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terça-feira, dezembro 20, 2011

A cumplicidade da mídia matará o PSDB

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"O tempo lança à frente
todas as coisas e pode
transformar o bem
em mal e o mal em bem"

Maquiavel in O Príncipe


Das poucas coisas que aprendi da política, e do contato com políticos, uma delas é que, ao contrário do que pensa o senso comum, a política não é intrinsencamente ruim. É necessária à sociedade como modo de mediação das relações sociais e o que pode um dia transformá-la. O que a torna podre, muitas vezes, é quando se submete a interesses menores, a pessoas que gravitam em torno do poder para adquirir vantagens. E a arte da política é muitas vezes confundida com a chegada ao poder. E este, sim, o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.

Uma das formas que a sociedade moderna encontrou de controlar em parte essa face discricionária foi a alternância de grupos no poder e a liberdade de expressão. No lugar-comum, o sol é o melhor desinfetante, a luz do dia revela.

Pois bem, e o que aconteceu no Brasil em bom período e em São Paulo até hoje? Um pacto entre um grupo político e os maiores meios de comunicação por interesses comuns. Pode-se falar em ideologia, negócios, defesa do livre-mercado, o que for... O que fica claro e foi demonstrado mais uma vez pelo livro "Privataria Tucana" é que os grandes meios de comunicação nunca foram equânimes.

Chegaram, esses meios de comunicação, a transformar em escândalo acordo da ministra Gleisi Hoffmann para ser mandada embora da Telebras e receber o FGTS, coisa que qualquer trabalhador faz. Ao mesmo tempo em que fazem de conta que não viram as investigações na Suíça e na Alemanha sobre propinas a tucanos pela empresa Alstom no fornecimento de equipamentos para o Metrô paulistano, quando deixaram de investigar as causas do soterramento de pessoas em acidentes na estação Pinheiros do mesmo Metrô (alguém já sabe de quem é a culpa?), ou, agora, quando deixam de noticiar a lavanderia documentada de dinheiro no exterior que coincide com as privatizações e que tornou pessoas próximas a José Serra milionárias. E que permitiu inclusive comprar a casa em que ele mesmo mora.

Ora, está provado que, para a grande mídia, o pau que dá no PT não dá no PSDB. Ok, os petistas podem reclamar com justa indignação. Mas, no longo prazo, creio que essa atuação será muito mais danosa para os tucanos.

Sem cobrança, sem fiscalização, achando que serão sempre encobertos façam o que fizerem, a tendência de se queimarem em escândalos cada vez maiores é muito grande. E quando o PSDB não puder mais ser instrumentalizado pela burguesia e pela grande mídia em defesa de seus interesses, será mais um partido jogado no lixo da história. Como já foram outros como o natimorto PFL, seu sucedâneo, o DEM, e outros mais antigos, como o PSD original. Claro que surgirá outro grupo disposto a defender os interesses da burguesia, e muitos personagens do atual PSDB estarão nesse novo veículo, que também se esgarçará com o tempo.

Disso tudo sobrará para a maioria das pessoas mais uma vez a descrença na política, enquanto os interesses de quem sempre mandou e manipulou continuarão intocados. Com a conivência de muitos.

4 comentários:

Nicolau disse...

Belo post, Fredi. O que mais me entristece - e parece ser coisa deliberada, orquestrada até - é essa campanha contra a política em si. Só se fala de corrupção e da forma mais simplista possível, fazendo parecer que tudo que é da política é podre. Torço por tempos novos.

fredi disse...

Mais que falar do livro, que já tem repercussão mais que suficiente, é isso mesmo, ver como a política é desqualificada para servir de desculpa para a injustiça social que vivemos.

O básico do básico, quem se apropria do lucro, dos recursos e fica bilionário não é o político corrupto, este fica com as migalhas. Mas permite que quem o corrompeu se torne cada dia mais rico e perpetue a injustiça.

Anselmo disse...

boa análise. a ver.

sobre o próximo partido a representar esses interesses, o neo-PSD, do Kassab, deve estar se candidatando.

Maurício Ayer disse...

sinceramente, não acho que o partido do Kassab possa ter esse papel, ele nem se propõe a isso. está mais para um partido negociador de bancada do que um que proponha um projeto de país, burguês que seja. a não ser que incorpore figuras maiores do baleado PSDB, como Aécio Neves. mas algo me diz que a só a classe média mais reaça é que se encanta com este caminho, a burguesia mesmo está contente e lucrando com os governos petistas. verdade seja dita, a direita brasileira não se preparou para a democracia.