jôgo de ontem foi 4x2 para o S.André.

Glauco disse...

Israel, vidente pretérito, quanto foi Santos X Botafogo em 1995?

Leandro disse...

Jogos como este confirmam a insistência de quem, como eu, defende a manutenção do Campeonato Paulista.
Que existam por aí outros torneios estaduais chatíssimos de apenas dois times, isso eu até admito, mas o campeonato paulista está muito acima de todos estes, e até mesmo de ligas européias badaladas nos dias de hoje.
Quanto à decisão, digna de um Paulistão, insisto, um estrangeiro que tivesse chegado a SP no sábado da semana anterior e que tivesse visto apenas os dois jogos finais diria que o Santo André mereceu o título, mas independente disso, e independente até mesmo do pênalti não marcado em Arouca e do pênalti não marcado em Neymar na partida anterior (não vi penalidades em nenhuma das duas ocasiões), o fato é que o Santos FC merece a conquista e é credor apenas das felicitações de todos nós, que estendo aos torcedores/escritores deste blogue.
Que esta nova diretoria e o jeito de jogar e de dirigir desta comissão técnica façam escola. Que este exemplo construtivo sirva de inspiração aos outros clubes paulistas, para um Paulistão cada vez mais forte.

Eduardo Maretti disse...

Que curioso, eu pensei que tivesse sido 3 a 2 o jogo de ontem, mas, enfim, vai ver que fiquei muito nervoso ou bebi demais e não vi o quarto gol... e o resto foi uma fantasia coletiva...

De resto, o comentário acima do Leandro é irretocável e próprio de um gentleman, considerando que não é santista, mas corintiano.

Só discordo quanto aos pênaltis. No Arouca, pra mim, não foi, mas no Neymar, no primeiro jogo, foi... pelo menos na minha opinião.

abraços

Sabrina Machado disse...

Podem falar o que quiserem, mas com relação ao Ganso não dá para criticar esse garoto.

Ele foi um gigante, um herói. Demonstrou maturidade que poucos têm, até mesmo os jogadores experientes.

O Santos foi merecidamente Campeão. Acho que não tem nada a ver essa história de "campeão moral", referindo-se ao Santo André.

O gol foi mal anulado, foi. Mas a equipe do ABC não foi competente o suficiente para marcar um gol em todo o segundo tempo.

Infelizmente, a arbitragem quase sempre erra, mas não pode tirar o mérito daqueles que conseguiram levar uma equipe ao lugar mais alto do pódio!

Marcão disse...

Não, Glauco, eu não sequei o Santos. Pra mim, é o melhor time do Brasil e reforcei várias vezes que perder esse título seria uma injustiça futebolística das maiores. O que observei é que, se o jogo termina 4 a 2 e o título vai para o ABC, seria mais uma prova de como campeonato com mata-mata é injusto e muitas vezes não premia o melhor. Eu sou defensor dos pontos corridos - ou, então, que o Paulistão tenha uma primeira fase de grupos e o resto com eliminatórias, nos moldes da Copa do Brasil ou da Libertadores. Essa história de um "turnão" seguido só de semifinais e finais pode estragar muita campanha bonita. E agora, definitivamente, quem dá bola é o Santos.

Fabricio disse...

Injustiça futebolística pra mim seria dizer que o Santo André não tivesse merecido se aquela bola na trave no final entra.

Daniel Frangiotti disse...

Lindíssimo!!!

Unknown disse...

Não só Almir, mas o espírito de Ramos Delgado, de Rodolfo Rodrigues, de Dalmo, de Zito, e de tantos outros, mas, Ganso na partida de domingo representou a bravura e honra tantas vezes demonstrada pelo "negão", principalmente, quando enfrentava o "Curintias".

Saaaaaaaaaaaaaaaaaaantos!

armando do prado

mauricio disse...

e o dunga não chamou o ganso. que selecinha teremos...