Destaques

quinta-feira, julho 15, 2010

Após seis décadas, 'Maracanazo' ainda sangra

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Amanhã serão completos 60 anos daquela fatídica e inesquecível partida entre Brasil e Uruguai, o chamado "Maracanazzo", em que nossa seleção, precisando de um mísero empate para conquistar sua primeira Copa do Mundo, em seu próprio país, saiu na frente do placar mas conseguiu levar uma virada improvável e calou 200 mil torcedores que assistiam in loco, assombrados, aquela tragédia futebolística. Aqui, ali e acolá , já falamos sobre o assunto. Mas a ferida não cicatriza e, como uma espécie de Vietnã para os Estados Unidos, aquela derrota nunca deixará de pertubar o sono dos fanáticos torcedores brasileiros. Nem dos uruguaios, que podem ter vibrado muito na época, mas, como uma espécie de maldição, nunca mais ganharam nada com a seleção celeste depois daquele feito histórico. Só neste ano ressurgiram com um surpreendente quarto lugar na Copa da África do Sul.

Muito já foi dito sobre o que aconteceu naquele 16 de julho de 1950 no gramado do Maracanã - e muito ainda será especulado. O melhor esforço de reportagem, até o momento, foi o livro "Dossiê 50 - Os Onze Jogadores Revelam Os Segredos Da Maior Tragedia Do Futebol Brasileiro" (Editora Objetiva, 2000), de Geneton Moraes Neto. Reproduzo abaixo alguns dos depoimentos colhidos pelo autor, e, na sequência, um vídeo sobre a Copa de 1950 e o "Maracanazo", sob a ótica uruguaia. Pra lamber as feridas...

"Ghiggia diz que só ele, o Papa e Frank Sinatra calaram o Maracanã. Eu também fiz o Brasil calar, fiz o Brasil chorar: não é só ele que tem esse privilégio não." - Barbosa, goleiro

"A cena já estava toda pronta, na minha imaginação. O jogo terminava. O Brasil, absoluto, ganhava fácil do Uruguai. A gente se perfilava no gramado, em frente à tribuna de honra do Maracanã. Depois de cantar o Hino, a gente veria chegar o velhinho Jules Rimet com taça na mão. Eu pegaria a da taça das mãos dele. Todo feliz, ergueria a taça lá para o alto." - Augusto, zagueiro

"Vim para o Rio para ser campeão do mundo. Voltei a São Paulo no chão do trem." - Bauer, meio-campo

"Como a Copa de 50 marcou a inauguração do Maracanã, a derrota do Brasil ficou gravada para a eternidade. O próprio time do Vasco, base da Seleção Brasileira, derrotou o Peñarol, base da Seleção Uruguaia, em Montevidéu, logo depois. Mas os uruguaios diziam: 'A gente não queria ganhar essa aqui em Montevidéu, não. Queríamos ganhar aquela, no Maracanã'." - Danilo, meio-campo

"Deve ter morrido gente de enfarte. Se o Brasil fosse campeão, morreria muito mais gente. O povo é exagerado. O Maracanã ia vir abaixo. Iam quebrar tudo nos bailes. O futebol é um fenômeno que ninguém explica. Futebol incomoda mais que problema de família…" - Bigode, lateral-esquerdo

"Fiz 1 x 0 na final da Copa. Ali nós já éramos deuses." - Friaça, atacante

"Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira." - Zizinho, atacante

"Sempre antes de dormir, eu pensava no gol que não fiz, aos 45 do segundo tempo. Eu sonhava assim: o Brasil com um time daqueles não ganhou a Copa do Mundo? A derrota é que tinha sido um sonho. Acordava espantado, olhava ao redor - e o Maracanã estava ali, na minha frente." - Jair Rosa Pinto, atacante

"Tive um pressentimento estranho. Quando o Brasil entrou em campo, a derrota já estava escrita." - Chico, ponta-esquerda

"Estava muito confiante ao entrar no gramado, senti uma forte vibração nas veias, olhei para os lados e a festa estava praticamente pronta. Só bastava fazer a nossa parte, e aí se deu o detalhe: quando a bola rolou, nem notei. Só percebi quando Jair me gritou: '-Acorda, Juva, agora é com a gente!'. Friaça fez o gol no início do segundo tempo e só caiu na real depois que o Uruguai empatou o jogo, aí ele voltou a si. Danilo Alvim chorava feito uma criança ainda no gramado. Ao vê-lo aos prantos, já nos vestiários, tive uma crise de choro também. Todos choraram, menos Chico. Foi uma barra terrível.", Juvenal, zagueiro




(Observação: Ao contrário do que dizem os uruguaios no vídeo, o Maracanã não recebeu 250 mil torcedores e o técnico brasileiro não era Feola, mas Flávio Costa)

0 comentários: