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sábado, março 05, 2011

Fui ao Chile beber... cerveja

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O décimo maior produtor de vinhos do planeta é um país com o formato de uma salsicha. Extenso latitudinalmente e estreito de longetude, o Chile produz 9,9 milhões hectolitros – perto de 1 milhão de piscinas de mil litros – mas exporta dois terços disso. Ainda que os 16 milhões de habitantes deem conta de seus 18 litros anuais per capita, é preciso mais. Afinal, muita gente quer se embriagar.

Foi por isso que, nos intervalos entre uma degustação e outra dos vinhos no país, eu resolvi fazer uma incursão pelo universo das fermentadas de malte de cevada – e eventualmente milho e arroz – do país de Pablo Neruda. Até porque, falta-me conhecimento para expor meus achados enólogos, além de capacidade para perceber nuances, taninos, terroirs e outras peculiaridades desse lado dos fermentados.

Alguém pode cobrar informações sobre o pisco, a aguardente do mosto da uva que leva o nome de uma cidade portuária peruana mas é produzido também nas regiões três e quatro do Chile. O motivo de uma guerra etílica pelo controle da nomenclatura (e da paternidade do pisco sour) não entrou na prova dos sete dias com barreiras para meu fígado. Uma pena.

Outro motivo para justificar o apelo da cerveja foi a informação inusitada de que uma das maiores colônias de imigrantes no país dos 22 mineiros outrora soterrados é a de... alemães. Bom, os espanhóis e bascos superam os germânicos, mas é um dado inusitado para quem cabulou as aulas de geografia. Embora não tenha visto um sequer, consta que vivem todos mais ou menos contidos no estado de Valdívia, batizado sob o herói nacional e não de parente algum do camisa 10 palmeirense.

E não fui o único a fazer isso neste mundo.

Todas as descritas aqui, com exceção da primeira, são produzidas por plantas da Compañía de Cervecerías Unidas, uma multinacional que também está na Argentina. A empresa é dona também da bodega Gato Negro, a marca mais popular (leia-se barata) de vinho chileno.

Às geladas

La Casa en el Arte - Ambar Ale

fabricada pela Cerveza Oberg, de Santiago, para um bar

Parei, com sede, no La Casa en el Aire, um bar e restaurante no bairro Bellavista, em Santiago, perto do zoológico e da La Chascona, casa de Neruda na capital. Confesso que quase pedi um suco qualquer, mas fui compelido a honrar meu dever manguaça e experimentar a cerveja da casa. Ela é produzida pela Oberg, uma empresa que tem sua produção, mas a vende garrafas com rótulo de quem comprar o lote – como bares e restaurantes. Algumas cervejarias brasileiras fazem esse tipo de terceirização. A ambar ale da Oberg é frutada em excesso para mim, quase uma vitamina. Para quem cogitava um suquinho, a pedida veio a calhar.

Kunstmann Pale Ale
www.cerveza-kunstmann.cl/ 
Torobayo, Valdívia
Uma cerveja também frutada, mas bem mais equilibrada e suavemente. Cor de âmbar, não tão escura. Ela ficou bem com um congrio que almocei, mas provavelmente teria ido melhor com comidas mais fortes. Quer dizer, eu beberia em vários contextos, só inclui essa informação para fazer de conta que foi uma escolha pensada. O copo era da Cristal, o que deixa a foto meio estranha, mas o conteúdo, até pela cor, não deixa dúvidas.


Kunstmann Lager Sin Filtrar
www.cerveza-kunstmann.cl/
Torobayo, Valdívia
Quando vi que era uma cerveja não filtrada, me acometeu a ideia de que seria algo parecido com um chopp. Engano de bêbado, já que o líquido amarelado consumido nos barzinhos por aí (tratado como "águinha", por alguns inveterados) é, sim, límpido; só não é pasteurizado. Assim, essa pale lager é turva e saborosa, amarga de um jeito bem interessante. Fica refrescante e, segundo a ideia do fabricante, remete ao tempo em que o fermentado de malte não era purificado de nenhum jeito. A foto ficou bem desfocada, mas o jeitão turvo é da cerveja mesmo.


Austral
www.cervezaaustral.cl/
Punta Arena, Patagonia chilena
Uma English pale ale avermelhada. Começa bem, mas termina menor, mais suave do que eu esperaria. Claro que é muito melhor do que cervejas industriais e que vale a pena ser provada. Mas a equivalente desta da Kunstmann foi melhor.


Cristal
www.cristal.cl/
Industrial, com várias fábricas
Para ninguém ter dúvida de que a aventura era para valer, provei também a Cristal, que patrocina o campeonato chileno de futebol. É uma cerveja que tenta disputar com a gigante belgo-brasileira Inbev, que espalha o chopp Brahma Extra pelos bares e restaurantes. É bem o estilo das pielsen brasileiras vendidas em botecos, leve, clara e sem muita graça. A não ser em dias quentes em que tudo o que você quer é ficar sentado na mesa de bar conversando sobre o Sebastián Piñera, o Colo Colo e a herança autoritária no cotidiano da ditadura de Augusto Pinochet. Ela "compete" com a Escudo, cuja garrafa de um litro tem tampa de plástico rosqueada, igual à de garrafas pet de refrigerante ou água. Esta não tive tempo de tentar.

3 comentários:

Glauco disse...

Na minha curta estada em Santiago tomei a Escudo e a Cristal. A primeira consegue ser um pouco pior que a segunda, que é bem xoxa mesmo.

Quanto ao Gato Negro, comprei uma garrafa de Cabernet Sauvignon no Brasil e não consegui tomar. Abuso de ruindade.

Marcão disse...

Se soubesse, teria recomendado o vinho Isla Negra, um dos melhores que já tomei. O Gato Negro é o Chapinha do Chile - eu vi muitos operários de obras, na hora do almoço, tomando essa coisa em embalagens de caixinha, tipo leite longa vida. Não sei o que vendem aqui, mas o de lá é álcool puro.

Quanto às cervejas, quando estive em Santiago me lembro de ter provado a Crystal e uma outra, venezuelana, que não recordo a marca. Bem fraquinhas, de fato.

Anselmo disse...

Marcão,
é bem fácil achar vinho muito bom no Chile. Então, mesmo sem tomar o Isla Negra, passei bons momentos com taça na mão. e também com cerveja no copo.
q saudades.