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quarta-feira, novembro 02, 2011

Nelson Cavaquinho chamou a morte pra sambar

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Nesse Dia de Finados, convém lembrar de um compositor que teve na morte um tema constante em toda sua genial obra. Junto com desilusões amorosas, o mote da angústia existencial passeia pelas letras de Nelson Cavaquinho, que faria cem anos no último dia 29 de outubro. Trata-se de um músico único, cuja síntese da vida e obra poderiam ser esse parágrafo, escrito por Arley Pereira aqui: “Violão, samba, mulheres, botequins, a soma e a essência da felicidade, a forma e a maneira encontradas de ser feliz cantando a infelicidade e de ser alegre exaltando a tristeza.”

A trajetória do compositor é das mais curiosas e ricas, sendo que as histórias de boemia são inúmeras. Como a de seu tempo de policial, na juventude. Uma de suas tarefas era fazer a ronda no morro da Mangueira a cavalo e, em uma dessas incursões, seu animal acabou sendo "perdido", como ele mesmo relembrou em entrevista:

Resolvi parar numa tendinha e deixei amarrado na porta o cavalo, (...) fiquei tanto tempo conversando com o Cartola, que quando saí da birosca, cadê o animal? Tinha sumido. Fiquei apavorado. E resolvi, assim mesmo, voltar para o quartel. Não é que quando chego lá dou de cara com o cavalo na estrebaria? O danado parecia que sorria pra mim pela peça que me pregou.” e completa "Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumado com o xadrex. Era tranqüilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrex está Entre a Cruz e a Espada 

Nascido na Tijuca, apaixonou-se pela Mangueira, pelo samba e pela vida noturna. Segundo Carlos Rennó e Paquito, na série Os Inventores da MPB, ele “passava às vezes três noites e três dias seguidos fora de casa, bebendo muito, sem nunca perder a pose, e comendo pouco.” Entre os muitos amores que teve na vida, uma mulher merece destaque. Lígia, sem-teto que dormia na praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, aos pés da estátua de Pedro I. De acordo com Rennó e Paquito, “os dois bebiam até acabarem num banco de praça, de porre, dormindo. Segundo o parceiro Guilherme de Brito, 'ele só se chegava a essa gente assim'. O amor chegou a um ponto tal, que Nelson tatuou o nome de Lígia no seu ombro direito, motivo de sua canção 'Tatuagem', que diz: 'O meu único fracasso/ Está na tatuagem do meu braço'.”

Enquanto outros intérpretes já haviam gravado inúmeras das suas canções, seu primeiro disco só foi lançado em 1970, Depoimento de Poeta, pela gravadora Castelinho. E, ao todo, foram só quatro álbuns solo na sua carreira. Seu último LP, de 1985, Flores em Vida, foi idealizado e produzido pelo cantor e compositor CarlinhosVergueiro. O título faz referência à música “Quando eu me chamar Saudade” (Me dê as flores em vida/O carinho, a mão amiga/Para aliviar meus ais/Depois que eu me chamar saudade/Não preciso de vaidade/Quero preces e nada mais). Cavaquinho morreria na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, vítima de um enfisema pulmonar, aos 74 anos.




Confira abaixo a entrevista feita por e-mail com Carlinhos Vergueiro, que lança nesse mês um CD inteiramente dedicado a Cavaquinho, com participações nobres como as de Chico Buarque e Wilson das Neves.

Futepoca - Como você conheceu Nelson Cavaquinho?
Carlinhos Vergueiro - Conheci o Nelson no bar do Zé, um boteco na Rua Maria Antônia, em São Paulo, que eu frequentava. Ele era amigo do Francisco de Laurentis, o Chicão, meu amigo também, e acompanhei os dois em várias noitadas. Eu tinha uns 17 anos.

