Destaques

sábado, fevereiro 26, 2011

'Vamos assistir futebol! Vamos tomar cerveja!'

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Os gringos estão embasbacados com o Brasil - e o vídeo abaixo diz tudo (e, principalmente, aquele tudo que a nossa mídia aqui não diz). Temos problemas? Sim, lógico. Mas a perspectiva é a de que sejamos um dos protagonistas da economia mundial neste século 21. O melhor de tudo é que, para arrematar a reportagem, o empresário Eike Batista aparece recomendando: "Let's watch a soccer game! Let's go to the beach! Let's drink a beer!" ("Vamos assistir um jogo de futebol! Vamos para a praia! Vamos beber cerveja!"). Quem somos nós para desobedecer???



Ps.: Curioso é que os gringos não citam uma única vez, como agente do desenvolvimento brasileiro, o período de governo do PSDB, entre 1995 e 2002. A virada espetacular veio mesmo com Lula, o "pop star". Talvez para compensar, resolveram enfiar um inusitado tucano, ali pelo 12:51. Mensagem subliminar?

Dois reis novamente em choque

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Como diria nosso amigo Paulo Silva Júnior, que atualmente passa um tempo na Irlanda, "há domingos de Choque-Rei". E amanhã será mais um deles. Se considerarmos o histórico de confrontos a partir de 1936, quando os dois times se enfrentaram pela primeira vez depois da refundação do São Paulo, tivemos até agora 282 jogos, com 100 vitórias do tricolor, 92 do Palmeiras e 90 empates (379 gols sãopaulinos e 366 palmeirenses). A primeira partida, válida pelo Campeonato Paulista, foi vencida pelo então Palestra Itália por 3 a 0, em 25 de outubro de 1936, no Parque Antarctica. Mathias abriu o placar e Rolando marcou mais duas vezes. A última, valendo pelo Campeonato Brasileiro, ocorreu em 19 de setembro de 2010, no Pacaembu, e teve o São Paulo como vencedor, por 2 a 0, gols de Lucas e Fernandão.

Há quem some a esses confrontos, porém, os 14 jogos do período entre 1930 e 1935, durante a - curta - existência do primeiro São Paulo. Foram 6 empates, 5 vitórias palestrinas e 3 sãopaulinas. Isso deixaria os números gerais com 296 partidas, 103 vitórias do São Paulo, 97 do Palmeiras e 96 empates (402 gols tricolores e 389 alviverdes). Neste caso, o primeiro jogo teria ocorrido em 30 de março de 1930, um empate por 2 a 2 no antigo campo da Floresta, pelo Campeonato Paulista - gols de Friedenreich e Zuanella para o São Paulo, e Serafim e Heitor para o Palmeiras. No entanto, como a história do primeiro São Paulo não é agregada oficialmente nem pela diretoria do clube atual, fica ao gosto do freguês a opção por uma das contas.

Mas vale resgatar, aqui, alguns desses confrontos históricos válidos especificamente pelo Paulistão. Clássicos que foram batizados de "Choque-rei" pelo jornalista Tomaz Mazoni, da extinta A Gazeta Esportiva:

São Paulo 6 x 0 Palestra Itália (26/03/1939) - A maior goleada do clássico, em partida válida pelo Paulistão de 1938, que foi disputado até abril do ano seguinte e teve o Corinthians campeão; São Paulo vice. Disputado num obscuro estádio Antônio Alonso, um dos muitos locais por onde o time sãopaulino perambulava antes de comprar o Canindé e, posteriormente, construir o Morumbi, o jogo (foto à direita) teve como artilheiros Armandinho (3), Elyseo, Paulo e Araken. O São Paulo tinha virado time forte poucos meses antes, após uma fusão com o Estudantes, da Mooca. Antes disso, entre 1936 e 1938, em 8 jogos contra o Palmeiras, tinha sido derrotado 7 vezes e empatado uma vez, sem uma vitória sequer.

Palmeiras 3 x 1 São Paulo (20/09/1942) - O famoso jogo em que o Palmeiras entrou pela primeira vez em campo com este nome (foto à esquerda), em vez de Palestra Itália, que foi trocado pelo fato de os italianos serem inimigos do Brasil na Segunda Guerra Mundial (dizem que a diretoria do São Paulo estava entre os que pressionaram a mudança, o que acirrou a rivalidade). Mas a partida ficou marcada, principalmente, pela fuga do São Paulo, que abandonou o gramado do Pacaembu aos 19 minutos do segundo tenmpo, por não aceitar as marcações da arbitragem. Consta que, na súmula, alguém escreveu sobre o time sãopaulino, à guisa de explicação: "Fugiu!". Palmeirenses marcaram com Cláudio, Echevarrieta e Virgílio (contra), e Waldemar descontou para o São Paulo. Com a vitória, o Palmeiras sagrou-se campeão paulista.

São Paulo 1 x 0 Palmeiras (10/11/1946) - Jogo que deu o único título invicto de campeão paulista para o time sãopaulino. E contou com um final emocionante: contundido após dividida mais forte com um palmeirense, o zagueiro Renganeschi passou a "fazer número" na ponta, como se dizia na época, pois substuições durante a partida eram proibidas. Ou seja, na prática, o São Paulo jogava com dez no Pacaembu. Mas, aos 38 minutos do segundo tempo, o mítico goleiro Oberdan Catani espalmou uma bola no travessão e ela pingou na pequena área do Palmeiras; Renganeschi, que vinha mancando e se arrastando justamente por ali, empurrou para o gol (foto à direita). Dos 11 títulos paulistas disputados entre 1940 e 1950, São Paulo e Palmeiras ganharam cinco cada um (a exceção foi o Corinthians, em 1941).

