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quarta-feira, novembro 03, 2010

O círculo vicioso das eleições

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por Djalma Oliveira

Com a vitória de Dilma Roussef para a presidência da república do Brasil, encerra-se mais uma espetaculosa campanha política, a qual, desde 1989, não era tão disputada e rasteira. Após breves conjecturas, seria a hora de reflexões, esperanças e merecido descanso do cidadão, extenuado pelo massacrante noticiário eleitoral. Primeira mulher a presidir o país; segunda política brasileira a ganhar a presidência do Brasil sem nunca ter disputado uma eleição anteriormente; fenomenal transferência de votos do presidente Lula a uma tecnocrata competente, mas desconhecida; receio inevitável ao imaginar o astuto e insípido Michel Temer vice-presidente e a avidez de seu partido (PMDB) por cargos e poder etc.

Nada diferente do que seria se o outro candidato tivesse ganhado a disputa (com o agravante de que seu partido posa de "vestais do cenário político", inclusive com a obsoleta cafajestagem de utilizar religião em assuntos laicos). Porém, preocupa a impossibilidade da reflexão tão necessária e fundamental para a evolução dos principais interessados nesse acontecimento democrático: nós, o povo. Ocorre algo parecido com a diferença entre o cinema e a televisão. Ao terminar um bom filme no cinema o próprio "apagar das luzes" nos remete a reflexão, remoem-se as mensagens num saudável exercício evolutivo. Em contrapartida, mesmo assistindo a algo profundo na televisão, com o seu término, o processo de ponderação é interrompido abruptamente por uma nova atração.

Partindo do disposto no parágrafo único do primeiro artigo da Constituição Federal, o qual diz que: "todo o poder emana do povo...", abordemos os direitos sociais previstos e tutelados por aquela carta - direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e infância, e a assistência aos desamparados), e vamos ao debate, às proposições, às cobranças, e brademos: estamos aqui! Por que assumirmos a posição de meros coadjuvantes nos processos eleitorais, meros espectadores do show de marketing político? Ao contrário disso, somos bombardeados imediatamente ao pleito por uma nova campanha.

Toda a imprensa dedicou quase que exclusivamente seu espaço à biografia da futura presidente e as manobras que já se iniciaram visando as próximas eleições. E o objetivo principal disso tudo, que seria nossa evolução social? A campanha para as prefeituras em 2012 já está à todo vapor: Netinho de Paula se lança candidato e força Luiza Erundina a lançar-se também. José Aníbal antecipa-se ao "cadáver insepulto" José Serra e diz que disputará a convenção do PSDB. E, para 2014 Aécio Neves (com sua raquítica biografia nem de longe comparável a de seu avô Tancredo Neves) sai fortalecido como candidato; Beto Richa assanha-se; Alckmin não convence nem o mais incauto dos cidadãos com o aceno positivo às costas de Serra, ao ouvi-lo dizer que a briga está apenas no começo.

E estamos envolvidos novamente em disputas eleitorais, relegando o sentido disso tudo à segundo plano. Basta, quero sinceramente sentir a política no meu cotidiano e não apenas o subproduto que ela infelizmente produz. Um abraço!

Djalma Oliveira se define como "brasileiro nato, contestador visceral, otimista incorrigível. Optante pelo caminho árduo, movimentado; o do homem inteiro, não o do homem mutilado. Remando contra a maré, lutando contra o 'Leviatã'. Lançando palavras ao vento, seguindo Clarice Lispector: 'Porque há o direito ao grito, então eu grito; grito puro e sem pedir esmola'. (djalmaoliveir@gmail.com)"

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