Destaques

sexta-feira, setembro 03, 2010

Cai ou não cai?

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Se tem uma coisa que me espanta, no São Paulo, é o sossego da diretoria em relação ao Campeonato Brasileiro. Eles parecem ter uma certeza inabalável de que o time é imune a rebaixamento. E não é! Ontem, conseguiu segurar uma vitória suada contra o combalido Atlético Goianiense, em casa, num jogo em que o placar mais justo seria o empate. Está claro para todo mundo que Sérgio Baresi não será mais nada além de um esforçado interino, com resultados pífios. Já disse aqui e repito: não há time titular, nem esquema tático, nem lateral direito, nem meio campo e nem linha de ataque definida. E faltam só três meses para a competição terminar! O que estão esperando para trazer um técnico de verdade? Se o cidadão vier quando faltar apenas um mês e meio para o fim, não conseguirá fazer nada, por conta da pressão, e será tarde demais. Grêmio e Atlético Mineiro não vão ficar vendo a banda passar, vão reagir desesperadamente. O São Paulo não tem time para vencer duelos decisivos, clássicos ou qualquer partida contra qualquer um dos dez primeiros colocados. Na sorte, segura um empate, como no domingo, contra o relaxado Fluminense. Isso é muito perigoso, muito mesmo. E, para a diretoria tricolor, parece que nada acontece. Não sou a Regina Duarte, mas tenho medo. Muito medo de que meu time dê para os corintianos o melhor presente do centenário deles...

Uma vitória cascuda

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Sem encantar, o Santos venceu o Avaí ontem por 2x1, na Vila Belmiro. Assim, o Peixe registra uma boa sequência de cinco vitórias consecutivas - quatro pelo Brasileirão e uma "vitória-derrota" contra o mesmo Avaí, pela Sul-Americana.

Neymar foi o principal jogador em campo. Pelo que mostrou de futebol propriamente dito - fez um gol aos 55 segundos, quando certamente muitos santistas ainda tomavam a última dose nos bares que circundam a Vila - e por mais uma vez ser tema de "polêmicas".


As aspas são necessárias porque, cá entre nós, as polêmicas envolvendo o Neymar estão cada vez mais chatas. A situação está virando cotidiana. Neymar faz algumas fintas e é caçado por todo o time adversário. O santista acusa os oponentes de violência, os rivais dizem que o santista é desrespeitoso e "precisa crescer". Cá entre nós, até acho que precisa - tomar o terceiro cartão por conta de uma simulação besta é algo criticável, tal qual dar um chapéu com o jogo parado também - mas, se é para condenar um dos lados, prefiro condenar o lado da violência dentro de campo.

À parte disso, o Santos mostrou sentir a falta de Paulo Henrique Ganso. Não só pela imensa qualidade do meia, mas também pela falta dela no seu substituto: Marquinhos, mais uma vez, fez uma partida apática. Sabe aquele jogador que tem pinta de "bom reserva", mas quando é efetivado não corresponde? Talvez seja o caso dele. O garoto Alan Patrick, então, se credencia para ser o titular da 10 quando Ganso estiver fora - mas aí a CBF o convoca para um torneio sub-19 na China (!) e o Santos se vê prejudicado...



Keirrison
Sim, foram só três partidas. Longe de mim querer crucificar um jogador que vestiu a camisa do Santos por menos de 270 minutos. Mas avalio apenas o que ele desempenhou até agora. Keirrison foi mal, muito mal, em todos os seus instantes pelo Santos. Está se escondendo do jogo de maneira assombrosa. Atentem para o seguinte: não é que ele está chutando mal, está perdendo gols, errando passes. Não, ele simplesmente não aparece no jogo. Isso é ruim. Talvez o duelo contra o Flamengo, no final de semana, seja seu último como "titular absoluto" - até porque seu reserva imediato, Marcel, fez um bom gol ontem.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Empate do Palmeiras contra o Fluminense quase vale por vitória

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O Palmeiras empatou com o Fluminense com gol aos 48 minutos do segundo tempo para selar a igualdade. Um suadouro, final emocionante até, mas verdadeiro castigo para o líder do campeonato, que apostou tudo no contra-ataque mas criou menos do que poderia.

