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terça-feira, abril 23, 2013

Pra bebemorar: Lei da Pureza da Cerveja completa 497 anos

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Diz a lenda que, no dia 23 de abril de 1516, ao acordar com uma grande ressaca, Guilherme IV (o bebum à esquerda), duque da Baviera, resolveu botar ordem na produção local de bebidas e promulgou o Reinheitsgebot - a Lei da Pureza da Cerveja. A partir daquela data, a loira gelada só poderia ser produzida com água, malte de cevada e lúpulo (a levedura ainda não tinha sido descoberta). Porém, não foi a ressaca que motivou o duque a tomar tal decisão. Naquela época, a produção de trigo não estava sendo suficiente para suprir a região, sendo disputada por cervejeiros e padeiros. Aproveitando-se disso, o ducado percebeu que, determinando quais eram os únicos ingredientes permitidos, ficaria mais fácil fiscalizar o lucro dos produtores de cerveja.

Assim, a nova lei proibia o uso de grãos para fazer cerveja, com exceção da cevada (considerada ruim para fazer pão). Há historiadores que detectam, ainda, um motivo conservador e moralista para a adoção da Lei da Pureza da Cerveja. Até então dominantes na Europa, as cervejas do tipo "gruit" utilizavam especiarias psicodélicas e psicotrópicas, que alteravam o estado de consciência. Portanto, uma cerveja mais inofensiva era interessante à igreja. E, curiosamente, eram os monges que dominavam a produção do lúpulo, que passou a ser o único ingrediente autorizado a substituir essas especiarias. Pra completar a sacanagem, o sucessor no ducado da Baviera, Guilherme V, ordenou, em 1589, a construção da cervejaria Hofbräuhaus München, que passou a ter o monopólio da produção da bebida feita com trigo - e que, curiosamente, abastecia apenas a corte do duque... Essa injustiça só seria reparada mais de 200 anos depois, em 1806, quando a produção da cerveja de trigo por outros foi autorizada e legalizada.


Porém, exatamente um século depois, em 1906, o Reinheitsgebot voltou a dar as cartas na produção de cerveja, sendo estendendido para a toda a Alemanha (que havia surgido da unificação de vários reinos, entre eles a Baviera, em 1871). A determinação valeu até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o decreto foi modificado: para as cervejas de baixa fermentação foram autorizados o malte de cevada, o lúpulo e a água, e para as cervejas de fermentação elevada foram autorizados, além disso, os maltes de outros cereais e um número limitado de açúcares e corantes.

Atualmente, devido à regulamentação européia, outros ingredientes são autorizados nas cervejas alemãs. Mas muitos cervejeiros germânicos continuam a seguir as prescrições do Reinheitsgebot, consideradas garantia de qualidade. Isto acontece principalmente nas marcas vendidas em território alemão (como a da foto à direita). No Brasil, alguns produtores também gostam de preservar essa regra alemã, como a Cerverjaria Rasen, de Gramado (RS). Muitos dizem que utilização dos ingredientes básicos garantem cerveja melhor, mas outros tantos reclamam que isso "engessa" a produção, eliminando a critativade e a busca por novas misturas e sabores. De qualquer forma, a Lei da Pureza da Cerveja é um dos tratados alimentares mais antigos da Europa. Por isso, com cervejas "puras" ou não, o aniversário do Reinheitsgebot é mais um motivo para beber e brindar. Saúde!

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