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quarta-feira, outubro 26, 2011

A (agora confirmada) queda de Orlando Silva e o governo que gosta de apanhar

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Fosse no futebol, estariam reclamando de arbitragem frouxa com tanto cai-cai. Nem Valdívia, nem Neymar, pra citar dois dos comumente acusados de simular faltas excessivamente vão tanto ao solo como os ministros do governo da presidenta Dilma Rousseff.

A comparação é ruim, no entanto, porque embora a zaga seja formada por um grupo de jogadores sem muita classe, daqueles pesados, truculentos e sem jogo de cintura, quem cai não é quem simula. Os ministros vão embora reclamando que as denúncias nem sempre ou quase nunca incluem provas. Mesmo assim, terminam enterrados.

A mídia convencional (conservadora e velha) "derrubou" nesta quarta-feira, 26, Orlando Silva, ministro do Esporte. Houve quem negasse a barriga, que seria a quinta. A confirmação se ele vai ou se fica deve vir no fim da tarde.

Por um tantinho assim que não caí... (Elza Fiúza/ABr)
Se tombar, será o sexto ministro da rodar no governo da presidenta Dilma Rousseff, nesta quarta-feira (26). Cinco deles envolvidos em acusações de corrupção e desvios de verba, dando sequência ao que a mídia convencional (conservadora e velha) trata por "faxina". A Folha, ouvindo atribuiu a informação à "direção do PCdoB", O Globo, idem. A bancada de deputados está em reunião, e os caciques não confirmam a história.

A partir de Antonio Palocci (Casa Civil), em junho, seguindo Alfredo Nascimento (senador do PR-AM), em julho, de Wagner Rossi (PMDB), da Agricultura, em agosto, e Pedro Novais (deputado federal do PMDB-MA), do Turismo, uma troca tem sido motivada por mês por suspeita de corrupção. Além deles, agosto "bisou" em fritada de ministro, já que Nelson Jobim, também do PMDB – embora da suposta "cota pessoal" da presidenta –, deixou a Defesa por desgaste político e críticas patéticas a colegas. Repetiu dança de cadeiras também junho, quando mudaram de posição os titulares da Secretaria de Relações Institucionais e do Ministério da Pesca, com Ideli Salvatti terminando no primeiro e Luiz Sérgio, no segundo.

De todas as quedas, apenas Palocci é do PT. Os demais são de partidos aliados, a coalizão que deu a Dilma a maior base de apoio no Congresso da história da República... Uma base que, de tão coesa, impôs a primeira derrota ao final do quinto mês de mandato, com a emenda 164 do Código Florestal.

A turma de tuiteiros e blogueiros anda monotemática reclamando de o governo Dilma só reagir à pancadaria mandando ministro embora. Eles demandam mais respostas em outras frentes, o que passaria por contrariar os conglomerados de mídia em temas como regulamentação do setor um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) mais efetivo e mais público.

Jorge Bastos Moreno, da Rádio Globo, sintetizou de um modo interessante: "Se Orlando é culpado ou inocente, não importa. Nós criamos uma jurisprudência da acusação desqualificada e sem prova. É um marco na mídia."

O sempre brilhante e ebriamente inspirado Xico Sá, fez uma alusão literária para dizer que o esporte nacional não é o futebol, mas a rasteira – torpedo de sabedoria de Graciliano Ramos, que até foi preso em 1935, na Era Vargas, por ser comunista.

Como o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-Código Florestal, ex-candidato a ministro do TCU mas ainda comunista segundo filiação, é um dos nomes mais cotados. Ele talvez tivesse mais apoio da bancada ruralista, mas se isso não garantiu sequer a vitória sobre Ana Arraes na disputa no tribunal auxiliar ao Legislativo, dificilmente o pouparia de algum bombardeio de denúncias.

Ao desistir de manter Orlando Silva sem abrir mão da pasta, o PCdoB frita um cacique para manter a estrutura. Taticamente, pode ser uma escolha compreensível que mantém o partido bem posicionado em uma área com visibilidade em um cenário pré-Copa do Mundo de 2014 e pré-Olimpíada de 2016. Ao mesmo tempo, livra Dilma da pressão de encontrar uma manchete a cada novo dia com revelações sobre "mal-feitos", como ela própria gosta de designar, em sua gestão.

Não muda a dinâmica nem o mecanismo de derrubada de ministro. Um por mês a partir de uma acusação. Mesmo que a denúncia inicial recorra a aspectos um pouco cinematográficos ou inverossímeis, a estratégia é de apontar uma perdiz na certeza de que, naquela direção, voa um elefante voador que com certeza será alvejado com o disparo.

Quando a coisa vinga, é porque tinha coisa errada naquela direção, mesmo que dinheiro nenhum tenha circulado em estacionamento. Mas dá ânimo para se continuar a manter o governo nas cordas e na defensiva, com a pecha de corrupto. Aliado à aposta (torcida?) de que a crise externa se agrave e afete a economia brasileira, pode criar um cenário ruim para o PT na eleição de 2012 e sabe-se lá o que haveria em 2014.