Palmeiras 1 x 1 São Paulo (28/01/1951) - Confronto que ficou conhecido como o "jogo da lama" e que decidiu o Campeonato Paulista de 1950 para o Palmeiras. O São Paulo precisava de uma vitória simples para faturar aquele que seria o primeiro tricampeonato de sua história. E abriu o placar no Pacaembu com o ponta Teixeirinha, logo aos 3 minutos de jogo. Porém, no início do segundo tempo, o Palmeiras empatou com Aquiles - e ficou com o título. Sãopaulinos reclamaram que o palmeirense estava em total impedimento, não marcado pelo juiz inglês Alwin Bradley (que os maldosos apelidaram de Bradelli). A marca do jogo foi a raça dos jogadores palmeirenses, no campo encharcado e enlameado. No intervalo, Jair Rosa Pinto cobrou aos berros (foto) uma reação para obter o empate. Foi dele o passe para o gol de Aquiles.

São Paulo 1 x 0 Palmeiras (27/06/1971) - Famosa partida que decidiu o título paulista de 1971, no Morumbi, com um gol de Toninho Guerreiro para o São Paulo. O lance capital do jogo ocorreu no segundo tempo, quando o atacante Leivinha cabeceou para empatar aquele confronto decisivo. Isso daria novo ânimo para o Palmeiras, que precisava da vitória para conquistar o campeonato. Mas o polêmico juiz Armando Marques anulou o gol, alegando que Leivinha tinha marcado com um - imaginário - toque de mão. Nota-se, na foto à direita, que Leivinha ainda teve a camisa puxada no lance. Revoltados, os jogadores do Palmeiras não tiveram mais a calma necessária para buscar a virada no placar. E o São Paulo sagrou-se bicampeão paulista.

Palmeiras 0 x 0 São Paulo (03/09/1972) - Disputado por pontos corridos, o Paulistão de 72 foi decidido apenas na última rodada, num Choque-Rei que lotou o Pacaembu, como nos velhos tempos. Para o Palmeiras, bastava o empate para ser campeão. Mas o cruel da história é que os dois times estavam invictos, então o São Paulo tornou-se um curioso vice-campeão que não perdeu uma partida sequer na competição. Além disso, o Palmeiras impediu mais uma vez que o rival conseguisse obter seu primeiro tricampeonato. E, mesmo que indiretamente, sem disputar a decisão com o São Paulo, ainda seria campeão em 1993, abortando mais uma vez a sequência de três títulos, depois de os sãopaulinos terem ganho o Paulista em 1991 e 1992.

São Paulo 1 x 0 Palmeiras (17/06/1979) - O confuso Campeonato Paulista de 1978 só seria definido na metade do ano seguinte, com os "meninos da Vila" (Nilton Batata, Pita, Juari) levantando o caneco pelo Santos. A final foi disputada com o São Paulo, que conquistou a vaga de forma inacreditável. Milhares de palmeirenses já cantavam "Tá chegando a hora" no Morumbi, no final da prorrogação, pois o empate garantia o alviverde na decisão. A torcida sãopaulina, em minoria, começava a abandonar o estádio. Foi então que o lateral Getúlio cruzou uma bola na área e Serginho Chulapa (à direita) cabeceou para cima; a bola descreveu um arco improvável e, mais improvável ainda, caiu dentro do gol. São Paulo classificado, palmeirenses perplexos.

Palmeiras 4 x 4 São Paulo (18/04/1999) - Há quase 12 anos, um Palmeiras comandado por Luiz Felipe Scolari (à esquerda) e um São Paulo por Paulo César Carpegiani se enfrentaram pela primeira fase do Paulistão, no Morumbi. Parece dèjá vu, e tomara que seja, pois o resultado naquela ocasião foi uma chuva de gols. Dodô (2), Serginho e Rogério Ceni marcaram para o tricolor e Galeano (2) e Evair (2) fizeram os gols da igualdade em 4 a 4 num inesquecível Choque-Rei. Naquele ano, o Paulistão ficou com o Corinthians, mas o Palmeiras levantaria a Copa Libertadores. Já o São Paulo, nessa primeira passagem de Carpegiani, passou o ano em brancas nuvens.

São Paulo 2 x 1 Palmeiras (13/04/2008) - A polêmica mais recente entre os dois rivais, no Campeonato Paulista, ocorreu na edição de 2008. Os times se enfrentaram pelas semifinais e, logo na primeira partida, já teve confusão. Naquele semestre, o São Paulo contava com os gols do conturbado "imperador" Adriano. No clássico de ida pelas semifinais, no Morumbi, ele abriu o placar com um gol de mão (foto à direita), que foi validado pelo juiz Paulo César de Oliveira. No segundo tempo, ele ainda faria mais um e, de pênalti, Alex Mineiro diminuiu para o Palmeiras. Mas a partida de volta teria o "troco" dos alviverdes.

