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segunda-feira, julho 25, 2011

A Copa América deu alguma lição à seleção brasileira?

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Para falar a respeito da Copa América que se encerrou hoje e da participação brasileira, é interessante fazer um breve retrospecto do escrete canarinho nos últimos cinco anos, e de como a tal “opinião pública” reagiu a cada resultado importante do time. 

Após o fim da Copa de 2006 – o grupo comandado por Carlos Alberto Parreira era uma balbúrdia. Medalhões faziam o que queriam, Ronaldo e Adriano chegaram a seleção acima dos cem quilos. O Brasil, segundo a avaliação geral, perdeu para a França por conta disso: faltou autoridade mas, mais que tudo, não houve “comprometimento” do grupo, que não tinha um líder no banco ou dentro de campo.

Ah, aquele time do Dunga... Foto: Owen Jeffers Sheer
Após a Copa América de 2007 – o substituto de Parreira era Dunga. Sem nunca ter sido treinador antes, aos olhos da CBF, era a tal liderança que a seleção supostamente precisava. Pra variar, após um Mundial fracassado, a renovação começou, embora, aos poucos, parte dos derrotados de 2006 tenham voltado mais tarde. A seleção vencia, jogava com a tal garra, mas nem mesmo a vitória por 3 a 0 contra a Argentina na final da Copa América convenceu os céticos. O time era defensivo e pouco talentoso, na visão de muitos. Outros se contentaram com o estilo vitorioso que o treinador implantava na equipe, talvez conformados com o fato de o Brasil não ter tantos craques como outrora. 

Após a Copa do Mundo de 2010 – ah, mas que Brasil foi aquele! Até o Cruijff cornetou Dunga, não era a seleção... Onde estava aquele futebol faceiro, lépido, fagueiro, que sempre caracterizou a amarelinha? É preciso resgatar a ofensividade do futebol brazuca! Mano Menezes, segunda opção da CBF, é contratado, apesar de não ter exatamente um “DNA ofensivo” pra trazer de volta os bons tempos do ludopédio tupiniquim.

Após a Copa América de 2011 – Mano, no papel, chega quase a montar um time “pra frente”, às vezes até parece tentar reproduzir o esquema de Dorival Junior no Santos do primeiro semestre de 2010. Tem as duas maiores estrelas daquele time, aliás, mas o futebol jogado está bem distante daquele. Finda a participação na Copa América, em 12 partidas, são parcos 16 tentos, somente um a mais que a seleção de Dunga fez em seis pelejas pela Copa América de 2007. Agora, volta o discurso do comprometimento: são os meninos que não seguram a onda, que se preocupam mais com o dinheiro, com contratos, com o cabelo do que com a seleção.

Pois é, como se vê acima, os argumentos para justificar a derrota da seleção são reciclados: em uma hora, faltou raça; na outra, faltou técnica. E, quando uma seleção como o Uruguai é campeã da Copa América, como agora, a sensação de que “faltou raça” fica mais evidente para parte dos torcedores. Curiosamente, parece que a tal “raça” uruguaia esteve adormecida durante muito tempo, já que a seleção celeste ficou fora das Copas de 1994 e 1998, saiu na primeira fase em 2002 e também não viajou para a Alemanha em 2010.

O Uruguai é sim, a tal raça, mas não só. É conjunto, é técnica e habilidade, tem jogadores acima da média como Forlán e Suárez, e já joga junto há algum tempo. Quem viu o segundo gol marcado pela Celeste contra o Paraguai percebeu como se pode ver arte e habilidade em um contra-ataque. O Brasil, hoje, não usa essa arma, mesmo tendo jogadores aptos para tal. Aí aparece uma diferença fundamental entre as duas seleções: uma é time; a outra, ainda não é.

Claro que essa equipe uruguaia de hoje não será a mesma em 2014. Boa parte dos atletas tem mais de 30 anos e, contando que a Celeste consiga a classificação para a Copa no Brasil (o que não são favas contadas, já que eliminatórias por pontos corridos é algo bem diferente de torneios mata-mata curtos), não farão mais parte do escrete de Oscar Tábarez. Já o Brasil, se Mano se decidir por um esquema e conseguir também a tal fórmula para unir os jogadores em torno de um objetivo (coisa que Dunga fez, mas nem por isso foi campeão), vai ter à disposição um time bem mais respeitado do que foi nessa triste Copa América de parcos gols e baixo nível técnico.

