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domingo, junho 17, 2012

Há 50 anos, o Brasil era bicampeão mundial

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Em um dia 17 de junho como hoje o Brasil defendia seu primeiro título mundial de futebol, conquistado quatro anos antes na Suécia. A base titular daquela seleção era praticamente a mesma de 1958, inicialmente, apenas com duas mudanças: os zagueiros, Mauro e Zózimo, no lugar de Bellini e Orlando. Nílton Santos, mesmo com 37 anos e já atuando como zagueiro pelo Botafogo por conta da idade, foi escalado como titular, barrando Rildo, do Santos, que fazia parte da primeira lista de 41 convocados mas acabou cortado. Já Coutinho, que vinha jogando no time de Aymoré Moreira, foi para a reserva e cedeu lugar para Vavá no Mundial, pois o treinador privilegiou a experiência dos campeões de 58.
Dos 22 atletas que foram ao Chile, sete eram do Santos, cinco do Botafogo, três do Palmeiras, três do Fluminense e dois do São Paulo. Ainda havia Zózimo, do Bangu, e o jovem Jair da Costa, da Portuguesa. O grupo da seleção no torneio contava com México, Tchecoslováquia e Espanha. A estreia foi contra os mexicanos e o Brasil venceu por 2 a 0, mas não jogou um futebol convincente. Pelé fez o cruzamento para Zagallo marcar o primeiro gol da partida, que só surgiu aos 11 do segundo tempo e o próprio Dez marcou o segundo, depois de driblar dois adversários, aos 28.



Mas se a desconfiança pairava sobre a seleção, que muitos viam como uma equipe envelhecida, a situação ficaria ainda pior na segunda partida. O jogo entre Brasil e Tchecoslováquia terminou em zero a zero, mas a notícia ruim foi a contusão de Pelé, que, aos 27 minutos, depois de finalizar de fora da área, sentiu a virilha esquerda. Sem condições de atuar, ficou em campo até o final, já que não eram permitidas substituições. No dia seguinte, o diagnóstico de distensão no músculo adutor da coxa esquerda confirmava os temores do time e da torcida: Pelé estava fora da Copa.
Na partida que fechou a primeira fase, o Brasil precisava somente do empate para ir às quartas de final do Mundial, mas a Espanha era um time forte, que tinha praticamente o ataque do Real Madrid campeão europeu. E contava com um expediente que depois seria proibido: a naturalização de atletas, mesmo daqueles que já tinham disputado jogos por outras seleções. Assim, a Fúria vinha com o húngaro Puskas e o argentino Di Stefano, que chegou ao Chile contundido, além do uruguaio Santamaría e o paraguaio Martínez. Após a Copa, a Fifa proibiu a “naturalização por atacado”, que estava virando moda, como mostrava a seleção da Itália, que também tinha os seus: os brasileiros Sormani e Altafini e os argentinos Sívori e Maschio
O time inteiro jogava mal e a Espanha chegou ao gol aos 35, com Adelardo. Tudo poderia ter sido ainda pior se não fossem dois grandes erros da arbitragem. O primeiro, em um lance que já se tornou lenda, no qual Nílton Santos derrubou Collar na área mas, espertamente, deu um passo à frente, ludibriando o árbitro chileno Sergio Bustamante. Na sequência, após a cobrança de falta de Puskas, Peiró marcou de bicicleta, mas o gol foi anulado por Bustamante ter entendido o lance como “jogada perigosa”, ainda que Peiró estivesse a mais de um metro de Zózimo. O vídeo abaixo mostra dos dois lances. Amarildo e Garrincha marcariam a virada brasileira.


E Garrincha apareceu

Vieram as quartas de final foram contra a Inglaterra e, finalmente, brilhou a estrela de Garrincha. O ponta havia sido muito criticado pelo seu desempenho na primeira fase e, sem Pelé, o Brasil apostava no talento do craque das pernas tortas. Ele marcou o primeiro tento da partida, de cabeça, mas os ingleses empataram oito minutos depois, com Hitchens. A igualdade persistiu até os 8 do segundo tempo, quando Vavá escorou após rebote do goleiro Springett em cobrança de Garrincha. O ponta faria ainda o terceiro, em chute de fora da área. Naquele dia, Garrincha só seria driblado por um cachorro que entrou em campo paralisando a peleja. Outro cão provocou uma segunda paralisação e sumiu debaixo das arquibancadas.