Palmeiras 2 x 0 São Paulo (20/04/2008) - Esse foi o "jogo do gás". Num episódio até hoje muito mal explicado, os jogadores do São Paulo ameaçaram não voltar para o segundo tempo da partida, pois um spray de gás pimenta teria sido atirado dentro de seu vestiário. Naquela altura, o time perdia por 1 a 0, gol de Léo Lima em falha bisonha do goleiro Rogério Ceni. Na etapa final, Valdívia marcou o seu e fechou o caixão sãopaulino, com direito a fazer o gesto de "fica quieto" (foto) para Ceni, que havia empurrado seu rosto em um lance de discussão. O Palmeiras, treinado na época por Vanderlei Luxemburgo, conquistaria o Paulistão de 2008, seu título mais recente.

Pois então, Valdívia e Rogério Ceni se reencontram amanhã. E mais um capítulo desse clássico será escrito no Paulistão. Com muitas emoções, esperamos nós.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Antes que eles te façam correr

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Folheando "Vida", do Keith Richards (com James Fox), da editora Globo, 2010 (foto), li uma parte em que ele conta sobre a gravação da música "Before they make me run", do álbum "Some girls", de 1978, dos Rolling Stones, na cidade de Paris. "Aquela música, na qual estou fazendo o vocal, veio do coração, mas foi cansativa como nenhuma outra. Eu fiquei direto sem sair do estúdio por cinco dias", conta o músico, que cita um trecho (manguacístico) da letra:

Já trabalhei em todos os bares e shows no centro da cidade
Nada como um multidão para fazer você se sentir totalmente só
E a coisa já começou a fazer efeito
Bebidas, pílulas e pós, você pode escolher seu remédio
Bem, aqui vai o adeus para mais um bom amigo
Depois de tudo dito e feito
Tenho que me mexer enquanto ainda é divertido
Deixe-me andar antes que eles me façam correr


E Richards prossegue: "(...) Fiquei gravando cinco dias direto. Nós todos estávamos cheios de olheiras quando terminamos de gravar a música (...). Quando finalmente terminamos, eu apaguei sob a mesa, embaixo do equipamento de gravação. De repente acordei, não sei quantas horas depois, nunca contei, e lá estava a banda da polícia parisiense. Uma porra de uma banda marcial! Foi isso que me acordou. Eles estavam ouvindo uma faixa que tinham acabado de gravar e não sabiam que eu estava ali. (...) E me pergunto: 'Quando devo sair daqui? Estou morrendo de vontade de mijar, meu veneno [heroína] está todo comigo, agulhas e a porra toda, e estou cercado de policiais que não fazem a menor ideia de que estou aqui'. Esperei um pouco e pensei: 'Eu vou ser bem britânico', e então rolei para fora da mesa e disse: 'Ai, meu Deus, me desculpem', e antes de eles perceberem eu já tinha me mandado, deixando 76 tiras se perguntando que porra tinha acontecido". Ou seja, como a música previa, eles o fizeram - literalmente - correr.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Carrasco e a auto-agressão

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(é velho, mas vale o registro)


Bryan Carrasco, jogador da seleção sub-20 do Chile, estava desesperado. Sua equipe perdia do Equador por 1 a 0 o jogo que decidia a última vaga para o Mundial da categoria. Sem saber o que fazer para furar a defesa adversária, nosso herói resolver ir para o tudo ou nada, e protagonizou a simulação mais bizarra que já vi em um campo de futebol.


O juizão até que marcou falta, mas acho que Carrasco queria uma expulsão mesmo. Não conseguiu, seu time acabou derrotado. Mas certamente ele conseguiu um feito que não imaginava: garantiu diversos ataques de riso e ficou famoso mundo afora.

Falando sério, o moleque merecia uma boa suspensão, mas não me parece que isso esteja em pauta, já que não encontrei qualquer notícia a respeito. Merecia.

A noite de Vanvan e Silva e Silva

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Coisas que só acontecem na Copa do Brasil.


Jogo entre o desconhecido Iape e Atlético-MG no Maranhão. A esperada vitória fácil do Galo por mais de dois gols não vem por conta, principalmente, de dois principais personagens, o artilheiro Vanvan, autor de dois gols, e o árbitro paraense Andrey da Silva e Silva.

O artilheiro foi bem e aproveitou as oportunidades, depois de o Galo ter saído na frente com gol aos 6 minutos do primeiro tempo, tomou a virada aos 17 e aos 36 minutos em jogadas irregulares. Na primeira, numa disputa pelo alto, com a bola dominada, o goleiro Renan Ribeiro, do Galo, tomou um empurrão e soltou a bola. Na segunda, o bandeirinha assinalou impedimento, o juiz Andrey da Silva e Silva apitou, a defesa parou e ele voltou atrás, validando a jogada.

Claro que o Galo não jogou nada no primeiro tempo e deu sopa para o azar e os contra-ataques do time paraense, mas se eu fosse um pouquinho mais paranóico já diria que começou a retaliação da CBF por conta da posição do presidente Alexandre Kalil nas negociações dos direitos de TV. Mas deve ter sido apenas uma noite infeliz do juizão, membro da família Silva, a mesma de certo ex-presidente.

Na volta para o segundo tempo, Dorival Júnior deu uma arrumada no time, que empatou com Tardelli aos 40 segundos e completou a vitória com Ricardo Bueno, aos 31 minutos.

Vem agora a glória do Iape, ir a Belo Horizonte fazer a segunda partida na semana que vem. Deve ser um jogo interessante, se a arbitragem e a CBF deixarem... Ah, o Galo também tem de jogar mais para manter a série invicta, só com vitórias em jogos oficiais nos campeonatos que disputa neste ano.


