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quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Acabou Nosso Carnaval

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Por Luciana Nepomuceno

Crédito: André Ricardo/Uol
Tem duas coisas que torcedores (ou eu, torcedora, e digo que é todo mundo pra não me sentir tão só) adoram e detestam: chamar o treinador de burro e comentar o péssimo desempenho individual de algum jogador. Adoramos porque é uma descarga emocional, uma catarse. Detestamos porque isso geralmente acontece quando o time perde. É bem o meu caso hoje. Eu tinha planejado um post diferente, convidei um amigo vascaíno e ele comentaria as coisas positivas do meu time e eu tentaria louvar o que visse de positivo no Vasco. Mas ele sumiu na comemoração e me deixou aqui ruminando o gol perdido do Deivid e a previsível teimosia do Joel.

Quando vi a escalação, já antecipei o doer: coisa boa não podia vir de um meio de campo com Williams, Renato e Airton. E a insistência no Deivid, tendo o veloz e bem disposto Negueba ali, rasinho, no banco? Sofrimento. O jogo começou e, confirmando uma antiga ideia minha (a maior parte dos melhores lances são sem bola), Ronaldinho faz um lindo movimento de corpo, leva a marcação e o Love faz um gol daqueles que a gente esquece que está preocupado e grita até acordar os vizinhos. Pausa pra um gole de cerveja. Segue a partida e aí tudo é justinho como se espera: além da escalação retranqueira, o Joel dispôs o time todo do meio de campo pra trás. O Vasco deitou e rolou e o Flamengo ficou ali, acuado, dependendo da correria do Vagner Love, de um passe genial do Ronaldinho ou de uma jogada do sobrecarregado Leonardo Moura. Daí o Flamengo levou o gol que o posicionamento estava pedindo, perdeu a bola na boa marcação vascaína, Juninho deu um chute preciso, Felipe bateu roupa e ploft, empatado o jogo. Respira, respira. No segundo tempo, o Vasco fez mais um gol em outro rebote do Felipe.

E, claro, eles ainda tinham o Dedé. O cara da partida quase perfeita. Zagueiro. Nenhuma falta. Dezesseis desarmes diretos. Outras tantas interceptações. Fungando no cangote do Love. Do Ronaldinho. Sombra constante em qualquer um que se atrevesse a chegar perto da linha da grande área.

E nós? Tínhamos o rodrigueano Deivid. Se a cena do gol perdido não sai da minha cabeça, nem sei quantas noites irá assombrá-lo, senão pela (pouca) importância do jogo, pelo que foi em si mesma. Um atacante. O cara que vive de fazer gol. Gol de cabeça, de calcanhar, de voleio, pegando rebote, invadindo a área, chutando firme, gol, gol, gol. Esse cara, de frente para as traves convidativas, livre, sem marcação, sem goleiro, os ouvidos antecipam a celebração da multidão, corre aquele frêmito de se saber herói e, aí, o erro. Não um pequeno equívoco. Não um desacerto qualquer. Um Erro, maiúsculo e inesquecível. Acertar a trave é um luxo que nenhum jogador podia se permitir naquela situação. Nossa torcida muda. Calada pelo grotesco da situação. E a torcida adversária, toda, cantando o nome dele. Nenhuma redenção possível. Anti-herói. Tragédia minha. Nossa.

Perdemos. Acontece. Dá aquele travo na boca e uma coceira danada nos olhos. Mas passa, é do jogo. O que não passa é a angústia de ouvir o treinador dizer que não foi uma má partida, que o time jogou de forma “equilibrada e consciente” (palavras dele na coletiva após o jogo). O que não passa é a angústia de saber que é uma opção, não só a escolha de jogadores de técnica duvidosa (fecha os olhos e pensa no gol que o Deivid perdeu. Ou em um domínio de bola qualquer do Renato. Ou em um lançamento do Williams. I rest my case), mas também a definição da postura acuada em campo.

