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segunda-feira, novembro 08, 2010

Atlético-MG e Santos, Dorival e a reflexão tardia

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O empate em 2 a 2 do Santos com o Atlético-MG traz algumas reflexões. Como a disputa pelo título já havia sido praticamente sepultada após o empate como Vitória no meio de semana, restava ao Peixe fazer uma apresentação digna diante do ameaçado Galo. Garra e determinação não sobraram ao Santos (nem ao Atlético), mas faltou algo que sobrava ao time no primeiro semestre: a volúpia de ir à frente.

Claro que a comparação pura e simples com aquele time pode ser cruel, pois hoje o Alvinegro não conta com Wesley, André, Robinho e o contundido Paulo Henrique Ganso. Mas, mesmo quando jogava com o time misto ou quase todo reserva, a vontade ofensiva se fazia presente no Santos de alguns meses atrás, muito por conta da forma de jogar proposta por Dorival Junior. Na partida em Sete Lagoas, Marcelo Martelotte tinha seis jogadores fora de combate, mas tinha Alan Patrick como opção para o meio. Preferiu atuar com três volantes, estreando Possebom junto às entradas de Rodriguinho e Adriano.

Diante da escalação santista, só restava ao Atlético-MG fazer o óbvio: pressionar a saída de bola peixeira. Conseguiu se manter boa parte do jogo no campo santista, mas sofreu o primeiro gol em jogada individual de Neymar. Mesmo sem criar grandes chances, ainda que dominando as ações, a equipe mineira chegou ao empate com Diego Tardelli.


O espaço entre o gol santista e o do empate foi simbólico. Um time pressionava e o outro se defendia, sem conseguir acionar os rápidos contra-ataques que caracterizaram a equipe há alguns meses. Isso em função não apenas da escalação defensiva do técnico, mas também da falta de mobilidade de Marquinhos, que, sem a companhia de Ganso para dividir a armação, não mostrou desde a contusão do parceiro condições de exercer essa função sozinho. Fez mais uma partida pífia e sua substituição por Alan Patrick na segunda etapa foi mais que tardia.

Na segunda etapa, a virada merecida fez com que finalmente o comandante santista alterasse o time. Além de Patrick, Marcel também entrou na equipe e o esquema com três volantes se desfez. O time chegou ao empate com Neymar novamente, em uma falha do goleiro, assim como no segundo gol do Galo. Uma chance ou outra de definir o jogo de cada lado, mas o empate permaneceu ao final. Justo pelas condições técnicas apresentadas por cada um, injusto pela maior vontade de vencer do Atlético-MG. Mas só vontade não ganha jogo.

*****

Foco de toda a mídia antes da partida começar, o abraço de Neymar e Dorival Junior é menos relevante do que o fato de todos os atletas santistas terem ido abraçar o ex-treinador. Fica a impressão de que não havia desgaste (além do natural) entre o comandante campeão paulista e da Copa do Brasil com o elenco. Sua demissão de fato se deu em função de um episódio que se desdobrou em vários. À quebra de hierarquia de Neymar, se sucedeu a quebra de hierarquia de Dorival, querendo punir o atelta mais do que o acertado com a diretoria. E a direção santista, assim como o ex-técnico, exagerou na punição.

Tal desprendimento dos diretores à época poderia ter mais de uma leitura, como a de que o Alvinegro tinha um técnico em vista e não queria seguir com Dorival em 2011. No entanto, a manutenção de Martelotte no cargo deixou evidente também que a diretoria do Santos tinha desistido do Brasileiro. Ou que fez a aposta de que um interino poderia dar novo gás à equipe, a exemplo do que aconteceu com o Flamengo em 2009. Contudo, a principal diferença é que aquele Flamengo era um time de cobras criadas, enquanto o Santos tem muitos garotos que não podem prescindir de um treinador com alguma tarimba.


O resultado é que, mesmo com as séries ruins de Fluminense e Corinthians, o interino santista conseguiu a medíocre marca de 39,4% de aproveitamento em 11 rodadas, índice semelhante ao do Flamengo. Dorival, mesmo assumindo um time arrasado pelo “gênio” Vanderlei Luxemburgo e pelas contratações da diretoria mineira, conseguiu até agora 50% dos pontos disputados (contra 29,8% do hoje treinador flamenguista), o que deu alento para uma equipe antes quase fadada ao rebaixamento.