Na estreia da Copa do Brasil, Palmeiras deixou definição da vaga para a volta

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Na estreia do Palmeiras na Copa do Brasil, faltou competência nas finalizações para resolver a parada no jogo de ida. A vitória de 2 a 1 sobre o Comercial de Campo Maior (PI), em Teresina, não bastou para garantir a classificação.

É bem verdade que Adriano faria o terceiro dos visitantes não fosse o auxiliar ter marcado impedimento incorretamente. Mas time que depende de um gol anulado para ter melhor sorte não pode reclamar muito.

Na primeira etapa, foram quatro chances desperdiçadas. O 1 a 0, marcado por Adriano, foi magro, mas promissor. No segundo, depois do gol relâmpago de Kleber, com um minuto, o time esboçou aumentar o volume de jogo, mas desistiu 15 minutos depois. Deu espaço para o Comercial fazer o seu, aos 30, que selou o placar e levou a decisão para São Paulo.

Valdívia joga mais bola do que seus colegas no meio de campo, mas parece ainda fora de sintonia. Adriano foi bem, melhor do que Luan, mas não é a solução para o ataque alviverde-limão-siciliano. Kleber é sempre o trombador que, em muitas vezes, decide.

O restante do time não compromete, mas torna difícil esperar que decidam. Pode até dar um caldo com mais peças (como o tal nove-nove que Luiz Felipe Scolari exige) em uma linha de time cheio de jogadores aplicados com dois ou três que resolvem.

Até agora, não está assim.

O destaque do lado piauiense na partida foi o massagista do Comercial, Bomba, que dava um salto mortal – ou uma simples estrela – ao chegar às proximidades de onde estava o atleta caído. Isso porque o time do Piauí mostrou muitas limitações e poucos recursos.

Na volta do Campeonato Paulista, vai ser necessário ter mais atenção e eficiência, se a ideia for continuar na liderança.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

O salário mínimo, o bebê e a água do banho

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O Senado Federal vota nesta quarta-feira, 23, e deve aprovar, o mínimo de R$ 545 para 2011. O valor defendido pelo governo deixou a esquerda perplexa e a direita indignada, ou vice-versa. O PSDB seguiu a senha do candidato derrotado José Serra e propôs aumento para R$ 600, enquanto o DEM ponderadamente falou em R$ 560. À esquerda, o PSOL propôs R$ 700 e o deputado Paulo Pereira da Silva defendeu R$ 580, com o peso do PDT e da Força Sindical. Fora do mundo partidário, a CUT e as demais centrais sindicais embarcaram no valor de Paulinho, R$ 580. Na blogosfera de esquerda, muita gente usou o reajuste, ao lado da recente alta dos juros, como sinal da aliança de Dilma com o capital financeiro em detrimento dos trabalhadores. 

O curioso, especialmente no caso das centrais, é que todo mundo fala do resultado, mas ninguém parece disposto a discutir e contextualizar de onde veio esse valor. Trata-se da aplicação da regra de valorização do salário mínimo discutida exaustivamente entre o governo Lula e as centrais, CUT e Força à frente: inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos atrás. A regra foi aplicada já por alguns anos e saudada como vitória do movimento sindical e responsável pela consistente valorização do piso nacional no governo Lula.

Pois acontece que é a mesma regra que foi aplicada pelo governo agora. O problema é que em 2009, por conta do impacto da crise econômica mundial, o Brasil teve “crescimento negativo” (recessão) de 0,2% no PIB. Ou seja, a economia ficou estagnada, até deu uma encolhidinha. Assim, aplicando a regra, o reajuste será só a correção da inflação de 2010, o que dá mais ou menos R$ 540 – os cinco reais do valor final são um brindezinho dado pelo governo.

Então a regra é uma porcaria?

Nem tanto, já que em 2010, logo depois do PIB mixuruca que resultou da crise global, o mínimo passou de R$ 465 para R$ 510, quase 10% de valorização. Isso porque a regra não se baseia no estado atual da economia, mas na situação de dois anos atrás – o que inviabiliza o argumento do pessoal de que “a economia está bombando agora e o governo não quer distribuir”. Da mesma forma, ano que vem, o mínimo vai ser reajustado baseado nos 7,8% de aumento do PIB em 2010 e o aumento seria de uns 14%, considerando-se a inflação desse ano. Alguém vai reclamar disso?

Nada contra as centrais brigarem sempre por melhores condições para a classe trabalhadora, é pra isso que elas existem. Mas uma vez que existe uma regra – e uma negociada e celebrada como conquista pelas centrais –, não dá pra ficar jogando para a torcida e fazendo esse leilão de numerinhos que sempre caracterizou os reajustes do mínimo. Ainda mais se a regra é clara, né Arnaldo?

A ideia de se ter uma regra e transforma-la em lei, aliás, é acabar com esse circo anual e proteger os trabalhadores dos humores dos governantes de turno. Assim, se daqui quatro anos um reaça leva a presidência, vai ter que brigar no Congresso para derrubar uma lei antes de arrochar o mínimo.

O pessoal da oposição fazer esse jogo de cena é compreensível: não espero deles nenhum compromisso com os trabalhadores nem complexidade de argumentação. Mas o pessoal à esquerda tem que subir o nível do debate. Se vamos discutir alguma coisa, que se discuta os parâmetros da regra – que está pra virar lei agora, defendida por esse governo “traidor”. Pode-se modificar tudo, mudar os parâmetros, incluir um patamar mínimo de ganho real além da necessária correção da inflação, prever na lei a antecipação de ganho proposta pela CUT, sei lá. Só não dá para voltar para o leilão. E menos ainda botar em risco a boa ideia de uma política permanente de valorização do mínimo que já beneficiou milhões de pessoas.