O que não passa é a certeza de pequenas vitórias e significativas derrotas nos jogos subsequentes e a sensação de que serão muitas as horas falando mal de um ou outro jogador e xingando o técnico de burro. E porque se insiste em torcer? Porque torcer é um amor. Um prazer que nos mata suavemente.


Ah, meu Flamengo, strumming my pain with his fingers

Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos

8 comentários:

Nicolau disse...

Para tirar de uma vez o assunto da frente: o que foi aquele gol perdido pelo Deivid? Lamentável, sem mais.

Pela descrição, Joel sofre da mesma doença de Tite, de recuar demais o time quando abre o placar. Além da predileção quase obsessiva por volantes, essa adotada pela grande maioria de nossos professores.

Luciana Nepomuceno disse...

Um gol só poderia ser perdido assim se ainda houvesse um Nelson para transformá-lo em texto.

Mas não sejamos injustos com o Joel, ele não recua o time quando está na frente do placar...ele o faz em QUALQUER situação.

[patife] disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
[patife] disse...

Eu concordo com as palavras do Nicolau, mas, Lu, como o Flamengo pode esperar um passe genial de Ronaldinho?!

Que palavra melhor o descreveria senão "Omisso"?!

Felipe continua com o mesmo caráter autoindulgente de sua época corinthiana!

E, o Flamengo continua sem presidência, e seus torcedores (a grande maioria) continua a sofrer de um patológico fantasiar acerca da potencialidade de seu time. Deivid é a pura representação da realidade do Clube de Regatas.

Ah, Luciana, você nasceu pro futepoca! ;)

Luciana Nepomuceno disse...

Bom, eu espero passes fantásticos do Ronaldinho porque eu sei que ele pode. E, no fim das contas, mal e mal, ele tem levado esse time nas costas junto com o Léo. Mas se espera demasiado dele e se oferece muito pouco como companhia. Vai trocar passes com Airton? arrumar bola pro Deivid?

No mais, não costumo me iludir não, faz muito tempo que digo que o Deivid não te qualidade técnica o bastante. E mais tempo ainda que sonho com meu time de garotos.

Contra a Maré disse...

kkkkk
Bem dito.
Mas eu acho que a teimosa é tu... esperar que o Joel seja uma pessoa que ele não é é teimosia das grandes. O time vai jogar assim, retrancado sempre e vai ganhar a maioria das vezes. E pode até pintar título, mas sempre assim... feiinho hehehehe
O segundo tempo foi bem melhor para nós, com franco domínio de boa parte do tempo.
Agora, o que matou a partida foi o Deivid... meu Pai, o que foi aquilo?
Resta saber se ele tem cara de não vestir a camisa do inacreditável futebol clube...

Nicolau disse...

Só pra palpitar de fora, concordo com a Luciana sobre o Ronaldinho. O cara não é mais o gênio que era, mas é claramente o lampejo de lucidez no Flamengo, isso desde o ano passado. Lembro dele no começo de 2011: recebia a bola na meia, passav apo rum, prendia, segurava e nada do lateral (acho que na época era o Egidio) passar - e a jogada morria. Quando passava, ele enfiava certinho e o rapaz isolava - e a jogada morria. Não dá pra culpar o cara por tudo.

Moriti disse...

Belo post, Luciana.

Sobre Deivid: mostrou ser bom jogador, matador mesmo, em Santos, Corinthians e Cruzeiro. Ganhou títulos em todos, isso não é pouco. O que teria ocorrido com ele? Idade? O baixo nível do futebol turco o afetou e "puxou pra baixo"?

Ronaldinho Gaúcho: tem momentos razoáveis, enfia uma ou outra bola boa, bate um ou outro escanteio/falta bem, parece um Beckham piorado. Só não digo que é ridículo ele estar na Seleção, pois a camisa amarela faz tempo não é parâmetro pra dizer quem é bom ou ruim (até a década de 80, era legal estufar o peito e dizer "meu time teve mais convocações que o seu").

Sobre Dedé: monstro. Joga muito.