Destaques

quarta-feira, março 28, 2012

Copa 2014: entre a investigação e os números perdidos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

POR Thais Barreto *


Um pouco de dedicação e uma cuidadosa pesquisa já foram suficientes para concluir: quem quiser saber a fundo o que se passa nos bastidores de realização da Copa 2014 precisa estar sujeito e entrar num labirinto.

O repórter que queira fazer uma matéria levantando simples dados como: total de investimentos ou andamento da obra encontrará dificuldades. Ele perguntará a seus botões: onde está a transparência que o governo prometeu?

Os dirigentes responsáveis pela candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 alegaram, entre outras coisas, que a população poderia receber um grande legado de desenvolvimento urbano e social. Além disso, o pretexto para justificar os investimentos veio acompanhado de outra vantagem: o futebol mexe com a emoção e tem o poder de mobilizar boa parte dos brasileiros.

O consultor legislativo do Senado Federal, Alexandre Guimarães, afirmou que só saberemos o valor final do orçamento da Copa em 2015. Até agora, considerando apenas o primeiro ciclo (são três), o valor já chega em R$ 33, 1 bilhões, acompanhado do alerta “os valores não devem ser comparados aos investimentos finais”. Temos 12 cidades-sede, todos com obra para estádios. Segundo o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), estádio é o item que possui maior risco de obras com custo elevado.

Além disso, temos um agravante: a sociedade pouco usufruirá. Recuperando experiências de outros locais, podemos citar Portugal, que sediou em 2004 a Eurocopa. Gestores locais chegaram a discutir opção de demolir o estádio municipal de Aveiro. Isso aconteceu por conta das desvantagens entre a receita e as despesas. Essa é uma realidade que o Brasil não está imune.

O TCU apontou em quatro cidades-sede o risco de estádios se tornarem “elefantes brancos”. É o caso de Natal, Manaus, Cuiabá e Brasília. Experimente acompanhar essas obras. O Estádio Mané Garrincha, no Distrito Federal, possui relatórios desatualizados. Nos portais da Controladoria Geral da União e do TCU até a data referente ao início dessa obra está diferente.

Dificilmente será cumprido o prazo estabelecido para entrega dos estádios, o qual, de acordo com o relatório do TCU, elaborado em 2009, as obras estariam finalizadas em 31/12/2012. E agora, o que nos resta? É preciso encarar o desafio, não podemos nos limitar porque os dados nos confundem ou desestimulam o trabalho. O que resta aos repórteres-investigadores é tecer o fio de Ariadne, aquele utilizado no labirinto. Temos muitas perguntas a serem respondidas, vamos definir as pautas e encontrar nossas respostas que devem chegar ao interesse público. Há uma porção de números perdidos por aí.

* Artigo encaminhado à Abraji para conclusão do curso “Investigação em Esporte: Gastos com a Copa 2014 e Olimpíadas 2016”.

1 comentários:

Anselmo disse...

o estádio tem maior risco de custo elevado, enquanto estrutura de aeroporto, de transporte público e de turismo tendem a ser legados mais difíceis de mensurar e ao mesmo tempo mais perenes para as cidades.

até o fim não vou conseguir entender por que manaus foi escolhida em vez de belém (que, além de mais estrutura, tem dois times de massa). O Mané Garrincha só faz sentido se virar palco de shows (arena multiuso), mas os produtores desses eventos brasilienses parecem preferir espaços menores com preços maiores (lucram o bastante). Sei lá.

achei curiosa a cobertura do anúncio do eduardo paes de que, para receber a Rio+20, a capital fluminense vai recorrer a hospedagem solidária, "comum em países da europa", pra evitar de construir muito hotel que depois ficaria vazio. curioso pq soou cínico, mas não vi (ok, não procurei tanto assim) contestação. seria legado... e em eventos como reveillon e carnaval (sem falar da olimpíada 2016) teria demanda de sobra pra todos os hoteis que se quisesse construir por lá.