Mídia se preocupa muito com o cabelo de Neymar. Foto: Ronnie Macdonald
Mais do que a pauta atual que movimenta a mídia tradicional, aquela sobre a dita “instabilidade” dos meninos da seleção, o que deveria ser perguntado é se Mano é o treinador ideal para lidar com esses garotos. Porque são, de fato, joias raras como há algum tempo o futebol brasileiro não produz. Dunga errou em não convocá-los para dar alguma experiência de seleção como aconteceu, por exemplo, com Ronaldo (em 1994) e Kaká (em 2002), mas cabe ao atual treinador criar um ambiente e apostar em um esquema em que seus talentos sejam mais bem aproveitados.

Aliás, será também que o atual técnico da seleção não “sentiu” o peso do cargo? Ele tem, de fato, um esquema tático que julga vencedor ou ainda está tateando? Vai rifar jogadores e arriscar perder a confiança de comandados por conta de sua boa relação com a imprensa (leia-se Globo) que até agora o tem poupado?

A mídia você já tem, Mano, ganhe seus jogadores e seja de vez em quando pára-raios deles, como fez Felipão ontem. Os resultados virão mais rápido, pode apostar.

8 comentários:

Anselmo disse...

fora, mano? volta, dunga?

afe!

acho q o mano queimou a opção ofensiva. nao fez isso de propósito, só nao vai ter clima pra tentar de novo.

Olavo Soares disse...

Muito bom esse resgate das reações da opinião pública. Pra mim, é mais uma prova que ser "comentarista do depois" é a coisa mais fácil do mundo. Se o time é brincalhão e campeão, "é um grupo leve e unido"; se perde, "só pensa em farra". Se é disciplinado e campeão, "é a raça e a determinação que fazem a diferença"; se é disciplinado e perde, "são soldadinhos sem ímpeto". Piada.

Pra mim, o que ganha e perde jogo é esquema tático, lateral-esquerdo bom, reservas de qualidade e por aí vai.

Brasileiro precisa se acostumar a analisar o futebol dentro de campo, ao invés de ficar levantando teorias estapafúrdias.

Edu disse...

Bacana o resgate da opinião pública. Sobre o Uruguai, é uma seleção que pelo entrosamento parece mais um clube.

PS: Como assim o Uruguai "também não viajou para a Alemanha em 2010"? Vimos uma miragem que chegou ao quarto lugar na Copa?

Glauco disse...

Opa, valeu pelo toque, Edu, é Alemanha em 2006... Até porque a Copa de 2010 foi na África do Sul, rs. Em 2006, os uruguaios foram superados nos pênaltis, na repescagem, pela Austrália.

Nicolau disse...

Brasileiro precisa se acostumar a analisar o futebol dentro de campo, ao invés de ficar levantando teorias estapafúrdias. (2)

Edu, o Glauco quis dizer Alemanha 2006, creio eu. O quarto lugar foi em 2010, mas na África do Sul.

Leandro disse...

Desde 2008, no Corinthians, eu venho falando que o Mano é fraco.
Desde 2008, desde o vitorioso ano de 2009 (que só não foi ainda mais vitorioso porque lhe tiraram o time que montou e que estava "azeitado") e em 2010 a prova definitiva de que é fraco foram os nós táticos que levou do novato técnico do Flamengo (que fim levou esse cara?) nos dois jogos da Libertadores.
Agora vejo que começam a levar a sério estes meus alertas.

Ramon Dongo disse...

Primeiro, parabéns pelo blog. Muito bom mesmo.
É a minha visita inicial aqui, mas já vou arriscar um pitaco.

Concordo com praticamente tudo que foi dito sobre a seleção. Só acrescentaria uma coisa: tanto Mano quanto Dunga cometeram um erro parecido: basearam o jogo da seleção em cima de um jogador que não tinha condições de arcar com o peso da responsabilidade - sem substitutos no elenco.

Dunga levou Kaká pra Copa da África sem que ele estivesse nas melhores condições de jogo, assim como mano levou o Ganso que vinha há muito tempo sem jogar regularmente pelo Santos por conta de lesão.

Acho que tecnicamente não cabe discutir a qualidade destes jogadores, o problema é que eles tiveram cadeira cativa e o que é pior: sem reservas equivalentes no banco.

Não foi só isso que determinou a fraca atuação da selecão - tanto na África quanto na Argentina - mas não tenho dúvidas que esse fator pesou.

Maurício Ayer disse...

fora mano, volta felipão.