Wikileaks e Mensalão: Boatos, palpites e muito Zé Dirceu

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Os diplomatas dos Estados no Brasil acompanharam de perto as denúncias de corrupção e as crises políticas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O escândalo do Mensalão (ou "Big Monthly", na tradução deles) foi relatado passo a passo, com descrições sobre trocas de ministérios, perfis dos expoentes das investigações no Congresso Nacional e visões peculiares sobre a vida política brasileira. José Dirceu é personagem central nesta.


Nuvem de palavras dos 34 telegramas. Dá-lhe Lula e Dirceu. Feito no Wordle.

O terceiro lote de telegramas vazados pelo Wikileaks e divulgados por blogues brasileiros trata de corrupção. Ou melhor, a forma como a embaixada dos Estados Unidos no Brasil assistiu aos escândalos de corrupção do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O caso foi acompanhado de perto pela embaixada, inicialmente, em junho, com relatórios diários e, depois, semanais ou mensais. A crise política dos sucessivos escândalos que acometeram o primeiro mandato de Lula de fato foi profunda.

No conjunto de 34 telegramas, dos quais três já haviam sido publicados, Lula é mencionado 450 vezes, o PT, 248. José Dirceu aparece 229. A demissão do cargo de ministro-chefe da Casa Civil e a cassação de seu mandato, ainda em 2005, foram relatadas em detalhes. O segundo desses episódios, aliás, é tratado como um "divisor de águas", apesar do reconhecimento de que não havia provas contra ele.

A ampliação e o aprofundamento da crise, com três comissões parlamentares de inquérito (CPIs) simultâneas e a imobilidade do Congresso eram a receita para um fracasso eleitoral de Lula em 2006. Em janeiro daquele ano, conforme as pesquisas mostravam o presidente à frente na corrida eleitoral, essa capacidade foi definida como "totalmente inesperada", a despeito de a economia mostrar sinais de crescimento robusto.

Logo no início da crise, por conta de mudanças no ministério de Lula, a análise era de que o PMDB ganhava espaço e que o PT poderia ter tornado-se refém da coalizão. É que "o amplo PMDB particularmente nunca está tímido para tomar sua parte do bolo (demand the pork, no original)".

Tradução

Além do já citado "Big Monthly", é divertida a tradução do nome de Carlinhos Cachoeira (o "Charlie Waterfall"). O banqueiro do jogo do bicho estava envolvido com o escândalo de Waldomiro Diniz.

Sem gasto eleitoral

Ao final de 2005, em meio à crise, um telegrama especula sobre os efeitos de uma eventual saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. Consta que, pela falta de aprovação do orçamento de 2006 aliada à dificuldade da intricada burocracia brasileira para gastar o dinheiro liberado pelo Tesouro, haveria dificuldade para uma gastança pré-eleitoral. Ou seja, a política de "austeridade" estaria garantida.

Herança da ditadura

Como várias das personagens do cenário político brasileiro advêm da militância contra a Ditadura Militar, esse aspecto sempre aparece nos telegramas. Para descrever Dirceu, aparecem termos como "soldado", preso político trocado por embaixador e alguém dedicado ao PT e a suas ambições. Tudo bem, aparece também "maquiavélico", cínico e sem ideologia, definições que guardam nenhum vínculo com o passado.

Para Fernando Gabeira, ex-deputado federal e candidato derrotado às eleições do Rio de Janeiro em 2010, usa-se o termo "sequestrador de embaixador", em alusão a seu envolvimento no rapto de Charles Elbrick em setembro de 1969.

No caso de Dilma Rousseff, ela é descrita como a "Joana D'Arc da subversão", como já divulgado anteriormente.

Boatos sem provas

Apesar de não lerem Caras, como bem observou a MariaFrô, os embaixadores gostam de incluir boatos sem provas. Eu juro que não considero neste rol os elogios ao "trabalho investigativo" da revista Veja (isso é opinião deles).

Houve já certo burburinho quando noticiou-se, com mais sensacionalismo do que o devido, que os EUA consideravam que Dilma tinha sido a mentora do assalto ao cofre do Adhemar de Barros e a bancos. O telegrama coloca isso como um boato, parte do folclore político brasileiro.

Outro episódio sem comprovação incluído no relato é o de que o líder da oposição, Jorge Bornhausen (então no PFL, atualmente no DEM), estaria inquieto com os rumos da crise política. Nenhuma menção à alegria de se ver "livre dessa raça por 30 anos", mas a uma suposta reunião entre o então senador catarinense e diretores do Grupo Globo. O encontro teria ocorrido no Rio de Janeiro, mas tampouco há como ter certeza de que isso ocorreu.

Curioso também que o fato de o presidente do segundo maior partido de oposição ir pedir a benção da maior rede de televisão do país desperta nenhuma linha nos telegramas.

Tudo bem, eles não são analistas políticos, estão só relatando o que leem. Poderiam selecionar melhor essas leituras.

