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quarta-feira, novembro 09, 2011

Meme dos Filmes 08 – Filme cebola (o mais triste de todos)

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O Futepoca está entrando, com algum atraso, no Meme dos Filmes proposto pelo Borboletas nos Olhos. A ideia é fazer 31 posts sobre filmes, cada um com um tema específico. Já perdemos uma meia dúzia (e é bem capaz que deixemos outros pelo caminho também), mas garantimos presença no tema 8, o Filme Cebola (O mais triste de todos), e logo com três filmes. Aguardamos ansiosos os comentários – e os filmes tristes de cada leitor.

(Atualização: Confira também o Filme Cebola do Borboleta, o próprio cinema italiano, do Lágrimas de Crocodilo, do Will You Do The Fandango, do Hugo Avelar - Menina de Ouro bem cotado - e do Pergunte ao Pixel.)


Sobre Meninos e Lobos (Por Nicolau)

É interessante que um dos diretores com os pés mais fincados na realidade em nossos dias tenha nascido em 1930, uns quase 50 anos antes da internet. Não que Clint Eastwood fale de tecnologia em seus filmes. É que ele fala de pessoas, de relações, de mentiras, de pequenas tragédias cotidianas. Daí a maior parte de sua obra recente ser, além de tão boa, tão triste. Dois filmes mostram esses elementos se misturando com mais acidez e foram por isso os escolhidos deste fórum de manguaças como os mais tristes.


Um deles é Sobre Meninos e Lobos (Mystic River), que conta várias histórias. A mais imediata é a das investigações sobre o assassinato de uma jovem na cidade de Mystic River. Ela é filha de Jimmy Markum, interpretado por um magistral Sean Penn, um delinquente aposentado. A investigação oficial é conduzida por Sean Devine (Kevin Bacon). E as suspeitas recém sobre Dave Boyle (Tim Robbins, também impressionante). Os três, porém, compartilham uma história anterior. É a história de três garotos, um dos quais foi sequestrado e abusado. Os outros dois presenciaram, mas não impediram o fato. As duas trajetórias se chocam e nada de bom se tira daí.

A condução do filme por Eastwood é simples e direta. Sua câmera não tenta chocar ninguém, apenas apresenta os fatos e os personagens e deixa espaço para as interpretações viscerais dos excelentes atores. A sensação no final do filme é de que não havia como escapar daquilo. Não havia opção para aquelas pessoas desde o momento em que tudo começou, quando eram crianças. Tudo estava determinado não por uma força superior, mas pela simples natureza das pessoas.

É também de pessoas que fala o segundo colocado da lista, também de Eastwood. A segunda metade de Menina de Ouro deve ser de fato a coisa mais objetivamente triste que eu já vi. A história traz Frankie Dunn (o próprio Clint), treinador de boxe veterano e turrão, que faz o maior esforço possível para se afastar de todo mundo ao seu redor. O único próximo é o amigo de longa data Eddie “Scrap-Iron” Dupris (Morgan Freeman, excelente), ex-lutador que cuida do ginásio de Frankie. Surge então a boxeadora Maggie Fitzgerald (Hillary Swank, perfeita) que insiste até se tornar discípula de Dunn e sensação do circuito de boxe feminino.

Essa é a primeira metade do filme. Eastwood faz você se envolver na relação entre os dois personagens, a lutadora obstinada que resgata o velho de seu ostracismo auto-imposto após se afastar da única filha. O veterano que dá a uma mulher pobre e sem grandes perspectivas a chance que ela precisava para mostrar seu talento. Uma jornada de perdedores, tão ao gosto de Hollywood e de todos nós. Ele faz você gostar desses personagens, desejar o melhor para eles.

Então, ele os quebra.