Aliás, é a segunda vez seguida que Dorival tenta consertar a "obra” de Luxemburgo. No Santos do "gênio", Neymar era mais reserva do que titular, Ganso não tinha a confiança de Luxa, André mal sentava no banco de reservas e muitos na Vila não queriam a volta de Wesley, emprestado a pedido do ex-treinador. A equipe de Luxemburgo também era montada vez e outra com três volantes, assim como a que enfrentou o Atlético-MG. Por isso, a equipe que jogou contra o Galo lembra mais (em números e no jeito) o time do “profexô” do que o do primeiro semestre. Sem vontade ofensiva e igualmente sem padrão de jogo. Espera-se um técnico para 2011.

9 comentários:

Maurício Ayer disse...

Não acho que seja "tardia", é o momento de fazer essa reflexão mesmo. A nova diretoria do Santos chegou cheia de ideias, mas ainda vai bater cabeça para aprender. No geral, o saldo é positivo.

fredi disse...

Não vou dar palpite em relação aos assuntos internos do Santos, porque conheço pouco, mas em relação ao jogo de sábado a análise é precisa.

Olhando pelo lado do Galo, sobrou vontade e faltou técnica e precisão nos arremates. Diego Souza ainda não mostrou por que veio, foi de longe o pior em campo.

Dorival tem méritos de botar um time com vontade e para a frente desde que chegou e de mandar buscar de volta o Renan Oliveira, que estava emprestado de graça ao Vitória e vem jogando mais que o DS. Conseguiu também recuperar o volante Serginho, que com o Luxemburgo não estava jogando nada, e outros jogadores que parecem mais confiantes.

Agora, a ironia do jogo é que os dois jovens e bons goleiros falharam. Têm crédito porque já salvaram várias vezes seus times e em comum o fato de terem mandado Fábio Costa para a reserva eternamente, quem sabe para a aposentadoria.

Maurício Ayer disse...

Renan Oliveira emprestado de graça????

Cada uma...

Marcão disse...

Legal esse lance de todos os jogadores irem abraçar o ex-técnico. Eu admiro o trabalho do Dorival Júnior e acho que o São Paulo comeu bola se teve alguma chance de contratá-lo e não o fez, mesmo com o bom trabalho apresentado atualmente pelo Carpegiani.

Glauco disse...

O "empréstimo de graça", na verdade, é a modalidade dos clubes brasileiros usada para se livrar de pagar o salário do atleta. Permanece com o vínculo com o jogador, mas o outro clube é quem remunera, aliviando o cofre do detentor dos direitos federativos. Mais comum do que se imagina.

Nicolau disse...

O Corinthians tem uma meia dúzia de jogadores disputando a Série B em vários clubes. E em alguns casos, além de empresatr de graça, paga parte do salário...

Anselmo disse...

dar rebote em dia de chuva é falha tolerável (embora possa ser falha, tudo bem).

sobre o abraço ao técnico, jogador não é tonto e faz média. até pq a crise se deu mesmo mais no âmbito da direção-cartolagem e não entre Neymar e Dorival, como escreveu o Glauco.

O Dorival ainda vai dar trabalho.

Maurício Ayer disse...

meu susto não era quanto ao "empréstimo de graça", mas quanto ao Renan Oliveira, que do pouco que vi jogar me pareceu muito promissor e nada dispensável num elenco como o do Galo. mas posso estar avaliando mal.

fredi disse...

DMarcelo, esse era o sentido do que escrevi.

Diz-se na comunidade do Galo que o Luxemburgo cobra parte dos salários e das luvas que os jogadores ganham quando são contratados, o que não tenho como afirmar por falta de provas.

Que por isso o atual goleiro, Renan Ribeiro, da base, não jogava, e que Renan Oliveira foi emprestado.

Para falar a verdade, RO fez um mal campeonato mineiro e Copa do Brasil, mas é jogador novo e que tem talento. Um bom técnico deve investir nesse tipo de jogador até ele pegar confiança.

Espero que o Dorival faça com ele o mesmo que com o Wesley, mas isso é apenas torcida.