Futepoca - Nelson vendeu várias das suas composições. É possível ter uma ideia de quantas músicas de fato ele compôs ao longo da vida?
Vergueiro - O Afonso Machado, autor do livro Nelson Cavaquinho, Violão Carioca, conseguiu reunir 200 músicas de autoria do Nelson, mas muitas se perderam, outras ele deu ou vendeu, algumas são dele mas não estão no seu nome como “Pecado”, parceria com Zé Ketti. Essa ficou só no nome do Zé Ketti por motivos burocráticos à época.

Futepoca - O primeiro álbum dele foi lançado somente em 1970. Por que demorou tanto a gravar um disco?
Vergueiro - Porque demoravam muito para achar que valia a pena fazer um disco solo com um artista como o Nelson. Isto foi em 70, pelo selo Castelinho, produzido por Pauilo Cesar Costa. Em 72, a RCA lançou o 2º. Em 73, o Pelão (João Carlos Botezeli) lançou pela Odeon um disco muito importante onde o Nelson gravou pela primeira vez tocando cavaquinho. Em 74, a Continental relançou o disco de 70.

Futepoca - Na sua opinião, é possível dissociar a obra e o modo de composição de Nelson Cavaquinho do seu estilo de vida boêmio? Um poderia existir sem o outro?
Vergueiro - A voz do Nelson, o violão do Nelson, as melodias, as letras que ele compunha, tudo junto era emocionante. Nos bares, nos botequins, nas ruas, ele encontrava um público fiel que o admirava e via nascer várias de suas obras-primas.

Futepoca - Como surgiu a ideia de produzir Flores em Vida?
Vergueiro - O Nelson me disse que tinha vontade de gravar um disco e eu apresentei um projeto ao Aluízio Falcão, diretor do selo Eldorado, que não só aprovou como batizou com o nome Flores da Vida. Além deste disco, participei de um documentário dirigido por Ruy Solberg cujo nome é Nelson de Copo e Alma. O disco foi lançado em Mangueira e o documentário no Parque Laje, com o Nelson superfeliz.

Futepoca - E qual a linha desse seu novo trabalho, que também tem como foco a obra do compositor?
R-Neste trabalho, que tem a participação da Cristina Buarque, do Wilson das Neves, do Chico Buarque e do Marcelinho Moreira, eu quis homenagear o Nelson, que faria cem anos. Contei com a participação de grandes músicos e com os inspirados arranjos de Afonso Machado e Tiago Machado. O Afonso, um dos fundadores do conjunto Galo Preto, é um especialista em Nelson Cavaquinho, e está lançando um livro e um disco instrumental com o Galo Preto homenageando Nelson.

Futepoca - Você acha que hoje Nelson Cavaquinho tem o devido reconhecimento no meio musical e pelos brasileiros em geral?
R- Eu espero contribuir para que mais pessoas conheçam o trabalho desse genial artista.



terça-feira, novembro 01, 2011

Lula vai desfilar na Gaviões, diz Dilma

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O ex-presidente Lula, internado ontem e hoje no hospital Sírio Libanês para dar início à quimioterapia que combaterá o tumor encontrado em sua laringe, recebeu nesta segunda a visita da presidenta Dilma. Ela, que também lutou recentemente contra um câncer linfático, saiu otimista da visita, segundo matéria do Diário de S. Paulo.

A manchete do jornal, aliás, é o que me instigou a escrever o post: “Ele vai desfilar na Gaviões”. Foi tirada da seguinte declaração de Dilma: "Eu estive visitando o presidente Lula e saio muito contente, porque achei ele muito bem, muito disposto, com aquela imensa energia que o presidente Lula tem. Então eu saio daqui certa que, em janeiro, nós veremos o presidente Lula desfilando na Gaviões da Fiel", disse a presidenta, lembrando que a corintiana escola de samba homenageará Lula no Carnaval 2012.

