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quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Passei raiva: 2h40 para percorrer trecho que deveria levar 50 minutos

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Segundo o Google Maps, eu deveria ter levado 49 minutos para o trajeto. Foram consumidos 2h40. Choveu em São Paulo durante a tarde, houve pontos de alagamento e muito congestionamento. Do Largo do Paissandu até a Consolação, trecho percorrido em cinco minutos, foram gastos 35.

Passei raiva para sair do Centro de São Paulo para a Vila Sônia, na região sudoeste da capital. Sem livro, sem fone de ouvido, de pé.

Tudo bem, todo mundo sabe que se chove, São Paulo para.
Mas não está tudo bem.

Ao meu lado, também de pé, uma passageira completou a leitura das 50 ou 60 páginas que faltavam na fruição do primeiro livro da série O Crepúsculo, de Stephenie Meyer – com a edição de capa especial. Depois de encerrado o volume, ficou mais 30 minutos sem ter o que fazer. Contive-me para pedir o exemplar para experimentar, em um ato desesperado, algum passatempo.

Sentada duas fileiras à frente, uma moça tentou de tudo para fazer prosperar um flerte com um japonês, que seguia impassível. Apesar de nada acontecer a despeito de ajeitadas no cabelo e retoques na maquiagem, ela relatava os "avanços" (que fantasiava) a uma amiga, por mensagens de texto no celular. Sugeria à interlocutora à distância que o pretendente a estaria "secando", quando na verdade o oriental matinha o fone nos ouvidos e os olhos fixos no celular de outro passageiro, que transmitia a primeira etapa de São Paulo e Treze da Paraíba. É feio ler mensagem de texto alheia, eu sei.

Ao meu lado, um senhor de uns 60 anos tentava controlar, por telefone, a ansiedade de sua senhora, que o aguardava no Shopping, mesmo quando já era mais de 22h. A cada trinta minutos, perguntava para mim quantas paradas haveria entre distâncias variadas. Da Faria Lima até a Francisco Morato. Da Brasil ao Eldorado. E assim por diante.

Outros passageiros tentaram arrumar o que fazer. Muitas cabeças pendidas para frente, para o lado, para trás em uma soneca que não durava dois minutos de cada vez.

Dureza. Tudo isso por uma tarifa de R$ 3, reajustada pela gestão de Gilberto Kassab (DEM, futuramente, quem sabe, no PMDB). E nem tinha um bar no coletivo pra melhorar o clima.

5 comentários:

Glauco disse...

Vendo pelo lado bom, se não fosse tal ocorrido não teríamos esse post genial. Agora, bem que o título poderia ser também A Vida dos Outros, hein, Anselmo? Hehe.

Anselmo disse...

é inegável que usei a impossibilidade de fazer qqr coisa como subterfúgio pra legitimar o hábito de bisbilhotar o que faziam os outros passageiros. coisa q sempre faço, é fato.

mas, em geral, isso dura menos. normalmente, da conversa alheia, eu não chego a ouvir nem o começo nem o fim. Conhecendo só o meio, os meandros, os detalhes mais sórdidos, sem saber do resumo nem o desfecho, é algo que só desperta a imaginação. Nesse caso, o processo inteiro foi acompanhado.

João Lacerda disse...

Muito boa a reflexão. Mas acho que ficaria tudo bem se ao menos quem estivesse no busão pudesse ir numa boa... Mas busão travado no corredor é dureza!

Camilo disse...

Porco incidência, ontem eu comentava com um amigo que na época que eu morava no Campo Limpo o córrego Pirajussara transbordava fácil ali na divisa com o Taboão. E uma vez eu cansei de esperar em pé no busão e fui andando da Vila Sônia (onde tem o pátio do metrô hj) até a Estrada do Cpo Limpo, ali onde ficava a Sharp.

Marcão disse...

Fuçando a vida alheia, coisa feia, De Maussad...

Mas, repetindo (again and again) a frase do poeta Antonio Risério, "São Paulo é a cidade das impossibilidades". O cotidiano (cada vez mais) caótico só confirma.