Acreditar que a economia vai expiar os pecados pintados pela mídia como capitais pode envolver um risco. Uma coisa é o efeito que uns dez anos de crescimento mais ou menos constante (com dois repiques, em 2004 e 2009) depois de 20 de recessão. Outra é achar que crescer – e ainda menos do que antes – depois de uma década movimentada tem o mesmo efeito. Optar por só apanhar e ceder, com certeza não resolve.

11 comentários:

Karin disse...

Pois é...
Eu não concordo com a troca, se houvesse alguma prova, mas sem prova é ridículo!
Parece coisa de criança que faz manha em público e os pais, por terem vergonha do escândalo, cedem...
Até entendo o medo e o desgaste diário do governo por conta de tantas acusações, mas sei lá...

Nicolau disse...

Pois é, se é só acusar que cai um ministro, não vejo os caras parando de atirar. Em algum momento, a presidenta vai ter que mudar o rumo da prosa.
Mas, no mínimo, o temo suscitou boas metáforas. Não gostei da futebolística do começo do post, Anselmo, mas a de errar a perdiz e acertar o elefante voador foi inusitada e esclarecedora. E a Karin matou a pau com a comparação do governo com os pais intimidados pela criança birrenta.

Moriti disse...

A intimidação perante a mídia é uma sensação, mas a Dilma parece aceitar as saídas dos caras com muita facilidade. Talvez seja prudente esperar pra ver como será com quem substituir as peças que caíram. Se o comportamento se repetir, os erros nas escolhas se mostrarão menos calculados do que se pode esperar.

Karin disse...

Quem sabe ela é uma tremenda estrategista? Estou torcendo por isso! Mas é complicado porque ceder a essa galera do mal da imprensa brasileira não está saíndo nada barato... a coisa não tem mais fim.

Leandro disse...

Se demitir o Orlando agora, momento em que não há nenhuma prova, e em que ele vem sendo acusado por um bandido por meio de uma revista bandida, a Dilma assinará atestado de que está aplicando o princípio "Na dúvida, pró-bandidos".
Com o perdão do exemplo chulo, já passou da hora dela perceber que, quando mais se abaixa as calças, mais as nádegas aparecem.

Karin disse...

E já estão atacando o interino... eita!

Maurício Ayer disse...

Também não entendo bem o que a Dilma pretende. Ela parece bastante tranquila e segura do que vem fazendo. Que tática é essa de entregar a cabeça ao primeiro apontar de dedo? Isso só fortalece os jornalões. Aquilo que o Lula fazia de resistir e ganhar na urna e que foi desmoralizando completamente a atitude criminosa desses jornais está retrocedendo, é como se os jornais fossem de novo ganhando fôlego. E ganham fôlego com atitudes sujas. É bem antieducativo.

Nicolau disse...

Parece que tem um lado aí dela querer aproveitar as brechas que tem pra comprar brigas com a base aliada. A mídia joga alguma coisa no ventilador e ela usa o motivo pra se livrar de alguém ou algum grupo que a incomodava, sem com isso assumir o ônus de botar o povo na rua. O tiro erra a perdiz e o elefante, mas ela aproveita e bota os ois pra fora do quintal.

Eu acho bem arriscado, pelos motivos levantados por todos, mas especialmente pelo Maurício. Não convém dar moral pra bandido e, além disso, é deseducativo democraticamente rifar pessoas sem provas. Ajuda a embalar um clima de "todo político é corrupto" que afasta as pessoas da política.

Mas, assumindo que ela seja uma baita estrategista, como disse a Karin, se ela realmente conseguir desfazer esquemas estabelecidos no governo federal, pode ser interessante. Só não sei também se adianta mudar os nomes e não mudar o jeito de fazer política, que abre muita brecha para relações promíscuas entre público e privado.

Anselmo disse...

"quanto mais se abaixa as calças, mais as nádegas aparecem."

Não dá pra discordar. Só fiquei com saudades de quando as metáforas eram esporte nacional do mandatário da nação.

fredi disse...

Perfeita a metáfora das nádegas.

Agora, ao que me parece, a Dilma nunca gostou muito do Orlando e ele acabou ficando mais no governo por sei lá o quê.

Mas com esse bateu-a-Dilma-cede, com certeza ela está beneficiando os bandidos.

Quem será o próximo?

Sei lá, mas não duvido nada que depois de uma dúzia de ex-ministros e com a eleição se aproximando o alvo passe a ser a própria presidenta.

Aí ela vai se demitir?

Karin disse...

Ahaha!!
Será que ela vai se demitir se for o próximo alvo? Bom, seguindo o pensamento aqui e sendo uma boa estrategista, só se ela quiser se livrar de si mesma, hehe!