No domingo, torcida e clube corintianos homenagearam o presidente (foto: Edson Lopes Jr./Terra). E chegamos ao verdadeiro motivo do texto: publicar aqui o vídeo do samba da Gaviões, que quase encheu de lágrimas meus corintianos e esquerdistas olhos. Aproveitem. E força, Lula!

segunda-feira, outubro 31, 2011

Corinthians 2 x 1 Avaí: Virada na raça afasta tragédia e retoma liderança

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O Corinthians jogou mal contra o Avaí na tarde deste domingo, num Pacaembu cheio e que recebeu horas de chuva brava durante a partida. Jogou mal, sofreu um gol fruto de jogada em (difícil) impedimento, teve um zagueiro expulso, por, no mínimo, um baita excesso de rigor. Cenário propício para uma tragédia – que não se consumou. O Timão virou a partida no segundo tempo, na raça e na coragem, levando ao delírio uma torcida encharcada. Jogo difícil e mais um passo na briga pelo título, esse de grande valor anímico. Até porque, com o empate arrancado pelo São Paulo contra o Vasco, no Rio, voltamos para a liderança, o que significa depender apenas das próprias pernas – e de uma ajudinha dos deuses, claro.

O destaque foi Emerson, que, voltando de lesão, começou no banco e entrou no lugar de Jorge Henrique. Foi o melhor jogador, como vinha sendo em boa parte dos jogos antes de se machucar. O atacante se mexe muito, procura o jogo, dá opções aos companheiros. Como fez no gol de empate, após belo passe de William, jogador às vezes meio bom, às vezes meio ruim, e que ontem estava mais inspirado.

Liedson também merece os parabéns por ter achado o gol da vitória numa cabeçada improvável. É interessante o senso de colocação do atacante. Em várias jogadas é possível vê-lo procurando um espaço vazio e tentando antecipar aonde a bola deverá cair depois de outras disputas. Nessas, acertou em cheio.

Quem também acertou foi Tite, ao não tirar um atacante para recompor a defesa após a expulsão do zagueiro Leandro Castan. Ao evitar a resposta padrão e optar por recuar Ralf para cumprir a função, o técnico manteve o poder de fogo do time e foi premiado com a virada. Acertou aí, mas errou ao botar Jorge Henrique pra jogar. O baixinho já teve excelentes momentos com a camisa alvinegra, mas não se encontra mais. O bom Edenilson, rápido e com visão de jogo, parece ser uma opção melhora na ausência de Émerson e Alex. E falando em troca de guarda, Welder pode muito bem assumir a vaga de Alessandro. O lateral avança bem, dribla e cruza sempre com perigo.

Na próxima rodada, vamos a Minas Gerais pegar o quase desenganado, mas ainda desesperado, América MG. Entre os problemas, a zaga hoje titular está suspensa, com terceiro amarelo para Paulo André e a expulsão de Castán. Devem vir Wallace e o afastado Chicão, zagueiro mais técnico do elenco, mas que perdeu espaço, segundo consta, por disputas de cunho panelístico com o técnico Tite. Espero que volte com vontade de mostrar que merece a camisa 3.

Entre as boas notícias, podemos ter Emerson, Alex, Danilo e Liedson juntos. São os quatro melhores jogadores do meio pra frente hoje. Os que mostram mais qualidade e têm resolvido a maioria dos jogos. Se um deles não jogar, deve entrar William, que também ajuda. Estamos com um bom elenco, principalmente do meio pra frente. Depois do América, vem outro mineiro, o Atlético, ainda ameaçado pela Série B, mas já mais distante do alçapão. E com melhor futebol (o Palmeiras que o diga), muito graças ao bom Daniel Carvalho. Vai, Corinthians!

domingo, outubro 30, 2011

Santos 4 X 1 Atlético-PR - Furacão vira brisa com Neymar

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Mais um post que corre o risco de ser docemente repetitivo. Dessa vez, pude acompanhar in loco no Pacaembu Neymar, o gênio, fazer cinco gols legítimos, mas só quatro validados. E ainda fez mais um, este irregular de fato.

Mas não foram só os gols. Foram passes inteligentíssimos, como o dado para Renteria desperdiçar diante do goleiro Renan, dribles desconcertantes, passes em que a finta de corpo deixou o marcador procurando a bola do lado oposto ao qual ela tinha ido... O repertório que se mostra diferente a cada peleja.