No dia do aniversário de 100 anos do Corinthians, o empate ao mesmo tempo em que não deixa os arquirrivais alviverdes tão felizes e ainda tira pontos do Tricolor Carioca. Mesmo mantendo a liderança nesta rodada, a diferença em relação ao segundo colocado deixou de se expandir.

O mais impressionante é que o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari mostrou determinação admirável. Novamente pecou por falta de meias, apostava tudo em ligações diretas entre os volantes e o atacante Kleber ou em arrancadas de Rivaldo e depois de Luan. Mesmo com tanta previsibilidade, a equipe de Muricy Ramalho não conseguiu oferecer uma despedida do Maracanã mais merecedora de orgulho para a torcida.

As chances criadas foram poucas por todo o jogo, principalmente depois que o time da casa abriu o placar, com Emerson a 15 minutos de jogo. Mas após a desistência do Fluminense de marcar a saída de bola, as trocas de passes palmeirenses renderam pouco em termos de finalizações.

Com faltas nas proximidades da área, Marcos Assunção era a esperança. Kleber correu muito, mas Valdívia continuou apagado. Ele precisa de mais jogadores com quem tabelar ou ter espaço para puxar contra-ataques. Na trombada, ele não se compara ao que é capaz o camisa 30 – que, na versão pós-Copa de 2010, reitere-se, vem sem cotovelos.

As opções do banco Tinga, Luan e Ewerthon, que entraram nas vagas de Pierre, Fabrício e Valdívia, ofereceram possibilidades de variação tática. Não era a variação que eu gostaria – uma que teria meias de criação, peças indisponíveis no elenco – mas permitiu ao time disputar até o fim.

O autor do gol, Ewerthon, marcou novamente depois de inicar a partida no banco. Parece que ele rende melhor assim, quantro entra. O gol saiu na raça, na trombada, sem técnica, brilho e muito menos habilidade. O zagueiro Leandro havia sido expulso minutos antes, o que ajudou a abrir um espacinho para o balão de desespero estilo "último minuto" encontrar Edinho, que escorou para o atacante empurrar para o fundo das redes.

Foi pior do que ter vencido o time de Vanderlei Luxemburgo do fim de semana. Claro, no domingo o alviverde trouxe três pontos, enquanto hoje veio o empate. Mas foi muito bom ver o Palmeiras dominar o jogo contra a equipe de Muricy Ramalho.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Mais de 100 mil fiéis saúdam o centésimo ano do Corinthians

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Às 19h30 desta terça-feira, eu estava trabalhando. Enquanto eu, com a atenção brutalmente desconfigurada, fazia o bastante para manter meu ganha-pão, milhares de corintianos já estavam no Vale do Anhangabaú – 110 mil segundo sites de notícias. Há quem diga que o vale não recebeu tantas pessoas desde o histórico comício das Diretas Já, em 1984.

A comparação é absurda (é?), sem dúvida. E antes mesmo de chegar ao histórico Vale, ouço do escritório na Libero Badaró os primeiros ruídos da festa alvinegra. Da sacada dói prédio, se ouve a dicotomia da existência corintiana: da direita, vem o som de Ronaldo e os Impedidos, banda roqueira que animou o princípio da festa; da esquerda, o que se ouve é a Fiel Torcida Corintiana, ignorando a atração e gritando hinos em honra de sua maior paixão, que é também sua propriedade.

O Corinthians não é um clube com uma torcida, mas uma torcida que tem um clube. A maioria deve achar graça disso, dessa impossibilidade, ainda mais em tempos de economicismo, de falta de humanismo, de não assumido elitismo, de direitismo, enfim. Mas Corinthians, de nascença, é coisa de esquerda. De revolucionário anarquista espanhol. De comunista italiano. De operário de todas cores e tamanhos que decidiu montar um time para jogar futebol em 1910. Ano em que nasceu meu avô, José Benício dos Santos, alagoano que se radicou em São Paulo e na República Popular do Corinthians, para onde levou seus filhos. E onde minha mãe, Maria Neusa, fiel não praticante, encontrou meu pai, Manoel Ribeiro, mineiro, comunista de linha chinesa, poeta e corintiano.