Leia também:
Escândalo do mensalão: oposição e governo temiam impeachment de Lula
O público pediu – telegramas sobre o mensalão

Globo e CBF racham o Clube dos 13

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Na primeira negociação em que a Globo não teria mais privilégios nas negociações sobre os direitos de TV, em que nas palavras do presidente do Galo, Alexandre Kalil, levaria quem desse o maior cheque, o que se vê é um aparente racha entre os clubes que formaram o Clube dos 13.


Não tenho nenhuma fonte, nenhuma informação privilegiada, mas parece claro o movimento em que alguns clubes foram seduzidos por ofertas, sabe-se lá quais, para quebrarem a concorrência e não negociarem em conjunto.

A única certeza é que essa divisão só interessa à Globo, que pretende manter as transmissões pagando o menos possível, e à CBF, que tenta retomar as negociações e mandar em todo o futebol, sem ter nenhuma oposição, mesmo que pálida, do Clube dos 13.

Já ficara clara a estratégia na última eleição do C13, em que Ricardo Teixeira tentou eleger um aliado seu e seduziu boa parte dos cartolas com sabe-se lá também com quais promessas. Acabou perdendo.

Mas a divisão atual, não importando quem tenha razão, não é boa para os clubes. Antes da criação do C13 os valores pagos pelos campeonatos eram irrisórios, o que contava era a arrecadação com bilheteria. Depois da criação do clube e a negociação conjunta, esses valores foram subindo paulatinamente até chegarem a ser a principal fonte de receita dos times.

Agora, em que a possibilidade de a Record ganhar a concorrência era grande, parece que CBF e Globo fizeram "propostas" para Corinthians, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo que, podem criar grande tentação agora, mas representará, com certeza, a continuidade no futebol de tudo como está e um possível enfraquecimento do poder de negociação deles mesmos no futuro.

Resta saber se os revoltosos vão pagar todas as suas dívidas e o dinheiro que pegaram antecipado do C13 antes de saírem. Se pagarem, de onde terá vindo o dinheiro?

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Resultado quase surpreendente

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O “quase” do título, em referência na vitória do Corinthians sobre o Santos por 3 a 1, no Pacaembu, vem do fato objetivo de que clássico é clássico e vice-versa, como diria o filósofo. Mas quem olhou a escalação da defesa mosqueteira com Fábio Santos, Leandro Castan e Wallace ao lado do guerreiro Alessandro deve ter imaginado a feira que Neymar e Elano fariam em cima desse lado esquerdo. Se o Tolima conseguiu, porque não o Santos?
Mas não foi o que aconteceu, por acertos do time de Tite, erros do de Adilson Batista e, bem, alguma interferência dos deuses do futebol.
Os acertos do alvinegro da capital foram na marcação, antes de tudo, feita em cima da saída de bola peixeira, fazendo a jogada chegar quebrada ao ponto forte da equipe de Adilson. A zaga santista parou com faltas as (não muito inspiradas) jogadas de ataque do Timão e, numa dessas, Fábio Santos acertou um tirambaço no ângulo de Rafael – alguém sabe se ele sempre bateu assim?
O Corinthians recuou - atendendo aos desígnios de Tite e a rotinas implantadas no dna dessa equipe desde Mano Menezes - e foi pressionado pelo Peixe. Mas a boa marcação continuou. E aqui apareceu o erro de Adílson na escalação da equipe, que insiste com um Diogo que não mostrou a que veio desde seu retorno ao Brasil e deixa no banco Maicon Leite, vice-artilheiro do Paulistão, ao lado de Elano. Cabe perguntar também por que Keirrison, que pareceu ser aposta do treinador e vinha jogando (e melhorando) no início do torneio nem aparece mais nas fotos. Juntando com o aparente (e justo, diga-se) cansaço de Neymar, sobrou Elano para fazer alguma coisa.
E ele fez, no final da primeira etapa, enfiando um canudo também no ângulo de Júlio Cesar. E tentou de novo, no início da segunda etapa, batendo a queima roupa para belíssima defesa do bom goleiro corintiano – que muitos torcedores insistem em cornetar.
Depois de uma pressão inicial do Santos, o Timão equilibrou um pouco as ações e apareceu espaço para outro erro do maestro peixeiro - esse daqueles imprevisíveis, mas que a torcida vai cobrar. Tirou o amarelado Rodrigo Possebon e colocou o também volante Adriano, alteração seis por meia dúzia que não deveria ter maiores consequências. Mas o rapaz entrou meio perdido e, numa bela jogada de Dentinho pela esquerda, fez um pênalti tão desnecessário quanto bem assinalado. Reparem os corintianos há quanto tempo o jovem atacante não fazia uma jogada assim, indo pra cima de três adversários na habilidade. Reparem também que, na ausência de Chicão, o batedor - escalado certamente por Tite - foi o contestado Fábio Santos, que cobrou bem e botou o Corinthians de novo na frente. O professor quis dar moral a seu indicado.
Novamente na frente, o Corinthians novamente recuou. E novamente a pressão santista foi infrutífera, barrada na boa marcação. E no finalzinho, Ralf roubou uma bola de Diogo (olha ele aí) e acertou um passe que dele não se espera para Liedson marcar o terceiro, por cobertura, como outro terceiro gol em outro 3 a 1 do Timão em cima do Peixe.
Da partida, o Corinthians jogou melhor do que vinha fazendo. Morais, Dentinho, Jorge Henrique e Liedson formam um ataque leve e rápido. Se Dentinho e JH resolverem (e tiverem liberdade para) ir mais pra cima das defesas adversárias, em jogadas de infiltração, pode sair alguma coisa. E Bruno César voltou pelo menos ao banco, sinal de que pode voltar a ser opção. Mas sinto falta de mais poder de decisão. Paulinho substitui bem a Jucilei, mas não tem reserva – Marcelo Oliveira? – e Ralph segura a onda. Há mais problemas na defesa, onde ainda não confio em Fábio Santos (que tem ainda o benefício da dúvida por ter jogado pouco) e menos ainda em Wallace e Leandro Castan. Aceito algumas boas contratações.

