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quarta-feira, outubro 06, 2010

Por mais critério com o passado

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Se tem uma coisa que eu sempre vi (e vejo) com ressalvas é o saudosismo exagerado no futebol. Já repararam como todo jogador dos anos 60 e 70 era "um cracaço, sabia o que fazer com a bola", todas as Copas pré-1986 foram "Copas de verdade, não essa coisa mixuruca de hoje", todos os campeonatos daqui eram muito mais emocionantes e tecnicamente superiores aos dos dias atuais?

E quando sai alguma notícia que algum jogador do passado está em mau momento financeiro? "Isso é um absurdo, o Brasil é um país sem memória, nossos craques são desprezados", e por aí vai; mesmo que o sujeito tenha sido um perna-de-pau, é alçado para a condição de "craque", apenas por ter pertencido à outras épocas.

Ter um pouco de "memória positiva" é algo inevitável e, cá entre nós, até um pouco positivo. É divertido lembrar das coisas do passado, e quando o fazemos nesse tom tão idealizado, é porque transferimos a elas lembranças da nossa própria vida, revivemos, por instantes, as emoções que passamos quando do tempo original dos acontecimentos.

Pois bem: aí eu ouço na Rádio Bandeirantes que o Palmeiras fez esses dias uma festona para homenagear seus ex-jogadores. Milton Neves, como lhe é peculiar, derrama elogios e mais elogios à iniciativa alviverde - e amaldiçoa o São Paulo que, segundo ele, fazia coisa parecida e deixou de fazê-lo há alguns anos.

Então são anunciados os atletas homenageados: Dudu, Ademir da Guia, César Maluco, Edmundo, Evair e... Alexandre Rosa, Índio e Magrão. Opa! Peraí! Esses três últimos eu vi jogar!

Alexandre Rosa não foi nada mais do que um zagueiro bem dos limitados, que nunca conseguiu se firmar de vez entre os titulares do Palmeiras. Já Índio foi meio vitalício na lateral-direita do Santos no início dos anos 1990, deixou o Peixe quando vivia seu melhor momento na Vila, até falando em seleção brasileira, mas no Palmeiras nunca fez nada que prestasse e sua passagem no Parque Antarctica foi curtíssima. E Magrão (o centroavante, não confundir com o volante) foi revelado pelo próprio Palmeiras, arrebentou nas seleções de base, mas, quando colocado para jogar no time titular, era mais xingado do que alvo de elogios.

Mas aí os três compartilharam da festa junto com os outros ídolos mencionados. E certamente estiveram lá outros ex-jogadores de tanto "gabarito" quanto Rosa, Índio e Magrão e que, ao menos por uma noite, foram equiparados a craques de verdade.

Não sei, sinceramente, qual foi o critério do Palmeiras para definir quem merecia ou não a homenagem. E acho que também nem cabem tantas críticas quanto a isso - o clube faz festa para quem quer, e ficar marcando em cima disso pode soar uma picuinha das mais chatas.

Os alertas que ficam são dois, na minha opinião. O primeiro é que jornalistas, historiadores e torcedores em geral precisam ter um pouco mais de critério na hora de elencarmos as virtudes do passado. Afinal, se o Palmeiras conseguiu colocar numa mesma cesta Índio e Magrão e Edmundo e Evair, pode-se também cometer erro similar na hora de falar dos "craques" de outrora.

E o segundo é: palmeirenses, preparem-se. Porque pela lógica mostrada agora, Maurício Ramos, Martinez e Élder Granja poderão estar numa lista de "craques históricos do Verdão" daqui a uns 10, 15 anos. Que acham?

2 comentários:

Marcão disse...

O São Paulo, pelo o que sei, fazia um encontro de ex-atletas, com todos os craques e cabeças-de-bagre que aceitassem o convite. Não sabia que o evento havia acabado. Mais um ponto negativo, entre centenas, da lamentável gestão Juvenal Juvêncio.

Felipe Silva disse...

também acho que há certo exagero na qualidade de alguns jogadores, principalmente nesses das décacadas de 1960 e 1970. Pego como exemplo os jogadores aqui dos times catarinenses. Até a década de 1960, o futebol aqui era semiprofissional e os jogadores viviam de seus "segundos empregos" e os campeões catarinenses viviam levando goleadas de gaúchos e paranaenses. Mesmo assim, se tu disseres pra alguém mais velho que o jogador "X" do Avaí ou Figueirense de hoje é melhor que os daquela época, dá briga.

mas isso é bem coisa dos nostálgicos, que sentem saudade da época em que eram jovens e que, pra eles, tudo era melhor (quem sabe seremos assim aos 60, 70 anos). Acho que hoje em dia pouca gente discorda que o Brasil nunca teve centroavantes como Romário e Ronaldo, jogadores bem recentes. Marcos é quase unanimidade como maior goleiro da história do Palmeiras, assim como Rogério no São Paulo. E por aí vai.

abraço!