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domingo, junho 05, 2011

Seleção não vai mal, mas não resolve. E sente falta de meias

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A Seleção Brasileira jogou ontem contra a Holanda, num amistoso sem grandes consequências no Serra Dourada. Acabou num OxO que não fez necessariamente jus ao futebol praticado, especialmente pelo Brasil.

Não que tenha sido uma apresentação fenomenal, mas o time procurou o ataque com constância e chegou com bastante perigo, especialmente no segundo tempo. No primeiro, teve controle da bola e tentou, mas o meio-campo com Elano, Ramires e Lucas Leiva não conseguia muita criatividade. A Holanda, recuada e nos contra-ataques, levou mais perigo, exigindo duas belas defesas de Júlio César.

Pelo desempenho no segundo tempo, o time poderia ter ganho e bem. Neymar jogou muito, pra variar, Robinho foi bem, Elano e Ramires participaram bastante, nas suas características. Nas laterais, Daniel Alves jogou bola, enquanto André Santos resolveu diminuir a intensidade de minhas defesas a seu nome.

O sãopaulino Lucas entrou e correu bastante, mas pareceu meio ansioso. Imaginei o rapaz armando pelo meio, mas Mano o colocou mais par a direita. Entrou também Leandro Damião no lugar de Fredi, que não se mexeu muito e errou finalizações que não pode. Prefiro Nilmar ou Pato ali, jogadores mais leves e habilidosos, mas entendo a busca por uma opção pesada.


Podia ter ganho, controlou o jogo e foi melhor que nos amistoso mais recentes. Mas não chegou a me encantar do jeito que imaginei após os 2 a 0 contra os EUA, que deram a todo mundo esperança de um futebol bonito, ofensivo e com controle da bola. Duas coisas marcam aquela partida: foi a primeira com Mano no comando e a única desde então com Paulo Henrique Ganso na armação.

É por isso que se justifica a badalação em torno do jogador, repudiada por santistas aqui outro dia como perseguição ao Neymar. Sem paranoias, o fato é que, mesmo que se considere Neymar no frigir dos ovos mais jogador que Ganso, este cumpre não uma, mas várias funções no meio-campo, o que não se vê em outros jogadores. Até agora, Mano não achou uma opção para armar o meio campo sem o cara – e não dá pra dizer que não tenha procurado. A de ontem talvez tenha sido a mais bem sucedida.

André Rocha, do blog Olho Tático, explica assim a “questão Ganso”: “O meia é fundamental porque foge do estereótipo criado no Brasil para o meio-campo, dentro da famigerada e anacrônica divisão das funções: o 'cabeça de área' que só marca, o 'segundo volante' que sai para o jogo, o 'terceiro homem' ou 'apoiador' que corre e marca e o 'camisa dez', responsável único pela criação, muito mais atacante que meia, só joga com a bola”.


Começou a mudar essa visão com a proliferação de “volantes que sabem jogar”, fazendo dessa uma das posições em que estamos melhor servidos (Ramires, Elias, Hernanes, Lucas Leiva, Sandro, Arouca, Wesley, para lembra de alguns, com variados graus de poder de movimentação, criação e marcação). Mas fazem falta ainda os meias clássico, que, segundo definição que vi de Tostão e Alberto Helena jr., jogam de uma intermediária à outra. Com a bola, têm visão de jogo e qualidade de passe para controlar o ritmo e encontrar espaços. Sem ela, ajudam a recompor a marcação e, uma vez retomada a posse, na saída de bola.


Hoje, acho que só Ganso faz isso tudo. Fosse eu olheiro de categoria de base, seja de time ou empresário, estaria fuçando atrás de uns caras com características mais ou menos por aí.

15 comentários:

Maurício Ayer disse...

mas, meu deus, não tem ninguém que faça as vezes na ausência do Ganso??? até porque, com tantas contusões, há dúvidas quanto ao futuro do Ganso (apesar de sua inquestionável qualidade).

Marcão disse...

Um comentarista da SporTV, acho que foi o Noriega, disse uma coisa sensata: quando não tem um meia que faça a ligação com o ataque (Elano, talvez muito cansado, não rendeu), o time tem que partir para as jogadas pelas laterais. E tanto Daniel Alves quanto André Santos deixaram a desejar nesse quesito - analisando só o que vi no primeiro tempo, pois o segundo, graças a Deus, não tive coragem de assistir.

Nicolau disse...

Po, o segundo foi melhorzinho, rapaz.

Olavo Soares disse...

Esse messianismo com o Ganso é complicado. Se vermos bem, o cara só jogou seis meses de excelente futebol. Quantos caras já não arrebentaram em um período curto e depois caíram no ostracismo?