Todos trabalhadores, como os que primeiro se reuniram na rua Cônego Martins, esquina com a José Paulino, onde hoje está o marco de fundação do clube. Foram no Bom Retiro e enfiaram goela baixo de São Paulo que um time de operários podia disputar e ganhar os torneios da época. Foram para a Zona Leste e mostraram que um bando de piões poderia construir um estádio (o companheiro Miguel conta que seu bisavô jogou no Corinthians nos anos 1920 e doou tijolos para a construção do Parque São Jorge) e brigar como gente grande (como se dinheiro fosse condicionante para amadurecer e crescer). Foram para o mundo todo nas costas dessa Fiel Torcida que é sua alma.

Os outros, ora, são os outros, rivais com maior ou menor graça. Acreditem, não precisamos de vocês para existir, talvez, quem sabe, da dissidência que habita a rua Turiasssu, já que as dualidades resumem melhor os detalhes da vida humana e dão melhores enredos de faroeste, como deixaram claro Sérgio Leone e John Ford.

O santista Xico Sá em crônica da Folha de S. Paulo resumiu bem, e aqui abro espaço para alguns parágrafos do mestre:

“No meio do espetáculo que é a juventude roqueira, um cavaleiro solitário, rosto só vincos como um Samuel Beckett dos pobres, ajeitou os poucos cabelos, pediu uma cerveja, grudou o nariz na TV que parecia uma caixa de fósforo, de tão pequena, e dali por diante não conseguia enxergar nem mesmo a Karine com suas pernas de oncinha.
Foi neste momento solene que o cronista que ronda a cidade pensou mais uma vez: como SP precisa do Corinthians em campo. O tio ficou hipnotizado por 90 minutos diante da volta do seu time.
E não se tratava de um torcedor barulhento. É um daqueles fundamentalistas silenciosos. Sabe aquele cara que celebra ou morre por dentro sem alterar as feições?
No máximo, ele mexia um pouco com a perna esquerda, como se ajudasse a bola a correr mais depressa para o gol. Coisa de quem manja da arte da sinuca.
Um sábio. Essa história do centenário sem Libertadores, vê-se pelos seus gestos, não significa nada. Não trabalha com obsessões nem morte a crédito. Só um pouco de dinheiro vivo.
O cavaleiro solitário me confessaria depois da partida: "Essa molecada não sabe o que é o Corinthians. Ser Corinthians não significa ganhar. Basta existir. Pronto"."

Coisa linda de se sentir e se ler. Mais linda ainda de se ver, às 21h e pouco, depois de uma cerveja e um sanduíche no bar da esquina. Eram milhares, milhões os alvinegros presentes à festa do Anhangabaú. Da janela do trampo já havia ouvido Ronaldo e seus Impedidos, que ora contavam com Badauí e Japinha (do CPM 22), Paulão (da gloriosa Banda das Velhas Virgens) e o auxílio do rapper X, todos corintianos da mais pura lavra. Passearam também pelo centro Paula Lima, Xis, Rappin Hood, Negra Li e Nuwance.

Mas o verdadeiro mestre de cerimônias foi outro, um que com a camisa 10 e uma canhota precisa trouxe o primeiro Campeonato Brasileiro, em 1990. José Ferreira Neto, seguidas cervejas na cabeça, resumiu no palco a grandeza dos pequenos corintianos. Para deixar claro o que só a vivência pode declamar, em certo momento uma galera conseguiu subir em cima de um dos telões instalados no Pacaembu, quer dizer, Anhangabaú (perdoe a falha nossa). Um cabra pede pra descer, um outro diz que vai atrapalhar. Neto não perde tempo: “Desce daí, porra!!”, grita o ídolo. Não sobra um em cima da bendita TV. Quer dizer, tem mais um. “Pega esse cara, tira ele daí! Sai, porra!”

À parte os ousados manguaças, pouco incidentes podem comprometer os mais de 100 mil corintianos. Uma briga começa perto de mim, mas não se alastra. O que amigos indicam ser membro do grupo da Rua São Jorge se desentendem com um cabra da Gaviões. A tensão passa rápido, já que os brigões pulam todos a cerca e se resolvem fora da aglomeração.

A noite passa e os cantores são Maria Cecília & Rodolfo, que ficam mais do que o esperado. Na maioria das músicas, a Fiel faz questão de mostrar quem é que manda puxando gritos corintianos. A comemoração conta ainda com Ronaldo, Roberto Carlos, Dentinho, Andrés Sanches. Todos foram saudados com gritos de “Timão eo!” e assemelhados. Neto até puxou o nome de Andrés Sanches, chamando-o de “maior presidente da história corintiana”. Silêncio na galera. Agora chame por Biro Biro, Casagrande, Ataliba, Marcelinho Carioca , e ouça a Fiel entrar no clima.