Literalmente, no caso de Maggie, que fica tetraplégica da forma mais imbecil e desgraçada possível. O filme passa então a ser a luta da moça para conseguir o direito de morrer – e do velho para aceitar o destino da filha adotiva e seu papel nele. Destaque para a escrota família de Maggie e para as discussões teológicas de Frankie com o padre de sua paróquia – traço comum nos filmes do diretor, o olhar ácido sobre a instituição familiar e religiosa. Porque, no final, nada na história tem um sentido maior. “Não tem nada a ver com merecer”, citando Will Munny, também personagem de Eastwood. É tudo apenas muito, muito triste.

O Homem Elefante (Por Glauco)

Em 1982, pela primeira vez chorei pro causa de futebol, em uma derrota que muitos devem ter derramado suas primeiras lágrimas em função de um time. Mas não foi só a seleção que me emocionou naquele ano. Aos 7 anos, também não resisti ao drama de E.T e seu amigo terrestre, Elliot, e chorei no extinto Alhambra, cinema de Santos. Lembro do meu pai dizendo que era pra eu não ter vergonha pois muito marmanjo da idade dele também chorava por ali.

Claro que a intenção de Spielberg era emocionar em alguns momentos da história mas, convenhamos, E.T não é propriamente um filme triste. Assim como há outros filmes que não são tristes mas tem momentos que fazem a gente verter algumas lágrimas. Lembro de ter sucumbido em mais de uma cena de O Filho da Noiva, por exemplo, que equilibra a comédia e o drama de uma forma que parece ser toda própria do cinema argentino (ou do argentino em geral, quem sabe). Mas nem toda película triste causa o tal “efeito cebola”.

Pra mim, o filme mais triste que me lembro ter assistido não me fez derramar uma lágrima. Não durante a exibição, ao menos. O Homem Elefante, de David Lynch, tem alguns dos elementos que fazem uma história ser triste. Mesmo. O protagonista é alguém que tem uma doença grave. Não um mal qualquer, mas uma enfermidade que o faz ter deformações em 90% do corpo, sendo o rosto especialmente afetado. Além disso, a película é baseada numa história real, John Merrick de fato existiu, foi figurante em um circo e morreu aos 27 anos de idade.


Já seria uma história suficientemente triste por si só, mas o diretor é David Lynch. Durante boa parte do filme (todo em preto e branco) não se vê o rosto do homem-elefante, coberto por um saco roto ou ocultado na penumbra quando ele apanha do seu “dono”. O foco são os personagens que interagem com ele nessa parte da narrativa. Desnecessário dizer que ele sofre horrores não apenas nas mãos do seu “agente”, como descrito no parágrafo anterior, mas com a repulsa estampada no rosto e nos atos de outros personagens. O médico que tenta ajudá-lo, vivido pelo brilhante Anthony Hopkins, é uma das exceções, e uma das cenas inesquecíveis do filme são seus olhos marejados quando ele contempla a figura de John Merrick (grande atuação de John Hurt).

Quando o rosto do protagonista se mostra ao espectador, quem vê o filme já nem chega a estranhar tanto as deformidades, cativado que está pela figura dócil e pelas agruras pelas quais passa o personagem. A partir daí, a dor que se sente pelo destino (previsível e aparentemente inexorável) do personagem é constante.

“Os outros é que são os monstros, não ele”, sintetizou uma pessoa que viu o filme comigo uma vez. É um dos modos de ver, mas não o único. A forma como o espectador é inserido no filme faz com que ele conheça primeiro o digamos, “espírito” de Merrick e depois seu fenótipo. Mas, no dia a dia, não é o que acontece. E se reconhecer um pouco naqueles personagens que rejeitam o homem elefante ou admitir nos preconceitos e rejeições preconcebidas que acalentamos às vezes sem saber ou querer, é perturbador. Nós também somos um pouco (ou muito) “monstros” e, como disse o Nicolau acima citando Os Imperdoáveis, “não tem nada a ver com merecer”. Os gritos de Merrick em uma das cenas altas do filme ecoam muito tempo depois dele terminado: "Eu sou um ser humano! Sou um homem!". E a fé na humanidade se esvai mais um pouquinho...