A semifinal seria contra os donos da casa e a seleção tentou se precaver contra qualquer imprevisto. Tanto que a refeições do dia da semifinal foram providenciadas pela própria comissão técnica brasileira, que tinha medo de algum “problema” com a comida servida aos jogadores no hotel. Na partida, o infernal Garrincha assegurou a vantagem logo aos 9, com um chute de fora da área que foi parar no ângulo esquerdo de Escuti. Ele marcaria novamente aos 31, de cabeça, com o Chile descontando em cobrança de falta aos 41 ainda do primeiro tempo.
Logo no início da segunda etapa, Vavá não deixou os anfitriões se animarem, e marcou após escanteio. Leonel Sanchez descontou de pênalti e Vavá fez o quarto, aos 33. Depois do último gol, o jogo sairia do controle do árbitro peruano Arturo Yamazaki. Landa foi expulso após falta dura em Zito e Garrincha, caçado durante todo o tempo, revidou em cima de Rojas, agredindo o chileno. O juiz não viu o lance, mas foi cercado pelos chilenos, que apelaram para o testemunho do auxiliar uruguaio Esteban Marino, que confirmou a agressão. Como não havia suspensão automática, ficava a dúvida: Garrincha poderia jogar a final pelo Brasil?
E daí surge mais um episódio “estranho” a favor dos brasileiros. Em sessão extraordinária do Tribunal da Fifa, o árbitro disse não ter visto a agressão, mas que o uruguaio Marino havia confirmado que ela tinha existido. Convocado para depor, Marino não compareceu, pois já teria deixado o Chile àquela altura. Sem o depoimento, Garrincha foi liberado para atuar contra a Tchecoslováquia. À época, dizia-se que a CBD teria pago a viagem de Marino, que estaria no Brasil. Um mês após a Copa, o uruguaio foi contratado pela Federação Paulista de Futebol.
No dia da final, Garrincha amanheceu com febre e não teve a destacada atuação dos dois jogos anteriores. Os tchecos aproveitaram e abriram o placar aos 15. Mas somente dois minutos depois do gol de Masopust, Amarildo empatou, em um lance no qual o arqueiro Schroif fez um fatídico golpe de vista.
Na etapa final, a seleção veio melhor, mas poderia ter encontrado mais problemas se o árbitro Nikolai Latchev tivesse marcado pênalti quando Djalma Santos tocou a bola com o braço dentro da área, em cruzamento de Jelinek. Como o juizão interpretou “bola na mão”, o jogo seguiu e, aos 24, Amarildo fez grande jogada pela esquerda e cruzou para Zito, que marcou. Algo raro, já que, por ser volante, o santista costumava chegar pouco à área e na sua trajetória com a camisa do Brasil foram apenas três gols. Um deles, este, que pode ser considerado o do título.
Após nova falha, mais grotesca, de Schroif, Vavá fez o terceiro aos 33 e selou a vitória brasileira. O país que tinha complexo de vira-latas no futebol antes do Mundial de 58, vencia pela segunda vez a Copa do Mundo. E como perguntar não ofende, será que algum jogador, desses que costumam imitar João Sorrisão e quetais, na rodada do Brasileirão de hoje vai lembrar de homenagear os grandes de 1962?


Boa parte das informações contidas neste post estão no ótimo livro de Lycio Vellozo Ribas, O mundo das Copas. Mais que recomendável.

3 comentários:

Anselmo disse...

é, apitos amigos pró-seleção. mas, 50 anos depois, isso vira mesmo um detalhe. o importante é a genialidade de garrincha e o trabalho do possesso amarildo...

olavo disse...

Cá entre nós, a Copa de 1962 foi de uma várzea sem tamanho. O Brasil ganhou, legal, maravilha, tudo lindo, mas é preciso ponderar todos esses elementos da conquista - principalmente pelo fato de haver milhões de pessoas que demonizam o título de 1994 e enaltecem o triunfo da "geração de ouro"....

fredi disse...

Glauco, belo resgate.

Apenas uma questão, na narração do gol anulado da Espanha o locutor fala que o gol foi anulado porque o jogador estava "fuera de juego", ou seja, impedido.

Não consigo também ver o impedimento, mas é o que ele diz.

Sobre a Copa, não tenho o que falar porque vi poucos lances.