A brincadeira acabou com a apresentação da e Bateria Unificada das Torcidas corintianas. À meia-noite, Neto chama os jogadores do atual elenco que estão no palco para frente. “Vem pra cá, hoje a torcida não vai xingar ninguém, não! Vem Souza – ta precisando melhorar, hein Souza!”. Contagem regressiva para a meia-noite. O Corinthians começa a viver seu centésimo ano.

Música, política e cachaça

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Em certo trecho do livro "Elisete Cardoso - Uma vida" (Lazuli Editora, 2010), o autor Sérgio Cabral recupera um episódio de 1970:

A presença de Elisete Cardoso em São Paulo levou o produtor Abelardo Figueiredo a convidá-la a cantar na mansão - também conhecida como Palácio de Mármore - do empresário Jorgito Chammas, acompanhada de grande orquestra, numa festa que o prefeito Paulo Maluf oferecia a numeroso grupo de empresários árabes. Lá pelas tantas, o prefeito, empolgado com o uísque que bebera, saiu da plateia e sentou-se ao piano para acompanhar a cantora. Acompanhou, de fato, uma música. Quando ensaiava acompanhar a segunda, Elisete fez-lhe o pedido que, com toda certeza, era o de todo o público presente:
- Prefeito, prefiro o senhor sentadinho na plateia.

terça-feira, agosto 31, 2010

Utópico

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Então parece que agora é oficial: o Corinthians finalmente terá seu estádio - que, de quebra, será também a arena que abrigará os jogos paulistanos da Copa de 2014.

A história mostra que temos que ter certo ceticismo ao falar de "estádio do Corinthians" (Sócrates que o diga) mas nunca a situação foi tão sólida quanto a atual. Há a necessidade de se resolver a questão de São Paulo e a Copa do Mundo, e o projeto tem o apoio das três esferas da administração.

Tenho visto por aí uma série de críticas em relação aos valores gastos (que enfatizam que, no fim da história, a conta será paga pelos cidadãos), e também pela politicagem que acabou fazendo com que o São Paulo Futebol Clube, dono do melhor estádio da cidade até então, fosse bizarramente preterido na hora de uma decisão tão importante.

Endosso a maioria das críticas. E, cá entre nós, não queria que o Futepoca fosse mais um depositário de todas elas - que, apesar de sábias e precisas, são bem repetitivas às vezes.

Gostaria de destacar outro ponto. É que, sendo utópico (daí o título do post), acredito que o tal estádio em Itaquera pode representar um bem danado para a cidade.


A Zona Leste, onde fica Itaquera, é a região mais carente de São Paulo. É distante geográfica e politicamente dos locais mais privilegiados da cidade. Lá falta uma série de coisas - ou melhor, falta uma política governamental mais ampla, coisa que nenhuma administração conseguiu resolver de maneira definitiva.

E, como até mesmo quem nunca botou os pés em São Paulo sabe, o trânsito da capital paulista é caótico. Mais ruas e (muito) mais transporte coletivo seriam um belo auxílio para reduzir o problema; mas outra alternativa, talvez tão precisa quanto, é desenvolver os bairros mais afastados da cidade para fazer com que o município tenha polos de emprego mais distribuídos, minimizando assim a necessidade de deslocamento entre seus moradores.

Ao fazer com que Itaquera sedie a Copa do Mundo, o governo - e aí estou falando, mais uma vez, das três esferas governamentais, de feitos de PT, PSDB e DEM, o negócio é suprapartidário, pro bem e pro mal - dá uma mão à Zona Leste e faz com que a região, tradicionalmente marginalizada, se beneficie com um evento de magnitude mundial.

Muito se tem falado por aí: "como que vão fazer uma Copa do Mundo em Itaquera!? Lá não tem nada!". Pois é, "não tem nada" mesmo. E, voltando à utopia, quem sabe esse "não ter nada" seja a maior virtude da região, e São Paulo venha, futuramente, agradecer à mãozinha que o extremo leste recebeu neste 2010.