20 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Cheguei ;-)

Eu tinha pensado n'O Homem-Elefante, mas como já falei de Freaks (tem uma emoção parecida e uma série de características que me fascinam como a modernidade de um tema de 1930 e tantos, o fato dos personagens serem interpretados por pessoas realmente fora dos padrões, etc)acabei me entregando à minha devoção ao cinemão italiano. Acho que o que dói - em mim, pelo menos - em filmes assim, é sentir que o humano compreende/comporta justamente o que aceita e o que rejeita, o que se abre e o que recusa-se ao Outro. O que me dói é saber-me potencialmente capaz do Bem - este maiúsculo tão exigente - e das maldades mais vis porque tão pequenas e cotidianas.

Os filmes dirigidos por Clint...*suspiros*.

PS. Eu acho que a primeira vez que chorei por causa do futebol foi em 1981, mas foi de alegria e, um pouco, de susto, sem saber direito porquê daquela festa enorme lá em casa. De doer chorei, também, em 1982. E nunca mais foi tão triste como naquele dia.

Vivi disse...

Sou extremamente chorona então não preciso pensar muito prá lembrar de inúmeros filmes que me causaram esse efeito colateral!! Os três citados no post são excepcionais e claro, chorei muito!
Mas tenho marcado profundamente dois filmes:
Despedida em Las Vegas - não só me fez chorar muito como me deixou deprimida por horas após o final do filme. Depois de alguns anos resolvi assistir novamente para ver se era o filme mesmo ou se eu que não estava bem no dia. Péssima idéia, mesmo sentimento de angústia!
A Língua das Mariposas - é um filme espanhol sobre um garoto que tem sua vida virada de pernas para o ar por possuir pai e professor republicanos no início da Guerra Civil Espanhola. Fantástico!

Unknown disse...

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Karin disse...

"Fale com ela", do Almodovár... não acho bem um filme triste, talvez mais emocionante que triste... mas me fez chorar durante alguns dias...

Nicolau disse...

Nossa, como não lembrei do Despedida em Las Vegas? Uma tragédia completa, ainda mas se considerar o "ca" que inclui o nome deste fórum. Além de ser um belo filme, Vivi, boa lembrança.
Karin, Fale com Ela não acho necessariamente triste, pelo menos não no nível dos outros, mas que chorei, chorei, hehe.

Glauco disse...

O bom dos comentários (e do Meme todo) é que aumenta um pouco a lista dos filmes que devem ser vistos, rs. E também chorei no Fale com Ela (nas duas vezes que vi no cinema).

ANTONIO CLAUDINO disse...

Um filme triste que eu vi foi esse último do Richard Gere em que o cachorro fica esperando ele voltar de trem, só que ele já morreu,chama-se 'Sempre ao seu lado', mas acho que só entende quem tem cachorro.
Outro bem triste e que sempre me deixa deprimido é o 'The Wall - Pink Floyd', já vi umas dez vezes, vi documentários sobre ele e quando Roger Watters disse que não entendeu bem o que ele fez, eu desisti.
E por último bem triste e desgraçado no sentido de desgraça mesmo é o Menina de ouro do Clint Eastwood, sobre a boxeadora que fica tetraplégica.

Anônimo disse...

Pode crer, tinha um filme que passava na HBO, que não era da categoria mela cueca era da categoria cebolão master brazuka, se não me engano era francês, assisti umas 4 vezes, mas em nenhuma delas tive acesso ao título, o que vai deixar Vcs curiosos ou desconfiados. Mas é um filme em que a mulher mata o marido e a trilha sonora é feita do melhor reggae jamaicano.

Maurício Ayer disse...

eu não, eu não choro.

Leandro disse...

A exemplo do Maurício, eu até que consigo me conter, mas citaria entre os bens tristões que me impressionarem "Mar Adentro", "Perdidos na Noite", "Tudo sobre Minha Mãe" e "Filhos do Paraíso".

