Destaques

quinta-feira, abril 14, 2011

Reação a tragédia de Realengo mostra-se exceção

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Uma tragédia ou crime bárbaro de grande repercussão é suscedido por uma onda de conservadorismo. Essa tendência era o que esperava este ébrio autor após tomar contato com as notícias terríveis do massacre na escola municipal do Rio de Janeiro em Realengo, na zona oeste da cidade. Passada uma semana do episódio trágico, o que se sucedeu como repercussão dominante foi o contrário.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sugeriu a proibição da venda de armas e munição no país. E que isso fosse decidido por um plebiscito, com votação de todo o eleitorado brasileiro. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e ministros da Justiça e dos Direitos Humanos, José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário, foram atrás.

Quer dizer, não bastasse ter sido uma reação que pode ser considerada ponderada, sensata e não moralista, o instrumento para isso é um de democracia participativa.

E a proposta de realizar um plebiscito sobre o tema esquentou. Diferentemente do referendo de 2005, o formato envolveria uma consulta ao Congresso Nacional antes de vigorar. Quer dizer, o que o povo decidir depende da homologação do Legislativo. Até aí, tudo bem. O mais incrível é que os membros do governo de Dilma Rousseff concordaram harmonicamente até no tom da reação, defendendo a possibilidade de se rediscutir o tema.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, disse que a consulta pode, Arnaldo.

Mas a vitória do "não" na consulta popular de seis anos atrás deveu-se a uma reação dos setores mais conservadores da sociedade. Basta lembrar o nível dos argumentos da revista Veja à época. O governo de então, a começar por Luiz Inácio Lula da Silva, era favorável ao desarmamento. Mais, via a proibição como parte de seu programa para desequipar civis de armas de fogo.

Mas, por quê?
O que aconteceu? A sociedade mudou? Os conservadores estavam ocupados defendendo Jair Bolsonaro (PP-RJ), o deputado federal acusado de reiteradas manifestações de racismo e homofobia? Estavam combatendo o avançodos direitos civis de homossexuais? Não puderam defender prisão perpétua nem pena de morte porque o autor do crime já estava morto? Nem redução da maioridade penal, porque não era um adolescente?

A informação de que autor dos crimes teria relação com a religião muçulmana esboçou uma onda reacionária. Alguns comentários de blogueiros e tuiteiros ligados a evangélicos indicava que a questão poderia crescer. Ainda mais na semana em que a capa da supracitada revista falava da suposta presença da rede terrorista Al Qaeda no Brasil. Mas mesmo isso minguou.

O melhor que os setores conservadores conseguiram fazer com o episódio de Realengo foi apontar falta de segurança nas escolas. E defender a instalação de equipamentos como detectores de metal. Fernando Haddad deu ótimas declarações defendendo que as escolas tinham mais é que ser abertas à comunidade, que isso até ajudava a promover a segurança desse espaço.

Seja por ter tido resposta, seja pela conjuntura, as respostas moralistas não foram majoritárias nem mesmo na mídia convencional que adora um sensacionalismo.

12 comentários:

João Lacerda disse...

Mas infelizmente o oportunismo de resultados prevalece.

Thalita disse...

"Não puderam defender prisão perpétua nem pena de morte porque o autor do crime já estava morto? Nem redução da maioridade penal, porque não era um adolescente?"
Essas foram as melhores especulacoes q li sobre a falta de adesao as opinioes moralistoides.
E e nao tinha pensado por esse angulo, interessante. Mas sempre eh tempo das forcas conservadoras se unires de novo pra evitar o avanco do desarmamento no pais...

Nicolau disse...

Apoio amplamente o desarmamento e também fiquei muito feliz com a menor proporção de ideias reaças surgidas na esteira do caso. Ainda mais depois do espetáculo ridículo que foi a cobertura da mídia, um festival de desrespeito e pseudo-explicações imbecis. Isto posto, convenhamos que a proibição de venda de armas salvará muitas vidas, mas não chega a evitar casos imprevisíveis como o de Realengo.

Renato K. disse...

Correndo o risco de ser considerado radical demais, acho que somente bandidos e/ou pessoas desinformadas são contra o desarmamento.

Marcão disse...

Ah, eu vi muito apresentador de televisão dizendo que "desarmamento, sim, mas só pra bandido; o homem de bem tem o direito de ter sua arma em casa".

Quem é "homem de bem", cara pálida?

Olavo Soares disse...

Sou violentamente a favor do desarmamento, votei e "preguei" a favor do SIM em 2005. Mas, porra, um outro referendo (ou plebiscito, nunca decoro qual é qual) agora seria algo nojento e ridículo. Houve a consulta popular a míseros seis anos atrás. A sociedade disse o que queria (não o que eu queria, infelizmente). E agora, no calor de uma notícia totalmente descolada da realidade brasileira, surge uma possibilidade de nova votação? Oportunismo dos mais feios!

Em tempo: alguém sabe se a arma do cara era legal ou ilegal? Até agora não li nada sobre isso.

Marcão disse...

Uma tinha o registro raspado e a outra foi roubada há mais de 19 anos, de um homem já falecido.

Renato K. disse...

Marcão, do jeito que é a justiça (sic) deste país, pode esperar que vão prender o falecido ...
Ah, e "homem de bem" não usa arma de fogo. Aliás, arma nenhuma - homem de bem paga imposto e espera que o Estado cumpra sua obrigação e lhe ofereça segurança.

Thalita disse...

Gente, esses comentarios me fizeram lembrar da minha comunidade do orkut (O.o) "Eu nao sou um cidadao de bem". Dava pra dar umas risadas no orkut, ne nao?

anselmo disse...

Olavo,
A arma era ilegal. a figura que vendeu tá presa.

Entendo a avaliação de que é oportunismo de uma forma análoga ao do centroavante que está na área pra marcar gols. Se a bola chega perto, o cara chuta. Da mesma forma como ocorre quando o ponta de lança é um reaça que quer pena de morte, prisão perpétua, redução da maioridade penal etc.

o problema é que o Instituto Sou da Paz e gente do NEV da USP consideram que um plebiscito é menos importante do que pôr a legislação atual sobre armas em funcionamento. Curioso que a coisa andou pelo Congresso. Pode nem ser boa, mas é uma forma de responder à sociedade, né?

HRP SOFT! disse...

Texto perfeito limpido como a agua da cachoeira!
E diga-se de passagem:
Sou a favor da proibição total de armas!
Arma é violencia, desamor e mau caminho!

Anônimo disse...

Se todos estiverem desarmados, vão assaltar armados de faca. Ou machado. Ou lança. Ou bisturi. Alicate de cutícula?