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sexta-feira, novembro 05, 2010

Coerência

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O acirramento desmedido da oposição no processo eleitoral traz frutos amargos para o país após o encerramento do pleito. A aliança feita por José Serra e sua campanha com os setores mais reacionários deu fôlego para manifestações preconceituosas de um pessoal que já vinha colocando as asinhas de fora antes. Agora, então, aguenta.

A nova pedra de toque do discurso reaça é “culpar” o Nordeste pela eleição de Dilma Roussef. Os nordestinos seriam ignorantes e comprados, vagabundos que inventam filhos para ganhar o dinheiro do “Bolsa 171” pago pelo governo federal às custas dos impostos de São Paulo. Sim, é uma galerinha de São Paulo que tem difundido com mais energia esse tipo de idiotice preconceituosa.

A proposta é separatista e, em alguns casos, clama por assassinatos. São Paulo e o “sul maravilha” se separariam e viveriam felizes para sempre longe do atraso do Norte e do Nordeste. Não sei bem onde ficariam Minas e Rio de Janeiro, onde Dilma deu uma bela surra no tucano, mas também não dá pra cobrar muito poder de análise desse pessoal.

Porém, serei ousado e cobrarei outra coisa: coerência. Pois se o Nordeste é todo uma porcaria, cheio de imbecis manipuláveis, nada que venha de lá deve ser bom.

Assim, os valorosos militantes destas horrorosas ideias deveriam repudiar os shows e CDs de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Raul Seixas, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Chiclete com Banana, Dorival Caymmi, Zé Ramalho, Jorge Mautner, Luiz Gonzaga, Chico Science e Nação Zumbi e muitos outros. Aliás, nada de forró (universitário ou não), axé, coco, maracatu, embolada, frevo. E não esqueçamos das micaretas e trios elétricos.

Na mesma linha, é dever cívico pra essa galera repudiar o carnaval em Salvador, Recife, Olinda e qualquer outra cidade nordestina. Aliás, é de suma importância deixar de lado as férias em Porto de Galinhas, Natal, Fernando de Noronha, Lençóis Maranhenses e outros cantos dessa terra esquecida por Deus.

Deveriam também banir das bibliotecas a literatura de Jorge Amado, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Ariano Suassuna, Gonçalves Dias, Manuel Bandeira e uma cacetada de outros escritores dispensáveis, demonstrando com clareza a falta de cultura da região.

Cabe também ignorar os trabalhos de Paulo Freire na pedagogia, Josué de Castro na sociologia, Celso Furtado na economia. E deixar de lado ainda o trabalho do neurocientista Miguel Nicolelis, paulista de nascimento mas que escolheu instalar em Natal seu Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, referência mundial em estudos na área. Um traidor como esses deve certamente ser desconsiderado.

(Atualizado às 15h do dia 5/11)

8 comentários:

Mário disse...

concordando em genero , numero e degrau com o sr. adiciono mais uma coisinha, é por essas e outras que da uma vergonha desgraçada de ser paulista, e tb por isso temos essa fama de escroto por ai

Gustavo disse...

Gente é gente, brasileiro é brasileiro. Paulista é brasileiro, baiano é brasileiro, cearense é brasileiro, catarinense é brasileiro, Elias Maluco é brasileiro, Dilma e Serra são brasileiros, Don Eugênio Sales é brasileiro. Até o Eike Batista é brasileiro. O que essa garota fez é crime, é uma aberração que não pode ficar sem resposta da justiça. Não podemos, no entanto, mesmo sob o signo da defesa dos que foram agredidos, estimular o preconceito. Nem os paulistas ou sulistas devem ser generalizados, menosprezados e responsabilizados por um atitude de uma doida.

Nicolau disse...

Gustavo, a intenção era ironizar o pessoal que defende estas ideias, não os paulistas como um todo. Mas como o movimento foi organizado em SP, acabou ficando esse tom aí para o qual vc alertou. Umas alterações devem ter melhorado o tom. Mas concordo com o compatriota mauaense Mario: tem uma galera em SP que não facilita a vida! Ouvi certa vez de uma baiana num FSM, ao dizer que sou paulista, um "ah..." meio decepcionado, seguido da explicação: "Paulista é muito marrento!" Com o que concordei. E olha que então o tal movimento nem existia...

Olavo Soares disse...

Que se apague também a história de Rivaldo no Palmeiras, Josué no São Paulo, Edílson no Corinthians e Clodoaldo no Santos.

fredi disse...

Como já disse no post do Maurício, acho que esse povo que tem tanto nojo de nordestino deveria ir para Miami o resto da vida ou Aspen ou qualquer lugar que só tenha branco e europeu/estadunidense.

Deixa que a gente cuida do Brasil...

Leandro disse...

Jorge Mautner é carioca, caro Nicolau.
Tudo bem que o RJ também deu uma lição no demotucanalhato neste segundo turno, mas a verdade é que Mautner é do RJ, não é nordestino. Para azar dele, diga-se...

Maurício Ayer disse...

Fazendo um eco enviesado do Gustavo, relembro a notável canção:

"Não interessa se é paulista ou se é baiano
O que interessa é ser bom corintiano

Quem nasce no Ceará?
É cearense!
Quem nasce no Maranhão?
É maranhense!
Quem nasce na Paraíba?
É paraibano,

vem tudo pra São Paulo, tem que ser corintiano!"

Budu Garcia disse...

Sou capixaba de nais-cimento. Em 55, o ES era nordeste. Depois viraram para SE. Depois, de novo, NE. Agora, de 88 para cá, SE. Esse couro de pica cansa: afinal, somos ou não somos discriminados?