Leandro disse...

E como eu poderia me esquecer de um que, ainda por cima, é "made in Brazil"?
"Abril Despedaçado" é demais como obra cinematográfica quando analisado em seu conjunto, e também é bastante triste.
O nome já denuncia o quanto pode ser triste, embora o desfecho tenha uma pontinha de mensagem positiva, de esperança, de possibilidades de mudança e de renovação, etc….

ruy garcia disse...

Pelamordedeus.
O filme "Mystic River" se passa na cidade de Boston e não na cidade de "Mystic River".

Karin disse...

É verdade, Leandro, "Mar adentro"... só aquela cena que sai do quarto e vai justamente mar adentro já é de matar... tinha me esquecido desse, e do "Abril despedaçado" também...
Enfim, ao contrário de alguns machões aqui, sou uma chorona inveterada! Hehe!

Leandro disse...

Karin,
O engraçado (aqui sem nenhum trocadilho) é que em "Mar Adentro", a exemplo de "Adeus, Lenin!" você até consegue rir ao longo do filme. Os dois têm umas situações bizarras que levam ao riso em alguns momentos, mas no final conclui-se que estão classificados entre os chamados filmes tristes.

Anselmo disse...

quanto filme triste, meu Deus! mas excelente a lista. Mar Adentro, Abril Despedaçado e Fale com Ela são filmes pra chorar mesmo. E que tem q assistir tbem.

Moriti disse...

No argentino O Filho da Noiva, chorei de soluçar (nos quesitos mar de lágrimas e engula o choro, acho que só rivalizou com Menina de Ouro).

Gostaria de lembrar do Bicho de Sete Cabeças também.

Adeus, Lenin!, Despedida em Las Vegas, Abril Despedaçado, filmaços. E haja lenços.

Elza e Fred, também argentino, sobre um casal de idosos com personalidades antipodais, é bem emocionante.

O Sempre por perto, para quem gosta de cães, é impossível de não se emocionar (estava falando sobre ele com a minha mãe agorinha).

Por último, confesso, também chorei muito no King Kong...

Sobre 82, o filme pintado em azul que rolou no Sarriá dói o coração até hoje.

Karin disse...

Moriti, é verdade! Eu tinha me esquecido desse "O filho da noiva", com o ator Ricardo Darin, adoro ele! E o do auau é o "Sempre ao seu lado", não é? Com Richard Gere... de matar...
Mas pessoal, eu choro demais, chorei em todos esses que citaram, só tem um deles que não vi... e qualquer filme com animaizinhos, eu choro. Já viram "As aventuras de Chatran"? É um gatinho que sai pelo mundo e arranja muitos amiguinhos, hehe! Me debulhei de tanto chorar... Posso até não chorar na frente das pessoas, mas depois, no particular, desabo. Só não choro por causa do Palmeiras... esse tá me dando muita raiva! Ahaa!

Leandro disse...

Qual destes citados você ainda não viu, Karin?
Se você gosta do Darín deve ter visto o ótimo e também lacrimejante "Clube da Lua" (Luna de Avellaneda).
"As Aventuras de Chatran" eu não vi, mas este lance de um ser indefeso sair pelo mundo se aventurando me fez lembrar uma animação bem antiga: "Dos Apeninos até os Andes".
Bem tristão, claro.

Karin disse...

Leandro, eu não vi "A língua das Mariposas". E vi o "Clube da lua"... vou procurar o "Dos Apeninos...", não conheço... ô, choradeira!

Nicolau disse...

Sabe um negócio? Eu choro mais em filmes como Coração Valente que em dramas propriamente ditos. O Wallace grita "Freedom!!" e eu mareio os olhos. Essa coisa da luta dos povos, coisa e tal. Dentro dessa linha, tem um gênero específico que sempre me detona: filme de irlandês. Em Nome do Pai, com o Daniel Day Lewis, por exemplo.