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quinta-feira, julho 05, 2012

Vai, Corinthians! Campeão invicto da Libertadores 2012

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São 2h26 e as buzinas não param de tocar. Meu irmão manda uma mensagem, amigo liga de Junqueirópolis. Na Augusta, o grito ecoa, como ecoou o dia inteiro. Inescapável. Em todo lugar se ouviam os rojões e a inevitável frase. Vai, Corinthians.

E viemos. Invictos por um longo caminho, que passou pelo golaço de Ralph na estreia. Pelo gol de Paulinho (monstro!) e pela defesa de Cássio contra o Vasco. E pelo campeão anterior, que conta com o melhor jogador do hemisfério. Perdeu em casa, com direito a golaço.

Em todas as etapas, novo desafio. "O desastre do Tolima", "O trauma das oitavas", "nunca venceu um campeão de Libertadores", "nunca venceu um tricampeão da Libertadores", "nunca venceu um hexacampeão da Libertadores". É.

Corinthians tem dessas. Minha mãe sempre fala: "Corinthians, quando só precisa do empate é que perde". Pois nessa, como em outras, foi sempre o patinho feio. Favorito, só contra o Emelec. Melhor assim, pelo jeito. Pessoal gosta mesmo é de subverter expectativas.

Meu maior medo era o Santos, confesso. Ou ainda, Neymar, em uma equipe com mais organiação coletiva que no ano passado.

No dia, a caminho do almoço, um amigo palmeirense perguntou para o companheiro Glauco e eu "como estava a ansiedade". Os dois concordamos: "estou tentando não pensar no jogo, para poder pensar em outra coisa". Foi quase impossível, no entanto.

Aqui, minhas críticas constantes ao estilo retranqueiro do time comandado por Adenor Tite já tinham ido para o espaço. A partir do primeiro jogo contra o Santos, a imagem que melhor descrevia meu espírito nerd-alvinegro era o discurso do rei Theoden, no terceiro episódio do Senhor dos Anéis:

"Levantem-se! 
Levantem-se Cavaleiros de Theoden! 


Lanças se agitarão, escudos se partirão! Um dia de espadas! Um dia vermelho até que o sol nasça!


Cavalguem... Cavalguem... Cavalguem! Cavalguem pela ruína e pelo fim do mundo!


Morte! Morte!"

Aqui, amigos, era guerra. Até o fim do mundo.

Na Vila, um primeiro tempo impecável, sem deixar o anfitrião ver a bola. Coroado com o golaço de Sheik, homem para se contar nas horas difíceis. Na volta, empate e classificação.

E vencemos, pois. Aquele que é de fato - ainda que não mais de direito - o melhor time das Américas.

No outro jogo, disputavam Universidade de Chile, de seguidas participações positivas no torneio, sempre exaltado por seu futebol ofensivo e efetivo, e ninguém menos que o famigerado Boca Juniors. O temido Boca, morador da abissal Bombonera, senhor das terras de América durante a maior parte dos últimos anos, hexacampeão do torneio, ansioso por destronar seu compatriota Independiente e sagrar-se campeão absoluto do certame.

Meu cerérebro via uma disputa equilibrada. De resto, não havia em mim nenhuma sombra de dúvida de que nosso adversário na final seria o Boca.

Primeiro jogo na temida Mordor dos times brasileiros, que já havia tragado Palmeiras, Grêmio e Santos na final do campeonato continental. La Bombonera.

Um jogo pegado (Morte!) e sem grandes chances para nenhum dos lados, com um Corinthians errando passes demais. Num escanteio, o medo. O único momento em que o Corinthians esteve eliminado no torneio. Um a zero Boca, e as sombras se estendiam.

Mas rapidamente, eis que surge um jovem vindo do banco de reservas. Romarinho, nome ilustre, recebe passe de Emerson, o Sheik, e não pisca. Toquezinho de leve por cima do goleiro. Herói improvável. A batalha final será em casa.

Passo a semana inteira tentando manter afastado o jogo. Até chegar ao dia, à fatídica quarta-feira. Já de manhã, fogos estão no ar, cada pipoco lembrando o que virá de noite. O colega Valdemar, porteiro do prédio, manda um "é hoje". Subindo a rua, as camisas vão surgindo, ocupando a paisagem.

Chegamos então ao começo desse texto.

Era inescapável. Pela janela do trabalho, pela internet, na hora do almoço. O grito estava lá. "Nossa bandeira vai cobrir toda a cidade", disse a Gaviões. Acertou. A cidade era nossa.

No fim do dia, voltando para casa, as camisas estão em todos os lados. O grito, sempre ele, surge de sabe lá onde. Uma bomba explode na descida da Augusta e um corintiano manda lá o grito, complementado por um "susto da porra!" Quem soltou a dita bomba, diga-se, foram quatro outros alvinegros.

Não há como manter a mesma tensão, o mesmo preparo das semifinais. Dane-se que é o Boca. Aqui, o estádio é nosso, a torcida é nossa. A cidade é nossa.

Controlo a sensação, espanto o "já ganhou". Mas a vida na cidade é linda demais para se ignorar. Liga meu pai: "se tudo der errado, essa festa já está maravilhosa".

"Neste dia, nós lutamos!", resumiu Aragorn, na batalha final do supracitado Senhor dos Anéis. E lutamos. Com menos erros de passe que na Argentina, não deixando grande espaços para o Boca e controlamos o jogo.

Dias antes, um amigo havia dito: "Não quero emoção! 1 a 0 no primeiro tempo, 2 a 0 no segundo e a gent comemora!" Não aconteceu. Primeiro tempo em branco, e começo a pensar em prorrogação, em pênaltis.