Sobre o Elano, endosso comentário feito por um conhecido santista no Twitter durante a peleja: o jogo serviu para que o Brasil inteiro entenda porque nós, santistas, o temos cornetado tanto.

Elano é meu ídolo, mas hoje eu não o escalaria como titular do Santos, que diria na seleção brasileira.

Maurício Ayer disse...

Elano pode fazer a ligação, mas nunca vai surpreender ninguém com uma jogada daquelas que fazem a noite.

Essa geração do futebol brasileiro ressente a decadência precoce do Ronaldinho Gaúcho. Ele deveria ser o 10 inquestionável hoje na seleção, como deveria ter sido na copa de 2010. É um caso espantoso de esmorecimento de carreira de um jogador em quem qualquer um apostaria bem mais que uma caixa de cerveja.

Deixa um vazio em nosso meio campo.

Nicolau disse...

Ronaldinho Gaúcho, sem dúvida, mas também o Kaká, em recuperação faz meses. Lembrando que o Gaúcho, em sua melhor fase, jogou de ponta-esquerda no Barcelona. Ajudava a armar, fechava pelo meio, mas era mais atacante que meia.

Nicolau disse...

Olavo, é verdade que Ganso pode nunca mais jogar bola, até porque se machuca bastante. Mas nem é bem essa a questão, mas a ausência de meias. Percebam que todo mundo veio aqui e ninguém listou opções para a escalação do Menezes. Aqui no trampo falaram de botar o Hernanes na função, o Thiago Neves, o Lucas do São Paulo. Todos longe da unanimidade - e o mais próximo disso, na minha opinião, é ainda mais novo que o Paulo Henrique, correndo o mesmo risco de sumir que você destaca. Quer dizer, tem um buraco aí.

Marcão disse...

"o [Ronaldinho] Gaúcho, em sua melhor fase, jogou de ponta-esquerda no Barcelona" (2)

Glauco disse...

Os meias mais criativos foram sacados sucessivamente nas Copas de 94, 98 e 2002, sendo trocados por armandinhos/terceiros volantes: Raí saiu para entrar Mazinho; Giovanni deu lugar a Leonardo Cotovelo e Juninho saiu para a entrada de Kléberson. Lá na frente, se continuar com essa carreira oscilante, Ganso será substituído por um dessa espécie também.

A propósito, vocês já esqueceram do Kaká?

Nicolau disse...

Kaká, em recuperação faz meses, foi citado acima. Quando estiver inteiro, entra na minha seleção. Essa questão das Copas é bem sintomática. Baita incentivo pro pessoal das categorias de base pegar um garoto que poderia se tornar um meia e transformá-lo em volante, lateral, o que seja. E baita desculpa pros técnicos, também.

Roberto disse...

"Neymar jogou muito, pra variar..."
Cara, que jogo vc assistiu?!? O cara é craque mas "jogou muito" é demais... Vc tá muito santista...

Nicolau disse...

Roberto, antes de qualquer coisa, sou corintiano. Não precisa chegar ofendendo só porque minha opinião é diferente da sua, po! Mas achei mesmo que o cara jogou bem, foi o mais perigoso do ataque, construiu várias boas chances de gol. Faltou "só" matar o jogo.

Marcão disse...

Essa observação do Glauco sobre os meias mais criativos terem sido sacados nas Copas de 94, 98 e 2002 (quando o Brasil chegou às decisões) é muito interessante. Será que Mano vai sacar o Ganso, em 2014, pra botar o Jucilei?

Roberto disse...

Cara, desculpe. Sinto muito vc ter se sentido ofendido. Não tive a intenção. Só quis polemizar, até porque muita gente falou que ele jogou muito e eu não vi isso não. Talvez porque o meu nível de exigência pro futebol dele esteja alto demais (sou muito fã). Nesse jogo achei mesmo é que ele ""se" jogou muito, prá variar...". Mas, de qualquer forma, achei que vc tá muito sensível... Será que é pq vc não é santista? Brincadeira, não vai ficar bravo de novo...

Maurício Ayer disse...

Acho que os tais "20 minutos de bom futebol" que todo mundo anda comentando por aí se deveram tão somente a Neymar. Isso, na minha opinião, já vale um "jogou muito pra variar". Tivesse feito o gol, ninguém questionaria.

Sobre o Gaúcho, ele pode ter jogado onde for, mas já com alguma idade ele poderia perfeitamente estar atuando como um meia genial. Rivaldo foi atacante, como outros tantos eram atacantes e foram aos poucos encontrando um lugar como meia-atacante ou, mais precisamente, atacante armador.

Kaká não vai nunca ser o homem do passe agudo ou do lançamento matador. É homem de condução de bola. E nisso, o Lucas do SP está se mostrando melhor do que ele.