(...) ele não perdia a oportunidade de vender suas ideias. As conversas sobre futebol podiam redundar em outras, por isso a primeira seção lida nos jornais, unindo gosto e dever, era a de esportes. Um dia não tivera tempo de folhear os matutinos, e um chofer de praça palpitou sobre o jogo da véspera. Marighella calou, pois nada sabia. "Isso nunca mais vai me acontecer", disse a Clara. "Tenho que estar preparado, o povo adora futebol".
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Marighella (segundo agachado, a partir da esquerda) e seus amigos de futebol do Grêmio Atlético Brasil, em Fernando de Noronha |
Ele (Marighella) brincava dizendo que era bom de bola por ter se empanturrado de chocolate na infância. Enquanto alguns peladeiros calçavam chuteiras, despachadas por parentes no continente, Marighella atuava de pés descalços. Seus chutes impressionavam pela potência. Batia de bico, e seu pé direito parecia moldado em ferro. Como dera uma palestra sobre siderurgia, apelidaram-no de Bicão Siderúrgico. Todos os queriam em seu time. Ele era beque, anglicismo para zagueiro. Exibia mais força que técnica, embora não fosse um perna de pau no trato com a pelota ou a canela dos adversários. Colega de prisão a partir de 1942, Noé Gertel o elogiaria como beque "impenetrável" e o melhor futebolista ilhéu.
"Tenho que estar preparado".
ResponderExcluirtem comentarista de boteco, de rádio, de TV e de internet que poderia levar esse lema adiante.
Na biografia do Pedro Pomar que escrevi - no forno -, há várias passagens em que o biografado participa de jogos de futebol. Ele mesmo foi um jogador razoável - chegou a integrar a equipe do Remo de Belém (PA). Essa tese que "futebol é o ópio do povo", atribuída á esquerda, é falsa. Ela ganhou força durante a ditadura de 1964, quando o regime se utilizava do futebol para fazer suas propagandas. Osvaldo Bertolino
ResponderExcluirMuito bom, Osvaldo. Quando esse livro sair do forno, por favor, nos envie um exemplar, para reproduzirmos alguma passagem aqui no Futepoca. Abraço!
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