Wikileaks: Ditadura Militar e rachas sociais no Brasil

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Apesar de ter terminado em 1985, fissuras abertas persistem na sociedade brasileira e parte delas foi aberta na Ditadura Militar, segundo análise da embaixada dos Estados Unidos. Em um dos telegramas vazados pelo Wikileaks, o diplomata sustenta que esse passado continuará a ser motivo de "atritos, e manchetes ocasionais, por alguns anos futuros".

O segundo lote de telegramas vazados pelo Wikileaks no Brasil para um conjunto de blogueiros trata de questões relacionadas à Ditadura Militar no Brasil e a anistia. São quatro telegramas que, a exemplo de boa parte do material, traz mais resumos baseados no que foi publicado em jornais e revistas do que análises ou opiniões do governo estadunidense. O tema foi amplamente demandado.

Foto: Reprodução

Os dois primeiros datam de 2004. Um envolve o aniversário de 40 anos do golpe – chamado assim mesmo, de "golpe" e jamais de "revolução" para alívio deste blogueiro. O outro fala das fotos publicadas à época pelo Correio Braziliense que supostamente mostravam o jornalista Wladimir Herzog preso antes de ser assassinado por agentes do regime.

Depois, há um telegrama de 2008, em meio aos primeiros debates sobre a revisão da lei de anistia, que culminaria, em 2010, na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de arquivar o pedido de revisão. Por fim, um relatório sobre a polêmica de janeiro do ano passado sobre o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3).

Foto: STF/Divulgação
 Plenário do STF que, em 2010, negou revisão da Lei de Anistia de 1979

Feridas abertas
Apenas em um trecho do primeiro telegrama, consta uma ideia de que a memória do regime está bem resolvida para a sociedade. "Passados 40 anos do golpe e 19 desde a volta do Estado civil, a era militar é cada vez menos relevante para uma sociedade que avança e na qual um terço da população nasceu depois de restaurada a democracia", propõe o telegrama.

Por outro lado, nos documentos mais recentes, fica claro que a turma da embaixada percebeu que a coisa é mais complexa. Sobre a possibilidade de revisão da anistia, os funcionários dão-se conta de que "sentimentos fortes" são evocados tanto entre militares quanto em ex-opositores do regime quando se toca no assunto.

No relato mais recente, de 2010, é dada como clara a existência de rachas na sociedade afloradas pelo PNDH, mas cuja origem remete, de alguma forma, ao período autoritário. Em relação a violações de direitos humanos, estão, de um lado, militares, de outor civis. No campo, proprietários rurais contra o "ainda potencialmente perturbador" Movimento dos Sem Terra. Entre os que clamam por liberdade de imprensa e os que veem a mídia como frequentemente irresponsável. E entre o moralismo conservador e os direitos humanos.

Considerando-se que se trata de um material produzido 10 meses antes das eleições presidenciais, o cenário de Fla-Flu contém ares até proféticos. Um grau de ponderação não muito comum nos telegramas da estrutura diplomática ligada a Washington.

Visão dos EUA
Apesar de ter muito relato, há avaliações e juízos dos diplomatas incluídos.

Os textos parecem considerar que as violações de direitos humanos durante a Ditadura são inegáveis (apesar de tratar na condicional o fato de Herzog ter sido assassinado por torturadores). A possibilidade de o governo dos Estados Unidos ter apoiado o golpe de Estado é tratado com ares de hipótese. Para escrever de um modo mais claro: nada sobre Operação Condor ou coisa do gênero.

Há passagens curiosas. "Ainda ocorre um certo rancor sutil contra o governo dos EUA, devido a uma ideia entre alguns oficiais mais antigos de que os EUA mudaram abruptamente de um apoio ao governo militar para uma condenação por violações de direitos humanos", escreve o diplomata. O funcionário, porém, não opina sobre a tal mudança. Talvez seja porque, como para mim, a avaliação tenha pouco respaldo em fatos.

Em outro momento, aponta-se que, no aniversário do golpe, "publicações sensacionalistas traçaram elaborados paralelos entre 1964 e o nível de influência dos EUA no Brasil de hoje". O diplomata diz que o golpe indiretamente ajudou a ampliar o prestígio de Fidel Castro, ex-presidente de Cuba.

Por fim, consta que as instituições civis e políticas no Brasil são "plenamente democráticas" – a despeito do que acreditam parte dos colunistas da mídia velha. Como a instauração da "democracia" fez parte da retórica para intervenções militares recentes no Afeganistão e no Iraque, é bom saber que os gringos acham que essa questão está resolvida por aqui.

Jobim
Ministro da Defesa desde junho de 2007, Nelson Jobim é o segundo personagens mais citado no bloco, com 10 menções (Lula é citado 24 vezes). Jobim indispôs-se contra Tarso Genro, então titular da Justiça, e com Paulo Vannuchi, da Secretaria especial de Direitos Humanos. Cada episódio mereceu seu telegrama.