Embora o placar tenha sido dilatado, o jogo só se tornou realmente fácil na segunda etapa. No primeiro tempo, o Peixe sofreu com a quantidade de erros no meio de campo. Alan Kardec recuava para armar, mas não tem o cacoete de meia; Arouca avançava mais, principalmente pela direita, mas também errava bastante. Na esquerda, Durval, mais uma vez no lugar de Léo, conseguiu, junto com  o mais uma vez efetivo Bruno Rodrigo, evitar os avanços de Guérron, mas não conseguia acrescentar nada à frente, justamente no setor do campo que Neymar gosta de atuar. Assim, sem ter com quem jogar , o moleque forçava as jogadas individuais para criar as chances alvinegras.

Precisa legenda? (Foto Santosfc)
Foi um primeiro tempo praticamente sem chances para o Atlético, que chegou com perigo duas vezes. Mas, logo no início do jogo, o Santos teve um pênalti a seu favor e começa a polêmica sobre a arbitragem. O comentarista Leonardo Gaciba diz que Cléber Santana usou o tal “jogo de corpo” em Neymar no lance anotado pelo árbitro. A mim, não pareceu, mas resolvi buscar o próprio Gaciba, em seu blogue encerrado na RBS, em que ele comenta sobre o tal “ombro a ombro”. Diz o ex-árbitro:: “Ainda, como diria Arnaldo Cesar Coelho 'a regra é clara' quando nos explica que este tranco com o ombro, mesmo que a bola esteja em disputa, quando for realizado com força excessiva, é ilegal! (grifo meu) O atleta não pode, simplesmesmente, esquecer-se da bola e jogar-se contra o adversário, só porque o contato será feito com o ombro!”. Cada um interpreta como quer, mas, além de achar que Cléber Santana utilizou a tal “força excessiva”, ainda é possível ver o uso do antebraço “alavancando” o tronco de Neymar.

Ainda no primeiro tempo, outro lance “interpretativo”, o árbitro anulou o que seria o segundo gol do garoto na partida. A bola passou por um impedido Alan Kardec, que não fez menção de participar do lance. Depois de validar o gol de Neymar e do time rubro-negro já se postar no meio de campo para sair com a bola, jogadores do vistante cercaram o auxiliar Fábio Pereira e Francisco Carlos Teixeira voltou atrás e anulou o tento. Naquela conjuntura, o tempo fechou e o time se desorganizou por um instante. Até que, pouco depois, numa tentativa de contra-ataque do Atlético, Neymar voltou para a intermediária, desarmou o ataque paranaense com um chutão e vibrou. A torcida foi junto e incendiou o Pacaembu novamente, mas o segundo tempo estava no fim.

Logo no início da segunda etapa, gol do Atlético-PR. Escanteio cobrado de forma magistral por Paulo Baier, o mais lúcido e perigoso jogador rubro-negro, encontrou Guérron. Mas não demorou dois minutos para o Santos empatar. Cléber Santana fez outro pênalti, empurrando Edu Dracena em cobrança de escanteio. Não recebeu o segundo cartão amarelo, que lhe valeria a expulsão. Neymar não desperdiçou. E, cinco minutos depois, Rentería lançou Neymar; o zagueiro Manoel cai, e o atacante não desperdiça. Pseudopolêmica: ao fazer o movimento de correr pra disputar com o santista, há um suposto choque da perna dele com o joelho do adversário.


O quarto viria em um lance de gala do garoto, que finge que vai abrir na ponta, mas avança na área, deixando a marcação sem rumo. O chute perfeito acaba com o jogo. O Peixe ainda desperdiçaria chances de ampliar e o Atlético colocaria uma bola na trave, em lance irregular no qual Guérron domina com o braço, e outra em cobrança de Paulo Baier já perto do fim do jogo. Mas a noite era de Neymar, que chegou a 96 gols como profissional, não contando os tentos feitos como infantil e juvenil (alô, Romário), sendo 78 pelo Alvinegro em 154 partidas.