Então, eis que surge, já na segunda etapa, Emerson, o Sheik, o Saladino. Recebe passe de calcanhar de Danilo (salve, Doutor!) e chuta para o gol. Gol. A quantidade de palavrões que a leitura labial permite não expressa minha sensação.

O segundo vem de bola roubada, também por ele, este salteador dos desertos. Roubou, correu e meteu no canto. 2 a 0. Em cima do Boca. Na final da Libertadores.

.......

São 4h21 da manhã e as buzinas não param. O grito, inescapável, não pára, não pára, não pára. "Vai, Corinthians!", grita toda São Paulo. De Mauá, meu pai liga: "Ver esse time ganhar é muito bom, porque não só eu fico feliz, mas toda essa gente fica feliz". Meu Timão nunca parou de lutar e venceu.

"América, bem vinda à favela", disse faixa levada pela torcida. Nada mais justo.

PS.: Merece destaque aqui a impresionante mostra de convivência pacífica e democracia dada pela minha amada santista Débora, com quem assisti aos dois jogos das semifinais. Sem zombaria, sem xingar jogador do adversário, sem gritar gol na cara do outro. Episódio para guardar.

PPS.: Agradecemos a compreensão pelo misticismo exacerbado do último período. Valeu a pena, vá!



* Foto do pessoal do Impedimento, tem outras muito boas aqui.

10 comentários:

Anselmo disse...

rapaz!

fiz minha parte, que era, afinal, indiferente. confesso que esperava mais do Boca. Como esperava mais do Santos. Como esperava mais do Vasco. Só não esperava do Emelec.

Parabéns aos corintianos.

E o que realmente me surpreendeu: os maias estavam errados. E o mundo não se acabou.

fredi disse...

Parabéns, camarada, pelo título e pelo texto.

Concordando com Anselmo, e o tal do mundo não se acabou (ainda não, ainda bem).

ab

Lui disse...

não sei quando vou conseguir parar de comemorar, grande conquesta e de forma impressionante, sem penaltis, sem derrotas e com final contar time grande...

perfeito

parabéns pelo post... abração e muita saudade...

Guilherme Amorim de Souza disse...

Tive a impressão de que o boca tinha um plano de jogo, tentar conseguir um gol nos primeiros minutos (foram aqueles 10, 15 minutos em que a bola queimou no pé do Corinthians).

Depois eles seguraram pra tentar nos últimos 5 do pirmeiro tempo, buscando escanteios, etc.

E o segundo tempo deles era de não se afobar, não gastar o fôlego, porque nesse aspecto eles não tinham como ganhar do Corinthians. Mas a marcação deu menos espaços para eles nas laterais, o Riquelme teve que voltar atrás do meio de campo pra levar tira a a bola da defesa e alvinegro começou a morder mais.

Mesmo depois do gol o Boca continou querendo não se afobar, procurar os espaços na hora que o Corinthians fizesse as suas variações de marcação pressão, quando o Jorge subisse e o Danilo não voltasse.

Mas depois da assitência do companheiro Schiavi, os caras perdeam o chão, Erviti, Ledesma e Riquelme errando passes de 3 metros, dando a bola no pé do Danilo, do Paulinho, do Alex. Perdendo todas para o Ralf de ladrão.

Depois foi só catimba (desnecessária do Sheik, que você Nicoulau defende desde o princípio e que eu, lá atrás nunca pensei que fosse um cara tão versátil para jogar pelos lados do campo e flutuando nas entrelinhas da defesa). O Alex querendo sempre um drible a mais na hora de soltar a bola nos contra-ataques.

[dava até para o Liédson, visivelmente sem pernas pra ganhar na corrida, entrar pra fazer um pivô no Caruzzo]

É isso; #deunóis

Vai, Corinthians

Moriti disse...

Excelente, Nicolau. Texto magnífico, inclusive na bela e sucinta retrospectiva.

Parabéns pelo título e pela civilidade com a companheira!

Abraço!

Nicolau disse...

Valeu, galera!
Lui, também tá difícil pensar em outra coisa, hehe.
Guilherme, o Sheik é bom de bola. Mas é completamente maluco, haha. Quando ele deu uns tapinha na cara pedindo pro argentino bater nele acabou a sanidade, hehe.
Moritti, preciso dar um jeito de parar de falar de futebol logo, senão a Débora vai deixar de lado a civilidade, hehe.
E se mundo resolver acabar, tudo certo. Só gostaria de um aviso prévio pra poder parar de trabalhar e começar a beber.

Maurício Ayer disse...

Ainda estou um pouco delirante, entre o entusiasmo e a estupefação. Que belo texto, Nivaldo, parabéns.

Sobre a Débora, acho que vocês já podem mandar construir o mausoléu da família, pois se esse experimento extremo não os separou, nada mais vai separá-los.

Leandro disse...

Depois de um relato assim, tenho que reconhecer que valeu pelo longo período de silencio do qual reclamei tanto.
Resta seguir torcendo para que o Timão siga como protagonista em tudo que disputar, e que os blogueiros corinthianos apareçam mais para relatos épicos como este.

Glauco disse...

Texto genial, parabéns, Nivaldo. e faço minhas as palavras do Leandro em relação à frequência dos textos corintianos. Só discordo do protagonismo desejado pelo mesmo, hehe.

Moriti disse...

Que belo clima esse do coletivo. Civilidade mesmo na hora de falar sobre um título que boa parte de nós não queria. rs

E mesmo também discordando do protagonismo sugerido pelo Leandro, textos assim são muito bem-vindos.

Que eles venham de todos os escribas apaixonados por futebol, politica e cachaça que frequentam este espaço. Viva os coletivos!