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil - Wikipedia
Não há, desta vez, informação privilegiada nem conversa reservada com o peemedebista da cota pessoal de Dilma.

Jobim defende os militares, tromba com colegas de Esplanada, xinga os outros de "revanchistas", consegue pôr o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu lado... É um protagonista.

Apesar de detalhar vários dos pontos polêmicos sobre o PNDH-3, o funcionário da embaixada dos EUA em Brasília insunua que a repercussão foi exagerada. Por se tratar de um plano de intenções sem qualquer garantia de implantação, o texto deixa claro que o embaixador tentou entender melhor algumas questões.

Nesta quarta-feira, 23, tem mais.

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domingo, fevereiro 20, 2011

Wikileaks: Daniel Dantas nos telegramas

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Neste domingo, 19, começa a funcionar a nova estratégia de divulgação dos telegramas diplomáticos dos Estados Unidos vazados pelo Wikileaks. Por iniciativa da incansável Natália Viana, um conjunto de blogues recebe os documentos e divulga diariamente. O Futepoca está nesta, então bora trabalhar.

A escolha dos temas se deu pelos comentários do blogue da Natália e tem assunto quente de sobra. O primeiro, o preferido da CartaCapital, parceira dela na empreitada, é Daniel Dantas.

Diferentemente do que foi divulgado em 8 de fevereiro por um grupo autodenominado de "Wikileaks Brasil", sem qualquer ligação com a turma do Julian Assange, não são dados do inquérito nem do processo judicial que envolve o sócio do Grupo Opportunity.

São três telegramas, sendo que um deles já havia sido divulgado antes. Aos fatos.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Abin

O nome de  Dantas aparece no episódio dos comprovadamente falsos grampos no Supremo Tribunal Federal – o inquérito concluiu que não houve escuta irregular ao então presidente daquela corte, Gilmar Mendes, nem a Heráclito Fortes (DEM-GO). O caso de 2008 levou à demissão de Paulo Lacerda do comando da Agência Brasileira de Informações (Abin) e a uma nova crise política entre o STF e o Palácio do Planalto.

O telegrama originado na embaixada da capital federal recupera a história, usando como fontes funcionários da Câmara dos Deputados e do Senado (Roberto Carlos Martins Pontes e Joanisval Brito).

A análise da situação é de que a crise ocorreu pela falha do país em adequar os setores de inteligência após o fim da Ditadura Militar e a consequente dissolução do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). Segundo o telegrama, por falta de líderes (dado o desgaste de Lacerda) adiar-se-ia a possibilidade de isso se resolver e de o país conseguir "articular uma estratégia de segurança nacional coerente e com credibilidade que aponte as ameaças que a agência de inteligência brasileira deveria monitorar".

Dantas é mencionado como parte eventualmente interessada na conversa entre Mendes e Fortes, já que Lacerta era diretor da Polícia Federal à época da Satiagraha. Em vez de olhar para o banqueiro, os diplomatas mostraram-se mais preocupados com a impossibilidade ou falta de disposição tupiniquim de se dedicar ao combate ao terrorismo.

MST

Outro telegrama, disparado do consulado de São Paulo, que menciona Dantas já foi divulgado – e polemizado. Trata do Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que invadiu terras do banqueiro no Pará. O material é de 2009. No caso, a escolha da fazenda era uma tentativa de legitimar a ação do MST, na visão dos diplomatas, que listaram motivos para questionar a força do grupo após 25 anos de atividades.

Dantas e o mensalão

O terceiro telegrama é de agosto de 2005. Desta vez, em meio à crise política conhecida universalmente como Escândalo do Mensalão. O telegrama resume a trama então urdida, citando desde as denúncias até episódios envolvendo o caso Celso Daniel e a participação de Antonio Palocci (então ministro da Fazenda e atualmente na Casa Civil).

Foto: Wilson Dias/ABr - Arquivo
Daniel Dantas se livrou dos telegramas Wikileaks

A visão é a que os veículos de comunicação propalavam à época, com ponderações sobre as possibilidades avaliadas como remotas de Luiz Inácio Lula da Silva ser tirado do governo. Isso porque a fonte da análise são conversas com oito jornalistas "todos proeminentes comentaristas e âncoras da televisão, rádio, imprensa e de mídia na internet".

Mas acalme-se o leitor que acha que a embaixada só reproduziu o que a "mídia golpista dava".

Dantas aparece em uma sugestão de um dos "âncoras de TV cujo nome estava entre aqueles telefones que o empresário Daniel Dantas é acusado de ter ilegalmente gravado no escândalo Kroll" – aqui entre nós, eu só conheço um assim. A versão deste âncora é a de que o dinheiro do valerioduto teria origem no banqueiro.

Na hora de comentar e analisar o enrosco, os diplomatas não souberam ou não quiseram opiniar: "Essas conversas ocorreram várias semanas atrás e o tempo está provando que muitas das especulações têm base nos fatos. Desde então, houve revelações de que o PT pode ter uma conta offshore e o nome de Dantas também foi mencionado em conexão com o escândalo". Outras tantas não se confirmaram, mas tudo bem.

Para resumir o enredo,  duas, uma: ou os diplomatas não se interessaram em ir a fundo no que envolvia Dantas, ou trataram do tema por vias mais imunes a vazamentos do que telegramas.

Nesta segunda-feira, 20, tem mais, sobre outros temas.

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